Roberto Carlos, uma crítica e uma pergunta: por que seus músicos tocam com partitura?


Afetuoso e bem humorado, cantor disse no show que não revela jamais quem o inspirou a fazer 'Sua Estupidez', algo que o biógrafo Paulo Cesar de Araújo já revelou

Por Julio Maria
Atualização:

Roberto Carlos fez um show grandioso na abertura de sua nova turnê na noite de quarta, 27, na casa Vibra São Paulo. Sua voz caminha por rotas alternativas cheias de frescor em canções já tão sólidas como Detalhes e Como Vai Você?, equilibra lágrimas nas lembranças da mãe em Lady Laura e chega ao ponto mais alto em Cavalgada, com um arranjo estendido de Eduardo Lages que a faz monumental e que seu biógrafo, Paulo César de Araújo, compara ao efeito de Live and Let Die no repertório de Paul McCartney. “É grandioso e nunca sai do seu repertório.” Há muito a se falar de Roberto, de bom e de nem tão bom assim, mas não que ele estava esquecendo letras, exceto por um instante de dois segundos, mal humorado ou tratando seu público com impaciência.

Roberto no show do Vibra SP, dia 27 de julho de 2022 Foto: Taba Benedicto

Ele ria e respondia com ternura até ao pior do seu público – aquele que chega para criar virais em suas redes sociais filmando o show enquanto grita “Roberto, me pega!”. Ao ouvir um dos muitos “Eu te amo” cortando a canção Outra Vez, ele chegou a fazer algo que raramente faz, respondendo com um “eu também” quase adolescente mesmo sabendo do risco de abrir uma porteira perigosa quando faz isso. Outras fãs podem se encorajar a buscar o mesmo protagonismo e, aí, a coisa degringola. Mas Roberto seguiu até o fim concentrado e só pedindo, com um riso de advertência, que as pessoas que corressem para a gargarejo “ficassem quietinhas” enquanto ele cantava Como é Grande O Meu Amor Por Você. Ele mesmo se referiu ao caso do "cala a b..., p..." com graça no início do show. “Quando eu fico bravo, nem a Juma segura.” Era uma piada, e todo mundo riu.

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Antes de cantar Sua Estupidez, disse o que já disse outras vezes. “Por cavalheirismo e por ética, nunca vou poder dizer para quem eu fiz essa canção.” Mas Paulo Cesar de Araújo abordou o assunto em suas biografias sobre o artista e revelou a musa inspiradora. Ela seria Nice, sua primeira mulher, morta em 1990. Paulo reproduz no livro Outra Vez uma frase do cantor dizendo o seguinte: “‘Acordei um pouco cansado de tudo, das coisas inúteis que passam a ser importantes para quem não entende nada do valor dos sentimentos. É horrível conviver com gente emborrecida por qualquer coisinha’, reclamou, mas sem citar explicitamente o nome da então esposa.” O biógrafo entende que Nice se tornava assim não apenas a musa inspiradora de versos românticos exaltativos de canções como Como é grande o meu amor por você, “mas também dos temas problemáticos, em que o outro lhe faz cobranças, muitas cobranças, e num tom até agressivo como nos versos ‘Meu bem, meu bem / Use a inteligência uma vez só..’”

Sobre a RC 9, a banda que acompanha Roberto, talvez valha outra biografia. Tem muita história boa desses músicos que se portam comportados e imutáveis às costas do cantor, produzindo uma das regulagens de som mais baixas e lineares da história de um artista brasileiro. Nada sai do controle, não há uma nota fora do lugar e todos se portam uniformemente sentados e vestidos. Com 14 músicos ao todo (os nove oficiais mais cinco do naipe de metais), o grupo emula as big bands dos anos iniciais de Frank Sinatra, uma fissura de Roberto, e isso pode responder à pergunta que talvez seja hora de fazer: por que músicos tão bons que tocam há 60 anos canções como Detalhes, Olha e Jesus Cristo precisam ler partitura o tempo todo? 

Roberto Carlos fez um show grandioso na abertura de sua nova turnê na noite de quarta, 27, na casa Vibra São Paulo. Sua voz caminha por rotas alternativas cheias de frescor em canções já tão sólidas como Detalhes e Como Vai Você?, equilibra lágrimas nas lembranças da mãe em Lady Laura e chega ao ponto mais alto em Cavalgada, com um arranjo estendido de Eduardo Lages que a faz monumental e que seu biógrafo, Paulo César de Araújo, compara ao efeito de Live and Let Die no repertório de Paul McCartney. “É grandioso e nunca sai do seu repertório.” Há muito a se falar de Roberto, de bom e de nem tão bom assim, mas não que ele estava esquecendo letras, exceto por um instante de dois segundos, mal humorado ou tratando seu público com impaciência.

Roberto no show do Vibra SP, dia 27 de julho de 2022 Foto: Taba Benedicto

Ele ria e respondia com ternura até ao pior do seu público – aquele que chega para criar virais em suas redes sociais filmando o show enquanto grita “Roberto, me pega!”. Ao ouvir um dos muitos “Eu te amo” cortando a canção Outra Vez, ele chegou a fazer algo que raramente faz, respondendo com um “eu também” quase adolescente mesmo sabendo do risco de abrir uma porteira perigosa quando faz isso. Outras fãs podem se encorajar a buscar o mesmo protagonismo e, aí, a coisa degringola. Mas Roberto seguiu até o fim concentrado e só pedindo, com um riso de advertência, que as pessoas que corressem para a gargarejo “ficassem quietinhas” enquanto ele cantava Como é Grande O Meu Amor Por Você. Ele mesmo se referiu ao caso do "cala a b..., p..." com graça no início do show. “Quando eu fico bravo, nem a Juma segura.” Era uma piada, e todo mundo riu.

Antes de cantar Sua Estupidez, disse o que já disse outras vezes. “Por cavalheirismo e por ética, nunca vou poder dizer para quem eu fiz essa canção.” Mas Paulo Cesar de Araújo abordou o assunto em suas biografias sobre o artista e revelou a musa inspiradora. Ela seria Nice, sua primeira mulher, morta em 1990. Paulo reproduz no livro Outra Vez uma frase do cantor dizendo o seguinte: “‘Acordei um pouco cansado de tudo, das coisas inúteis que passam a ser importantes para quem não entende nada do valor dos sentimentos. É horrível conviver com gente emborrecida por qualquer coisinha’, reclamou, mas sem citar explicitamente o nome da então esposa.” O biógrafo entende que Nice se tornava assim não apenas a musa inspiradora de versos românticos exaltativos de canções como Como é grande o meu amor por você, “mas também dos temas problemáticos, em que o outro lhe faz cobranças, muitas cobranças, e num tom até agressivo como nos versos ‘Meu bem, meu bem / Use a inteligência uma vez só..’”

Sobre a RC 9, a banda que acompanha Roberto, talvez valha outra biografia. Tem muita história boa desses músicos que se portam comportados e imutáveis às costas do cantor, produzindo uma das regulagens de som mais baixas e lineares da história de um artista brasileiro. Nada sai do controle, não há uma nota fora do lugar e todos se portam uniformemente sentados e vestidos. Com 14 músicos ao todo (os nove oficiais mais cinco do naipe de metais), o grupo emula as big bands dos anos iniciais de Frank Sinatra, uma fissura de Roberto, e isso pode responder à pergunta que talvez seja hora de fazer: por que músicos tão bons que tocam há 60 anos canções como Detalhes, Olha e Jesus Cristo precisam ler partitura o tempo todo? 

Roberto Carlos fez um show grandioso na abertura de sua nova turnê na noite de quarta, 27, na casa Vibra São Paulo. Sua voz caminha por rotas alternativas cheias de frescor em canções já tão sólidas como Detalhes e Como Vai Você?, equilibra lágrimas nas lembranças da mãe em Lady Laura e chega ao ponto mais alto em Cavalgada, com um arranjo estendido de Eduardo Lages que a faz monumental e que seu biógrafo, Paulo César de Araújo, compara ao efeito de Live and Let Die no repertório de Paul McCartney. “É grandioso e nunca sai do seu repertório.” Há muito a se falar de Roberto, de bom e de nem tão bom assim, mas não que ele estava esquecendo letras, exceto por um instante de dois segundos, mal humorado ou tratando seu público com impaciência.

Roberto no show do Vibra SP, dia 27 de julho de 2022 Foto: Taba Benedicto

Ele ria e respondia com ternura até ao pior do seu público – aquele que chega para criar virais em suas redes sociais filmando o show enquanto grita “Roberto, me pega!”. Ao ouvir um dos muitos “Eu te amo” cortando a canção Outra Vez, ele chegou a fazer algo que raramente faz, respondendo com um “eu também” quase adolescente mesmo sabendo do risco de abrir uma porteira perigosa quando faz isso. Outras fãs podem se encorajar a buscar o mesmo protagonismo e, aí, a coisa degringola. Mas Roberto seguiu até o fim concentrado e só pedindo, com um riso de advertência, que as pessoas que corressem para a gargarejo “ficassem quietinhas” enquanto ele cantava Como é Grande O Meu Amor Por Você. Ele mesmo se referiu ao caso do "cala a b..., p..." com graça no início do show. “Quando eu fico bravo, nem a Juma segura.” Era uma piada, e todo mundo riu.

Antes de cantar Sua Estupidez, disse o que já disse outras vezes. “Por cavalheirismo e por ética, nunca vou poder dizer para quem eu fiz essa canção.” Mas Paulo Cesar de Araújo abordou o assunto em suas biografias sobre o artista e revelou a musa inspiradora. Ela seria Nice, sua primeira mulher, morta em 1990. Paulo reproduz no livro Outra Vez uma frase do cantor dizendo o seguinte: “‘Acordei um pouco cansado de tudo, das coisas inúteis que passam a ser importantes para quem não entende nada do valor dos sentimentos. É horrível conviver com gente emborrecida por qualquer coisinha’, reclamou, mas sem citar explicitamente o nome da então esposa.” O biógrafo entende que Nice se tornava assim não apenas a musa inspiradora de versos românticos exaltativos de canções como Como é grande o meu amor por você, “mas também dos temas problemáticos, em que o outro lhe faz cobranças, muitas cobranças, e num tom até agressivo como nos versos ‘Meu bem, meu bem / Use a inteligência uma vez só..’”

Sobre a RC 9, a banda que acompanha Roberto, talvez valha outra biografia. Tem muita história boa desses músicos que se portam comportados e imutáveis às costas do cantor, produzindo uma das regulagens de som mais baixas e lineares da história de um artista brasileiro. Nada sai do controle, não há uma nota fora do lugar e todos se portam uniformemente sentados e vestidos. Com 14 músicos ao todo (os nove oficiais mais cinco do naipe de metais), o grupo emula as big bands dos anos iniciais de Frank Sinatra, uma fissura de Roberto, e isso pode responder à pergunta que talvez seja hora de fazer: por que músicos tão bons que tocam há 60 anos canções como Detalhes, Olha e Jesus Cristo precisam ler partitura o tempo todo? 

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