Análise|Rock in Rio Lisboa: em ‘dia Disneylândia’, Ed Sheeran é montanha-russa; Jão é carrossel


Cantores se apresentaram neste domingo, 16, na capital portuguesa, e estão no line-up da edição brasileira do festival, em setembro

Por Danilo Casaletti

LISBOA - Em conversa com jornalistas brasileiros, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o segundo dia da décima edição do Rock Rio Lisboa como o “Dia da Disneylândia”. Dedicado ao pop, este domingo, 15, de fato atraiu famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. Bem diferente do sábado, 16, data dedicada ao rock, com Evanescense e Scorpions como destaques.

continua após a publicidade

Seguindo a mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento - para ficar em dois artistas que se apresentarão também na edição brasileira, no mês de setembro - , foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheia de curvas, subidas e descidas.

Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.

O show de Ed Sheeran no Rock In Rio Lisboa

continua após a publicidade

Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que ele leva há mais de uma década no palco. Sozinho, sem banda. Ele mesmo que comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.

Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran, aos poucos, o preenche com canções como Castel On The Hill, de 2017, com a qual ele abriu a apresentação.

Quem não sabe se seu voo solo pelos palcos pelo mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.

continua após a publicidade

O roteiro (veja completo mais abaixo) segue por canções como Shivers, The A Team e Give Me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas - dados divulgado pela organização do festival - acata para, a partir daí, passear como emoção pelo setlist escolhido por Sheeran - algo bastante parecido com o que ele apresentou recentemente em seu concerto em Munique, na Alemanha.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Ain’t No Sunshine, de Bill Withers , Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção do público nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I don’t Need You, de 2011.

continua após a publicidade

Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momento de pura nostalgia. Em Shape Of You a ordem é dançar.

Sheeran, embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de “Oh, oh, oh” ou “Ah, ah, ah”, tem, além de talento, o entendimento do que dar ao seu público. Maturidade profissional, em melhor tradução.

Jão no Rock In Rio Lisboa

continua após a publicidade

Considerando-se que Jão tem apenas seis anos de carreira e desconsiderando-se questões comerciais, é um feito e tanto para o brasileiro ter se apresentado no Palco Mundo neste mesmo domingo, 16,.

Jão foi a segunda atração do espaço, horas antes de Sheeran e depois que o português Fernando Daniel teve o público do Parque Tejo, para onde o festival migrou este ano, todo em suas mãos.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA
continua após a publicidade

Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Haviam cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival ouvia Jão apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.

Momentos antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, afirmou ter concebido um show especial para Lisboa, “que nunca mais se repetiria”. “É cinematográfico, teatralizado”.

Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, defeito cada vez mais comum com artistas da atualidades. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam. Tudo parece sempre cansativamente igual.

No primeiro momento do show em que lançou mão de uma ‘encenação’, Jão cometeu uma desatenção. Antes de cantar Locadora, faixa de seu álbum Supernova, seu músico entoou os acordes da vinheta do Supercine, sessão de cinema da TV Globo, composição de Roger Henri. Não fez sentido algum para o público português.

Ao cantar Carnaval, derrapou feio. Parecia inseguro com a nova canção. Deveria ter ensaiado mais.

Jão faz um bom pop - e suas variações. Suas composições, a maioria em companhia dos habituais parceiros Pedro Tofani e Zebu, evoluem com constância - basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no último dia 12 de junho.

Mesmo comercial, com temas que se alternam entre dúvidas existenciais profundas, amores feitos e desfeitos e paixões mais descaradas, a música de Jão é bem feita e bem apresentada.

Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente para suas canções, seja no palco ou em gravações - basta ouvir a insossa versão que ele fez para Jardins da Babilônia, gravada para a abertura da novela Família É Tudo.

Por vezes, as performances de Jão parecem meio blasé ou arrumadinhas demais. Não dá vontade de ‘lamber’, como pede um de seus grandes sucessos de carreira.

O show no Rock In Rio Lisboa foi um passo importante para Jão, embora Super não tenha conseguido o mesmo êxito entre os ouvintes portugueses que Pirata, de 2021, turnê que ele levou ao país.

Jão, no mesmo papo com os jornalistas, antes de subir ao palco, negou que persiga ou faça esforço para um carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal. “Gosto de compor em inglês”, justificou. “Tudo vai acontecer naturalmente, como a minha própria carreia aconteceu”, completou.

Jão será uma das atrações do Rock in Rio em setembro, no dia 19 . Até lá, tem tempo para pensar se, de fato, consegue ir além de sua bolha de fãs, corrigir suas distorções e conquistar de vez a posição de um ídolo pop brasileiro - ou até internacional.

Setlist de Ed Sheeran no Rock in Rio Lisboa

  • Castle on The Hill
  • Shivers
  • The a Team
  • Give Me Love
  • Take It Back/Superstition/Ain’t No Sunshine
  • Eyes Closed
  • Thinking Out Loud
  • Photograph
  • Sing
  • Love Yourself
  • Perfect
  • Bloodstream
  • You need me, I don’t need You
  • Shape of You
  • Bad Habits

Setlist de Jão no Rock in Rio Lisboa

  • Alinhamento Milenar
  • Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor
  • Santo
  • Escorpião
  • Vou Morrer Sozinho
  • Lábia
  • Locadora
  • Coringa
  • Meninos e Meninas
  • Acontece
  • Julho
  • Carnaval
  • Pilantra
  • Idiota
  • Me Lambe

LISBOA - Em conversa com jornalistas brasileiros, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o segundo dia da décima edição do Rock Rio Lisboa como o “Dia da Disneylândia”. Dedicado ao pop, este domingo, 15, de fato atraiu famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. Bem diferente do sábado, 16, data dedicada ao rock, com Evanescense e Scorpions como destaques.

Seguindo a mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento - para ficar em dois artistas que se apresentarão também na edição brasileira, no mês de setembro - , foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheia de curvas, subidas e descidas.

Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.

O show de Ed Sheeran no Rock In Rio Lisboa

Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que ele leva há mais de uma década no palco. Sozinho, sem banda. Ele mesmo que comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.

Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran, aos poucos, o preenche com canções como Castel On The Hill, de 2017, com a qual ele abriu a apresentação.

Quem não sabe se seu voo solo pelos palcos pelo mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.

O roteiro (veja completo mais abaixo) segue por canções como Shivers, The A Team e Give Me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas - dados divulgado pela organização do festival - acata para, a partir daí, passear como emoção pelo setlist escolhido por Sheeran - algo bastante parecido com o que ele apresentou recentemente em seu concerto em Munique, na Alemanha.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Ain’t No Sunshine, de Bill Withers , Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção do público nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I don’t Need You, de 2011.

Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momento de pura nostalgia. Em Shape Of You a ordem é dançar.

Sheeran, embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de “Oh, oh, oh” ou “Ah, ah, ah”, tem, além de talento, o entendimento do que dar ao seu público. Maturidade profissional, em melhor tradução.

Jão no Rock In Rio Lisboa

Considerando-se que Jão tem apenas seis anos de carreira e desconsiderando-se questões comerciais, é um feito e tanto para o brasileiro ter se apresentado no Palco Mundo neste mesmo domingo, 16,.

Jão foi a segunda atração do espaço, horas antes de Sheeran e depois que o português Fernando Daniel teve o público do Parque Tejo, para onde o festival migrou este ano, todo em suas mãos.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Haviam cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival ouvia Jão apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.

Momentos antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, afirmou ter concebido um show especial para Lisboa, “que nunca mais se repetiria”. “É cinematográfico, teatralizado”.

Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, defeito cada vez mais comum com artistas da atualidades. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam. Tudo parece sempre cansativamente igual.

No primeiro momento do show em que lançou mão de uma ‘encenação’, Jão cometeu uma desatenção. Antes de cantar Locadora, faixa de seu álbum Supernova, seu músico entoou os acordes da vinheta do Supercine, sessão de cinema da TV Globo, composição de Roger Henri. Não fez sentido algum para o público português.

Ao cantar Carnaval, derrapou feio. Parecia inseguro com a nova canção. Deveria ter ensaiado mais.

Jão faz um bom pop - e suas variações. Suas composições, a maioria em companhia dos habituais parceiros Pedro Tofani e Zebu, evoluem com constância - basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no último dia 12 de junho.

Mesmo comercial, com temas que se alternam entre dúvidas existenciais profundas, amores feitos e desfeitos e paixões mais descaradas, a música de Jão é bem feita e bem apresentada.

Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente para suas canções, seja no palco ou em gravações - basta ouvir a insossa versão que ele fez para Jardins da Babilônia, gravada para a abertura da novela Família É Tudo.

Por vezes, as performances de Jão parecem meio blasé ou arrumadinhas demais. Não dá vontade de ‘lamber’, como pede um de seus grandes sucessos de carreira.

O show no Rock In Rio Lisboa foi um passo importante para Jão, embora Super não tenha conseguido o mesmo êxito entre os ouvintes portugueses que Pirata, de 2021, turnê que ele levou ao país.

Jão, no mesmo papo com os jornalistas, antes de subir ao palco, negou que persiga ou faça esforço para um carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal. “Gosto de compor em inglês”, justificou. “Tudo vai acontecer naturalmente, como a minha própria carreia aconteceu”, completou.

Jão será uma das atrações do Rock in Rio em setembro, no dia 19 . Até lá, tem tempo para pensar se, de fato, consegue ir além de sua bolha de fãs, corrigir suas distorções e conquistar de vez a posição de um ídolo pop brasileiro - ou até internacional.

Setlist de Ed Sheeran no Rock in Rio Lisboa

  • Castle on The Hill
  • Shivers
  • The a Team
  • Give Me Love
  • Take It Back/Superstition/Ain’t No Sunshine
  • Eyes Closed
  • Thinking Out Loud
  • Photograph
  • Sing
  • Love Yourself
  • Perfect
  • Bloodstream
  • You need me, I don’t need You
  • Shape of You
  • Bad Habits

Setlist de Jão no Rock in Rio Lisboa

  • Alinhamento Milenar
  • Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor
  • Santo
  • Escorpião
  • Vou Morrer Sozinho
  • Lábia
  • Locadora
  • Coringa
  • Meninos e Meninas
  • Acontece
  • Julho
  • Carnaval
  • Pilantra
  • Idiota
  • Me Lambe

LISBOA - Em conversa com jornalistas brasileiros, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o segundo dia da décima edição do Rock Rio Lisboa como o “Dia da Disneylândia”. Dedicado ao pop, este domingo, 15, de fato atraiu famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. Bem diferente do sábado, 16, data dedicada ao rock, com Evanescense e Scorpions como destaques.

Seguindo a mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento - para ficar em dois artistas que se apresentarão também na edição brasileira, no mês de setembro - , foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheia de curvas, subidas e descidas.

Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.

O show de Ed Sheeran no Rock In Rio Lisboa

Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que ele leva há mais de uma década no palco. Sozinho, sem banda. Ele mesmo que comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.

Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran, aos poucos, o preenche com canções como Castel On The Hill, de 2017, com a qual ele abriu a apresentação.

Quem não sabe se seu voo solo pelos palcos pelo mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.

O roteiro (veja completo mais abaixo) segue por canções como Shivers, The A Team e Give Me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas - dados divulgado pela organização do festival - acata para, a partir daí, passear como emoção pelo setlist escolhido por Sheeran - algo bastante parecido com o que ele apresentou recentemente em seu concerto em Munique, na Alemanha.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Ain’t No Sunshine, de Bill Withers , Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção do público nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I don’t Need You, de 2011.

Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momento de pura nostalgia. Em Shape Of You a ordem é dançar.

Sheeran, embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de “Oh, oh, oh” ou “Ah, ah, ah”, tem, além de talento, o entendimento do que dar ao seu público. Maturidade profissional, em melhor tradução.

Jão no Rock In Rio Lisboa

Considerando-se que Jão tem apenas seis anos de carreira e desconsiderando-se questões comerciais, é um feito e tanto para o brasileiro ter se apresentado no Palco Mundo neste mesmo domingo, 16,.

Jão foi a segunda atração do espaço, horas antes de Sheeran e depois que o português Fernando Daniel teve o público do Parque Tejo, para onde o festival migrou este ano, todo em suas mãos.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Haviam cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival ouvia Jão apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.

Momentos antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, afirmou ter concebido um show especial para Lisboa, “que nunca mais se repetiria”. “É cinematográfico, teatralizado”.

Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, defeito cada vez mais comum com artistas da atualidades. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam. Tudo parece sempre cansativamente igual.

No primeiro momento do show em que lançou mão de uma ‘encenação’, Jão cometeu uma desatenção. Antes de cantar Locadora, faixa de seu álbum Supernova, seu músico entoou os acordes da vinheta do Supercine, sessão de cinema da TV Globo, composição de Roger Henri. Não fez sentido algum para o público português.

Ao cantar Carnaval, derrapou feio. Parecia inseguro com a nova canção. Deveria ter ensaiado mais.

Jão faz um bom pop - e suas variações. Suas composições, a maioria em companhia dos habituais parceiros Pedro Tofani e Zebu, evoluem com constância - basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no último dia 12 de junho.

Mesmo comercial, com temas que se alternam entre dúvidas existenciais profundas, amores feitos e desfeitos e paixões mais descaradas, a música de Jão é bem feita e bem apresentada.

Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente para suas canções, seja no palco ou em gravações - basta ouvir a insossa versão que ele fez para Jardins da Babilônia, gravada para a abertura da novela Família É Tudo.

Por vezes, as performances de Jão parecem meio blasé ou arrumadinhas demais. Não dá vontade de ‘lamber’, como pede um de seus grandes sucessos de carreira.

O show no Rock In Rio Lisboa foi um passo importante para Jão, embora Super não tenha conseguido o mesmo êxito entre os ouvintes portugueses que Pirata, de 2021, turnê que ele levou ao país.

Jão, no mesmo papo com os jornalistas, antes de subir ao palco, negou que persiga ou faça esforço para um carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal. “Gosto de compor em inglês”, justificou. “Tudo vai acontecer naturalmente, como a minha própria carreia aconteceu”, completou.

Jão será uma das atrações do Rock in Rio em setembro, no dia 19 . Até lá, tem tempo para pensar se, de fato, consegue ir além de sua bolha de fãs, corrigir suas distorções e conquistar de vez a posição de um ídolo pop brasileiro - ou até internacional.

Setlist de Ed Sheeran no Rock in Rio Lisboa

  • Castle on The Hill
  • Shivers
  • The a Team
  • Give Me Love
  • Take It Back/Superstition/Ain’t No Sunshine
  • Eyes Closed
  • Thinking Out Loud
  • Photograph
  • Sing
  • Love Yourself
  • Perfect
  • Bloodstream
  • You need me, I don’t need You
  • Shape of You
  • Bad Habits

Setlist de Jão no Rock in Rio Lisboa

  • Alinhamento Milenar
  • Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor
  • Santo
  • Escorpião
  • Vou Morrer Sozinho
  • Lábia
  • Locadora
  • Coringa
  • Meninos e Meninas
  • Acontece
  • Julho
  • Carnaval
  • Pilantra
  • Idiota
  • Me Lambe

LISBOA - Em conversa com jornalistas brasileiros, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o segundo dia da décima edição do Rock Rio Lisboa como o “Dia da Disneylândia”. Dedicado ao pop, este domingo, 15, de fato atraiu famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. Bem diferente do sábado, 16, data dedicada ao rock, com Evanescense e Scorpions como destaques.

Seguindo a mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento - para ficar em dois artistas que se apresentarão também na edição brasileira, no mês de setembro - , foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheia de curvas, subidas e descidas.

Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.

O show de Ed Sheeran no Rock In Rio Lisboa

Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que ele leva há mais de uma década no palco. Sozinho, sem banda. Ele mesmo que comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.

Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran, aos poucos, o preenche com canções como Castel On The Hill, de 2017, com a qual ele abriu a apresentação.

Quem não sabe se seu voo solo pelos palcos pelo mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.

O roteiro (veja completo mais abaixo) segue por canções como Shivers, The A Team e Give Me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas - dados divulgado pela organização do festival - acata para, a partir daí, passear como emoção pelo setlist escolhido por Sheeran - algo bastante parecido com o que ele apresentou recentemente em seu concerto em Munique, na Alemanha.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Ain’t No Sunshine, de Bill Withers , Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção do público nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I don’t Need You, de 2011.

Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momento de pura nostalgia. Em Shape Of You a ordem é dançar.

Sheeran, embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de “Oh, oh, oh” ou “Ah, ah, ah”, tem, além de talento, o entendimento do que dar ao seu público. Maturidade profissional, em melhor tradução.

Jão no Rock In Rio Lisboa

Considerando-se que Jão tem apenas seis anos de carreira e desconsiderando-se questões comerciais, é um feito e tanto para o brasileiro ter se apresentado no Palco Mundo neste mesmo domingo, 16,.

Jão foi a segunda atração do espaço, horas antes de Sheeran e depois que o português Fernando Daniel teve o público do Parque Tejo, para onde o festival migrou este ano, todo em suas mãos.

Ed Sheeran em show no Rock In Rio Lisboa 2024 Foto: HELENA YOSHIOKA

Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Haviam cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival ouvia Jão apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.

Momentos antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, afirmou ter concebido um show especial para Lisboa, “que nunca mais se repetiria”. “É cinematográfico, teatralizado”.

Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, defeito cada vez mais comum com artistas da atualidades. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam. Tudo parece sempre cansativamente igual.

No primeiro momento do show em que lançou mão de uma ‘encenação’, Jão cometeu uma desatenção. Antes de cantar Locadora, faixa de seu álbum Supernova, seu músico entoou os acordes da vinheta do Supercine, sessão de cinema da TV Globo, composição de Roger Henri. Não fez sentido algum para o público português.

Ao cantar Carnaval, derrapou feio. Parecia inseguro com a nova canção. Deveria ter ensaiado mais.

Jão faz um bom pop - e suas variações. Suas composições, a maioria em companhia dos habituais parceiros Pedro Tofani e Zebu, evoluem com constância - basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no último dia 12 de junho.

Mesmo comercial, com temas que se alternam entre dúvidas existenciais profundas, amores feitos e desfeitos e paixões mais descaradas, a música de Jão é bem feita e bem apresentada.

Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente para suas canções, seja no palco ou em gravações - basta ouvir a insossa versão que ele fez para Jardins da Babilônia, gravada para a abertura da novela Família É Tudo.

Por vezes, as performances de Jão parecem meio blasé ou arrumadinhas demais. Não dá vontade de ‘lamber’, como pede um de seus grandes sucessos de carreira.

O show no Rock In Rio Lisboa foi um passo importante para Jão, embora Super não tenha conseguido o mesmo êxito entre os ouvintes portugueses que Pirata, de 2021, turnê que ele levou ao país.

Jão, no mesmo papo com os jornalistas, antes de subir ao palco, negou que persiga ou faça esforço para um carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal. “Gosto de compor em inglês”, justificou. “Tudo vai acontecer naturalmente, como a minha própria carreia aconteceu”, completou.

Jão será uma das atrações do Rock in Rio em setembro, no dia 19 . Até lá, tem tempo para pensar se, de fato, consegue ir além de sua bolha de fãs, corrigir suas distorções e conquistar de vez a posição de um ídolo pop brasileiro - ou até internacional.

Setlist de Ed Sheeran no Rock in Rio Lisboa

  • Castle on The Hill
  • Shivers
  • The a Team
  • Give Me Love
  • Take It Back/Superstition/Ain’t No Sunshine
  • Eyes Closed
  • Thinking Out Loud
  • Photograph
  • Sing
  • Love Yourself
  • Perfect
  • Bloodstream
  • You need me, I don’t need You
  • Shape of You
  • Bad Habits

Setlist de Jão no Rock in Rio Lisboa

  • Alinhamento Milenar
  • Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor
  • Santo
  • Escorpião
  • Vou Morrer Sozinho
  • Lábia
  • Locadora
  • Coringa
  • Meninos e Meninas
  • Acontece
  • Julho
  • Carnaval
  • Pilantra
  • Idiota
  • Me Lambe
Análise por Danilo Casaletti

Repórter de Cultura do Estadão

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.