Roger Waters segue retornando a The Wall, álbum conceitual composto por ele quando era líder do Pink Floyd. Mas não está apenas olhando para o passado. A mais recente encarnação da obra é Roger Waters The Wall, filme que foi exibido apenas uma vez, no último dia 29, em cinemas de todo o mundo. Novas exibições nos cinemas não são garantidas, embora haja um DVD em fase de preparo. Roger Waters The Wall justapõe momentos privados e a teatralidade de grandes proporções de Waters. Trata-se principalmente de um documentário da produção para palco panorâmico que rodou o mundo de 2010 a 2013. Mas a história de The Wall começa com a morte de um pai na 2.ª Guerra, e o espetáculo para estádios é intercalado por peregrinações particulares de Waters: suas primeiras visitas à praia de Anzio, Itália, onde o pai morreu numa batalha da 2.ª Guerra, e aos túmulos do pai e do avô, também morto na guerra. Quando Waters, agora com 72 anos, compôs The Wall no final dos anos 1970, a obra era a queixa de um “infeliz astro do rock”, disse ele. “Com os anos, minha perspectiva mudou.” Ele concedeu uma descontraída entrevista na sala de seu lar em Manhattan: um ambiente de paredes brancas, pé-direito alto, cheio de luz, com obras de arte abstrata e pop art nas paredes, incluindo uma série de serigrafias de Andy Warhol retratando Mao Tsé-tung.
The Wall retrata a infância do astro do rock órfão do pai, criado pela mãe temerosa; os professores cruéis; conflito conjugal; excessos no quarto de hotel; drogas para suportar uma apresentação; e um colapso nervoso que transforma o cantor - chamado Pink - num neonazista demagogo, enquanto uma parede se ergue entre ele e os fãs. Finalmente, ele a derruba. “Talvez criar a obra tenha sido minha forma de escapar da cela solitária na qual me vi quando jovem”, disse ele. “Passei a vida tentando encontrar a coragem necessária para me expor aos outros para que pudessem gostar de mim ou não, e descobrir quem são as outras pessoas. É como derrubar paredes.” O Pink Floyd tocou The Wall em sua turnê para estádios em 1980-81. O álbum foi então transposto para um filme de 82, Pink Floyd - The Wall, dirigido por Alan Parker. Waters também montou uma produção de The Wall em Berlim em 1990, ano seguinte à abertura do muro de Berlim. Na releitura de The Wall feita por Waters para o século 21, o álbum se tornou uma meditação a respeito do poder mal utilizado: pelos pais, professores, astros, países e ideologias. Em seguida, Waters vai retomar um álbum que está compondo, cujo título provisório é Lay Down Jerusalem. Ele disse que é história de um menino que tem pesadelos e pergunta ao avô: “Por que estão matando as crianças?”. “O avô promete que vão descobrir a resposta e, assim, eles partem em busca dela”, disse Waters. “E, é claro, não a encontram, pois a resposta é difícil demais.” O projeto ganhou forma como peça para o rádio. Waters espera agora reformá-lo como álbum e, posteriormente, como espetáculo para estádios. “Talvez usar um pouco das canções novas e um pouco das mais antigas, misturando tudo num último show de rock que possa ser meu encerramento”, disse ele. “Uma despedida.”/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL