Roy Cicala, produtor de Lennon e Sinatra, perdido em SP


Perambula pela cidade o produtor que trabalhou com Elvis, Zappa, Hendrix e outros grandes nomes da música. "John era um gênio", diz Cicala, sobre Lennon

Por Agencia Estado

Ele já foi o homem de confiança de Frank Sinatra, John Lennon, Patti Smith, Aerosmith, Madonna, Yoko Ono, Sting, Tom Jobim. Mas, nos últimos dias, seu maior projeto é conseguir alugar um apartamento no centro de São Paulo. Como demora para sair seu visto de residência, não consegue. "Acho que vou ficar mesmo num flat", diz. O nome dele é Roy Cicala, engenheiro de som e produtor norte-americano de 65 anos. Roy é a mente por trás de discos como Imagine e Mind Games, de Lennon, ou Watertown, de Frank Sinatra. ´Don´ Cicala, como era conhecido nos estúdios americanos, está vivendo temporariamente em uma casa na Serra da Cantareira, com a filha brasileira Hanna, de 17 anos. Ele criou Hanna, mas, após o divórcio, a mãe a trouxe de volta para o Brasil e ele ficou seis anos sem vê-la. Resolveu vir atrás. Cansado das viagens entre a Cantareira e a região do Parque do Ibirapuera, onde faz remasterizações em estúdios de produtores brasileiros, resolveu ter casa dupla. "Estou tentando conseguir um visto de permanência, pois tenho filha brasileira. Assim posso trabalhar aqui e ficar no País", diz Cicala, sujeito que conhece a fundo a história da música popular moderna. Ele foi o dono, entre 1968 e 1989, do mítico estúdio Record Plant, em Nova York, uma instituição da cidade com suas paredes coalhadas de discos de Jackson Browne, Grand Funk Railroad, Don McLean, The Raspberries. Foi ali que Jimi Hendrix gravou uma de suas pedras de toque, Electric Ladyland (1968), elepê duplo que trazia os clássicos Vooddo Chile e a releitura de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Ali, ele trabalhou com ou orientou gente como Frank Zappa, Elvis Presley, Elton John, Sting, Frank Sinatra, Dire Straits, Jimi Hendrix, David Bowie, Miles Davis, Chick Corea, Ray Charles, Queen, Aerosmith, The Who, Frank Zappa, Lou Reed, Prince, Santana, Sarah Vaughn e Charles Mingus. Seu primeiro trabalho como engenheiro de som, ele lembra, foi para o grupo de soul branco The Young Rascals, em meados dos anos 60. Mas Roy Cicala sabia muito mais do que o que acontecia nas quatro paredes de um estúdio. Em seu casarão em North Mountain, 90, seus hóspedes John Lennon e Yoko gastaram alguns dias consumindo-se num quarto fechado no terceiro andar antes de entrar em função para gravar. Conhece histórias de arrepiar. Um dia, conta, estava em estúdio com uma constelação de artistas, gravando com o também produtor Phil Spector. Repentinamente, Spector levantou-se, sacou uma arma e deu um tiro para o alto. Todo mundo ficou boquiaberto, e ele guardou a arma fumegante. Nisso, uma senhora que estava calada, sentada ao fundo, levantou-se aplaudindo e veio abraçar o produtor-atirador, eufórica. "Era a mãe dele", conta Cicala. Spector está sendo julgado em Los Angeles pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003. Vivendo entre excêntricos, tudo podia acontecer na vida de Don Cicala. Ele lembra que, em outra ocasião, John Lennon quase o matou do coração. Foi durante as gravações de Mind Games. "John levou as fitas com as gravações, recém-completadas, para a sala de edição. Quando eu entrei lá, as fitas dos tapes estavam picadas por todo canto. John estava sentado com uma cara triste. Eu fui para o elevador - acho que para contar até 100 ou algo do tipo - e John veio correndo atrás. Era uma piada, ele tinha picotado uns tapes em branco." Cicala conseguia se entender muito bem com os artistas com os quais conviveu. "John era um gênio", diz, sobre Lennon, com quem até compôs uma canção maluquérrima, Incantation. "A canção saiu só recentemente, como um bônus na contracapa daquele livro Beatles Undercover", conta. "Compor com John foi uma coisa mágica", diz Cicala. "Todo mundo acha que a letra de Incantation fala de consumo de cocaína (´All the dog soldiers shootin´ uncoke-a-cola´), mas se refere ao cachimbo da paz indígena", ele conta. Beatles Undercover foi lançado em 1998 e, além dessa faixa Incantation (tocada por Dog Soldier e Patrick June), trazia Let´s Spend the Night Together (vocais de Lori Burton e Patrick Jude, com produção e arranjo de Lennon) e Answer me, My Love, cantada por Lori Burton, e com produção de Cicala e Lennon. Cicala define poucos artistas como "difíceis". Um deles é Cindy Lauper. Lou Reed, que tem reputação de xarope, nem tanto. "Ele agora é certinho, está casado." Conheceu Jobim ("Grande artista"), Billy Blanco e Jaques Morelenbaum. Gravou Miles Davis, Sarah Vaughan e AC/DC. "Não há diferença (entre trabalhar como engenheiro de som para jazzistas ou roqueiros)", ele diz. "Tudo que eu fiz sempre foi capturar o que acontecia no estúdio." Nos anos 70, Roy chegou a viver num apartamento no Rio. "Amo o Brasil. É mais desafiador viver aqui do que em Nova York", diz. Mas desta vez preferiu São Paulo. "Todo mundo no Rio diz ´sim´, quando na verdade não está dizendo ´sim´, se é que me entende. É como na Califórnia, onde vivi. Prefiro São Paulo, é mais profissional, como Nova York." Entre os amigos daqui, estão o produtor Apollo 9 e o roqueiro Marcelo Nova. "Marcelo me faz rir tanto que até dá dor de barriga", conta. "Roy tem um ouvido espetacular", diz Apollo 9. "Depois de um tempo de convívio, você começa a prestar atenção e se dá conta do fantástico conhecimento que ele tem de música. Ele trabalhou com todo mundo, com o Velvet Underground, com Phil Ramone." A cada dia em que desfruta do convívio com a lenda dos estúdios musicais, Apollo se surpreende mais. "Por exemplo: muita gente acha que foi pioneira em ter um carro dentro do estúdio para que os músicos pud essem ouvir o som que tinham gravado. Mas Roy já fazia isso nos anos 70", ele lembra. "O homem é simplesmente um monstro", entusiasma-se outro produtor, Jeff Berg, que também tem trabalhado com Cicala. "Muito da sonoridade de hoje, de como se gravar rock´n´roll, foi ele que sacou primeiro." Haverá um mercado para um engenheiro de som com a experiência de Roy Cicala em São Paulo? "Não sei dizer", diz ele. "Estou certo que há um mercado, mas tenho de provar isso. Todo o tempo tenho de provar se estou apto ou não."

Ele já foi o homem de confiança de Frank Sinatra, John Lennon, Patti Smith, Aerosmith, Madonna, Yoko Ono, Sting, Tom Jobim. Mas, nos últimos dias, seu maior projeto é conseguir alugar um apartamento no centro de São Paulo. Como demora para sair seu visto de residência, não consegue. "Acho que vou ficar mesmo num flat", diz. O nome dele é Roy Cicala, engenheiro de som e produtor norte-americano de 65 anos. Roy é a mente por trás de discos como Imagine e Mind Games, de Lennon, ou Watertown, de Frank Sinatra. ´Don´ Cicala, como era conhecido nos estúdios americanos, está vivendo temporariamente em uma casa na Serra da Cantareira, com a filha brasileira Hanna, de 17 anos. Ele criou Hanna, mas, após o divórcio, a mãe a trouxe de volta para o Brasil e ele ficou seis anos sem vê-la. Resolveu vir atrás. Cansado das viagens entre a Cantareira e a região do Parque do Ibirapuera, onde faz remasterizações em estúdios de produtores brasileiros, resolveu ter casa dupla. "Estou tentando conseguir um visto de permanência, pois tenho filha brasileira. Assim posso trabalhar aqui e ficar no País", diz Cicala, sujeito que conhece a fundo a história da música popular moderna. Ele foi o dono, entre 1968 e 1989, do mítico estúdio Record Plant, em Nova York, uma instituição da cidade com suas paredes coalhadas de discos de Jackson Browne, Grand Funk Railroad, Don McLean, The Raspberries. Foi ali que Jimi Hendrix gravou uma de suas pedras de toque, Electric Ladyland (1968), elepê duplo que trazia os clássicos Vooddo Chile e a releitura de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Ali, ele trabalhou com ou orientou gente como Frank Zappa, Elvis Presley, Elton John, Sting, Frank Sinatra, Dire Straits, Jimi Hendrix, David Bowie, Miles Davis, Chick Corea, Ray Charles, Queen, Aerosmith, The Who, Frank Zappa, Lou Reed, Prince, Santana, Sarah Vaughn e Charles Mingus. Seu primeiro trabalho como engenheiro de som, ele lembra, foi para o grupo de soul branco The Young Rascals, em meados dos anos 60. Mas Roy Cicala sabia muito mais do que o que acontecia nas quatro paredes de um estúdio. Em seu casarão em North Mountain, 90, seus hóspedes John Lennon e Yoko gastaram alguns dias consumindo-se num quarto fechado no terceiro andar antes de entrar em função para gravar. Conhece histórias de arrepiar. Um dia, conta, estava em estúdio com uma constelação de artistas, gravando com o também produtor Phil Spector. Repentinamente, Spector levantou-se, sacou uma arma e deu um tiro para o alto. Todo mundo ficou boquiaberto, e ele guardou a arma fumegante. Nisso, uma senhora que estava calada, sentada ao fundo, levantou-se aplaudindo e veio abraçar o produtor-atirador, eufórica. "Era a mãe dele", conta Cicala. Spector está sendo julgado em Los Angeles pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003. Vivendo entre excêntricos, tudo podia acontecer na vida de Don Cicala. Ele lembra que, em outra ocasião, John Lennon quase o matou do coração. Foi durante as gravações de Mind Games. "John levou as fitas com as gravações, recém-completadas, para a sala de edição. Quando eu entrei lá, as fitas dos tapes estavam picadas por todo canto. John estava sentado com uma cara triste. Eu fui para o elevador - acho que para contar até 100 ou algo do tipo - e John veio correndo atrás. Era uma piada, ele tinha picotado uns tapes em branco." Cicala conseguia se entender muito bem com os artistas com os quais conviveu. "John era um gênio", diz, sobre Lennon, com quem até compôs uma canção maluquérrima, Incantation. "A canção saiu só recentemente, como um bônus na contracapa daquele livro Beatles Undercover", conta. "Compor com John foi uma coisa mágica", diz Cicala. "Todo mundo acha que a letra de Incantation fala de consumo de cocaína (´All the dog soldiers shootin´ uncoke-a-cola´), mas se refere ao cachimbo da paz indígena", ele conta. Beatles Undercover foi lançado em 1998 e, além dessa faixa Incantation (tocada por Dog Soldier e Patrick June), trazia Let´s Spend the Night Together (vocais de Lori Burton e Patrick Jude, com produção e arranjo de Lennon) e Answer me, My Love, cantada por Lori Burton, e com produção de Cicala e Lennon. Cicala define poucos artistas como "difíceis". Um deles é Cindy Lauper. Lou Reed, que tem reputação de xarope, nem tanto. "Ele agora é certinho, está casado." Conheceu Jobim ("Grande artista"), Billy Blanco e Jaques Morelenbaum. Gravou Miles Davis, Sarah Vaughan e AC/DC. "Não há diferença (entre trabalhar como engenheiro de som para jazzistas ou roqueiros)", ele diz. "Tudo que eu fiz sempre foi capturar o que acontecia no estúdio." Nos anos 70, Roy chegou a viver num apartamento no Rio. "Amo o Brasil. É mais desafiador viver aqui do que em Nova York", diz. Mas desta vez preferiu São Paulo. "Todo mundo no Rio diz ´sim´, quando na verdade não está dizendo ´sim´, se é que me entende. É como na Califórnia, onde vivi. Prefiro São Paulo, é mais profissional, como Nova York." Entre os amigos daqui, estão o produtor Apollo 9 e o roqueiro Marcelo Nova. "Marcelo me faz rir tanto que até dá dor de barriga", conta. "Roy tem um ouvido espetacular", diz Apollo 9. "Depois de um tempo de convívio, você começa a prestar atenção e se dá conta do fantástico conhecimento que ele tem de música. Ele trabalhou com todo mundo, com o Velvet Underground, com Phil Ramone." A cada dia em que desfruta do convívio com a lenda dos estúdios musicais, Apollo se surpreende mais. "Por exemplo: muita gente acha que foi pioneira em ter um carro dentro do estúdio para que os músicos pud essem ouvir o som que tinham gravado. Mas Roy já fazia isso nos anos 70", ele lembra. "O homem é simplesmente um monstro", entusiasma-se outro produtor, Jeff Berg, que também tem trabalhado com Cicala. "Muito da sonoridade de hoje, de como se gravar rock´n´roll, foi ele que sacou primeiro." Haverá um mercado para um engenheiro de som com a experiência de Roy Cicala em São Paulo? "Não sei dizer", diz ele. "Estou certo que há um mercado, mas tenho de provar isso. Todo o tempo tenho de provar se estou apto ou não."

Ele já foi o homem de confiança de Frank Sinatra, John Lennon, Patti Smith, Aerosmith, Madonna, Yoko Ono, Sting, Tom Jobim. Mas, nos últimos dias, seu maior projeto é conseguir alugar um apartamento no centro de São Paulo. Como demora para sair seu visto de residência, não consegue. "Acho que vou ficar mesmo num flat", diz. O nome dele é Roy Cicala, engenheiro de som e produtor norte-americano de 65 anos. Roy é a mente por trás de discos como Imagine e Mind Games, de Lennon, ou Watertown, de Frank Sinatra. ´Don´ Cicala, como era conhecido nos estúdios americanos, está vivendo temporariamente em uma casa na Serra da Cantareira, com a filha brasileira Hanna, de 17 anos. Ele criou Hanna, mas, após o divórcio, a mãe a trouxe de volta para o Brasil e ele ficou seis anos sem vê-la. Resolveu vir atrás. Cansado das viagens entre a Cantareira e a região do Parque do Ibirapuera, onde faz remasterizações em estúdios de produtores brasileiros, resolveu ter casa dupla. "Estou tentando conseguir um visto de permanência, pois tenho filha brasileira. Assim posso trabalhar aqui e ficar no País", diz Cicala, sujeito que conhece a fundo a história da música popular moderna. Ele foi o dono, entre 1968 e 1989, do mítico estúdio Record Plant, em Nova York, uma instituição da cidade com suas paredes coalhadas de discos de Jackson Browne, Grand Funk Railroad, Don McLean, The Raspberries. Foi ali que Jimi Hendrix gravou uma de suas pedras de toque, Electric Ladyland (1968), elepê duplo que trazia os clássicos Vooddo Chile e a releitura de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Ali, ele trabalhou com ou orientou gente como Frank Zappa, Elvis Presley, Elton John, Sting, Frank Sinatra, Dire Straits, Jimi Hendrix, David Bowie, Miles Davis, Chick Corea, Ray Charles, Queen, Aerosmith, The Who, Frank Zappa, Lou Reed, Prince, Santana, Sarah Vaughn e Charles Mingus. Seu primeiro trabalho como engenheiro de som, ele lembra, foi para o grupo de soul branco The Young Rascals, em meados dos anos 60. Mas Roy Cicala sabia muito mais do que o que acontecia nas quatro paredes de um estúdio. Em seu casarão em North Mountain, 90, seus hóspedes John Lennon e Yoko gastaram alguns dias consumindo-se num quarto fechado no terceiro andar antes de entrar em função para gravar. Conhece histórias de arrepiar. Um dia, conta, estava em estúdio com uma constelação de artistas, gravando com o também produtor Phil Spector. Repentinamente, Spector levantou-se, sacou uma arma e deu um tiro para o alto. Todo mundo ficou boquiaberto, e ele guardou a arma fumegante. Nisso, uma senhora que estava calada, sentada ao fundo, levantou-se aplaudindo e veio abraçar o produtor-atirador, eufórica. "Era a mãe dele", conta Cicala. Spector está sendo julgado em Los Angeles pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003. Vivendo entre excêntricos, tudo podia acontecer na vida de Don Cicala. Ele lembra que, em outra ocasião, John Lennon quase o matou do coração. Foi durante as gravações de Mind Games. "John levou as fitas com as gravações, recém-completadas, para a sala de edição. Quando eu entrei lá, as fitas dos tapes estavam picadas por todo canto. John estava sentado com uma cara triste. Eu fui para o elevador - acho que para contar até 100 ou algo do tipo - e John veio correndo atrás. Era uma piada, ele tinha picotado uns tapes em branco." Cicala conseguia se entender muito bem com os artistas com os quais conviveu. "John era um gênio", diz, sobre Lennon, com quem até compôs uma canção maluquérrima, Incantation. "A canção saiu só recentemente, como um bônus na contracapa daquele livro Beatles Undercover", conta. "Compor com John foi uma coisa mágica", diz Cicala. "Todo mundo acha que a letra de Incantation fala de consumo de cocaína (´All the dog soldiers shootin´ uncoke-a-cola´), mas se refere ao cachimbo da paz indígena", ele conta. Beatles Undercover foi lançado em 1998 e, além dessa faixa Incantation (tocada por Dog Soldier e Patrick June), trazia Let´s Spend the Night Together (vocais de Lori Burton e Patrick Jude, com produção e arranjo de Lennon) e Answer me, My Love, cantada por Lori Burton, e com produção de Cicala e Lennon. Cicala define poucos artistas como "difíceis". Um deles é Cindy Lauper. Lou Reed, que tem reputação de xarope, nem tanto. "Ele agora é certinho, está casado." Conheceu Jobim ("Grande artista"), Billy Blanco e Jaques Morelenbaum. Gravou Miles Davis, Sarah Vaughan e AC/DC. "Não há diferença (entre trabalhar como engenheiro de som para jazzistas ou roqueiros)", ele diz. "Tudo que eu fiz sempre foi capturar o que acontecia no estúdio." Nos anos 70, Roy chegou a viver num apartamento no Rio. "Amo o Brasil. É mais desafiador viver aqui do que em Nova York", diz. Mas desta vez preferiu São Paulo. "Todo mundo no Rio diz ´sim´, quando na verdade não está dizendo ´sim´, se é que me entende. É como na Califórnia, onde vivi. Prefiro São Paulo, é mais profissional, como Nova York." Entre os amigos daqui, estão o produtor Apollo 9 e o roqueiro Marcelo Nova. "Marcelo me faz rir tanto que até dá dor de barriga", conta. "Roy tem um ouvido espetacular", diz Apollo 9. "Depois de um tempo de convívio, você começa a prestar atenção e se dá conta do fantástico conhecimento que ele tem de música. Ele trabalhou com todo mundo, com o Velvet Underground, com Phil Ramone." A cada dia em que desfruta do convívio com a lenda dos estúdios musicais, Apollo se surpreende mais. "Por exemplo: muita gente acha que foi pioneira em ter um carro dentro do estúdio para que os músicos pud essem ouvir o som que tinham gravado. Mas Roy já fazia isso nos anos 70", ele lembra. "O homem é simplesmente um monstro", entusiasma-se outro produtor, Jeff Berg, que também tem trabalhado com Cicala. "Muito da sonoridade de hoje, de como se gravar rock´n´roll, foi ele que sacou primeiro." Haverá um mercado para um engenheiro de som com a experiência de Roy Cicala em São Paulo? "Não sei dizer", diz ele. "Estou certo que há um mercado, mas tenho de provar isso. Todo o tempo tenho de provar se estou apto ou não."

Ele já foi o homem de confiança de Frank Sinatra, John Lennon, Patti Smith, Aerosmith, Madonna, Yoko Ono, Sting, Tom Jobim. Mas, nos últimos dias, seu maior projeto é conseguir alugar um apartamento no centro de São Paulo. Como demora para sair seu visto de residência, não consegue. "Acho que vou ficar mesmo num flat", diz. O nome dele é Roy Cicala, engenheiro de som e produtor norte-americano de 65 anos. Roy é a mente por trás de discos como Imagine e Mind Games, de Lennon, ou Watertown, de Frank Sinatra. ´Don´ Cicala, como era conhecido nos estúdios americanos, está vivendo temporariamente em uma casa na Serra da Cantareira, com a filha brasileira Hanna, de 17 anos. Ele criou Hanna, mas, após o divórcio, a mãe a trouxe de volta para o Brasil e ele ficou seis anos sem vê-la. Resolveu vir atrás. Cansado das viagens entre a Cantareira e a região do Parque do Ibirapuera, onde faz remasterizações em estúdios de produtores brasileiros, resolveu ter casa dupla. "Estou tentando conseguir um visto de permanência, pois tenho filha brasileira. Assim posso trabalhar aqui e ficar no País", diz Cicala, sujeito que conhece a fundo a história da música popular moderna. Ele foi o dono, entre 1968 e 1989, do mítico estúdio Record Plant, em Nova York, uma instituição da cidade com suas paredes coalhadas de discos de Jackson Browne, Grand Funk Railroad, Don McLean, The Raspberries. Foi ali que Jimi Hendrix gravou uma de suas pedras de toque, Electric Ladyland (1968), elepê duplo que trazia os clássicos Vooddo Chile e a releitura de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Ali, ele trabalhou com ou orientou gente como Frank Zappa, Elvis Presley, Elton John, Sting, Frank Sinatra, Dire Straits, Jimi Hendrix, David Bowie, Miles Davis, Chick Corea, Ray Charles, Queen, Aerosmith, The Who, Frank Zappa, Lou Reed, Prince, Santana, Sarah Vaughn e Charles Mingus. Seu primeiro trabalho como engenheiro de som, ele lembra, foi para o grupo de soul branco The Young Rascals, em meados dos anos 60. Mas Roy Cicala sabia muito mais do que o que acontecia nas quatro paredes de um estúdio. Em seu casarão em North Mountain, 90, seus hóspedes John Lennon e Yoko gastaram alguns dias consumindo-se num quarto fechado no terceiro andar antes de entrar em função para gravar. Conhece histórias de arrepiar. Um dia, conta, estava em estúdio com uma constelação de artistas, gravando com o também produtor Phil Spector. Repentinamente, Spector levantou-se, sacou uma arma e deu um tiro para o alto. Todo mundo ficou boquiaberto, e ele guardou a arma fumegante. Nisso, uma senhora que estava calada, sentada ao fundo, levantou-se aplaudindo e veio abraçar o produtor-atirador, eufórica. "Era a mãe dele", conta Cicala. Spector está sendo julgado em Los Angeles pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003. Vivendo entre excêntricos, tudo podia acontecer na vida de Don Cicala. Ele lembra que, em outra ocasião, John Lennon quase o matou do coração. Foi durante as gravações de Mind Games. "John levou as fitas com as gravações, recém-completadas, para a sala de edição. Quando eu entrei lá, as fitas dos tapes estavam picadas por todo canto. John estava sentado com uma cara triste. Eu fui para o elevador - acho que para contar até 100 ou algo do tipo - e John veio correndo atrás. Era uma piada, ele tinha picotado uns tapes em branco." Cicala conseguia se entender muito bem com os artistas com os quais conviveu. "John era um gênio", diz, sobre Lennon, com quem até compôs uma canção maluquérrima, Incantation. "A canção saiu só recentemente, como um bônus na contracapa daquele livro Beatles Undercover", conta. "Compor com John foi uma coisa mágica", diz Cicala. "Todo mundo acha que a letra de Incantation fala de consumo de cocaína (´All the dog soldiers shootin´ uncoke-a-cola´), mas se refere ao cachimbo da paz indígena", ele conta. Beatles Undercover foi lançado em 1998 e, além dessa faixa Incantation (tocada por Dog Soldier e Patrick June), trazia Let´s Spend the Night Together (vocais de Lori Burton e Patrick Jude, com produção e arranjo de Lennon) e Answer me, My Love, cantada por Lori Burton, e com produção de Cicala e Lennon. Cicala define poucos artistas como "difíceis". Um deles é Cindy Lauper. Lou Reed, que tem reputação de xarope, nem tanto. "Ele agora é certinho, está casado." Conheceu Jobim ("Grande artista"), Billy Blanco e Jaques Morelenbaum. Gravou Miles Davis, Sarah Vaughan e AC/DC. "Não há diferença (entre trabalhar como engenheiro de som para jazzistas ou roqueiros)", ele diz. "Tudo que eu fiz sempre foi capturar o que acontecia no estúdio." Nos anos 70, Roy chegou a viver num apartamento no Rio. "Amo o Brasil. É mais desafiador viver aqui do que em Nova York", diz. Mas desta vez preferiu São Paulo. "Todo mundo no Rio diz ´sim´, quando na verdade não está dizendo ´sim´, se é que me entende. É como na Califórnia, onde vivi. Prefiro São Paulo, é mais profissional, como Nova York." Entre os amigos daqui, estão o produtor Apollo 9 e o roqueiro Marcelo Nova. "Marcelo me faz rir tanto que até dá dor de barriga", conta. "Roy tem um ouvido espetacular", diz Apollo 9. "Depois de um tempo de convívio, você começa a prestar atenção e se dá conta do fantástico conhecimento que ele tem de música. Ele trabalhou com todo mundo, com o Velvet Underground, com Phil Ramone." A cada dia em que desfruta do convívio com a lenda dos estúdios musicais, Apollo se surpreende mais. "Por exemplo: muita gente acha que foi pioneira em ter um carro dentro do estúdio para que os músicos pud essem ouvir o som que tinham gravado. Mas Roy já fazia isso nos anos 70", ele lembra. "O homem é simplesmente um monstro", entusiasma-se outro produtor, Jeff Berg, que também tem trabalhado com Cicala. "Muito da sonoridade de hoje, de como se gravar rock´n´roll, foi ele que sacou primeiro." Haverá um mercado para um engenheiro de som com a experiência de Roy Cicala em São Paulo? "Não sei dizer", diz ele. "Estou certo que há um mercado, mas tenho de provar isso. Todo o tempo tenho de provar se estou apto ou não."

Ele já foi o homem de confiança de Frank Sinatra, John Lennon, Patti Smith, Aerosmith, Madonna, Yoko Ono, Sting, Tom Jobim. Mas, nos últimos dias, seu maior projeto é conseguir alugar um apartamento no centro de São Paulo. Como demora para sair seu visto de residência, não consegue. "Acho que vou ficar mesmo num flat", diz. O nome dele é Roy Cicala, engenheiro de som e produtor norte-americano de 65 anos. Roy é a mente por trás de discos como Imagine e Mind Games, de Lennon, ou Watertown, de Frank Sinatra. ´Don´ Cicala, como era conhecido nos estúdios americanos, está vivendo temporariamente em uma casa na Serra da Cantareira, com a filha brasileira Hanna, de 17 anos. Ele criou Hanna, mas, após o divórcio, a mãe a trouxe de volta para o Brasil e ele ficou seis anos sem vê-la. Resolveu vir atrás. Cansado das viagens entre a Cantareira e a região do Parque do Ibirapuera, onde faz remasterizações em estúdios de produtores brasileiros, resolveu ter casa dupla. "Estou tentando conseguir um visto de permanência, pois tenho filha brasileira. Assim posso trabalhar aqui e ficar no País", diz Cicala, sujeito que conhece a fundo a história da música popular moderna. Ele foi o dono, entre 1968 e 1989, do mítico estúdio Record Plant, em Nova York, uma instituição da cidade com suas paredes coalhadas de discos de Jackson Browne, Grand Funk Railroad, Don McLean, The Raspberries. Foi ali que Jimi Hendrix gravou uma de suas pedras de toque, Electric Ladyland (1968), elepê duplo que trazia os clássicos Vooddo Chile e a releitura de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Ali, ele trabalhou com ou orientou gente como Frank Zappa, Elvis Presley, Elton John, Sting, Frank Sinatra, Dire Straits, Jimi Hendrix, David Bowie, Miles Davis, Chick Corea, Ray Charles, Queen, Aerosmith, The Who, Frank Zappa, Lou Reed, Prince, Santana, Sarah Vaughn e Charles Mingus. Seu primeiro trabalho como engenheiro de som, ele lembra, foi para o grupo de soul branco The Young Rascals, em meados dos anos 60. Mas Roy Cicala sabia muito mais do que o que acontecia nas quatro paredes de um estúdio. Em seu casarão em North Mountain, 90, seus hóspedes John Lennon e Yoko gastaram alguns dias consumindo-se num quarto fechado no terceiro andar antes de entrar em função para gravar. Conhece histórias de arrepiar. Um dia, conta, estava em estúdio com uma constelação de artistas, gravando com o também produtor Phil Spector. Repentinamente, Spector levantou-se, sacou uma arma e deu um tiro para o alto. Todo mundo ficou boquiaberto, e ele guardou a arma fumegante. Nisso, uma senhora que estava calada, sentada ao fundo, levantou-se aplaudindo e veio abraçar o produtor-atirador, eufórica. "Era a mãe dele", conta Cicala. Spector está sendo julgado em Los Angeles pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, em 2003. Vivendo entre excêntricos, tudo podia acontecer na vida de Don Cicala. Ele lembra que, em outra ocasião, John Lennon quase o matou do coração. Foi durante as gravações de Mind Games. "John levou as fitas com as gravações, recém-completadas, para a sala de edição. Quando eu entrei lá, as fitas dos tapes estavam picadas por todo canto. John estava sentado com uma cara triste. Eu fui para o elevador - acho que para contar até 100 ou algo do tipo - e John veio correndo atrás. Era uma piada, ele tinha picotado uns tapes em branco." Cicala conseguia se entender muito bem com os artistas com os quais conviveu. "John era um gênio", diz, sobre Lennon, com quem até compôs uma canção maluquérrima, Incantation. "A canção saiu só recentemente, como um bônus na contracapa daquele livro Beatles Undercover", conta. "Compor com John foi uma coisa mágica", diz Cicala. "Todo mundo acha que a letra de Incantation fala de consumo de cocaína (´All the dog soldiers shootin´ uncoke-a-cola´), mas se refere ao cachimbo da paz indígena", ele conta. Beatles Undercover foi lançado em 1998 e, além dessa faixa Incantation (tocada por Dog Soldier e Patrick June), trazia Let´s Spend the Night Together (vocais de Lori Burton e Patrick Jude, com produção e arranjo de Lennon) e Answer me, My Love, cantada por Lori Burton, e com produção de Cicala e Lennon. Cicala define poucos artistas como "difíceis". Um deles é Cindy Lauper. Lou Reed, que tem reputação de xarope, nem tanto. "Ele agora é certinho, está casado." Conheceu Jobim ("Grande artista"), Billy Blanco e Jaques Morelenbaum. Gravou Miles Davis, Sarah Vaughan e AC/DC. "Não há diferença (entre trabalhar como engenheiro de som para jazzistas ou roqueiros)", ele diz. "Tudo que eu fiz sempre foi capturar o que acontecia no estúdio." Nos anos 70, Roy chegou a viver num apartamento no Rio. "Amo o Brasil. É mais desafiador viver aqui do que em Nova York", diz. Mas desta vez preferiu São Paulo. "Todo mundo no Rio diz ´sim´, quando na verdade não está dizendo ´sim´, se é que me entende. É como na Califórnia, onde vivi. Prefiro São Paulo, é mais profissional, como Nova York." Entre os amigos daqui, estão o produtor Apollo 9 e o roqueiro Marcelo Nova. "Marcelo me faz rir tanto que até dá dor de barriga", conta. "Roy tem um ouvido espetacular", diz Apollo 9. "Depois de um tempo de convívio, você começa a prestar atenção e se dá conta do fantástico conhecimento que ele tem de música. Ele trabalhou com todo mundo, com o Velvet Underground, com Phil Ramone." A cada dia em que desfruta do convívio com a lenda dos estúdios musicais, Apollo se surpreende mais. "Por exemplo: muita gente acha que foi pioneira em ter um carro dentro do estúdio para que os músicos pud essem ouvir o som que tinham gravado. Mas Roy já fazia isso nos anos 70", ele lembra. "O homem é simplesmente um monstro", entusiasma-se outro produtor, Jeff Berg, que também tem trabalhado com Cicala. "Muito da sonoridade de hoje, de como se gravar rock´n´roll, foi ele que sacou primeiro." Haverá um mercado para um engenheiro de som com a experiência de Roy Cicala em São Paulo? "Não sei dizer", diz ele. "Estou certo que há um mercado, mas tenho de provar isso. Todo o tempo tenho de provar se estou apto ou não."

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.