Turnê de Caetano e Bethânia já nasce histórica; conheça a profunda conexão musical dos irmãos


Anúncio da primeira grande turnê conjunta dos irmãos causa frenesi e leva à corrida por ingressos, que começam a ser vendidos para o público geral. Filhos de Dona Canô se aproximaram, seguiram caminhos distintos e se reaproximaram ao longo dos anos

Por Carlos Eduardo Oliveira
Atualização:

O mantra, quase uma súplica, saiu doído, poetizando duas diferentes línguas na terceira linha do refrão:

“Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better. Better better beta beta Bethânia, Please send me a letter”

Do exílio em Londres imposto pela ditadura militar, Caetano Veloso mimetizava nos sete minutos da delicada Maria Bethânia (de Caetano Veloso, autointitulado disco de 1971) as saudades do Brasil, clamando à irmã por (boas) notícias, dela e do País.

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Passagem que ilustra a mútua – e profunda – conexão artístico-familiar dos filhos mais famosos da matriarca Dona Canô (1907-2012), e que pela primeira vez na vitoriosa trajetória musical de ambos, ganha arenas das grandes capitais através da turnê Caetano & Bethânia, com ingressos disputadíssimos e estreia no Rio de Janeiro, no dia 3 de agosto, na Farmasi Arena, e término em São Paulo, em 14 de dezembro, no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta, 20, para o público geral (veja abaixo preços e como comprar).

Caetano Veloso e Maria Bethânia durante a 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO
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Encontro que já nasce histórico por muito motivos. Entre eles, como os irmãos costumam comentar, o fato de a dupla “ser unida desde a infância pela memória de canções”. Analisar a relação musical de Mano Caetano, como bem cravou Jorge Ben Jor, e da “Menina de Oyá” (enredo, aliás, campeão da Mangueira em 2016) ao longo das décadas caberia em alguns TCCs.

Côncavos e convexos entre si, em recente entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, trocaram ternas reminiscências. “Ele sempre foi o chefe do meu barco”, elogiou a cantora. “Sem ela, eu literalmente não estaria aqui”, devolveu Caetano.

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Verdade: seu marco zero musical, os irmãos atestam, foi inicialmente o show Nós, Por Exemplo, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e a seguir o compacto simples (sim, eles existiram) lançado por Bethânia em 1965 que trazia, no lado A, o já estrondoso sucesso Carcará, seu pé-na-porta na MPB, e, do lado B, De Manhã, samba de autoria do brother compositor.

A partir daí, ambas as estradas se convergem e se separam, nunca de fato se desconectando. Um recorte do tempo – os anos 1970, período em que ambos “decolam” – , talvez sintetize os futuros desígnios artísticos, ora mais próximos, ora distintos. De Londres, Caetano, já Tropicalista, deitou uma trinca de discos um tanto herméticos, mas elogiáveis: o já citado LP homônimo de 1971, Transa (1972) e, no ano seguinte, Araçá Azul, meio que sua “trilogia da incomunicabilidade” (do exílio) à Michelangelo Antonioni.

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Na volta, deslanchou com um cancioneiro apontado como uma de suas mais brilhantes fases: Jóia e Qualquer Coisa (ambos de 1975, inicialmente formariam disco duplo), Bicho (1977) e Muito - Dentro da Estrela Azulada (1978). E mesmo trabalhos seguintes, com sua A Outra Banda da Terra, de acento mais pop, radiofônicos, não abriam mão da inquietude em profusão de estilos.

Bethânia? Por essa época, começava a arrastar multidões. Sepultava o “caô” de que “cantoras de MPB não vendem discos”. Nas rádios, explodia corações. Massificava seu registro vocal dramático e inconfundível, inteligentemente afastando-se do rótulo de “cantora de protesto” (por conta de Carcará e da participação no lendário espetáculo teatral Opinião).

Show dos Doces Bárbaros no Rio de Janeiro, em janeiro de 1994. Na foto, da esquerda para a direita, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso Foto: Tasso Marcelo/Estadão
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A ascese ao mainstream como Abelha Rainha da música brasileira, uma discografia exponencial que, acredita-se, contabilize cerca de 26 milhões de copias vendidas, começou através do álbum Drama, de 1972 (com Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia; Esse Cara, de Caetano e Roberto Martins); encaminhou-se em Pássaro Proibido (1976, com Olhos Nos Olhos, de Chico Buarque) e, no ano seguinte, com Pássaro da Manhã (Tigresa e Gente, de Caetano; Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha).

Pelos parâmetros da indústria fonográfica, registros que alcançaram o Disco de Ouro (500 mil cópias vendidas). Ainda assim, nada que apontasse para o tsunami (mais de um milhão de discos vendidos) de Álibi (1978). Produzido pela própria intérprete a quatro mãos com o produtor Perinho Albuquerque, trata-se de verdadeiro greatest hits, canções-assinatura que até hoje se confundem com sua própria trajetória: De Todas As Maneiras, Sonho Meu, Ronda, Cálice, O Meu Amor e, principalmente, Explode Coração. Mel, trabalho de 1979, ratificou essa esteira de sucessos.

Bom preâmbulo para a vindoura turnê, Maria Bethânia e Caetano Veloso - Ao Vivo (1978), álbum de célebre capa, apresentava-os em versão quase rock’n’roll comungando em disco sua celebração nos palcos. Além de memoráveis duetos, Carcará, na voz de Caetano, e O Leãozinho, por Bethânia, desconstruíam o óbvio. Coube ainda Maria Bethânia, bolero de Capiba e sucesso de Nelson Gonçalves (que no longínquo ano de 1946 teria sido decisivo para literalmente batizar a futura filha pródiga de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano).

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Caetano Veloso e Maria Bethânia nos bastidores do show 'De Santo Amaro a Xerem', de Zeca Pagodinho e Bethânia, em 2018. Foto: Iara Morselli/

Importante salientar, ao longo dos anos a partilha musical entre ambos nunca se perdeu. Ao contrário: com canções de Caetano Veloso presentes em praticamente todos os trabalhos de Bethânia (aqui e ali, assinadas a quatro mãos), a identificação mútua é, desde sempre, o moto perpétuo de pontos brilhantes em ambas as carreiras.

Sobrevivendo ao tempo e a gêneros e modismos estético-musicais, esse elo existencial de irmãos em armas ajudou a moldar e pensar a MPB, ditando certas réguas e compassos. O suficiente para, passadas seis décadas, com o anúncio da primeira grande turnê conjunta em grandes arenas, causar frenesi em busca de ingressos.

Na mesma edição do Fantástico, os números musicais apresentados em estúdio deram pistas iniciais do desde já muito especulado setlist dos shows: O Quereres, De Manhã, o samba-reggae Reconvexo. A missão – escolha do repertório –, no entanto, será tarefa árdua. A ver.

Turnê Caetano&Bethânia - Shows e datas

  • 3 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 4 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 7 de setembro - Belo Horizonte (MG) - Estádio do Mineirão
  • 29 de setembro - Belém (PA) - Hangar
  • 12 de outubro - Porto Alegre (RS) - Arena do Grêmio
  • 9 de novembro - Brasília (DF) - Arena BRB Mané Garrincha
  • 30 de novembro - Salvador (BA) - Arena Fonte Nova
  • 14 de dezembro - São Paulo (SP) - Allianz Parque

Show de Caetano Veloso e Maria Bethânia em São Paulo

  • Data: 14 de dezembro (sábado)
  • Local: Allianz Parque - Avenida Francisco Matarazzo, 1705, R. Palestra Itália, 200 - Água Branca, São Paulo - SP

Preços

  • Cadeira superior: R$ 135 meia entrada e R$ 270 inteira
  • Pista: R$ 170 meia entrada e R$ 340 inteira
  • Cadeira inferior: R$ 245 meia entrada e R$ 490 inteira
  • Pista Premium: R$ 260 meia entrada e R$ 520 inteira

Bilheteria oficial sem cobrança de taxa

  • Allianz Parque - bilheteria B (Avenida Francisco Matarazzo, 1705- Portão B – Água Branca – São Paulo/SP
  • A partir de 21 de março: bilheteria Tokio Marine Hall - Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo (SP). Atendimento: terça a sábado das 10h às 17h - A bilheteria não abre em feriados e emendas de feriado.

Horário de funcionamento da bilheteria

  • 18 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • 19 de março atendimento a partir das 10h.
  • 20 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • Atenção: Nos dias de pré-venda e venda geral, às 17h será encerrado o acesso à fila. Serão atendidas as pessoas que estiverem na fila, conforme disponibilidade de ingressos.

Outros shows da turnê Caetano&Bethânia

  • Mais informações sobre as apresentações de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Porto Alegre e Salvador podem ser encontradas no site Ticketmaster.

O mantra, quase uma súplica, saiu doído, poetizando duas diferentes línguas na terceira linha do refrão:

“Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better. Better better beta beta Bethânia, Please send me a letter”

Do exílio em Londres imposto pela ditadura militar, Caetano Veloso mimetizava nos sete minutos da delicada Maria Bethânia (de Caetano Veloso, autointitulado disco de 1971) as saudades do Brasil, clamando à irmã por (boas) notícias, dela e do País.

Passagem que ilustra a mútua – e profunda – conexão artístico-familiar dos filhos mais famosos da matriarca Dona Canô (1907-2012), e que pela primeira vez na vitoriosa trajetória musical de ambos, ganha arenas das grandes capitais através da turnê Caetano & Bethânia, com ingressos disputadíssimos e estreia no Rio de Janeiro, no dia 3 de agosto, na Farmasi Arena, e término em São Paulo, em 14 de dezembro, no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta, 20, para o público geral (veja abaixo preços e como comprar).

Caetano Veloso e Maria Bethânia durante a 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Encontro que já nasce histórico por muito motivos. Entre eles, como os irmãos costumam comentar, o fato de a dupla “ser unida desde a infância pela memória de canções”. Analisar a relação musical de Mano Caetano, como bem cravou Jorge Ben Jor, e da “Menina de Oyá” (enredo, aliás, campeão da Mangueira em 2016) ao longo das décadas caberia em alguns TCCs.

Côncavos e convexos entre si, em recente entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, trocaram ternas reminiscências. “Ele sempre foi o chefe do meu barco”, elogiou a cantora. “Sem ela, eu literalmente não estaria aqui”, devolveu Caetano.

Verdade: seu marco zero musical, os irmãos atestam, foi inicialmente o show Nós, Por Exemplo, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e a seguir o compacto simples (sim, eles existiram) lançado por Bethânia em 1965 que trazia, no lado A, o já estrondoso sucesso Carcará, seu pé-na-porta na MPB, e, do lado B, De Manhã, samba de autoria do brother compositor.

A partir daí, ambas as estradas se convergem e se separam, nunca de fato se desconectando. Um recorte do tempo – os anos 1970, período em que ambos “decolam” – , talvez sintetize os futuros desígnios artísticos, ora mais próximos, ora distintos. De Londres, Caetano, já Tropicalista, deitou uma trinca de discos um tanto herméticos, mas elogiáveis: o já citado LP homônimo de 1971, Transa (1972) e, no ano seguinte, Araçá Azul, meio que sua “trilogia da incomunicabilidade” (do exílio) à Michelangelo Antonioni.

Na volta, deslanchou com um cancioneiro apontado como uma de suas mais brilhantes fases: Jóia e Qualquer Coisa (ambos de 1975, inicialmente formariam disco duplo), Bicho (1977) e Muito - Dentro da Estrela Azulada (1978). E mesmo trabalhos seguintes, com sua A Outra Banda da Terra, de acento mais pop, radiofônicos, não abriam mão da inquietude em profusão de estilos.

Bethânia? Por essa época, começava a arrastar multidões. Sepultava o “caô” de que “cantoras de MPB não vendem discos”. Nas rádios, explodia corações. Massificava seu registro vocal dramático e inconfundível, inteligentemente afastando-se do rótulo de “cantora de protesto” (por conta de Carcará e da participação no lendário espetáculo teatral Opinião).

Show dos Doces Bárbaros no Rio de Janeiro, em janeiro de 1994. Na foto, da esquerda para a direita, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso Foto: Tasso Marcelo/Estadão

A ascese ao mainstream como Abelha Rainha da música brasileira, uma discografia exponencial que, acredita-se, contabilize cerca de 26 milhões de copias vendidas, começou através do álbum Drama, de 1972 (com Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia; Esse Cara, de Caetano e Roberto Martins); encaminhou-se em Pássaro Proibido (1976, com Olhos Nos Olhos, de Chico Buarque) e, no ano seguinte, com Pássaro da Manhã (Tigresa e Gente, de Caetano; Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha).

Pelos parâmetros da indústria fonográfica, registros que alcançaram o Disco de Ouro (500 mil cópias vendidas). Ainda assim, nada que apontasse para o tsunami (mais de um milhão de discos vendidos) de Álibi (1978). Produzido pela própria intérprete a quatro mãos com o produtor Perinho Albuquerque, trata-se de verdadeiro greatest hits, canções-assinatura que até hoje se confundem com sua própria trajetória: De Todas As Maneiras, Sonho Meu, Ronda, Cálice, O Meu Amor e, principalmente, Explode Coração. Mel, trabalho de 1979, ratificou essa esteira de sucessos.

Bom preâmbulo para a vindoura turnê, Maria Bethânia e Caetano Veloso - Ao Vivo (1978), álbum de célebre capa, apresentava-os em versão quase rock’n’roll comungando em disco sua celebração nos palcos. Além de memoráveis duetos, Carcará, na voz de Caetano, e O Leãozinho, por Bethânia, desconstruíam o óbvio. Coube ainda Maria Bethânia, bolero de Capiba e sucesso de Nelson Gonçalves (que no longínquo ano de 1946 teria sido decisivo para literalmente batizar a futura filha pródiga de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano).

Caetano Veloso e Maria Bethânia nos bastidores do show 'De Santo Amaro a Xerem', de Zeca Pagodinho e Bethânia, em 2018. Foto: Iara Morselli/

Importante salientar, ao longo dos anos a partilha musical entre ambos nunca se perdeu. Ao contrário: com canções de Caetano Veloso presentes em praticamente todos os trabalhos de Bethânia (aqui e ali, assinadas a quatro mãos), a identificação mútua é, desde sempre, o moto perpétuo de pontos brilhantes em ambas as carreiras.

Sobrevivendo ao tempo e a gêneros e modismos estético-musicais, esse elo existencial de irmãos em armas ajudou a moldar e pensar a MPB, ditando certas réguas e compassos. O suficiente para, passadas seis décadas, com o anúncio da primeira grande turnê conjunta em grandes arenas, causar frenesi em busca de ingressos.

Na mesma edição do Fantástico, os números musicais apresentados em estúdio deram pistas iniciais do desde já muito especulado setlist dos shows: O Quereres, De Manhã, o samba-reggae Reconvexo. A missão – escolha do repertório –, no entanto, será tarefa árdua. A ver.

Turnê Caetano&Bethânia - Shows e datas

  • 3 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 4 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 7 de setembro - Belo Horizonte (MG) - Estádio do Mineirão
  • 29 de setembro - Belém (PA) - Hangar
  • 12 de outubro - Porto Alegre (RS) - Arena do Grêmio
  • 9 de novembro - Brasília (DF) - Arena BRB Mané Garrincha
  • 30 de novembro - Salvador (BA) - Arena Fonte Nova
  • 14 de dezembro - São Paulo (SP) - Allianz Parque

Show de Caetano Veloso e Maria Bethânia em São Paulo

  • Data: 14 de dezembro (sábado)
  • Local: Allianz Parque - Avenida Francisco Matarazzo, 1705, R. Palestra Itália, 200 - Água Branca, São Paulo - SP

Preços

  • Cadeira superior: R$ 135 meia entrada e R$ 270 inteira
  • Pista: R$ 170 meia entrada e R$ 340 inteira
  • Cadeira inferior: R$ 245 meia entrada e R$ 490 inteira
  • Pista Premium: R$ 260 meia entrada e R$ 520 inteira

Bilheteria oficial sem cobrança de taxa

  • Allianz Parque - bilheteria B (Avenida Francisco Matarazzo, 1705- Portão B – Água Branca – São Paulo/SP
  • A partir de 21 de março: bilheteria Tokio Marine Hall - Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo (SP). Atendimento: terça a sábado das 10h às 17h - A bilheteria não abre em feriados e emendas de feriado.

Horário de funcionamento da bilheteria

  • 18 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • 19 de março atendimento a partir das 10h.
  • 20 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • Atenção: Nos dias de pré-venda e venda geral, às 17h será encerrado o acesso à fila. Serão atendidas as pessoas que estiverem na fila, conforme disponibilidade de ingressos.

Outros shows da turnê Caetano&Bethânia

  • Mais informações sobre as apresentações de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Porto Alegre e Salvador podem ser encontradas no site Ticketmaster.

O mantra, quase uma súplica, saiu doído, poetizando duas diferentes línguas na terceira linha do refrão:

“Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better. Better better beta beta Bethânia, Please send me a letter”

Do exílio em Londres imposto pela ditadura militar, Caetano Veloso mimetizava nos sete minutos da delicada Maria Bethânia (de Caetano Veloso, autointitulado disco de 1971) as saudades do Brasil, clamando à irmã por (boas) notícias, dela e do País.

Passagem que ilustra a mútua – e profunda – conexão artístico-familiar dos filhos mais famosos da matriarca Dona Canô (1907-2012), e que pela primeira vez na vitoriosa trajetória musical de ambos, ganha arenas das grandes capitais através da turnê Caetano & Bethânia, com ingressos disputadíssimos e estreia no Rio de Janeiro, no dia 3 de agosto, na Farmasi Arena, e término em São Paulo, em 14 de dezembro, no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta, 20, para o público geral (veja abaixo preços e como comprar).

Caetano Veloso e Maria Bethânia durante a 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Encontro que já nasce histórico por muito motivos. Entre eles, como os irmãos costumam comentar, o fato de a dupla “ser unida desde a infância pela memória de canções”. Analisar a relação musical de Mano Caetano, como bem cravou Jorge Ben Jor, e da “Menina de Oyá” (enredo, aliás, campeão da Mangueira em 2016) ao longo das décadas caberia em alguns TCCs.

Côncavos e convexos entre si, em recente entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, trocaram ternas reminiscências. “Ele sempre foi o chefe do meu barco”, elogiou a cantora. “Sem ela, eu literalmente não estaria aqui”, devolveu Caetano.

Verdade: seu marco zero musical, os irmãos atestam, foi inicialmente o show Nós, Por Exemplo, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e a seguir o compacto simples (sim, eles existiram) lançado por Bethânia em 1965 que trazia, no lado A, o já estrondoso sucesso Carcará, seu pé-na-porta na MPB, e, do lado B, De Manhã, samba de autoria do brother compositor.

A partir daí, ambas as estradas se convergem e se separam, nunca de fato se desconectando. Um recorte do tempo – os anos 1970, período em que ambos “decolam” – , talvez sintetize os futuros desígnios artísticos, ora mais próximos, ora distintos. De Londres, Caetano, já Tropicalista, deitou uma trinca de discos um tanto herméticos, mas elogiáveis: o já citado LP homônimo de 1971, Transa (1972) e, no ano seguinte, Araçá Azul, meio que sua “trilogia da incomunicabilidade” (do exílio) à Michelangelo Antonioni.

Na volta, deslanchou com um cancioneiro apontado como uma de suas mais brilhantes fases: Jóia e Qualquer Coisa (ambos de 1975, inicialmente formariam disco duplo), Bicho (1977) e Muito - Dentro da Estrela Azulada (1978). E mesmo trabalhos seguintes, com sua A Outra Banda da Terra, de acento mais pop, radiofônicos, não abriam mão da inquietude em profusão de estilos.

Bethânia? Por essa época, começava a arrastar multidões. Sepultava o “caô” de que “cantoras de MPB não vendem discos”. Nas rádios, explodia corações. Massificava seu registro vocal dramático e inconfundível, inteligentemente afastando-se do rótulo de “cantora de protesto” (por conta de Carcará e da participação no lendário espetáculo teatral Opinião).

Show dos Doces Bárbaros no Rio de Janeiro, em janeiro de 1994. Na foto, da esquerda para a direita, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso Foto: Tasso Marcelo/Estadão

A ascese ao mainstream como Abelha Rainha da música brasileira, uma discografia exponencial que, acredita-se, contabilize cerca de 26 milhões de copias vendidas, começou através do álbum Drama, de 1972 (com Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia; Esse Cara, de Caetano e Roberto Martins); encaminhou-se em Pássaro Proibido (1976, com Olhos Nos Olhos, de Chico Buarque) e, no ano seguinte, com Pássaro da Manhã (Tigresa e Gente, de Caetano; Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha).

Pelos parâmetros da indústria fonográfica, registros que alcançaram o Disco de Ouro (500 mil cópias vendidas). Ainda assim, nada que apontasse para o tsunami (mais de um milhão de discos vendidos) de Álibi (1978). Produzido pela própria intérprete a quatro mãos com o produtor Perinho Albuquerque, trata-se de verdadeiro greatest hits, canções-assinatura que até hoje se confundem com sua própria trajetória: De Todas As Maneiras, Sonho Meu, Ronda, Cálice, O Meu Amor e, principalmente, Explode Coração. Mel, trabalho de 1979, ratificou essa esteira de sucessos.

Bom preâmbulo para a vindoura turnê, Maria Bethânia e Caetano Veloso - Ao Vivo (1978), álbum de célebre capa, apresentava-os em versão quase rock’n’roll comungando em disco sua celebração nos palcos. Além de memoráveis duetos, Carcará, na voz de Caetano, e O Leãozinho, por Bethânia, desconstruíam o óbvio. Coube ainda Maria Bethânia, bolero de Capiba e sucesso de Nelson Gonçalves (que no longínquo ano de 1946 teria sido decisivo para literalmente batizar a futura filha pródiga de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano).

Caetano Veloso e Maria Bethânia nos bastidores do show 'De Santo Amaro a Xerem', de Zeca Pagodinho e Bethânia, em 2018. Foto: Iara Morselli/

Importante salientar, ao longo dos anos a partilha musical entre ambos nunca se perdeu. Ao contrário: com canções de Caetano Veloso presentes em praticamente todos os trabalhos de Bethânia (aqui e ali, assinadas a quatro mãos), a identificação mútua é, desde sempre, o moto perpétuo de pontos brilhantes em ambas as carreiras.

Sobrevivendo ao tempo e a gêneros e modismos estético-musicais, esse elo existencial de irmãos em armas ajudou a moldar e pensar a MPB, ditando certas réguas e compassos. O suficiente para, passadas seis décadas, com o anúncio da primeira grande turnê conjunta em grandes arenas, causar frenesi em busca de ingressos.

Na mesma edição do Fantástico, os números musicais apresentados em estúdio deram pistas iniciais do desde já muito especulado setlist dos shows: O Quereres, De Manhã, o samba-reggae Reconvexo. A missão – escolha do repertório –, no entanto, será tarefa árdua. A ver.

Turnê Caetano&Bethânia - Shows e datas

  • 3 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 4 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 7 de setembro - Belo Horizonte (MG) - Estádio do Mineirão
  • 29 de setembro - Belém (PA) - Hangar
  • 12 de outubro - Porto Alegre (RS) - Arena do Grêmio
  • 9 de novembro - Brasília (DF) - Arena BRB Mané Garrincha
  • 30 de novembro - Salvador (BA) - Arena Fonte Nova
  • 14 de dezembro - São Paulo (SP) - Allianz Parque

Show de Caetano Veloso e Maria Bethânia em São Paulo

  • Data: 14 de dezembro (sábado)
  • Local: Allianz Parque - Avenida Francisco Matarazzo, 1705, R. Palestra Itália, 200 - Água Branca, São Paulo - SP

Preços

  • Cadeira superior: R$ 135 meia entrada e R$ 270 inteira
  • Pista: R$ 170 meia entrada e R$ 340 inteira
  • Cadeira inferior: R$ 245 meia entrada e R$ 490 inteira
  • Pista Premium: R$ 260 meia entrada e R$ 520 inteira

Bilheteria oficial sem cobrança de taxa

  • Allianz Parque - bilheteria B (Avenida Francisco Matarazzo, 1705- Portão B – Água Branca – São Paulo/SP
  • A partir de 21 de março: bilheteria Tokio Marine Hall - Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo (SP). Atendimento: terça a sábado das 10h às 17h - A bilheteria não abre em feriados e emendas de feriado.

Horário de funcionamento da bilheteria

  • 18 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • 19 de março atendimento a partir das 10h.
  • 20 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • Atenção: Nos dias de pré-venda e venda geral, às 17h será encerrado o acesso à fila. Serão atendidas as pessoas que estiverem na fila, conforme disponibilidade de ingressos.

Outros shows da turnê Caetano&Bethânia

  • Mais informações sobre as apresentações de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Porto Alegre e Salvador podem ser encontradas no site Ticketmaster.

O mantra, quase uma súplica, saiu doído, poetizando duas diferentes línguas na terceira linha do refrão:

“Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better. Better better beta beta Bethânia, Please send me a letter”

Do exílio em Londres imposto pela ditadura militar, Caetano Veloso mimetizava nos sete minutos da delicada Maria Bethânia (de Caetano Veloso, autointitulado disco de 1971) as saudades do Brasil, clamando à irmã por (boas) notícias, dela e do País.

Passagem que ilustra a mútua – e profunda – conexão artístico-familiar dos filhos mais famosos da matriarca Dona Canô (1907-2012), e que pela primeira vez na vitoriosa trajetória musical de ambos, ganha arenas das grandes capitais através da turnê Caetano & Bethânia, com ingressos disputadíssimos e estreia no Rio de Janeiro, no dia 3 de agosto, na Farmasi Arena, e término em São Paulo, em 14 de dezembro, no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta, 20, para o público geral (veja abaixo preços e como comprar).

Caetano Veloso e Maria Bethânia durante a 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Encontro que já nasce histórico por muito motivos. Entre eles, como os irmãos costumam comentar, o fato de a dupla “ser unida desde a infância pela memória de canções”. Analisar a relação musical de Mano Caetano, como bem cravou Jorge Ben Jor, e da “Menina de Oyá” (enredo, aliás, campeão da Mangueira em 2016) ao longo das décadas caberia em alguns TCCs.

Côncavos e convexos entre si, em recente entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, trocaram ternas reminiscências. “Ele sempre foi o chefe do meu barco”, elogiou a cantora. “Sem ela, eu literalmente não estaria aqui”, devolveu Caetano.

Verdade: seu marco zero musical, os irmãos atestam, foi inicialmente o show Nós, Por Exemplo, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e a seguir o compacto simples (sim, eles existiram) lançado por Bethânia em 1965 que trazia, no lado A, o já estrondoso sucesso Carcará, seu pé-na-porta na MPB, e, do lado B, De Manhã, samba de autoria do brother compositor.

A partir daí, ambas as estradas se convergem e se separam, nunca de fato se desconectando. Um recorte do tempo – os anos 1970, período em que ambos “decolam” – , talvez sintetize os futuros desígnios artísticos, ora mais próximos, ora distintos. De Londres, Caetano, já Tropicalista, deitou uma trinca de discos um tanto herméticos, mas elogiáveis: o já citado LP homônimo de 1971, Transa (1972) e, no ano seguinte, Araçá Azul, meio que sua “trilogia da incomunicabilidade” (do exílio) à Michelangelo Antonioni.

Na volta, deslanchou com um cancioneiro apontado como uma de suas mais brilhantes fases: Jóia e Qualquer Coisa (ambos de 1975, inicialmente formariam disco duplo), Bicho (1977) e Muito - Dentro da Estrela Azulada (1978). E mesmo trabalhos seguintes, com sua A Outra Banda da Terra, de acento mais pop, radiofônicos, não abriam mão da inquietude em profusão de estilos.

Bethânia? Por essa época, começava a arrastar multidões. Sepultava o “caô” de que “cantoras de MPB não vendem discos”. Nas rádios, explodia corações. Massificava seu registro vocal dramático e inconfundível, inteligentemente afastando-se do rótulo de “cantora de protesto” (por conta de Carcará e da participação no lendário espetáculo teatral Opinião).

Show dos Doces Bárbaros no Rio de Janeiro, em janeiro de 1994. Na foto, da esquerda para a direita, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso Foto: Tasso Marcelo/Estadão

A ascese ao mainstream como Abelha Rainha da música brasileira, uma discografia exponencial que, acredita-se, contabilize cerca de 26 milhões de copias vendidas, começou através do álbum Drama, de 1972 (com Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia; Esse Cara, de Caetano e Roberto Martins); encaminhou-se em Pássaro Proibido (1976, com Olhos Nos Olhos, de Chico Buarque) e, no ano seguinte, com Pássaro da Manhã (Tigresa e Gente, de Caetano; Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha).

Pelos parâmetros da indústria fonográfica, registros que alcançaram o Disco de Ouro (500 mil cópias vendidas). Ainda assim, nada que apontasse para o tsunami (mais de um milhão de discos vendidos) de Álibi (1978). Produzido pela própria intérprete a quatro mãos com o produtor Perinho Albuquerque, trata-se de verdadeiro greatest hits, canções-assinatura que até hoje se confundem com sua própria trajetória: De Todas As Maneiras, Sonho Meu, Ronda, Cálice, O Meu Amor e, principalmente, Explode Coração. Mel, trabalho de 1979, ratificou essa esteira de sucessos.

Bom preâmbulo para a vindoura turnê, Maria Bethânia e Caetano Veloso - Ao Vivo (1978), álbum de célebre capa, apresentava-os em versão quase rock’n’roll comungando em disco sua celebração nos palcos. Além de memoráveis duetos, Carcará, na voz de Caetano, e O Leãozinho, por Bethânia, desconstruíam o óbvio. Coube ainda Maria Bethânia, bolero de Capiba e sucesso de Nelson Gonçalves (que no longínquo ano de 1946 teria sido decisivo para literalmente batizar a futura filha pródiga de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano).

Caetano Veloso e Maria Bethânia nos bastidores do show 'De Santo Amaro a Xerem', de Zeca Pagodinho e Bethânia, em 2018. Foto: Iara Morselli/

Importante salientar, ao longo dos anos a partilha musical entre ambos nunca se perdeu. Ao contrário: com canções de Caetano Veloso presentes em praticamente todos os trabalhos de Bethânia (aqui e ali, assinadas a quatro mãos), a identificação mútua é, desde sempre, o moto perpétuo de pontos brilhantes em ambas as carreiras.

Sobrevivendo ao tempo e a gêneros e modismos estético-musicais, esse elo existencial de irmãos em armas ajudou a moldar e pensar a MPB, ditando certas réguas e compassos. O suficiente para, passadas seis décadas, com o anúncio da primeira grande turnê conjunta em grandes arenas, causar frenesi em busca de ingressos.

Na mesma edição do Fantástico, os números musicais apresentados em estúdio deram pistas iniciais do desde já muito especulado setlist dos shows: O Quereres, De Manhã, o samba-reggae Reconvexo. A missão – escolha do repertório –, no entanto, será tarefa árdua. A ver.

Turnê Caetano&Bethânia - Shows e datas

  • 3 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 4 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 7 de setembro - Belo Horizonte (MG) - Estádio do Mineirão
  • 29 de setembro - Belém (PA) - Hangar
  • 12 de outubro - Porto Alegre (RS) - Arena do Grêmio
  • 9 de novembro - Brasília (DF) - Arena BRB Mané Garrincha
  • 30 de novembro - Salvador (BA) - Arena Fonte Nova
  • 14 de dezembro - São Paulo (SP) - Allianz Parque

Show de Caetano Veloso e Maria Bethânia em São Paulo

  • Data: 14 de dezembro (sábado)
  • Local: Allianz Parque - Avenida Francisco Matarazzo, 1705, R. Palestra Itália, 200 - Água Branca, São Paulo - SP

Preços

  • Cadeira superior: R$ 135 meia entrada e R$ 270 inteira
  • Pista: R$ 170 meia entrada e R$ 340 inteira
  • Cadeira inferior: R$ 245 meia entrada e R$ 490 inteira
  • Pista Premium: R$ 260 meia entrada e R$ 520 inteira

Bilheteria oficial sem cobrança de taxa

  • Allianz Parque - bilheteria B (Avenida Francisco Matarazzo, 1705- Portão B – Água Branca – São Paulo/SP
  • A partir de 21 de março: bilheteria Tokio Marine Hall - Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo (SP). Atendimento: terça a sábado das 10h às 17h - A bilheteria não abre em feriados e emendas de feriado.

Horário de funcionamento da bilheteria

  • 18 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • 19 de março atendimento a partir das 10h.
  • 20 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • Atenção: Nos dias de pré-venda e venda geral, às 17h será encerrado o acesso à fila. Serão atendidas as pessoas que estiverem na fila, conforme disponibilidade de ingressos.

Outros shows da turnê Caetano&Bethânia

  • Mais informações sobre as apresentações de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Porto Alegre e Salvador podem ser encontradas no site Ticketmaster.

O mantra, quase uma súplica, saiu doído, poetizando duas diferentes línguas na terceira linha do refrão:

“Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better. Better better beta beta Bethânia, Please send me a letter”

Do exílio em Londres imposto pela ditadura militar, Caetano Veloso mimetizava nos sete minutos da delicada Maria Bethânia (de Caetano Veloso, autointitulado disco de 1971) as saudades do Brasil, clamando à irmã por (boas) notícias, dela e do País.

Passagem que ilustra a mútua – e profunda – conexão artístico-familiar dos filhos mais famosos da matriarca Dona Canô (1907-2012), e que pela primeira vez na vitoriosa trajetória musical de ambos, ganha arenas das grandes capitais através da turnê Caetano & Bethânia, com ingressos disputadíssimos e estreia no Rio de Janeiro, no dia 3 de agosto, na Farmasi Arena, e término em São Paulo, em 14 de dezembro, no Allianz Parque. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta, 20, para o público geral (veja abaixo preços e como comprar).

Caetano Veloso e Maria Bethânia durante a 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Encontro que já nasce histórico por muito motivos. Entre eles, como os irmãos costumam comentar, o fato de a dupla “ser unida desde a infância pela memória de canções”. Analisar a relação musical de Mano Caetano, como bem cravou Jorge Ben Jor, e da “Menina de Oyá” (enredo, aliás, campeão da Mangueira em 2016) ao longo das décadas caberia em alguns TCCs.

Côncavos e convexos entre si, em recente entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, trocaram ternas reminiscências. “Ele sempre foi o chefe do meu barco”, elogiou a cantora. “Sem ela, eu literalmente não estaria aqui”, devolveu Caetano.

Verdade: seu marco zero musical, os irmãos atestam, foi inicialmente o show Nós, Por Exemplo, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e a seguir o compacto simples (sim, eles existiram) lançado por Bethânia em 1965 que trazia, no lado A, o já estrondoso sucesso Carcará, seu pé-na-porta na MPB, e, do lado B, De Manhã, samba de autoria do brother compositor.

A partir daí, ambas as estradas se convergem e se separam, nunca de fato se desconectando. Um recorte do tempo – os anos 1970, período em que ambos “decolam” – , talvez sintetize os futuros desígnios artísticos, ora mais próximos, ora distintos. De Londres, Caetano, já Tropicalista, deitou uma trinca de discos um tanto herméticos, mas elogiáveis: o já citado LP homônimo de 1971, Transa (1972) e, no ano seguinte, Araçá Azul, meio que sua “trilogia da incomunicabilidade” (do exílio) à Michelangelo Antonioni.

Na volta, deslanchou com um cancioneiro apontado como uma de suas mais brilhantes fases: Jóia e Qualquer Coisa (ambos de 1975, inicialmente formariam disco duplo), Bicho (1977) e Muito - Dentro da Estrela Azulada (1978). E mesmo trabalhos seguintes, com sua A Outra Banda da Terra, de acento mais pop, radiofônicos, não abriam mão da inquietude em profusão de estilos.

Bethânia? Por essa época, começava a arrastar multidões. Sepultava o “caô” de que “cantoras de MPB não vendem discos”. Nas rádios, explodia corações. Massificava seu registro vocal dramático e inconfundível, inteligentemente afastando-se do rótulo de “cantora de protesto” (por conta de Carcará e da participação no lendário espetáculo teatral Opinião).

Show dos Doces Bárbaros no Rio de Janeiro, em janeiro de 1994. Na foto, da esquerda para a direita, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso Foto: Tasso Marcelo/Estadão

A ascese ao mainstream como Abelha Rainha da música brasileira, uma discografia exponencial que, acredita-se, contabilize cerca de 26 milhões de copias vendidas, começou através do álbum Drama, de 1972 (com Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia; Esse Cara, de Caetano e Roberto Martins); encaminhou-se em Pássaro Proibido (1976, com Olhos Nos Olhos, de Chico Buarque) e, no ano seguinte, com Pássaro da Manhã (Tigresa e Gente, de Caetano; Começaria Tudo Outra Vez, de Gonzaguinha).

Pelos parâmetros da indústria fonográfica, registros que alcançaram o Disco de Ouro (500 mil cópias vendidas). Ainda assim, nada que apontasse para o tsunami (mais de um milhão de discos vendidos) de Álibi (1978). Produzido pela própria intérprete a quatro mãos com o produtor Perinho Albuquerque, trata-se de verdadeiro greatest hits, canções-assinatura que até hoje se confundem com sua própria trajetória: De Todas As Maneiras, Sonho Meu, Ronda, Cálice, O Meu Amor e, principalmente, Explode Coração. Mel, trabalho de 1979, ratificou essa esteira de sucessos.

Bom preâmbulo para a vindoura turnê, Maria Bethânia e Caetano Veloso - Ao Vivo (1978), álbum de célebre capa, apresentava-os em versão quase rock’n’roll comungando em disco sua celebração nos palcos. Além de memoráveis duetos, Carcará, na voz de Caetano, e O Leãozinho, por Bethânia, desconstruíam o óbvio. Coube ainda Maria Bethânia, bolero de Capiba e sucesso de Nelson Gonçalves (que no longínquo ano de 1946 teria sido decisivo para literalmente batizar a futura filha pródiga de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano).

Caetano Veloso e Maria Bethânia nos bastidores do show 'De Santo Amaro a Xerem', de Zeca Pagodinho e Bethânia, em 2018. Foto: Iara Morselli/

Importante salientar, ao longo dos anos a partilha musical entre ambos nunca se perdeu. Ao contrário: com canções de Caetano Veloso presentes em praticamente todos os trabalhos de Bethânia (aqui e ali, assinadas a quatro mãos), a identificação mútua é, desde sempre, o moto perpétuo de pontos brilhantes em ambas as carreiras.

Sobrevivendo ao tempo e a gêneros e modismos estético-musicais, esse elo existencial de irmãos em armas ajudou a moldar e pensar a MPB, ditando certas réguas e compassos. O suficiente para, passadas seis décadas, com o anúncio da primeira grande turnê conjunta em grandes arenas, causar frenesi em busca de ingressos.

Na mesma edição do Fantástico, os números musicais apresentados em estúdio deram pistas iniciais do desde já muito especulado setlist dos shows: O Quereres, De Manhã, o samba-reggae Reconvexo. A missão – escolha do repertório –, no entanto, será tarefa árdua. A ver.

Turnê Caetano&Bethânia - Shows e datas

  • 3 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 4 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) - Farmasi Arena
  • 7 de setembro - Belo Horizonte (MG) - Estádio do Mineirão
  • 29 de setembro - Belém (PA) - Hangar
  • 12 de outubro - Porto Alegre (RS) - Arena do Grêmio
  • 9 de novembro - Brasília (DF) - Arena BRB Mané Garrincha
  • 30 de novembro - Salvador (BA) - Arena Fonte Nova
  • 14 de dezembro - São Paulo (SP) - Allianz Parque

Show de Caetano Veloso e Maria Bethânia em São Paulo

  • Data: 14 de dezembro (sábado)
  • Local: Allianz Parque - Avenida Francisco Matarazzo, 1705, R. Palestra Itália, 200 - Água Branca, São Paulo - SP

Preços

  • Cadeira superior: R$ 135 meia entrada e R$ 270 inteira
  • Pista: R$ 170 meia entrada e R$ 340 inteira
  • Cadeira inferior: R$ 245 meia entrada e R$ 490 inteira
  • Pista Premium: R$ 260 meia entrada e R$ 520 inteira

Bilheteria oficial sem cobrança de taxa

  • Allianz Parque - bilheteria B (Avenida Francisco Matarazzo, 1705- Portão B – Água Branca – São Paulo/SP
  • A partir de 21 de março: bilheteria Tokio Marine Hall - Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo (SP). Atendimento: terça a sábado das 10h às 17h - A bilheteria não abre em feriados e emendas de feriado.

Horário de funcionamento da bilheteria

  • 18 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • 19 de março atendimento a partir das 10h.
  • 20 de março atendimento a partir do meio-dia.
  • Atenção: Nos dias de pré-venda e venda geral, às 17h será encerrado o acesso à fila. Serão atendidas as pessoas que estiverem na fila, conforme disponibilidade de ingressos.

Outros shows da turnê Caetano&Bethânia

  • Mais informações sobre as apresentações de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Porto Alegre e Salvador podem ser encontradas no site Ticketmaster.

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