Um longo fim de semana com May Pang, a namorada do ‘fim de semana perdido’ de John Lennon


A ex-executiva americana teve um romance com o ex-Beatle. Segundo ela, a relação foi incentivava por Yoko Ono, viúva do músico

Por Paul Schwartzman

The Washington Post - “Você fala com a Yoko?”, alguém na multidão perguntou. “Paul e George chamavam o Ringo de Richie”?

“Como você conheceu o John?”

May Pang está acostumada com as perguntas. Ela dedicou grande parte da vida a contar seu caso de meio século atrás com John Lennon, período que ele descreveu memoravelmente como “o fim de semana perdido que durou dezoito meses” e que a catapultou para dentro da saga dos Beatles.

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May Pang: as perguntas sobre Lennon são muitas. E ela gosta de responder Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Agora aos 73 anos, Pang está recontando sua versão da história que começou em 1973, quando Yoko Ono sugeriu que ela – então assistente do casal, aos 22 anos – se tornasse amante de Lennon. Décadas depois, Pang está viajando pelo país para exibir as fotos que tirou de seu amante famoso, uma turnê que no último fim de semana chegou ao norte da Virgínia, onde fãs fizeram fila para pegar seu autógrafo e dar uma olhada em imagens que poderiam estar num álbum de família.

Aqui estava uma foto de Lennon com uma tigela de sopa, no apartamento de Manhattan que eles dividiam em 1974. Ali estava outra de Lennon, mostrando a língua. Pouco adiante, mais outra: ele na Disney, um rosto na multidão, como Pang definiu no título da imagem, meses antes de deixá-la para voltar com Ono.

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“Sou o mais próximo que eles vão chegar de John Lennon”, disse Pang enquanto autografava fotos para os compradores. “O que mais me encanta é dar histórias às pessoas. E posso dar as histórias porque era eu que estava lá”.

Livros de memórias reveladores não são novidade nos anais do rock. O que diferencia Pang são as muitas formas que sua narrativa assumiu nas últimas quatro décadas. Seu livro de memórias, Loving John, foi publicado em 1983, três anos depois do assassinato de Lennon. Em 2008 veio Instamatic Karma, uma coleção de suas fotografias com ele. Em 2022, Pang foi o tema de The Lost Weekend: A Love Story, documentário no qual ela declara: “Eu tinha 23 anos e meu primeiro namorado foi John Lennon”.

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E agora temos sua exposição de fotos, que chegou no fim de semana passado à Nepenthe Gallery and Frame Shop, escondida num shopping de Alexandria, atrás de um posto de gasolina e um petshop.

Sim, o dinheiro que ela ganha com a exposição faz parte do incentivo, disse Pang, sentada numa mesa com uma pilha de pôsteres de Lost Weekend que ela autografava e vendia por US$ 50 cada (“Eu gosto de pagar o aluguel”, ela disse). Mas Pang, que cresceu no Spanish Harlem e mora no Queens, também disse que seu objetivo é corrigir o “equívoco” de que Lennon “não gostava de mim e não era um relacionamento de verdade”, narrativa que, ao longo do tempo, ela culpou Ono e seus aliados por perpetuar. “Se fosse você e alguém pegasse sua história, como você se sentiria?”

Pang disse ao público na galeria que, durante sua carreira solo, Lennon ficava mais feliz e criativo quando estava com ela. Ele completou três álbuns naquele período – inclusive Mind Games, que foi relançado este mês. Os dois também viajavam muito entre Nova York e Los Angeles e saíam com amigos que ela chama de “Elton” (John), “Mick” (Jagger), “Harry” (Nilsson) e “Paul e Linda” (McCartney).

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As fotografias, disse Pang, são evidências de que o período não foi a farra alcoólica descrita por biógrafos e até pelo próprio Lennon, quando ele disse à Playboy em 1980 que “nunca tinha bebido tanto na vida” e que “alguém iria morrer” se ele não voltasse para Ono.

O músicos John Lennon Foto: Apple TV+/Divulgação

“Foi uma época feliz, uma época criativa”, disse Pang ao público na exposição.

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Muitos a elogiaram por compartilhar seu passado.

“Obrigada por trazer isso ao mundo”, Fran Redding, 81 anos, disse a Pang enquanto olhava para a parede de fotografias – entre elas a foto da assinatura de Lennon nos papéis que dissolviam os Beatles (preço: US$ 10.000). Havia também uma foto que Pang tirou e que ela diz ser a “última fotografia conhecida” de Lennon e McCartney juntos (preço: US$ 2.450).

Mark Plotkin, 69 anos, amigo de Pang que compareceu à exposição, contou que a acompanhou ao show em memória de George Harrison em Londres, em 2002. Depois do show, Pang o levou a uma “after-after party”, onde ele ouviu alguém dizer com uma voz britânica familiar: “Oh, meu Deus, May Pang!”

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Para mim, ele foi um grande parceiro

May Pang

“Lá estava Paul McCartney com um monte de gente ao redor dele, e foi como se o Mar Vermelho se abrisse para ele dar um abraço nela”, disse Plotkin. “Ela era a rainha suprema do rock”.

A poucos metros de distância, Margaret Lusterman, 61 anos, funcionária federal aposentada, disse que as fotos a fizeram contemplar a angústia que ela imagina que Pang sofreu quando Lennon voltou para Ono. “Ser abandonada por um amante e isso ser uma coisa tão pública – deve ter sido muito doloroso”, disse Lusterman.

Em julho de 1983, quando tinha 32 anos, Pang foi capa da revista Us, sorrindo ao lado de uma manchete que prometia seu relato “exclusivo” da “vida como amante de John – 18 meses de música, compulsões suicidas, tentativas de assassinato, controle mental e sexo”.

As memórias de Pang levaram a aparições no circuito de talk shows, com inquisidores como Joan Rivers e Maury Povich. Geraldo Rivera se referiu a Pang como “a amante” de Lennon e perguntou a ela sobre relatos de que o Beatle era gay.

“Para mim, ele foi um grande parceiro”, ela respondeu.

Quanto a se Lennon havia sido fisicamente abusivo, como ela relatara em seu livro de memórias, Pang disse a Rivera: “Ele me jogou contra a parede” (ela também escreveu que Lennon, ao achar que ela estava tentando impedi-lo de beber, “botou as mãos na minha garganta e começou a me estrangular”, episódio que ela agora diz ter sido “exagerado” por sua coautora).

Seu relacionamento com Lennon começou quando Ono decidiu que ela e o marido precisavam de uma pausa no casamento e pediu para Pang se tornar companheira de Lennon. Pang rejeitou o convite de Ono, mas depois acabou cedendo quando Lennon, como ela diz, “me encantou até eu tirar a calcinha”.

Em certa noite durante sua separação de Ono, Lennon foi expulso da boate Troubadour, em Los Angeles, por vaiar os Smothers Brothers, incidente bem divulgado que alimentou especulações de que ele tinha perdido o controle. Houve momentos mais felizes também, como visitas que Pang ajudou a organizar de seu filho, Julian, de quem ele estava distante. E houve até momentos extraterrenos, como quando Lennon e Pang, ambos nus no terraço, disseram ter visto um OVNI voando sobre Manhattan (“No dia 23 de agosto de 1974, às 9 horas, vi um OVNI - J.L.” aparece no encarte de seu álbum Walls and Bridges).

As fotos que May Pang tirou de John deram origem a uma exposição Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Ono permaneceu em contato constante, telefonando para Lennon e Pang inúmeras vezes ao dia. A certa altura, disse a Pang que Lennon deveria retornar para ela. Pouco tempo depois, Pang recorda às lágrimas no documentário, Lennon anunciou: “Yoko me deixou voltar para casa”. Poucos dias antes, disse Pang, ela e Lennon estavam fazendo planos para comprar uma casa em Montauk, no estado de Nova York, e voar até Nova Orleans para visitar McCartney. De repente, ele estava de volta com Ono.

A questão da importância de Pang na vida de Lennon é tema controverso para a mais estudiosa das subculturas do rock, os beatle-ólogos. Larry Kane, jornalista que escreveu três livros sobre os Beatles, disse que Lennon lhe contou que estava “profundamente apaixonado por alguém e que essa pessoa trabalhava para eles”, embora “nunca tenha dito o nome dela”.

Apesar de todas as fotos deles juntos em público, Lennon raramente falava sobre Pang durante as entrevistas, embora a tenha identificado como “coordenadora de produção” em seus álbuns solo, bem como “Madre Superiora” nos créditos do disco Rock ‘n’ Roll, de 1975.

“É difícil dizer que é um bom momento, um momento divertido, um momento produtivo, quando você está lá sentado ao lado da sua esposa”, disse Pang, explicando por que Lennon talvez não a tenha mencionado durante a entrevista conjunta que ele e Ono concederam à Playboy, quando ele falou de seu “fim de semana perdido”.

Elliot Mintz, porta-voz de longa data de Ono, não quis comentar.

Tim Riley, autor de uma aclamada biografia de Lennon, disse que não é surpreendente que ele tenha voltado para Ono, “sua parceira artística. Ele nunca teve isso com May Pang ou qualquer outra pessoa”.

“Não acho que tenha sido um relacionamento sério da parte dele”, disse Riley. “A diferença de poder era considerável. Ele não estava fugindo com May Pang. Ele estava tirando férias de casamento autorizadas”.

“Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

May Pang

Depois que Lennon foi embora, Pang disse que eles continuaram em contato, às vezes se encontrando secretamente. Nove anos após a morte de Lennon, ela se casou com o produtor musical Tony Visconti e teve dois filhos antes de se divorciarem, em 2000. Seus pensamentos, ao que parece, nunca se afastam muito de Lennon. Ela ainda guarda recordações do tempo que passaram juntos, como um desenho que ele fez dela, no qual ela é alta o suficiente para alcançar as nuvens. Ela também ficou com o colchão em que dormiam (está no depósito). Quando ela vê algo relacionado a ele, como uma placa escrito “Lennon” na traseira de um caminhão, ela disse que pensa: “Ele está cuidando de mim”.

“Não tive um encerramento com ele”, disse Pang. “Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

Na galeria em Alexandria, Pang se ofereceu para responder às perguntas de qualquer pessoa.

Não, ela disse quando perguntaram sobre seu relacionamento com Ono, ela não fala com a viúva de Lennon há anos. Sim, ela disse, Lennon e McCartney poderiam muito bem ter feito mais músicas juntos.

Quanto a uma pergunta sobre as complexidades de sua relação com Lennon e Ono, Pang disse: “Você vai ter que ver o filme”.

No dia seguinte, ela estava de volta, autografando mais fotos e pôsteres enquanto um trailer do documentário passava em loop incessante.

“Meu nome é May Pang”, o áudio repetia o tempo todo, “e esta é a minha história”.

Uma mulher que viera de Charlottesville agradeceu a ela por ajudar Lennon a passar um tempo com Julian. Um pesquisador do Smithsonian disse que ficou “pasmo” ao conhecê-la.

Uma mãe e uma filha se aproximaram dela. Agora era Pang quem tinha uma pergunta.

“Quantos anos você tem?”, ela perguntou à filha.

Vinte e quatro.

“Tudo isso aconteceu quando eu tinha 24 anos”, disse Pang. “Eu amadureci mais rápido do que queria. Divirta-se”.

Aí ela destampou a caneta e assinou mais um pôster. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The Washington Post - “Você fala com a Yoko?”, alguém na multidão perguntou. “Paul e George chamavam o Ringo de Richie”?

“Como você conheceu o John?”

May Pang está acostumada com as perguntas. Ela dedicou grande parte da vida a contar seu caso de meio século atrás com John Lennon, período que ele descreveu memoravelmente como “o fim de semana perdido que durou dezoito meses” e que a catapultou para dentro da saga dos Beatles.

May Pang: as perguntas sobre Lennon são muitas. E ela gosta de responder Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Agora aos 73 anos, Pang está recontando sua versão da história que começou em 1973, quando Yoko Ono sugeriu que ela – então assistente do casal, aos 22 anos – se tornasse amante de Lennon. Décadas depois, Pang está viajando pelo país para exibir as fotos que tirou de seu amante famoso, uma turnê que no último fim de semana chegou ao norte da Virgínia, onde fãs fizeram fila para pegar seu autógrafo e dar uma olhada em imagens que poderiam estar num álbum de família.

Aqui estava uma foto de Lennon com uma tigela de sopa, no apartamento de Manhattan que eles dividiam em 1974. Ali estava outra de Lennon, mostrando a língua. Pouco adiante, mais outra: ele na Disney, um rosto na multidão, como Pang definiu no título da imagem, meses antes de deixá-la para voltar com Ono.

“Sou o mais próximo que eles vão chegar de John Lennon”, disse Pang enquanto autografava fotos para os compradores. “O que mais me encanta é dar histórias às pessoas. E posso dar as histórias porque era eu que estava lá”.

Livros de memórias reveladores não são novidade nos anais do rock. O que diferencia Pang são as muitas formas que sua narrativa assumiu nas últimas quatro décadas. Seu livro de memórias, Loving John, foi publicado em 1983, três anos depois do assassinato de Lennon. Em 2008 veio Instamatic Karma, uma coleção de suas fotografias com ele. Em 2022, Pang foi o tema de The Lost Weekend: A Love Story, documentário no qual ela declara: “Eu tinha 23 anos e meu primeiro namorado foi John Lennon”.

E agora temos sua exposição de fotos, que chegou no fim de semana passado à Nepenthe Gallery and Frame Shop, escondida num shopping de Alexandria, atrás de um posto de gasolina e um petshop.

Sim, o dinheiro que ela ganha com a exposição faz parte do incentivo, disse Pang, sentada numa mesa com uma pilha de pôsteres de Lost Weekend que ela autografava e vendia por US$ 50 cada (“Eu gosto de pagar o aluguel”, ela disse). Mas Pang, que cresceu no Spanish Harlem e mora no Queens, também disse que seu objetivo é corrigir o “equívoco” de que Lennon “não gostava de mim e não era um relacionamento de verdade”, narrativa que, ao longo do tempo, ela culpou Ono e seus aliados por perpetuar. “Se fosse você e alguém pegasse sua história, como você se sentiria?”

Pang disse ao público na galeria que, durante sua carreira solo, Lennon ficava mais feliz e criativo quando estava com ela. Ele completou três álbuns naquele período – inclusive Mind Games, que foi relançado este mês. Os dois também viajavam muito entre Nova York e Los Angeles e saíam com amigos que ela chama de “Elton” (John), “Mick” (Jagger), “Harry” (Nilsson) e “Paul e Linda” (McCartney).

As fotografias, disse Pang, são evidências de que o período não foi a farra alcoólica descrita por biógrafos e até pelo próprio Lennon, quando ele disse à Playboy em 1980 que “nunca tinha bebido tanto na vida” e que “alguém iria morrer” se ele não voltasse para Ono.

O músicos John Lennon Foto: Apple TV+/Divulgação

“Foi uma época feliz, uma época criativa”, disse Pang ao público na exposição.

Muitos a elogiaram por compartilhar seu passado.

“Obrigada por trazer isso ao mundo”, Fran Redding, 81 anos, disse a Pang enquanto olhava para a parede de fotografias – entre elas a foto da assinatura de Lennon nos papéis que dissolviam os Beatles (preço: US$ 10.000). Havia também uma foto que Pang tirou e que ela diz ser a “última fotografia conhecida” de Lennon e McCartney juntos (preço: US$ 2.450).

Mark Plotkin, 69 anos, amigo de Pang que compareceu à exposição, contou que a acompanhou ao show em memória de George Harrison em Londres, em 2002. Depois do show, Pang o levou a uma “after-after party”, onde ele ouviu alguém dizer com uma voz britânica familiar: “Oh, meu Deus, May Pang!”

Para mim, ele foi um grande parceiro

May Pang

“Lá estava Paul McCartney com um monte de gente ao redor dele, e foi como se o Mar Vermelho se abrisse para ele dar um abraço nela”, disse Plotkin. “Ela era a rainha suprema do rock”.

A poucos metros de distância, Margaret Lusterman, 61 anos, funcionária federal aposentada, disse que as fotos a fizeram contemplar a angústia que ela imagina que Pang sofreu quando Lennon voltou para Ono. “Ser abandonada por um amante e isso ser uma coisa tão pública – deve ter sido muito doloroso”, disse Lusterman.

Em julho de 1983, quando tinha 32 anos, Pang foi capa da revista Us, sorrindo ao lado de uma manchete que prometia seu relato “exclusivo” da “vida como amante de John – 18 meses de música, compulsões suicidas, tentativas de assassinato, controle mental e sexo”.

As memórias de Pang levaram a aparições no circuito de talk shows, com inquisidores como Joan Rivers e Maury Povich. Geraldo Rivera se referiu a Pang como “a amante” de Lennon e perguntou a ela sobre relatos de que o Beatle era gay.

“Para mim, ele foi um grande parceiro”, ela respondeu.

Quanto a se Lennon havia sido fisicamente abusivo, como ela relatara em seu livro de memórias, Pang disse a Rivera: “Ele me jogou contra a parede” (ela também escreveu que Lennon, ao achar que ela estava tentando impedi-lo de beber, “botou as mãos na minha garganta e começou a me estrangular”, episódio que ela agora diz ter sido “exagerado” por sua coautora).

Seu relacionamento com Lennon começou quando Ono decidiu que ela e o marido precisavam de uma pausa no casamento e pediu para Pang se tornar companheira de Lennon. Pang rejeitou o convite de Ono, mas depois acabou cedendo quando Lennon, como ela diz, “me encantou até eu tirar a calcinha”.

Em certa noite durante sua separação de Ono, Lennon foi expulso da boate Troubadour, em Los Angeles, por vaiar os Smothers Brothers, incidente bem divulgado que alimentou especulações de que ele tinha perdido o controle. Houve momentos mais felizes também, como visitas que Pang ajudou a organizar de seu filho, Julian, de quem ele estava distante. E houve até momentos extraterrenos, como quando Lennon e Pang, ambos nus no terraço, disseram ter visto um OVNI voando sobre Manhattan (“No dia 23 de agosto de 1974, às 9 horas, vi um OVNI - J.L.” aparece no encarte de seu álbum Walls and Bridges).

As fotos que May Pang tirou de John deram origem a uma exposição Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Ono permaneceu em contato constante, telefonando para Lennon e Pang inúmeras vezes ao dia. A certa altura, disse a Pang que Lennon deveria retornar para ela. Pouco tempo depois, Pang recorda às lágrimas no documentário, Lennon anunciou: “Yoko me deixou voltar para casa”. Poucos dias antes, disse Pang, ela e Lennon estavam fazendo planos para comprar uma casa em Montauk, no estado de Nova York, e voar até Nova Orleans para visitar McCartney. De repente, ele estava de volta com Ono.

A questão da importância de Pang na vida de Lennon é tema controverso para a mais estudiosa das subculturas do rock, os beatle-ólogos. Larry Kane, jornalista que escreveu três livros sobre os Beatles, disse que Lennon lhe contou que estava “profundamente apaixonado por alguém e que essa pessoa trabalhava para eles”, embora “nunca tenha dito o nome dela”.

Apesar de todas as fotos deles juntos em público, Lennon raramente falava sobre Pang durante as entrevistas, embora a tenha identificado como “coordenadora de produção” em seus álbuns solo, bem como “Madre Superiora” nos créditos do disco Rock ‘n’ Roll, de 1975.

“É difícil dizer que é um bom momento, um momento divertido, um momento produtivo, quando você está lá sentado ao lado da sua esposa”, disse Pang, explicando por que Lennon talvez não a tenha mencionado durante a entrevista conjunta que ele e Ono concederam à Playboy, quando ele falou de seu “fim de semana perdido”.

Elliot Mintz, porta-voz de longa data de Ono, não quis comentar.

Tim Riley, autor de uma aclamada biografia de Lennon, disse que não é surpreendente que ele tenha voltado para Ono, “sua parceira artística. Ele nunca teve isso com May Pang ou qualquer outra pessoa”.

“Não acho que tenha sido um relacionamento sério da parte dele”, disse Riley. “A diferença de poder era considerável. Ele não estava fugindo com May Pang. Ele estava tirando férias de casamento autorizadas”.

“Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

May Pang

Depois que Lennon foi embora, Pang disse que eles continuaram em contato, às vezes se encontrando secretamente. Nove anos após a morte de Lennon, ela se casou com o produtor musical Tony Visconti e teve dois filhos antes de se divorciarem, em 2000. Seus pensamentos, ao que parece, nunca se afastam muito de Lennon. Ela ainda guarda recordações do tempo que passaram juntos, como um desenho que ele fez dela, no qual ela é alta o suficiente para alcançar as nuvens. Ela também ficou com o colchão em que dormiam (está no depósito). Quando ela vê algo relacionado a ele, como uma placa escrito “Lennon” na traseira de um caminhão, ela disse que pensa: “Ele está cuidando de mim”.

“Não tive um encerramento com ele”, disse Pang. “Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

Na galeria em Alexandria, Pang se ofereceu para responder às perguntas de qualquer pessoa.

Não, ela disse quando perguntaram sobre seu relacionamento com Ono, ela não fala com a viúva de Lennon há anos. Sim, ela disse, Lennon e McCartney poderiam muito bem ter feito mais músicas juntos.

Quanto a uma pergunta sobre as complexidades de sua relação com Lennon e Ono, Pang disse: “Você vai ter que ver o filme”.

No dia seguinte, ela estava de volta, autografando mais fotos e pôsteres enquanto um trailer do documentário passava em loop incessante.

“Meu nome é May Pang”, o áudio repetia o tempo todo, “e esta é a minha história”.

Uma mulher que viera de Charlottesville agradeceu a ela por ajudar Lennon a passar um tempo com Julian. Um pesquisador do Smithsonian disse que ficou “pasmo” ao conhecê-la.

Uma mãe e uma filha se aproximaram dela. Agora era Pang quem tinha uma pergunta.

“Quantos anos você tem?”, ela perguntou à filha.

Vinte e quatro.

“Tudo isso aconteceu quando eu tinha 24 anos”, disse Pang. “Eu amadureci mais rápido do que queria. Divirta-se”.

Aí ela destampou a caneta e assinou mais um pôster. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The Washington Post - “Você fala com a Yoko?”, alguém na multidão perguntou. “Paul e George chamavam o Ringo de Richie”?

“Como você conheceu o John?”

May Pang está acostumada com as perguntas. Ela dedicou grande parte da vida a contar seu caso de meio século atrás com John Lennon, período que ele descreveu memoravelmente como “o fim de semana perdido que durou dezoito meses” e que a catapultou para dentro da saga dos Beatles.

May Pang: as perguntas sobre Lennon são muitas. E ela gosta de responder Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Agora aos 73 anos, Pang está recontando sua versão da história que começou em 1973, quando Yoko Ono sugeriu que ela – então assistente do casal, aos 22 anos – se tornasse amante de Lennon. Décadas depois, Pang está viajando pelo país para exibir as fotos que tirou de seu amante famoso, uma turnê que no último fim de semana chegou ao norte da Virgínia, onde fãs fizeram fila para pegar seu autógrafo e dar uma olhada em imagens que poderiam estar num álbum de família.

Aqui estava uma foto de Lennon com uma tigela de sopa, no apartamento de Manhattan que eles dividiam em 1974. Ali estava outra de Lennon, mostrando a língua. Pouco adiante, mais outra: ele na Disney, um rosto na multidão, como Pang definiu no título da imagem, meses antes de deixá-la para voltar com Ono.

“Sou o mais próximo que eles vão chegar de John Lennon”, disse Pang enquanto autografava fotos para os compradores. “O que mais me encanta é dar histórias às pessoas. E posso dar as histórias porque era eu que estava lá”.

Livros de memórias reveladores não são novidade nos anais do rock. O que diferencia Pang são as muitas formas que sua narrativa assumiu nas últimas quatro décadas. Seu livro de memórias, Loving John, foi publicado em 1983, três anos depois do assassinato de Lennon. Em 2008 veio Instamatic Karma, uma coleção de suas fotografias com ele. Em 2022, Pang foi o tema de The Lost Weekend: A Love Story, documentário no qual ela declara: “Eu tinha 23 anos e meu primeiro namorado foi John Lennon”.

E agora temos sua exposição de fotos, que chegou no fim de semana passado à Nepenthe Gallery and Frame Shop, escondida num shopping de Alexandria, atrás de um posto de gasolina e um petshop.

Sim, o dinheiro que ela ganha com a exposição faz parte do incentivo, disse Pang, sentada numa mesa com uma pilha de pôsteres de Lost Weekend que ela autografava e vendia por US$ 50 cada (“Eu gosto de pagar o aluguel”, ela disse). Mas Pang, que cresceu no Spanish Harlem e mora no Queens, também disse que seu objetivo é corrigir o “equívoco” de que Lennon “não gostava de mim e não era um relacionamento de verdade”, narrativa que, ao longo do tempo, ela culpou Ono e seus aliados por perpetuar. “Se fosse você e alguém pegasse sua história, como você se sentiria?”

Pang disse ao público na galeria que, durante sua carreira solo, Lennon ficava mais feliz e criativo quando estava com ela. Ele completou três álbuns naquele período – inclusive Mind Games, que foi relançado este mês. Os dois também viajavam muito entre Nova York e Los Angeles e saíam com amigos que ela chama de “Elton” (John), “Mick” (Jagger), “Harry” (Nilsson) e “Paul e Linda” (McCartney).

As fotografias, disse Pang, são evidências de que o período não foi a farra alcoólica descrita por biógrafos e até pelo próprio Lennon, quando ele disse à Playboy em 1980 que “nunca tinha bebido tanto na vida” e que “alguém iria morrer” se ele não voltasse para Ono.

O músicos John Lennon Foto: Apple TV+/Divulgação

“Foi uma época feliz, uma época criativa”, disse Pang ao público na exposição.

Muitos a elogiaram por compartilhar seu passado.

“Obrigada por trazer isso ao mundo”, Fran Redding, 81 anos, disse a Pang enquanto olhava para a parede de fotografias – entre elas a foto da assinatura de Lennon nos papéis que dissolviam os Beatles (preço: US$ 10.000). Havia também uma foto que Pang tirou e que ela diz ser a “última fotografia conhecida” de Lennon e McCartney juntos (preço: US$ 2.450).

Mark Plotkin, 69 anos, amigo de Pang que compareceu à exposição, contou que a acompanhou ao show em memória de George Harrison em Londres, em 2002. Depois do show, Pang o levou a uma “after-after party”, onde ele ouviu alguém dizer com uma voz britânica familiar: “Oh, meu Deus, May Pang!”

Para mim, ele foi um grande parceiro

May Pang

“Lá estava Paul McCartney com um monte de gente ao redor dele, e foi como se o Mar Vermelho se abrisse para ele dar um abraço nela”, disse Plotkin. “Ela era a rainha suprema do rock”.

A poucos metros de distância, Margaret Lusterman, 61 anos, funcionária federal aposentada, disse que as fotos a fizeram contemplar a angústia que ela imagina que Pang sofreu quando Lennon voltou para Ono. “Ser abandonada por um amante e isso ser uma coisa tão pública – deve ter sido muito doloroso”, disse Lusterman.

Em julho de 1983, quando tinha 32 anos, Pang foi capa da revista Us, sorrindo ao lado de uma manchete que prometia seu relato “exclusivo” da “vida como amante de John – 18 meses de música, compulsões suicidas, tentativas de assassinato, controle mental e sexo”.

As memórias de Pang levaram a aparições no circuito de talk shows, com inquisidores como Joan Rivers e Maury Povich. Geraldo Rivera se referiu a Pang como “a amante” de Lennon e perguntou a ela sobre relatos de que o Beatle era gay.

“Para mim, ele foi um grande parceiro”, ela respondeu.

Quanto a se Lennon havia sido fisicamente abusivo, como ela relatara em seu livro de memórias, Pang disse a Rivera: “Ele me jogou contra a parede” (ela também escreveu que Lennon, ao achar que ela estava tentando impedi-lo de beber, “botou as mãos na minha garganta e começou a me estrangular”, episódio que ela agora diz ter sido “exagerado” por sua coautora).

Seu relacionamento com Lennon começou quando Ono decidiu que ela e o marido precisavam de uma pausa no casamento e pediu para Pang se tornar companheira de Lennon. Pang rejeitou o convite de Ono, mas depois acabou cedendo quando Lennon, como ela diz, “me encantou até eu tirar a calcinha”.

Em certa noite durante sua separação de Ono, Lennon foi expulso da boate Troubadour, em Los Angeles, por vaiar os Smothers Brothers, incidente bem divulgado que alimentou especulações de que ele tinha perdido o controle. Houve momentos mais felizes também, como visitas que Pang ajudou a organizar de seu filho, Julian, de quem ele estava distante. E houve até momentos extraterrenos, como quando Lennon e Pang, ambos nus no terraço, disseram ter visto um OVNI voando sobre Manhattan (“No dia 23 de agosto de 1974, às 9 horas, vi um OVNI - J.L.” aparece no encarte de seu álbum Walls and Bridges).

As fotos que May Pang tirou de John deram origem a uma exposição Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Ono permaneceu em contato constante, telefonando para Lennon e Pang inúmeras vezes ao dia. A certa altura, disse a Pang que Lennon deveria retornar para ela. Pouco tempo depois, Pang recorda às lágrimas no documentário, Lennon anunciou: “Yoko me deixou voltar para casa”. Poucos dias antes, disse Pang, ela e Lennon estavam fazendo planos para comprar uma casa em Montauk, no estado de Nova York, e voar até Nova Orleans para visitar McCartney. De repente, ele estava de volta com Ono.

A questão da importância de Pang na vida de Lennon é tema controverso para a mais estudiosa das subculturas do rock, os beatle-ólogos. Larry Kane, jornalista que escreveu três livros sobre os Beatles, disse que Lennon lhe contou que estava “profundamente apaixonado por alguém e que essa pessoa trabalhava para eles”, embora “nunca tenha dito o nome dela”.

Apesar de todas as fotos deles juntos em público, Lennon raramente falava sobre Pang durante as entrevistas, embora a tenha identificado como “coordenadora de produção” em seus álbuns solo, bem como “Madre Superiora” nos créditos do disco Rock ‘n’ Roll, de 1975.

“É difícil dizer que é um bom momento, um momento divertido, um momento produtivo, quando você está lá sentado ao lado da sua esposa”, disse Pang, explicando por que Lennon talvez não a tenha mencionado durante a entrevista conjunta que ele e Ono concederam à Playboy, quando ele falou de seu “fim de semana perdido”.

Elliot Mintz, porta-voz de longa data de Ono, não quis comentar.

Tim Riley, autor de uma aclamada biografia de Lennon, disse que não é surpreendente que ele tenha voltado para Ono, “sua parceira artística. Ele nunca teve isso com May Pang ou qualquer outra pessoa”.

“Não acho que tenha sido um relacionamento sério da parte dele”, disse Riley. “A diferença de poder era considerável. Ele não estava fugindo com May Pang. Ele estava tirando férias de casamento autorizadas”.

“Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

May Pang

Depois que Lennon foi embora, Pang disse que eles continuaram em contato, às vezes se encontrando secretamente. Nove anos após a morte de Lennon, ela se casou com o produtor musical Tony Visconti e teve dois filhos antes de se divorciarem, em 2000. Seus pensamentos, ao que parece, nunca se afastam muito de Lennon. Ela ainda guarda recordações do tempo que passaram juntos, como um desenho que ele fez dela, no qual ela é alta o suficiente para alcançar as nuvens. Ela também ficou com o colchão em que dormiam (está no depósito). Quando ela vê algo relacionado a ele, como uma placa escrito “Lennon” na traseira de um caminhão, ela disse que pensa: “Ele está cuidando de mim”.

“Não tive um encerramento com ele”, disse Pang. “Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

Na galeria em Alexandria, Pang se ofereceu para responder às perguntas de qualquer pessoa.

Não, ela disse quando perguntaram sobre seu relacionamento com Ono, ela não fala com a viúva de Lennon há anos. Sim, ela disse, Lennon e McCartney poderiam muito bem ter feito mais músicas juntos.

Quanto a uma pergunta sobre as complexidades de sua relação com Lennon e Ono, Pang disse: “Você vai ter que ver o filme”.

No dia seguinte, ela estava de volta, autografando mais fotos e pôsteres enquanto um trailer do documentário passava em loop incessante.

“Meu nome é May Pang”, o áudio repetia o tempo todo, “e esta é a minha história”.

Uma mulher que viera de Charlottesville agradeceu a ela por ajudar Lennon a passar um tempo com Julian. Um pesquisador do Smithsonian disse que ficou “pasmo” ao conhecê-la.

Uma mãe e uma filha se aproximaram dela. Agora era Pang quem tinha uma pergunta.

“Quantos anos você tem?”, ela perguntou à filha.

Vinte e quatro.

“Tudo isso aconteceu quando eu tinha 24 anos”, disse Pang. “Eu amadureci mais rápido do que queria. Divirta-se”.

Aí ela destampou a caneta e assinou mais um pôster. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The Washington Post - “Você fala com a Yoko?”, alguém na multidão perguntou. “Paul e George chamavam o Ringo de Richie”?

“Como você conheceu o John?”

May Pang está acostumada com as perguntas. Ela dedicou grande parte da vida a contar seu caso de meio século atrás com John Lennon, período que ele descreveu memoravelmente como “o fim de semana perdido que durou dezoito meses” e que a catapultou para dentro da saga dos Beatles.

May Pang: as perguntas sobre Lennon são muitas. E ela gosta de responder Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Agora aos 73 anos, Pang está recontando sua versão da história que começou em 1973, quando Yoko Ono sugeriu que ela – então assistente do casal, aos 22 anos – se tornasse amante de Lennon. Décadas depois, Pang está viajando pelo país para exibir as fotos que tirou de seu amante famoso, uma turnê que no último fim de semana chegou ao norte da Virgínia, onde fãs fizeram fila para pegar seu autógrafo e dar uma olhada em imagens que poderiam estar num álbum de família.

Aqui estava uma foto de Lennon com uma tigela de sopa, no apartamento de Manhattan que eles dividiam em 1974. Ali estava outra de Lennon, mostrando a língua. Pouco adiante, mais outra: ele na Disney, um rosto na multidão, como Pang definiu no título da imagem, meses antes de deixá-la para voltar com Ono.

“Sou o mais próximo que eles vão chegar de John Lennon”, disse Pang enquanto autografava fotos para os compradores. “O que mais me encanta é dar histórias às pessoas. E posso dar as histórias porque era eu que estava lá”.

Livros de memórias reveladores não são novidade nos anais do rock. O que diferencia Pang são as muitas formas que sua narrativa assumiu nas últimas quatro décadas. Seu livro de memórias, Loving John, foi publicado em 1983, três anos depois do assassinato de Lennon. Em 2008 veio Instamatic Karma, uma coleção de suas fotografias com ele. Em 2022, Pang foi o tema de The Lost Weekend: A Love Story, documentário no qual ela declara: “Eu tinha 23 anos e meu primeiro namorado foi John Lennon”.

E agora temos sua exposição de fotos, que chegou no fim de semana passado à Nepenthe Gallery and Frame Shop, escondida num shopping de Alexandria, atrás de um posto de gasolina e um petshop.

Sim, o dinheiro que ela ganha com a exposição faz parte do incentivo, disse Pang, sentada numa mesa com uma pilha de pôsteres de Lost Weekend que ela autografava e vendia por US$ 50 cada (“Eu gosto de pagar o aluguel”, ela disse). Mas Pang, que cresceu no Spanish Harlem e mora no Queens, também disse que seu objetivo é corrigir o “equívoco” de que Lennon “não gostava de mim e não era um relacionamento de verdade”, narrativa que, ao longo do tempo, ela culpou Ono e seus aliados por perpetuar. “Se fosse você e alguém pegasse sua história, como você se sentiria?”

Pang disse ao público na galeria que, durante sua carreira solo, Lennon ficava mais feliz e criativo quando estava com ela. Ele completou três álbuns naquele período – inclusive Mind Games, que foi relançado este mês. Os dois também viajavam muito entre Nova York e Los Angeles e saíam com amigos que ela chama de “Elton” (John), “Mick” (Jagger), “Harry” (Nilsson) e “Paul e Linda” (McCartney).

As fotografias, disse Pang, são evidências de que o período não foi a farra alcoólica descrita por biógrafos e até pelo próprio Lennon, quando ele disse à Playboy em 1980 que “nunca tinha bebido tanto na vida” e que “alguém iria morrer” se ele não voltasse para Ono.

O músicos John Lennon Foto: Apple TV+/Divulgação

“Foi uma época feliz, uma época criativa”, disse Pang ao público na exposição.

Muitos a elogiaram por compartilhar seu passado.

“Obrigada por trazer isso ao mundo”, Fran Redding, 81 anos, disse a Pang enquanto olhava para a parede de fotografias – entre elas a foto da assinatura de Lennon nos papéis que dissolviam os Beatles (preço: US$ 10.000). Havia também uma foto que Pang tirou e que ela diz ser a “última fotografia conhecida” de Lennon e McCartney juntos (preço: US$ 2.450).

Mark Plotkin, 69 anos, amigo de Pang que compareceu à exposição, contou que a acompanhou ao show em memória de George Harrison em Londres, em 2002. Depois do show, Pang o levou a uma “after-after party”, onde ele ouviu alguém dizer com uma voz britânica familiar: “Oh, meu Deus, May Pang!”

Para mim, ele foi um grande parceiro

May Pang

“Lá estava Paul McCartney com um monte de gente ao redor dele, e foi como se o Mar Vermelho se abrisse para ele dar um abraço nela”, disse Plotkin. “Ela era a rainha suprema do rock”.

A poucos metros de distância, Margaret Lusterman, 61 anos, funcionária federal aposentada, disse que as fotos a fizeram contemplar a angústia que ela imagina que Pang sofreu quando Lennon voltou para Ono. “Ser abandonada por um amante e isso ser uma coisa tão pública – deve ter sido muito doloroso”, disse Lusterman.

Em julho de 1983, quando tinha 32 anos, Pang foi capa da revista Us, sorrindo ao lado de uma manchete que prometia seu relato “exclusivo” da “vida como amante de John – 18 meses de música, compulsões suicidas, tentativas de assassinato, controle mental e sexo”.

As memórias de Pang levaram a aparições no circuito de talk shows, com inquisidores como Joan Rivers e Maury Povich. Geraldo Rivera se referiu a Pang como “a amante” de Lennon e perguntou a ela sobre relatos de que o Beatle era gay.

“Para mim, ele foi um grande parceiro”, ela respondeu.

Quanto a se Lennon havia sido fisicamente abusivo, como ela relatara em seu livro de memórias, Pang disse a Rivera: “Ele me jogou contra a parede” (ela também escreveu que Lennon, ao achar que ela estava tentando impedi-lo de beber, “botou as mãos na minha garganta e começou a me estrangular”, episódio que ela agora diz ter sido “exagerado” por sua coautora).

Seu relacionamento com Lennon começou quando Ono decidiu que ela e o marido precisavam de uma pausa no casamento e pediu para Pang se tornar companheira de Lennon. Pang rejeitou o convite de Ono, mas depois acabou cedendo quando Lennon, como ela diz, “me encantou até eu tirar a calcinha”.

Em certa noite durante sua separação de Ono, Lennon foi expulso da boate Troubadour, em Los Angeles, por vaiar os Smothers Brothers, incidente bem divulgado que alimentou especulações de que ele tinha perdido o controle. Houve momentos mais felizes também, como visitas que Pang ajudou a organizar de seu filho, Julian, de quem ele estava distante. E houve até momentos extraterrenos, como quando Lennon e Pang, ambos nus no terraço, disseram ter visto um OVNI voando sobre Manhattan (“No dia 23 de agosto de 1974, às 9 horas, vi um OVNI - J.L.” aparece no encarte de seu álbum Walls and Bridges).

As fotos que May Pang tirou de John deram origem a uma exposição Foto: Allison Robbert/The Washington Post

Ono permaneceu em contato constante, telefonando para Lennon e Pang inúmeras vezes ao dia. A certa altura, disse a Pang que Lennon deveria retornar para ela. Pouco tempo depois, Pang recorda às lágrimas no documentário, Lennon anunciou: “Yoko me deixou voltar para casa”. Poucos dias antes, disse Pang, ela e Lennon estavam fazendo planos para comprar uma casa em Montauk, no estado de Nova York, e voar até Nova Orleans para visitar McCartney. De repente, ele estava de volta com Ono.

A questão da importância de Pang na vida de Lennon é tema controverso para a mais estudiosa das subculturas do rock, os beatle-ólogos. Larry Kane, jornalista que escreveu três livros sobre os Beatles, disse que Lennon lhe contou que estava “profundamente apaixonado por alguém e que essa pessoa trabalhava para eles”, embora “nunca tenha dito o nome dela”.

Apesar de todas as fotos deles juntos em público, Lennon raramente falava sobre Pang durante as entrevistas, embora a tenha identificado como “coordenadora de produção” em seus álbuns solo, bem como “Madre Superiora” nos créditos do disco Rock ‘n’ Roll, de 1975.

“É difícil dizer que é um bom momento, um momento divertido, um momento produtivo, quando você está lá sentado ao lado da sua esposa”, disse Pang, explicando por que Lennon talvez não a tenha mencionado durante a entrevista conjunta que ele e Ono concederam à Playboy, quando ele falou de seu “fim de semana perdido”.

Elliot Mintz, porta-voz de longa data de Ono, não quis comentar.

Tim Riley, autor de uma aclamada biografia de Lennon, disse que não é surpreendente que ele tenha voltado para Ono, “sua parceira artística. Ele nunca teve isso com May Pang ou qualquer outra pessoa”.

“Não acho que tenha sido um relacionamento sério da parte dele”, disse Riley. “A diferença de poder era considerável. Ele não estava fugindo com May Pang. Ele estava tirando férias de casamento autorizadas”.

“Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

May Pang

Depois que Lennon foi embora, Pang disse que eles continuaram em contato, às vezes se encontrando secretamente. Nove anos após a morte de Lennon, ela se casou com o produtor musical Tony Visconti e teve dois filhos antes de se divorciarem, em 2000. Seus pensamentos, ao que parece, nunca se afastam muito de Lennon. Ela ainda guarda recordações do tempo que passaram juntos, como um desenho que ele fez dela, no qual ela é alta o suficiente para alcançar as nuvens. Ela também ficou com o colchão em que dormiam (está no depósito). Quando ela vê algo relacionado a ele, como uma placa escrito “Lennon” na traseira de um caminhão, ela disse que pensa: “Ele está cuidando de mim”.

“Não tive um encerramento com ele”, disse Pang. “Como posso ter um encerramento se ele disse ‘Tenho que encontrar um jeito de ficarmos juntos’ pouco antes de ser morto?”

Na galeria em Alexandria, Pang se ofereceu para responder às perguntas de qualquer pessoa.

Não, ela disse quando perguntaram sobre seu relacionamento com Ono, ela não fala com a viúva de Lennon há anos. Sim, ela disse, Lennon e McCartney poderiam muito bem ter feito mais músicas juntos.

Quanto a uma pergunta sobre as complexidades de sua relação com Lennon e Ono, Pang disse: “Você vai ter que ver o filme”.

No dia seguinte, ela estava de volta, autografando mais fotos e pôsteres enquanto um trailer do documentário passava em loop incessante.

“Meu nome é May Pang”, o áudio repetia o tempo todo, “e esta é a minha história”.

Uma mulher que viera de Charlottesville agradeceu a ela por ajudar Lennon a passar um tempo com Julian. Um pesquisador do Smithsonian disse que ficou “pasmo” ao conhecê-la.

Uma mãe e uma filha se aproximaram dela. Agora era Pang quem tinha uma pergunta.

“Quantos anos você tem?”, ela perguntou à filha.

Vinte e quatro.

“Tudo isso aconteceu quando eu tinha 24 anos”, disse Pang. “Eu amadureci mais rápido do que queria. Divirta-se”.

Aí ela destampou a caneta e assinou mais um pôster. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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