Verdi ganha montagem contemporânea em 'Nabucco'


Para diretor, ‘Nabucco’ trata de questões que seguem atuais, como a violência e a aceitação do outro

Por João Luiz Sampaio

Uma história ambientada na Babilônia e recriada por um italiano do século 19 como símbolo da contemporaneidade. É essa a proposta que cerca a nova produção da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que sobe hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, depois de quase 50 anos longe da cidade. A montagem tem direção cênica do ex-diretor do teatro, Cleber Papa, e regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk, à frente de um elenco formado por cantores brasileiros.

Abigaile. Com a soprano Marly Montoni Foto: Clarissa Lambert

Nabucco recupera a figura histórica de Nabucodonosor, dando ênfase à sua perseguição ao povo judeu. É uma obra do início da carreira de Verdi, seu primeiro grande sucesso, e não apenas por motivos musicais – o coro Va Pensiero, em que os judeus falam do desejo de uma pátria própria, logo se tornou símbolo para uma Itália que também almejava a unificação nas primeiras décadas do século 19. Não por acaso, após a estreia, muros das principais cidades italianas foram ocupados pelos dizeres Viva Verdi, homenagem ao compositor e acrônimo Vittorio Emanuele, Rei da Itália, em homenagem à figura que, então, simbolizava o ideal de união do país. “Entender Nabucco como um espetáculo que pode dialogar com o mundo contemporâneo foi um ponto de partida importante”, diz Papa. “Basta perceber como as pessoas estão perdidas no mundo todo. Correntes migratórias, a violência crescente, a dificuldade de aceitação do outro, os desgarrados urbanos simbolizados pela Cracolândia, pessoas que caminham sem rumo, tudo isso faz parte de nosso tempo e permite estabelecer uma conexão com a obra de Verdi.”

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Para Papa, transformar esse conceito em espetáculo significou o que ele chama de “busca da essencialidade” da ópera. “Isso é algo que representa nossa época também, essa procura por aquilo que é essencial. Então, eu me coloquei algumas perguntas. Por exemplo: quem é Nabucco? Ele é um ditador, um déspota, preocupado em ampliar o poder e a riqueza. E por isso construímos um personagem selvagem, enlouquecido. E o mesmo vale para Abigaile. Ela tem qualidades, um espaço no reino, mas foge da possibilidade de uma essência boa, torna-se uma mulher completamente alucinada. Isso está na música e vai estar na encenação.” Os papéis de Nabucco e Abigaile serão interpretados pelos barítonos Rodolfo Giuliani e Douglas Hahn e pelas sopranos Marly Montoni e Elaine Morais; completam o elenco nomes como Marcello Vanucci, Carlos Eduardo Marcos e Lidia Schäfer, entre outros.

Nabucco permanece bastante ligada às convenções do período chamado de bel canto, representado por autores como Donizetti, Rossini e Bellini, com uma estrutura de números ainda bem definida e fechada, pautada pela música. Papa não vê isso como obstáculo para o discurso narrativo. “Eu já ouvi muitos maestros dizerem que Verdi é um problema, escreve música que não dá alternativas na hora da interpretação. Não concordo, naturalmente. Eu prefiro pensar a música do ponto de vista do espaço e isso é determinante na ação da ópera. A música nos oferece ideias”, explica o diretor.

Para Minczuk, é importante, à luz dessa característica da partitura, cuidar do equilíbrio entre as partes, permitindo, mesmo dentro do rigor da escrita verdiana, espaço para que os cantores tenham liberdade expressiva. Ele ressalta, no entanto, que, mesmo do início da carreira do compositor, Nabucco já traz marcas que definiriam o seu trabalho posterior. “Há a música eletrizante, uma energia rítmica sem igual. Elas existiam em Rossini, por exemplo, mas de forma mais delicada. Aqui, não, há uma potência maior, que se combina com a simplicidade mozartiana das melodias”, ele explica. “E é importante lembrar o contexto em que a obra surge. Verdi acabara de perder os filhos e a mulher e de ver sua ópera anterior fracassar. Nabucco, nesse sentido, se fala da liberdade do povo judeu, é também um grito de liberdade do próprio Verdi, fazendo seu retorno à música. É daí, acredito, que vem a força da ópera, dessa libertação de um artista que volta a crer em sua arte.”

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NABUCCO Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. Dias 22, 23, 26, 28, 29 e 30, 20h; dia 24, 17h. De R$ 10 a R$ 100.

Uma história ambientada na Babilônia e recriada por um italiano do século 19 como símbolo da contemporaneidade. É essa a proposta que cerca a nova produção da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que sobe hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, depois de quase 50 anos longe da cidade. A montagem tem direção cênica do ex-diretor do teatro, Cleber Papa, e regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk, à frente de um elenco formado por cantores brasileiros.

Abigaile. Com a soprano Marly Montoni Foto: Clarissa Lambert

Nabucco recupera a figura histórica de Nabucodonosor, dando ênfase à sua perseguição ao povo judeu. É uma obra do início da carreira de Verdi, seu primeiro grande sucesso, e não apenas por motivos musicais – o coro Va Pensiero, em que os judeus falam do desejo de uma pátria própria, logo se tornou símbolo para uma Itália que também almejava a unificação nas primeiras décadas do século 19. Não por acaso, após a estreia, muros das principais cidades italianas foram ocupados pelos dizeres Viva Verdi, homenagem ao compositor e acrônimo Vittorio Emanuele, Rei da Itália, em homenagem à figura que, então, simbolizava o ideal de união do país. “Entender Nabucco como um espetáculo que pode dialogar com o mundo contemporâneo foi um ponto de partida importante”, diz Papa. “Basta perceber como as pessoas estão perdidas no mundo todo. Correntes migratórias, a violência crescente, a dificuldade de aceitação do outro, os desgarrados urbanos simbolizados pela Cracolândia, pessoas que caminham sem rumo, tudo isso faz parte de nosso tempo e permite estabelecer uma conexão com a obra de Verdi.”

Para Papa, transformar esse conceito em espetáculo significou o que ele chama de “busca da essencialidade” da ópera. “Isso é algo que representa nossa época também, essa procura por aquilo que é essencial. Então, eu me coloquei algumas perguntas. Por exemplo: quem é Nabucco? Ele é um ditador, um déspota, preocupado em ampliar o poder e a riqueza. E por isso construímos um personagem selvagem, enlouquecido. E o mesmo vale para Abigaile. Ela tem qualidades, um espaço no reino, mas foge da possibilidade de uma essência boa, torna-se uma mulher completamente alucinada. Isso está na música e vai estar na encenação.” Os papéis de Nabucco e Abigaile serão interpretados pelos barítonos Rodolfo Giuliani e Douglas Hahn e pelas sopranos Marly Montoni e Elaine Morais; completam o elenco nomes como Marcello Vanucci, Carlos Eduardo Marcos e Lidia Schäfer, entre outros.

Nabucco permanece bastante ligada às convenções do período chamado de bel canto, representado por autores como Donizetti, Rossini e Bellini, com uma estrutura de números ainda bem definida e fechada, pautada pela música. Papa não vê isso como obstáculo para o discurso narrativo. “Eu já ouvi muitos maestros dizerem que Verdi é um problema, escreve música que não dá alternativas na hora da interpretação. Não concordo, naturalmente. Eu prefiro pensar a música do ponto de vista do espaço e isso é determinante na ação da ópera. A música nos oferece ideias”, explica o diretor.

Para Minczuk, é importante, à luz dessa característica da partitura, cuidar do equilíbrio entre as partes, permitindo, mesmo dentro do rigor da escrita verdiana, espaço para que os cantores tenham liberdade expressiva. Ele ressalta, no entanto, que, mesmo do início da carreira do compositor, Nabucco já traz marcas que definiriam o seu trabalho posterior. “Há a música eletrizante, uma energia rítmica sem igual. Elas existiam em Rossini, por exemplo, mas de forma mais delicada. Aqui, não, há uma potência maior, que se combina com a simplicidade mozartiana das melodias”, ele explica. “E é importante lembrar o contexto em que a obra surge. Verdi acabara de perder os filhos e a mulher e de ver sua ópera anterior fracassar. Nabucco, nesse sentido, se fala da liberdade do povo judeu, é também um grito de liberdade do próprio Verdi, fazendo seu retorno à música. É daí, acredito, que vem a força da ópera, dessa libertação de um artista que volta a crer em sua arte.”

NABUCCO Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. Dias 22, 23, 26, 28, 29 e 30, 20h; dia 24, 17h. De R$ 10 a R$ 100.

Uma história ambientada na Babilônia e recriada por um italiano do século 19 como símbolo da contemporaneidade. É essa a proposta que cerca a nova produção da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que sobe hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, depois de quase 50 anos longe da cidade. A montagem tem direção cênica do ex-diretor do teatro, Cleber Papa, e regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk, à frente de um elenco formado por cantores brasileiros.

Abigaile. Com a soprano Marly Montoni Foto: Clarissa Lambert

Nabucco recupera a figura histórica de Nabucodonosor, dando ênfase à sua perseguição ao povo judeu. É uma obra do início da carreira de Verdi, seu primeiro grande sucesso, e não apenas por motivos musicais – o coro Va Pensiero, em que os judeus falam do desejo de uma pátria própria, logo se tornou símbolo para uma Itália que também almejava a unificação nas primeiras décadas do século 19. Não por acaso, após a estreia, muros das principais cidades italianas foram ocupados pelos dizeres Viva Verdi, homenagem ao compositor e acrônimo Vittorio Emanuele, Rei da Itália, em homenagem à figura que, então, simbolizava o ideal de união do país. “Entender Nabucco como um espetáculo que pode dialogar com o mundo contemporâneo foi um ponto de partida importante”, diz Papa. “Basta perceber como as pessoas estão perdidas no mundo todo. Correntes migratórias, a violência crescente, a dificuldade de aceitação do outro, os desgarrados urbanos simbolizados pela Cracolândia, pessoas que caminham sem rumo, tudo isso faz parte de nosso tempo e permite estabelecer uma conexão com a obra de Verdi.”

Para Papa, transformar esse conceito em espetáculo significou o que ele chama de “busca da essencialidade” da ópera. “Isso é algo que representa nossa época também, essa procura por aquilo que é essencial. Então, eu me coloquei algumas perguntas. Por exemplo: quem é Nabucco? Ele é um ditador, um déspota, preocupado em ampliar o poder e a riqueza. E por isso construímos um personagem selvagem, enlouquecido. E o mesmo vale para Abigaile. Ela tem qualidades, um espaço no reino, mas foge da possibilidade de uma essência boa, torna-se uma mulher completamente alucinada. Isso está na música e vai estar na encenação.” Os papéis de Nabucco e Abigaile serão interpretados pelos barítonos Rodolfo Giuliani e Douglas Hahn e pelas sopranos Marly Montoni e Elaine Morais; completam o elenco nomes como Marcello Vanucci, Carlos Eduardo Marcos e Lidia Schäfer, entre outros.

Nabucco permanece bastante ligada às convenções do período chamado de bel canto, representado por autores como Donizetti, Rossini e Bellini, com uma estrutura de números ainda bem definida e fechada, pautada pela música. Papa não vê isso como obstáculo para o discurso narrativo. “Eu já ouvi muitos maestros dizerem que Verdi é um problema, escreve música que não dá alternativas na hora da interpretação. Não concordo, naturalmente. Eu prefiro pensar a música do ponto de vista do espaço e isso é determinante na ação da ópera. A música nos oferece ideias”, explica o diretor.

Para Minczuk, é importante, à luz dessa característica da partitura, cuidar do equilíbrio entre as partes, permitindo, mesmo dentro do rigor da escrita verdiana, espaço para que os cantores tenham liberdade expressiva. Ele ressalta, no entanto, que, mesmo do início da carreira do compositor, Nabucco já traz marcas que definiriam o seu trabalho posterior. “Há a música eletrizante, uma energia rítmica sem igual. Elas existiam em Rossini, por exemplo, mas de forma mais delicada. Aqui, não, há uma potência maior, que se combina com a simplicidade mozartiana das melodias”, ele explica. “E é importante lembrar o contexto em que a obra surge. Verdi acabara de perder os filhos e a mulher e de ver sua ópera anterior fracassar. Nabucco, nesse sentido, se fala da liberdade do povo judeu, é também um grito de liberdade do próprio Verdi, fazendo seu retorno à música. É daí, acredito, que vem a força da ópera, dessa libertação de um artista que volta a crer em sua arte.”

NABUCCO Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. Dias 22, 23, 26, 28, 29 e 30, 20h; dia 24, 17h. De R$ 10 a R$ 100.

Uma história ambientada na Babilônia e recriada por um italiano do século 19 como símbolo da contemporaneidade. É essa a proposta que cerca a nova produção da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que sobe hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, depois de quase 50 anos longe da cidade. A montagem tem direção cênica do ex-diretor do teatro, Cleber Papa, e regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk, à frente de um elenco formado por cantores brasileiros.

Abigaile. Com a soprano Marly Montoni Foto: Clarissa Lambert

Nabucco recupera a figura histórica de Nabucodonosor, dando ênfase à sua perseguição ao povo judeu. É uma obra do início da carreira de Verdi, seu primeiro grande sucesso, e não apenas por motivos musicais – o coro Va Pensiero, em que os judeus falam do desejo de uma pátria própria, logo se tornou símbolo para uma Itália que também almejava a unificação nas primeiras décadas do século 19. Não por acaso, após a estreia, muros das principais cidades italianas foram ocupados pelos dizeres Viva Verdi, homenagem ao compositor e acrônimo Vittorio Emanuele, Rei da Itália, em homenagem à figura que, então, simbolizava o ideal de união do país. “Entender Nabucco como um espetáculo que pode dialogar com o mundo contemporâneo foi um ponto de partida importante”, diz Papa. “Basta perceber como as pessoas estão perdidas no mundo todo. Correntes migratórias, a violência crescente, a dificuldade de aceitação do outro, os desgarrados urbanos simbolizados pela Cracolândia, pessoas que caminham sem rumo, tudo isso faz parte de nosso tempo e permite estabelecer uma conexão com a obra de Verdi.”

Para Papa, transformar esse conceito em espetáculo significou o que ele chama de “busca da essencialidade” da ópera. “Isso é algo que representa nossa época também, essa procura por aquilo que é essencial. Então, eu me coloquei algumas perguntas. Por exemplo: quem é Nabucco? Ele é um ditador, um déspota, preocupado em ampliar o poder e a riqueza. E por isso construímos um personagem selvagem, enlouquecido. E o mesmo vale para Abigaile. Ela tem qualidades, um espaço no reino, mas foge da possibilidade de uma essência boa, torna-se uma mulher completamente alucinada. Isso está na música e vai estar na encenação.” Os papéis de Nabucco e Abigaile serão interpretados pelos barítonos Rodolfo Giuliani e Douglas Hahn e pelas sopranos Marly Montoni e Elaine Morais; completam o elenco nomes como Marcello Vanucci, Carlos Eduardo Marcos e Lidia Schäfer, entre outros.

Nabucco permanece bastante ligada às convenções do período chamado de bel canto, representado por autores como Donizetti, Rossini e Bellini, com uma estrutura de números ainda bem definida e fechada, pautada pela música. Papa não vê isso como obstáculo para o discurso narrativo. “Eu já ouvi muitos maestros dizerem que Verdi é um problema, escreve música que não dá alternativas na hora da interpretação. Não concordo, naturalmente. Eu prefiro pensar a música do ponto de vista do espaço e isso é determinante na ação da ópera. A música nos oferece ideias”, explica o diretor.

Para Minczuk, é importante, à luz dessa característica da partitura, cuidar do equilíbrio entre as partes, permitindo, mesmo dentro do rigor da escrita verdiana, espaço para que os cantores tenham liberdade expressiva. Ele ressalta, no entanto, que, mesmo do início da carreira do compositor, Nabucco já traz marcas que definiriam o seu trabalho posterior. “Há a música eletrizante, uma energia rítmica sem igual. Elas existiam em Rossini, por exemplo, mas de forma mais delicada. Aqui, não, há uma potência maior, que se combina com a simplicidade mozartiana das melodias”, ele explica. “E é importante lembrar o contexto em que a obra surge. Verdi acabara de perder os filhos e a mulher e de ver sua ópera anterior fracassar. Nabucco, nesse sentido, se fala da liberdade do povo judeu, é também um grito de liberdade do próprio Verdi, fazendo seu retorno à música. É daí, acredito, que vem a força da ópera, dessa libertação de um artista que volta a crer em sua arte.”

NABUCCO Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. Dias 22, 23, 26, 28, 29 e 30, 20h; dia 24, 17h. De R$ 10 a R$ 100.

Uma história ambientada na Babilônia e recriada por um italiano do século 19 como símbolo da contemporaneidade. É essa a proposta que cerca a nova produção da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que sobe hoje ao palco do Teatro Municipal de São Paulo, depois de quase 50 anos longe da cidade. A montagem tem direção cênica do ex-diretor do teatro, Cleber Papa, e regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk, à frente de um elenco formado por cantores brasileiros.

Abigaile. Com a soprano Marly Montoni Foto: Clarissa Lambert

Nabucco recupera a figura histórica de Nabucodonosor, dando ênfase à sua perseguição ao povo judeu. É uma obra do início da carreira de Verdi, seu primeiro grande sucesso, e não apenas por motivos musicais – o coro Va Pensiero, em que os judeus falam do desejo de uma pátria própria, logo se tornou símbolo para uma Itália que também almejava a unificação nas primeiras décadas do século 19. Não por acaso, após a estreia, muros das principais cidades italianas foram ocupados pelos dizeres Viva Verdi, homenagem ao compositor e acrônimo Vittorio Emanuele, Rei da Itália, em homenagem à figura que, então, simbolizava o ideal de união do país. “Entender Nabucco como um espetáculo que pode dialogar com o mundo contemporâneo foi um ponto de partida importante”, diz Papa. “Basta perceber como as pessoas estão perdidas no mundo todo. Correntes migratórias, a violência crescente, a dificuldade de aceitação do outro, os desgarrados urbanos simbolizados pela Cracolândia, pessoas que caminham sem rumo, tudo isso faz parte de nosso tempo e permite estabelecer uma conexão com a obra de Verdi.”

Para Papa, transformar esse conceito em espetáculo significou o que ele chama de “busca da essencialidade” da ópera. “Isso é algo que representa nossa época também, essa procura por aquilo que é essencial. Então, eu me coloquei algumas perguntas. Por exemplo: quem é Nabucco? Ele é um ditador, um déspota, preocupado em ampliar o poder e a riqueza. E por isso construímos um personagem selvagem, enlouquecido. E o mesmo vale para Abigaile. Ela tem qualidades, um espaço no reino, mas foge da possibilidade de uma essência boa, torna-se uma mulher completamente alucinada. Isso está na música e vai estar na encenação.” Os papéis de Nabucco e Abigaile serão interpretados pelos barítonos Rodolfo Giuliani e Douglas Hahn e pelas sopranos Marly Montoni e Elaine Morais; completam o elenco nomes como Marcello Vanucci, Carlos Eduardo Marcos e Lidia Schäfer, entre outros.

Nabucco permanece bastante ligada às convenções do período chamado de bel canto, representado por autores como Donizetti, Rossini e Bellini, com uma estrutura de números ainda bem definida e fechada, pautada pela música. Papa não vê isso como obstáculo para o discurso narrativo. “Eu já ouvi muitos maestros dizerem que Verdi é um problema, escreve música que não dá alternativas na hora da interpretação. Não concordo, naturalmente. Eu prefiro pensar a música do ponto de vista do espaço e isso é determinante na ação da ópera. A música nos oferece ideias”, explica o diretor.

Para Minczuk, é importante, à luz dessa característica da partitura, cuidar do equilíbrio entre as partes, permitindo, mesmo dentro do rigor da escrita verdiana, espaço para que os cantores tenham liberdade expressiva. Ele ressalta, no entanto, que, mesmo do início da carreira do compositor, Nabucco já traz marcas que definiriam o seu trabalho posterior. “Há a música eletrizante, uma energia rítmica sem igual. Elas existiam em Rossini, por exemplo, mas de forma mais delicada. Aqui, não, há uma potência maior, que se combina com a simplicidade mozartiana das melodias”, ele explica. “E é importante lembrar o contexto em que a obra surge. Verdi acabara de perder os filhos e a mulher e de ver sua ópera anterior fracassar. Nabucco, nesse sentido, se fala da liberdade do povo judeu, é também um grito de liberdade do próprio Verdi, fazendo seu retorno à música. É daí, acredito, que vem a força da ópera, dessa libertação de um artista que volta a crer em sua arte.”

NABUCCO Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. Dias 22, 23, 26, 28, 29 e 30, 20h; dia 24, 17h. De R$ 10 a R$ 100.

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