Vida de Gal Costa é tema de documentário da HBO


Série 'O Nome Dela é Gal', dirigida por Dandara Ferreira em quatro capítulos, estreia neste domingo com histórias e imagens raras de uma das maiores vozes do País

Por Julio Maria

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa emestúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.

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O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”

Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.

A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”

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“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.” Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.

Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”

Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes. 

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa emestúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.

O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”

Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.

A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”

“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.” Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.

Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”

Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes. 

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa emestúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.

O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”

Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.

A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”

“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.” Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.

Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”

Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes. 

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa emestúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.

O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”

Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.

A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”

“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.” Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.

Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”

Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes. 

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa emestúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.

O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”

Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.

A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”

“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.” Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.

Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”

Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes. 

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