Vitória de Toninho Horta no Grammy é uma vitória dos instrumentistas


Guitarrista autodidata, cérebro harmônico do Clube da Esquina, criador de uma linguagem estudada em laboratórios universitários e copiada pelo guitarrista norte-americano Pat Metheny, um dos músicos de maior personalidade artística do País vence Ney Matogrosso, Elza Soares e Caetano Veloso com sua Orquestra Fantasma; primeiro show pós Grammy será em dezembro, no Bourbon Street

Por Julio Maria

O fato de o prêmio de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira do Grammy Latino sair para o guitarrista e compositor mineiro de Belo Horizonte Toninho Horta traz à reboque uma lista de conquistas que, por mais que historicamente o Brasil dê as costas para o Grammy e para os outros latinos, valem ser enumeradas: 1. Belo Horizonte, o álbum premiado de Toninho Horta e a Orquestra Fantasma, disputou com pelo menos dois gigantes da música brasileira adornados por discursos poderosos e necessários dos novos tempos: Elza Soares e Ney Matogrosso. Ou seja, além de todo o mecanismo midiático espontâneo que os nomes de seus concorrentes acionam, os universos em que vivem os fazem grandiosos antes mesmo que abram a boca para cantar. 2. Belo Horizonte é um álbum composto, produzido, arranjado e gravado pelos próprios artistas, o que nenhum intérprete faz sozinho. 3. Belo Horizonte é um álbum de um instrumentista que deixou os discos de quatro cantores para trás: O Amor no Caos Volume 2, de Zeca Baleiro; Bloco na Rua (Deluxe), de Ney Matogrosso; Planeta Fome, de Elza Soares; e Caetano Veloso & Ivan Sacerdote, de Caetano Veloso com o clarinetista Ivan Sacerdote. E 5. Belo Horizonte é absolutamente arrebatador.

Toninho Horta em 2017 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Ou seja, mesmo Ney, Elza, Caetano e Zeca precisam comemorar o prêmio que a Academia Latina do Grammy teve a sensibilidade de honrar, desafiando o mainstream e as previsibilidades. Toninho Horta fez um álbum bem conceituado do início ao fim. Belo Horizonte é duplo, dividido em Belo, com as faixas de alto relevo de sua trajetória, como Durango Kid, Beijo Partido (com Lisa Ono), Pedra da Lua (com Joyce Moreno) e Céu de Brasília; e Horizonte, com as composições novas como O Poder de Um Olhar (de Yuri Popoff),  Magical Trumpets, Samba Sagrado (com a participação de Nivaldo Ornelas) e Nanando. A produção ficou com Toninho, André Dequeche e Yuri Popov e a Orquestra Fantasma é formada pelo piano de André Dequech, o baixo de Yuri Popoff, a flauta de Lena Horta, irmã de Toninho, e a bateria de Neném.

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Os holofotes se voltaram para Toninho Horta, com jornalistas à sua procura, convites para apresentações e audições triplicadas de suas músicas no Spotify. Seu primeiro show pós-Grammy, que já estava marcado, será no próximo dia 6 de dezembro, um domingo, no Bourbon Street Music Club, que vem respeitando atenciosamente as regras de distanciamento em seu protocolo, conforme checou a reportagem do Estadão. Antes da apresentação, a casa abre o novo espaço Jazz Café, a partir das 16h, com um show acústico e um desconto para quem quiser acompanhar o show. Outro destaque no dia será a passagem de som. Toninho conversa com a plateia que estiver no Bourbon a partir das 19h e dez pessoas que estiverem ali serão escolhidas por meio de um sorteio para assistirem ao show de graça. Para o show, ele estará sozinho, sem a Orquestra Fantasma, e promete levar para vender não só os álbuns físicos de Belo Horizonte como um livro que traz a história de sua Orquestra Fantasma.

Ao falar com a reportagem na tarde desta segunda (23), Toninho estava eufórico. “Estou em êxtase. São 50 anos de trabalho. Só com a Orquestra Fantasma estou há mais de 40.” Sua guitarra tem uma voz particular, talvez a mais particular de todas na música brasileira, capaz de diluir com sua personalidade as próprias influências que poderiam pular à frente de suas composições. Cabeça definitiva ao lado do baterista Robertinho Silva e do compositor Beto Guedes na construção da sonoridade do antológico Clube da Esquina, o álbum histórico lançado em 1972 com nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Tavito, Nelson Angelo e Robertinho Silva, Toninho se tornou também um dos músicos mais copiados no jazz. E se alguém pensa aqui em Pat Metheny, o próprio Toninho tem histórias a contar.

A formação de sua sonoridade se dá justamente pela falta de uma formação clássica de jazz. Toninho não aprendeu a ler música e, até hoje, não toca pensando em acordes, escalas, campos harmônicos, modulações e toda a carga teórica que as academias estruturaram para que as pessoas a seguissem como um roteiro à terra prometida da improvisação e da harmonização. Hermeto Pascoal odeia essa pregação e a denuncia, chamando escolas renomadas dos Estados Unidos de indústria do jazz. Ou seja, não diga a Toninho que um tema está em ré maior com a segunda parte em fá sustenido menor que essa informação não fará a mínima falta. Ao tocar apenas por sensações, ele aprendeu a seguir apenas o ouvido.

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A história começa aos 7 anos, com a mãe colocando LPs de jazz clássico na sala. Aos 9 ele pega um violão pela primeira vez e, aos 13, faz uma música usando como base, sempre instintiva, Corcovado, de Jobim. Os acordes eram montados seguindo a beleza que as notas pressionadas pelos seus dedos produziam, mas um esquema particular foi sendo desenvolvido, metade por talento e um tanto por preguiça de tirar dos discos o que os outros guitarristas faziam, e suas progressões harmônicas já eram um salto fora dos padrões quando chegou ao Rio para tocar com Elis Regina e depois com Joyce, nos anos 70.

Há tanta curiosidade sobre sua forma de compor que ele resolveu lançar um curso, previsto para sair em dezembro, com o nome Curso de Harmonia Intuitiva. Não poderia ser diferente. “Quando falo em palestras para estudantes, o que eu digo é o seguinte: estudem muito o que você devem estudar, mas reservem sempre um tempo entre duas e três horas por dia para serem vocês mesmos com o instrumento no colo.” Só assim, pensa Toninho, um músico consegue chegar a ele mesmo, sem reproduzir padrões que o tornarão, no máximo, um exímio copiador. “É difícil fazer isso quando se estuda fora, nas grandes escolas. Os jovens treinam 10 horas por dia e muitas vezes não têm tempo de experimentar suas próprias possibilidades.”

Ele conta que o Japão, país onde pisou por 26 vezes, tem dois instrumentistas que tocam exatamente como ele. Mas a comparação mais feita em sua carreira é com o guitarrista norte-americano Pat Metheny, de 66 anos, vencedor de 20 Grammy Music Awards. Quem veio primeiro? Quem copiou quem? “Eu nasci primeiro”, ele diz, brincando, do alto de seus 71 anos. As linhas de pensamento, os timbres e a composição seguem realmente padrões muito similares, por mais livres que sejam. Seria tudo coincidência?

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Toninho conta que conheceu Pat Metheny no Brasil, em uma de suas vindas, em 1980, para um festival de jazz. Uma aluna os apresentou e eles acabaram tocando juntos por um tempo. “Sacamos logo que falávamos a mesma língua.” Ao ouvir o álbum de Pat, Brigth Size Life, de 1976, percebeu que Wes Montgomery era uma referência explícita, como para ele também foi, mas com uma diferença: “Ele tirou tudo do Wes Montgomery, eu não tirei nada.” Os dois guitarristas ficaram próximos, saíram juntos e, um dia, Toninho preparou um peixe para o convidado enquanto ouviam juntos o álbum Terra dos Pássaros, que o mineiro lançou em 1980. “Depois disso, percebi que as composições tinham umas coisas minhas, assim como tinhas muitas coisas da música brasileira.”

Em outra ocasião, foi Toninho quem o visitou com Ronaldo Bastos na Califórnia. Falaram de muitas coisas, tocaram juntos mais uma vez e Toninho comentou que estava pensando em estudar na Berklee College of Music, mas sua sensação foi de que Pat ficou um tanto desconfortável. “Não vai não, você não precisa”, disse algo assim, desconversando. Se Toninho fazia o que fazia por instinto, certamente ele imaginou o que faria com. Um tempo depois, Pat e Toninho tocaram juntos no casamento do ator Robert Duval com a irmã da mulher de Pat. “O casal chorou enquanto tocávamos Pedra da Lua a alguns passos deles”, lembra o guitarrista brasileiro. A amizade renderia também gravações esporádicas, como o duo que fizeram na faixa Moonstone, do álbum de mesmo nome que Toninho lançou em 1989.

Se pensaram em fazer um disco juntos? Sim, Pat pensou. E quais seriam os músicos? Segundo Pat, ele, Toninho, Herbie Hancock ao piano, Wayne Shorter no sax, Charlie Haden no baixo e Naná Vasconcelos na percussão. Um dream team poderoso, talvez um dos mais poderosos de todos os tempos, mas que não vingou. E Toninho seguiu fazendo apenas a música em que acreditava pelos próximos 40 anos ao lado de um organismo vivo que, de fato, se tornou seu parceiro e seu cúmplice: a Orquestra Fantasma. Ao ouvi-los juntos é como se nem os vitoriosos simulacros de Pat Metheny pudessem assombrá-los.

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ServiçoLocal: Bourbon Street | Rua Dos Chanés, 127 – Moema – SP Rua dos Chanés 194 – de 2ªf.a 6ª.f das 12h às 18h, sábado e feriado das 14h às 20h – Sem taxa de conveniênciaFone para reserva: (11) 5095-6100 (Seg. a sexta) das 10h às 18hData : 06/11/2020 – DomingoHorário: 20h30Abertura da casa: 18h30 (Jazz Café a partir das 16h)Duração: 80 min. aproximadamenteCouvert Artístico: R$ 50,00e R$ 25,00Venda- SymplaClassificação indicativa: 18 anos e 16 anos acompanhado de responsávelCapacidade: 180 pessoasEstacionamento/ Valet: Não haverá serviço durante a pandemia Aceita todos os cartões de débito e crédito Acessibilidade motora Ar condicionado

O fato de o prêmio de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira do Grammy Latino sair para o guitarrista e compositor mineiro de Belo Horizonte Toninho Horta traz à reboque uma lista de conquistas que, por mais que historicamente o Brasil dê as costas para o Grammy e para os outros latinos, valem ser enumeradas: 1. Belo Horizonte, o álbum premiado de Toninho Horta e a Orquestra Fantasma, disputou com pelo menos dois gigantes da música brasileira adornados por discursos poderosos e necessários dos novos tempos: Elza Soares e Ney Matogrosso. Ou seja, além de todo o mecanismo midiático espontâneo que os nomes de seus concorrentes acionam, os universos em que vivem os fazem grandiosos antes mesmo que abram a boca para cantar. 2. Belo Horizonte é um álbum composto, produzido, arranjado e gravado pelos próprios artistas, o que nenhum intérprete faz sozinho. 3. Belo Horizonte é um álbum de um instrumentista que deixou os discos de quatro cantores para trás: O Amor no Caos Volume 2, de Zeca Baleiro; Bloco na Rua (Deluxe), de Ney Matogrosso; Planeta Fome, de Elza Soares; e Caetano Veloso & Ivan Sacerdote, de Caetano Veloso com o clarinetista Ivan Sacerdote. E 5. Belo Horizonte é absolutamente arrebatador.

Toninho Horta em 2017 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Ou seja, mesmo Ney, Elza, Caetano e Zeca precisam comemorar o prêmio que a Academia Latina do Grammy teve a sensibilidade de honrar, desafiando o mainstream e as previsibilidades. Toninho Horta fez um álbum bem conceituado do início ao fim. Belo Horizonte é duplo, dividido em Belo, com as faixas de alto relevo de sua trajetória, como Durango Kid, Beijo Partido (com Lisa Ono), Pedra da Lua (com Joyce Moreno) e Céu de Brasília; e Horizonte, com as composições novas como O Poder de Um Olhar (de Yuri Popoff),  Magical Trumpets, Samba Sagrado (com a participação de Nivaldo Ornelas) e Nanando. A produção ficou com Toninho, André Dequeche e Yuri Popov e a Orquestra Fantasma é formada pelo piano de André Dequech, o baixo de Yuri Popoff, a flauta de Lena Horta, irmã de Toninho, e a bateria de Neném.

Os holofotes se voltaram para Toninho Horta, com jornalistas à sua procura, convites para apresentações e audições triplicadas de suas músicas no Spotify. Seu primeiro show pós-Grammy, que já estava marcado, será no próximo dia 6 de dezembro, um domingo, no Bourbon Street Music Club, que vem respeitando atenciosamente as regras de distanciamento em seu protocolo, conforme checou a reportagem do Estadão. Antes da apresentação, a casa abre o novo espaço Jazz Café, a partir das 16h, com um show acústico e um desconto para quem quiser acompanhar o show. Outro destaque no dia será a passagem de som. Toninho conversa com a plateia que estiver no Bourbon a partir das 19h e dez pessoas que estiverem ali serão escolhidas por meio de um sorteio para assistirem ao show de graça. Para o show, ele estará sozinho, sem a Orquestra Fantasma, e promete levar para vender não só os álbuns físicos de Belo Horizonte como um livro que traz a história de sua Orquestra Fantasma.

Ao falar com a reportagem na tarde desta segunda (23), Toninho estava eufórico. “Estou em êxtase. São 50 anos de trabalho. Só com a Orquestra Fantasma estou há mais de 40.” Sua guitarra tem uma voz particular, talvez a mais particular de todas na música brasileira, capaz de diluir com sua personalidade as próprias influências que poderiam pular à frente de suas composições. Cabeça definitiva ao lado do baterista Robertinho Silva e do compositor Beto Guedes na construção da sonoridade do antológico Clube da Esquina, o álbum histórico lançado em 1972 com nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Tavito, Nelson Angelo e Robertinho Silva, Toninho se tornou também um dos músicos mais copiados no jazz. E se alguém pensa aqui em Pat Metheny, o próprio Toninho tem histórias a contar.

A formação de sua sonoridade se dá justamente pela falta de uma formação clássica de jazz. Toninho não aprendeu a ler música e, até hoje, não toca pensando em acordes, escalas, campos harmônicos, modulações e toda a carga teórica que as academias estruturaram para que as pessoas a seguissem como um roteiro à terra prometida da improvisação e da harmonização. Hermeto Pascoal odeia essa pregação e a denuncia, chamando escolas renomadas dos Estados Unidos de indústria do jazz. Ou seja, não diga a Toninho que um tema está em ré maior com a segunda parte em fá sustenido menor que essa informação não fará a mínima falta. Ao tocar apenas por sensações, ele aprendeu a seguir apenas o ouvido.

A história começa aos 7 anos, com a mãe colocando LPs de jazz clássico na sala. Aos 9 ele pega um violão pela primeira vez e, aos 13, faz uma música usando como base, sempre instintiva, Corcovado, de Jobim. Os acordes eram montados seguindo a beleza que as notas pressionadas pelos seus dedos produziam, mas um esquema particular foi sendo desenvolvido, metade por talento e um tanto por preguiça de tirar dos discos o que os outros guitarristas faziam, e suas progressões harmônicas já eram um salto fora dos padrões quando chegou ao Rio para tocar com Elis Regina e depois com Joyce, nos anos 70.

Há tanta curiosidade sobre sua forma de compor que ele resolveu lançar um curso, previsto para sair em dezembro, com o nome Curso de Harmonia Intuitiva. Não poderia ser diferente. “Quando falo em palestras para estudantes, o que eu digo é o seguinte: estudem muito o que você devem estudar, mas reservem sempre um tempo entre duas e três horas por dia para serem vocês mesmos com o instrumento no colo.” Só assim, pensa Toninho, um músico consegue chegar a ele mesmo, sem reproduzir padrões que o tornarão, no máximo, um exímio copiador. “É difícil fazer isso quando se estuda fora, nas grandes escolas. Os jovens treinam 10 horas por dia e muitas vezes não têm tempo de experimentar suas próprias possibilidades.”

Ele conta que o Japão, país onde pisou por 26 vezes, tem dois instrumentistas que tocam exatamente como ele. Mas a comparação mais feita em sua carreira é com o guitarrista norte-americano Pat Metheny, de 66 anos, vencedor de 20 Grammy Music Awards. Quem veio primeiro? Quem copiou quem? “Eu nasci primeiro”, ele diz, brincando, do alto de seus 71 anos. As linhas de pensamento, os timbres e a composição seguem realmente padrões muito similares, por mais livres que sejam. Seria tudo coincidência?

Toninho conta que conheceu Pat Metheny no Brasil, em uma de suas vindas, em 1980, para um festival de jazz. Uma aluna os apresentou e eles acabaram tocando juntos por um tempo. “Sacamos logo que falávamos a mesma língua.” Ao ouvir o álbum de Pat, Brigth Size Life, de 1976, percebeu que Wes Montgomery era uma referência explícita, como para ele também foi, mas com uma diferença: “Ele tirou tudo do Wes Montgomery, eu não tirei nada.” Os dois guitarristas ficaram próximos, saíram juntos e, um dia, Toninho preparou um peixe para o convidado enquanto ouviam juntos o álbum Terra dos Pássaros, que o mineiro lançou em 1980. “Depois disso, percebi que as composições tinham umas coisas minhas, assim como tinhas muitas coisas da música brasileira.”

Em outra ocasião, foi Toninho quem o visitou com Ronaldo Bastos na Califórnia. Falaram de muitas coisas, tocaram juntos mais uma vez e Toninho comentou que estava pensando em estudar na Berklee College of Music, mas sua sensação foi de que Pat ficou um tanto desconfortável. “Não vai não, você não precisa”, disse algo assim, desconversando. Se Toninho fazia o que fazia por instinto, certamente ele imaginou o que faria com. Um tempo depois, Pat e Toninho tocaram juntos no casamento do ator Robert Duval com a irmã da mulher de Pat. “O casal chorou enquanto tocávamos Pedra da Lua a alguns passos deles”, lembra o guitarrista brasileiro. A amizade renderia também gravações esporádicas, como o duo que fizeram na faixa Moonstone, do álbum de mesmo nome que Toninho lançou em 1989.

Se pensaram em fazer um disco juntos? Sim, Pat pensou. E quais seriam os músicos? Segundo Pat, ele, Toninho, Herbie Hancock ao piano, Wayne Shorter no sax, Charlie Haden no baixo e Naná Vasconcelos na percussão. Um dream team poderoso, talvez um dos mais poderosos de todos os tempos, mas que não vingou. E Toninho seguiu fazendo apenas a música em que acreditava pelos próximos 40 anos ao lado de um organismo vivo que, de fato, se tornou seu parceiro e seu cúmplice: a Orquestra Fantasma. Ao ouvi-los juntos é como se nem os vitoriosos simulacros de Pat Metheny pudessem assombrá-los.

ServiçoLocal: Bourbon Street | Rua Dos Chanés, 127 – Moema – SP Rua dos Chanés 194 – de 2ªf.a 6ª.f das 12h às 18h, sábado e feriado das 14h às 20h – Sem taxa de conveniênciaFone para reserva: (11) 5095-6100 (Seg. a sexta) das 10h às 18hData : 06/11/2020 – DomingoHorário: 20h30Abertura da casa: 18h30 (Jazz Café a partir das 16h)Duração: 80 min. aproximadamenteCouvert Artístico: R$ 50,00e R$ 25,00Venda- SymplaClassificação indicativa: 18 anos e 16 anos acompanhado de responsávelCapacidade: 180 pessoasEstacionamento/ Valet: Não haverá serviço durante a pandemia Aceita todos os cartões de débito e crédito Acessibilidade motora Ar condicionado

O fato de o prêmio de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira do Grammy Latino sair para o guitarrista e compositor mineiro de Belo Horizonte Toninho Horta traz à reboque uma lista de conquistas que, por mais que historicamente o Brasil dê as costas para o Grammy e para os outros latinos, valem ser enumeradas: 1. Belo Horizonte, o álbum premiado de Toninho Horta e a Orquestra Fantasma, disputou com pelo menos dois gigantes da música brasileira adornados por discursos poderosos e necessários dos novos tempos: Elza Soares e Ney Matogrosso. Ou seja, além de todo o mecanismo midiático espontâneo que os nomes de seus concorrentes acionam, os universos em que vivem os fazem grandiosos antes mesmo que abram a boca para cantar. 2. Belo Horizonte é um álbum composto, produzido, arranjado e gravado pelos próprios artistas, o que nenhum intérprete faz sozinho. 3. Belo Horizonte é um álbum de um instrumentista que deixou os discos de quatro cantores para trás: O Amor no Caos Volume 2, de Zeca Baleiro; Bloco na Rua (Deluxe), de Ney Matogrosso; Planeta Fome, de Elza Soares; e Caetano Veloso & Ivan Sacerdote, de Caetano Veloso com o clarinetista Ivan Sacerdote. E 5. Belo Horizonte é absolutamente arrebatador.

Toninho Horta em 2017 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Ou seja, mesmo Ney, Elza, Caetano e Zeca precisam comemorar o prêmio que a Academia Latina do Grammy teve a sensibilidade de honrar, desafiando o mainstream e as previsibilidades. Toninho Horta fez um álbum bem conceituado do início ao fim. Belo Horizonte é duplo, dividido em Belo, com as faixas de alto relevo de sua trajetória, como Durango Kid, Beijo Partido (com Lisa Ono), Pedra da Lua (com Joyce Moreno) e Céu de Brasília; e Horizonte, com as composições novas como O Poder de Um Olhar (de Yuri Popoff),  Magical Trumpets, Samba Sagrado (com a participação de Nivaldo Ornelas) e Nanando. A produção ficou com Toninho, André Dequeche e Yuri Popov e a Orquestra Fantasma é formada pelo piano de André Dequech, o baixo de Yuri Popoff, a flauta de Lena Horta, irmã de Toninho, e a bateria de Neném.

Os holofotes se voltaram para Toninho Horta, com jornalistas à sua procura, convites para apresentações e audições triplicadas de suas músicas no Spotify. Seu primeiro show pós-Grammy, que já estava marcado, será no próximo dia 6 de dezembro, um domingo, no Bourbon Street Music Club, que vem respeitando atenciosamente as regras de distanciamento em seu protocolo, conforme checou a reportagem do Estadão. Antes da apresentação, a casa abre o novo espaço Jazz Café, a partir das 16h, com um show acústico e um desconto para quem quiser acompanhar o show. Outro destaque no dia será a passagem de som. Toninho conversa com a plateia que estiver no Bourbon a partir das 19h e dez pessoas que estiverem ali serão escolhidas por meio de um sorteio para assistirem ao show de graça. Para o show, ele estará sozinho, sem a Orquestra Fantasma, e promete levar para vender não só os álbuns físicos de Belo Horizonte como um livro que traz a história de sua Orquestra Fantasma.

Ao falar com a reportagem na tarde desta segunda (23), Toninho estava eufórico. “Estou em êxtase. São 50 anos de trabalho. Só com a Orquestra Fantasma estou há mais de 40.” Sua guitarra tem uma voz particular, talvez a mais particular de todas na música brasileira, capaz de diluir com sua personalidade as próprias influências que poderiam pular à frente de suas composições. Cabeça definitiva ao lado do baterista Robertinho Silva e do compositor Beto Guedes na construção da sonoridade do antológico Clube da Esquina, o álbum histórico lançado em 1972 com nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Tavito, Nelson Angelo e Robertinho Silva, Toninho se tornou também um dos músicos mais copiados no jazz. E se alguém pensa aqui em Pat Metheny, o próprio Toninho tem histórias a contar.

A formação de sua sonoridade se dá justamente pela falta de uma formação clássica de jazz. Toninho não aprendeu a ler música e, até hoje, não toca pensando em acordes, escalas, campos harmônicos, modulações e toda a carga teórica que as academias estruturaram para que as pessoas a seguissem como um roteiro à terra prometida da improvisação e da harmonização. Hermeto Pascoal odeia essa pregação e a denuncia, chamando escolas renomadas dos Estados Unidos de indústria do jazz. Ou seja, não diga a Toninho que um tema está em ré maior com a segunda parte em fá sustenido menor que essa informação não fará a mínima falta. Ao tocar apenas por sensações, ele aprendeu a seguir apenas o ouvido.

A história começa aos 7 anos, com a mãe colocando LPs de jazz clássico na sala. Aos 9 ele pega um violão pela primeira vez e, aos 13, faz uma música usando como base, sempre instintiva, Corcovado, de Jobim. Os acordes eram montados seguindo a beleza que as notas pressionadas pelos seus dedos produziam, mas um esquema particular foi sendo desenvolvido, metade por talento e um tanto por preguiça de tirar dos discos o que os outros guitarristas faziam, e suas progressões harmônicas já eram um salto fora dos padrões quando chegou ao Rio para tocar com Elis Regina e depois com Joyce, nos anos 70.

Há tanta curiosidade sobre sua forma de compor que ele resolveu lançar um curso, previsto para sair em dezembro, com o nome Curso de Harmonia Intuitiva. Não poderia ser diferente. “Quando falo em palestras para estudantes, o que eu digo é o seguinte: estudem muito o que você devem estudar, mas reservem sempre um tempo entre duas e três horas por dia para serem vocês mesmos com o instrumento no colo.” Só assim, pensa Toninho, um músico consegue chegar a ele mesmo, sem reproduzir padrões que o tornarão, no máximo, um exímio copiador. “É difícil fazer isso quando se estuda fora, nas grandes escolas. Os jovens treinam 10 horas por dia e muitas vezes não têm tempo de experimentar suas próprias possibilidades.”

Ele conta que o Japão, país onde pisou por 26 vezes, tem dois instrumentistas que tocam exatamente como ele. Mas a comparação mais feita em sua carreira é com o guitarrista norte-americano Pat Metheny, de 66 anos, vencedor de 20 Grammy Music Awards. Quem veio primeiro? Quem copiou quem? “Eu nasci primeiro”, ele diz, brincando, do alto de seus 71 anos. As linhas de pensamento, os timbres e a composição seguem realmente padrões muito similares, por mais livres que sejam. Seria tudo coincidência?

Toninho conta que conheceu Pat Metheny no Brasil, em uma de suas vindas, em 1980, para um festival de jazz. Uma aluna os apresentou e eles acabaram tocando juntos por um tempo. “Sacamos logo que falávamos a mesma língua.” Ao ouvir o álbum de Pat, Brigth Size Life, de 1976, percebeu que Wes Montgomery era uma referência explícita, como para ele também foi, mas com uma diferença: “Ele tirou tudo do Wes Montgomery, eu não tirei nada.” Os dois guitarristas ficaram próximos, saíram juntos e, um dia, Toninho preparou um peixe para o convidado enquanto ouviam juntos o álbum Terra dos Pássaros, que o mineiro lançou em 1980. “Depois disso, percebi que as composições tinham umas coisas minhas, assim como tinhas muitas coisas da música brasileira.”

Em outra ocasião, foi Toninho quem o visitou com Ronaldo Bastos na Califórnia. Falaram de muitas coisas, tocaram juntos mais uma vez e Toninho comentou que estava pensando em estudar na Berklee College of Music, mas sua sensação foi de que Pat ficou um tanto desconfortável. “Não vai não, você não precisa”, disse algo assim, desconversando. Se Toninho fazia o que fazia por instinto, certamente ele imaginou o que faria com. Um tempo depois, Pat e Toninho tocaram juntos no casamento do ator Robert Duval com a irmã da mulher de Pat. “O casal chorou enquanto tocávamos Pedra da Lua a alguns passos deles”, lembra o guitarrista brasileiro. A amizade renderia também gravações esporádicas, como o duo que fizeram na faixa Moonstone, do álbum de mesmo nome que Toninho lançou em 1989.

Se pensaram em fazer um disco juntos? Sim, Pat pensou. E quais seriam os músicos? Segundo Pat, ele, Toninho, Herbie Hancock ao piano, Wayne Shorter no sax, Charlie Haden no baixo e Naná Vasconcelos na percussão. Um dream team poderoso, talvez um dos mais poderosos de todos os tempos, mas que não vingou. E Toninho seguiu fazendo apenas a música em que acreditava pelos próximos 40 anos ao lado de um organismo vivo que, de fato, se tornou seu parceiro e seu cúmplice: a Orquestra Fantasma. Ao ouvi-los juntos é como se nem os vitoriosos simulacros de Pat Metheny pudessem assombrá-los.

ServiçoLocal: Bourbon Street | Rua Dos Chanés, 127 – Moema – SP Rua dos Chanés 194 – de 2ªf.a 6ª.f das 12h às 18h, sábado e feriado das 14h às 20h – Sem taxa de conveniênciaFone para reserva: (11) 5095-6100 (Seg. a sexta) das 10h às 18hData : 06/11/2020 – DomingoHorário: 20h30Abertura da casa: 18h30 (Jazz Café a partir das 16h)Duração: 80 min. aproximadamenteCouvert Artístico: R$ 50,00e R$ 25,00Venda- SymplaClassificação indicativa: 18 anos e 16 anos acompanhado de responsávelCapacidade: 180 pessoasEstacionamento/ Valet: Não haverá serviço durante a pandemia Aceita todos os cartões de débito e crédito Acessibilidade motora Ar condicionado

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