Wilco faz uma obra-prima discreta em novo disco 'Cruel Country'


Álbum foi gravado com uma banda de seis músicos tocando ao vivo em um estúdio após isolamento da pandemia

Por Jon Pareles

Cruel Country, de Wilco, causa uma primeira impressão modesta para uma obra-prima. Seu tom é naturalista e discreto; o álbum foi gravado em grande parte com Wilco tocando ao vivo no estúdio como uma banda de seis homens, silenciosamente saboreando a chance de fazer música juntos após o isolamento da pandemia.

Wilco se apresenta no Popload Festival 2016. Foto: Eliaria Andrade/ Estadão/Arquivo - 8/10/2016

A maioria das músicas tem um violão dedilhado silenciosamente em seu núcleo, básico e folk. A experimentação sonora que Wilco tem realizado desde sua obra-prima de 2001, Yankee Hotel Foxtrot - que recentemente a banda apresentou em shows em Nova York e em sua cidade natal de longa data, Chicago, e planeja reeditar em uma forma amplamente expandida em setembro - foi temporariamente, embora não inteiramente, retirada de Cruel Country, como que para deixar o artifício de lado.

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“Fale comigo / Não quero ouvir poesia”, Jeff Tweedy canta em The Universe, continuando: “Diga claramente / Quero te ouvir falar.”

Mas Cruel Country também é um álbum duplo, com um total de 21 músicas, que se propõe a acionar a noção de “country” tanto como um estilo musical como uma nação. As músicas de Tweedy refletem sobre história, política, mortalidade, ambivalência e a utilidade - ou futilidade - da arte na América do século 21. Eles também, às vezes, confundem as distinções entre patriotismo e romance. No entanto, na música-título do álbum, Tweedy deixa a ambiguidade de lado enquanto canta: “Eu amo meu país como um garotinho / Vermelho, branco e azul”, e continua com “Eu amo meu país, estúpido e cruel”.

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Wilco representava uma volta ao passado quando começou em 1994. Em uma década de grunge e hip-hop, a banda se baseou em uma trindade boomer com The Band, os Beatles e os Rolling Stones. E agora que o próprio grupo tem décadas em seu catálogo, Cruel Country também volta ao passado de Wilco; a banda usou uma abordagem ao vivo em estúdio semelhante em seu álbum de 2007, Sky Blue Sky. A música country que Wilco abraçou naquele álbum, e à qual retorna na maior parte de Cruel Country, tem uma safra particular: o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando Buck Owens e Merle Haggard empurravam o country para o rock enquanto bandas como Grateful Dead, os New Riders of the Purple Sage, os Byrds e os Flying Burrito Brothers estavam conectando o country de três acordes à psicodelia.

Meio século depois, em Cruel Country, o som é ainda mais nostálgico, embora ainda deixe espaço para a exploração, especialmente em algumas músicas que se abrem para jams que Wilco extrapola no palco. Com uma sonoridade arrastada em ritmo moderado, as músicas muitas vezes podem soar serenamente resignadas. Mas há uma tensão subjacente nas letras e na voz áspera, suave e imperfeita de Tweedy. Ele parece cansado, mas obstinado, agarrando-se ali como a música a que se apega.

O álbum abre com I Am My Mother, uma valsa sobre as esperanças e raízes de um imigrante: “Sonhos perigosos foram detectados na fronteira sul”, canta Tweedy. E em Hints, ele contempla uma nação amargamente dividida, pedindo: “Mantenha sua mão na minha”, mas observando: “Não há meio quando o outro lado / Prefere matar do que se comprometer”.

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O álbum combina desespero e persistência, gravidade e humor. Wilco aparece com um country vibrante, alegre e despojado em Falling Apart (Right Now), no qual Tweedy reclama, para um parceiro ou uma população: “Não desmorone enquanto estou desmoronando” e em A Lifetime to Find - uma conversa com a Morte, que chega de repente: “Aqui para reunir”. E em meio aos tons de teclado e aos provocantes sons de guitarra em All Across the World, Tweedy admite as emoções contraditórias de se sentir confortável enquanto outros sofrem - “Eu mal posso suportar saber o que é verdade” - enquanto ele se pergunta: “O que uma música pode fazer?"

Uma música pode fazer muito, e em Cruel Country, Wilco não oferece nenhuma grande lição ou grande plano, apenas observações, sentimentos e enigmas. Muitos dos melhores momentos do álbum não têm palavras. Bird Without a Tail / Base of My Skull oferece uma sequência associativa livre de dísticos sem sentido que parecem uma canção de ninar até terminar em um corte fatal; transforma-se em uma jam de dois acordes intrincadamente escolhida, com a bateria de Glenn Kotche fornecendo um impulso sussurrante enquanto Tweedy e Nels Cline lançam ideias de guitarra para frente e para trás, depois as entrelaçam. É um breve trecho de comunhão e consolo em tempos tristes. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cruel Country, de Wilco, causa uma primeira impressão modesta para uma obra-prima. Seu tom é naturalista e discreto; o álbum foi gravado em grande parte com Wilco tocando ao vivo no estúdio como uma banda de seis homens, silenciosamente saboreando a chance de fazer música juntos após o isolamento da pandemia.

Wilco se apresenta no Popload Festival 2016. Foto: Eliaria Andrade/ Estadão/Arquivo - 8/10/2016

A maioria das músicas tem um violão dedilhado silenciosamente em seu núcleo, básico e folk. A experimentação sonora que Wilco tem realizado desde sua obra-prima de 2001, Yankee Hotel Foxtrot - que recentemente a banda apresentou em shows em Nova York e em sua cidade natal de longa data, Chicago, e planeja reeditar em uma forma amplamente expandida em setembro - foi temporariamente, embora não inteiramente, retirada de Cruel Country, como que para deixar o artifício de lado.

“Fale comigo / Não quero ouvir poesia”, Jeff Tweedy canta em The Universe, continuando: “Diga claramente / Quero te ouvir falar.”

Mas Cruel Country também é um álbum duplo, com um total de 21 músicas, que se propõe a acionar a noção de “country” tanto como um estilo musical como uma nação. As músicas de Tweedy refletem sobre história, política, mortalidade, ambivalência e a utilidade - ou futilidade - da arte na América do século 21. Eles também, às vezes, confundem as distinções entre patriotismo e romance. No entanto, na música-título do álbum, Tweedy deixa a ambiguidade de lado enquanto canta: “Eu amo meu país como um garotinho / Vermelho, branco e azul”, e continua com “Eu amo meu país, estúpido e cruel”.

Wilco representava uma volta ao passado quando começou em 1994. Em uma década de grunge e hip-hop, a banda se baseou em uma trindade boomer com The Band, os Beatles e os Rolling Stones. E agora que o próprio grupo tem décadas em seu catálogo, Cruel Country também volta ao passado de Wilco; a banda usou uma abordagem ao vivo em estúdio semelhante em seu álbum de 2007, Sky Blue Sky. A música country que Wilco abraçou naquele álbum, e à qual retorna na maior parte de Cruel Country, tem uma safra particular: o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando Buck Owens e Merle Haggard empurravam o country para o rock enquanto bandas como Grateful Dead, os New Riders of the Purple Sage, os Byrds e os Flying Burrito Brothers estavam conectando o country de três acordes à psicodelia.

Meio século depois, em Cruel Country, o som é ainda mais nostálgico, embora ainda deixe espaço para a exploração, especialmente em algumas músicas que se abrem para jams que Wilco extrapola no palco. Com uma sonoridade arrastada em ritmo moderado, as músicas muitas vezes podem soar serenamente resignadas. Mas há uma tensão subjacente nas letras e na voz áspera, suave e imperfeita de Tweedy. Ele parece cansado, mas obstinado, agarrando-se ali como a música a que se apega.

O álbum abre com I Am My Mother, uma valsa sobre as esperanças e raízes de um imigrante: “Sonhos perigosos foram detectados na fronteira sul”, canta Tweedy. E em Hints, ele contempla uma nação amargamente dividida, pedindo: “Mantenha sua mão na minha”, mas observando: “Não há meio quando o outro lado / Prefere matar do que se comprometer”.

O álbum combina desespero e persistência, gravidade e humor. Wilco aparece com um country vibrante, alegre e despojado em Falling Apart (Right Now), no qual Tweedy reclama, para um parceiro ou uma população: “Não desmorone enquanto estou desmoronando” e em A Lifetime to Find - uma conversa com a Morte, que chega de repente: “Aqui para reunir”. E em meio aos tons de teclado e aos provocantes sons de guitarra em All Across the World, Tweedy admite as emoções contraditórias de se sentir confortável enquanto outros sofrem - “Eu mal posso suportar saber o que é verdade” - enquanto ele se pergunta: “O que uma música pode fazer?"

Uma música pode fazer muito, e em Cruel Country, Wilco não oferece nenhuma grande lição ou grande plano, apenas observações, sentimentos e enigmas. Muitos dos melhores momentos do álbum não têm palavras. Bird Without a Tail / Base of My Skull oferece uma sequência associativa livre de dísticos sem sentido que parecem uma canção de ninar até terminar em um corte fatal; transforma-se em uma jam de dois acordes intrincadamente escolhida, com a bateria de Glenn Kotche fornecendo um impulso sussurrante enquanto Tweedy e Nels Cline lançam ideias de guitarra para frente e para trás, depois as entrelaçam. É um breve trecho de comunhão e consolo em tempos tristes. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cruel Country, de Wilco, causa uma primeira impressão modesta para uma obra-prima. Seu tom é naturalista e discreto; o álbum foi gravado em grande parte com Wilco tocando ao vivo no estúdio como uma banda de seis homens, silenciosamente saboreando a chance de fazer música juntos após o isolamento da pandemia.

Wilco se apresenta no Popload Festival 2016. Foto: Eliaria Andrade/ Estadão/Arquivo - 8/10/2016

A maioria das músicas tem um violão dedilhado silenciosamente em seu núcleo, básico e folk. A experimentação sonora que Wilco tem realizado desde sua obra-prima de 2001, Yankee Hotel Foxtrot - que recentemente a banda apresentou em shows em Nova York e em sua cidade natal de longa data, Chicago, e planeja reeditar em uma forma amplamente expandida em setembro - foi temporariamente, embora não inteiramente, retirada de Cruel Country, como que para deixar o artifício de lado.

“Fale comigo / Não quero ouvir poesia”, Jeff Tweedy canta em The Universe, continuando: “Diga claramente / Quero te ouvir falar.”

Mas Cruel Country também é um álbum duplo, com um total de 21 músicas, que se propõe a acionar a noção de “country” tanto como um estilo musical como uma nação. As músicas de Tweedy refletem sobre história, política, mortalidade, ambivalência e a utilidade - ou futilidade - da arte na América do século 21. Eles também, às vezes, confundem as distinções entre patriotismo e romance. No entanto, na música-título do álbum, Tweedy deixa a ambiguidade de lado enquanto canta: “Eu amo meu país como um garotinho / Vermelho, branco e azul”, e continua com “Eu amo meu país, estúpido e cruel”.

Wilco representava uma volta ao passado quando começou em 1994. Em uma década de grunge e hip-hop, a banda se baseou em uma trindade boomer com The Band, os Beatles e os Rolling Stones. E agora que o próprio grupo tem décadas em seu catálogo, Cruel Country também volta ao passado de Wilco; a banda usou uma abordagem ao vivo em estúdio semelhante em seu álbum de 2007, Sky Blue Sky. A música country que Wilco abraçou naquele álbum, e à qual retorna na maior parte de Cruel Country, tem uma safra particular: o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando Buck Owens e Merle Haggard empurravam o country para o rock enquanto bandas como Grateful Dead, os New Riders of the Purple Sage, os Byrds e os Flying Burrito Brothers estavam conectando o country de três acordes à psicodelia.

Meio século depois, em Cruel Country, o som é ainda mais nostálgico, embora ainda deixe espaço para a exploração, especialmente em algumas músicas que se abrem para jams que Wilco extrapola no palco. Com uma sonoridade arrastada em ritmo moderado, as músicas muitas vezes podem soar serenamente resignadas. Mas há uma tensão subjacente nas letras e na voz áspera, suave e imperfeita de Tweedy. Ele parece cansado, mas obstinado, agarrando-se ali como a música a que se apega.

O álbum abre com I Am My Mother, uma valsa sobre as esperanças e raízes de um imigrante: “Sonhos perigosos foram detectados na fronteira sul”, canta Tweedy. E em Hints, ele contempla uma nação amargamente dividida, pedindo: “Mantenha sua mão na minha”, mas observando: “Não há meio quando o outro lado / Prefere matar do que se comprometer”.

O álbum combina desespero e persistência, gravidade e humor. Wilco aparece com um country vibrante, alegre e despojado em Falling Apart (Right Now), no qual Tweedy reclama, para um parceiro ou uma população: “Não desmorone enquanto estou desmoronando” e em A Lifetime to Find - uma conversa com a Morte, que chega de repente: “Aqui para reunir”. E em meio aos tons de teclado e aos provocantes sons de guitarra em All Across the World, Tweedy admite as emoções contraditórias de se sentir confortável enquanto outros sofrem - “Eu mal posso suportar saber o que é verdade” - enquanto ele se pergunta: “O que uma música pode fazer?"

Uma música pode fazer muito, e em Cruel Country, Wilco não oferece nenhuma grande lição ou grande plano, apenas observações, sentimentos e enigmas. Muitos dos melhores momentos do álbum não têm palavras. Bird Without a Tail / Base of My Skull oferece uma sequência associativa livre de dísticos sem sentido que parecem uma canção de ninar até terminar em um corte fatal; transforma-se em uma jam de dois acordes intrincadamente escolhida, com a bateria de Glenn Kotche fornecendo um impulso sussurrante enquanto Tweedy e Nels Cline lançam ideias de guitarra para frente e para trás, depois as entrelaçam. É um breve trecho de comunhão e consolo em tempos tristes. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cruel Country, de Wilco, causa uma primeira impressão modesta para uma obra-prima. Seu tom é naturalista e discreto; o álbum foi gravado em grande parte com Wilco tocando ao vivo no estúdio como uma banda de seis homens, silenciosamente saboreando a chance de fazer música juntos após o isolamento da pandemia.

Wilco se apresenta no Popload Festival 2016. Foto: Eliaria Andrade/ Estadão/Arquivo - 8/10/2016

A maioria das músicas tem um violão dedilhado silenciosamente em seu núcleo, básico e folk. A experimentação sonora que Wilco tem realizado desde sua obra-prima de 2001, Yankee Hotel Foxtrot - que recentemente a banda apresentou em shows em Nova York e em sua cidade natal de longa data, Chicago, e planeja reeditar em uma forma amplamente expandida em setembro - foi temporariamente, embora não inteiramente, retirada de Cruel Country, como que para deixar o artifício de lado.

“Fale comigo / Não quero ouvir poesia”, Jeff Tweedy canta em The Universe, continuando: “Diga claramente / Quero te ouvir falar.”

Mas Cruel Country também é um álbum duplo, com um total de 21 músicas, que se propõe a acionar a noção de “country” tanto como um estilo musical como uma nação. As músicas de Tweedy refletem sobre história, política, mortalidade, ambivalência e a utilidade - ou futilidade - da arte na América do século 21. Eles também, às vezes, confundem as distinções entre patriotismo e romance. No entanto, na música-título do álbum, Tweedy deixa a ambiguidade de lado enquanto canta: “Eu amo meu país como um garotinho / Vermelho, branco e azul”, e continua com “Eu amo meu país, estúpido e cruel”.

Wilco representava uma volta ao passado quando começou em 1994. Em uma década de grunge e hip-hop, a banda se baseou em uma trindade boomer com The Band, os Beatles e os Rolling Stones. E agora que o próprio grupo tem décadas em seu catálogo, Cruel Country também volta ao passado de Wilco; a banda usou uma abordagem ao vivo em estúdio semelhante em seu álbum de 2007, Sky Blue Sky. A música country que Wilco abraçou naquele álbum, e à qual retorna na maior parte de Cruel Country, tem uma safra particular: o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando Buck Owens e Merle Haggard empurravam o country para o rock enquanto bandas como Grateful Dead, os New Riders of the Purple Sage, os Byrds e os Flying Burrito Brothers estavam conectando o country de três acordes à psicodelia.

Meio século depois, em Cruel Country, o som é ainda mais nostálgico, embora ainda deixe espaço para a exploração, especialmente em algumas músicas que se abrem para jams que Wilco extrapola no palco. Com uma sonoridade arrastada em ritmo moderado, as músicas muitas vezes podem soar serenamente resignadas. Mas há uma tensão subjacente nas letras e na voz áspera, suave e imperfeita de Tweedy. Ele parece cansado, mas obstinado, agarrando-se ali como a música a que se apega.

O álbum abre com I Am My Mother, uma valsa sobre as esperanças e raízes de um imigrante: “Sonhos perigosos foram detectados na fronteira sul”, canta Tweedy. E em Hints, ele contempla uma nação amargamente dividida, pedindo: “Mantenha sua mão na minha”, mas observando: “Não há meio quando o outro lado / Prefere matar do que se comprometer”.

O álbum combina desespero e persistência, gravidade e humor. Wilco aparece com um country vibrante, alegre e despojado em Falling Apart (Right Now), no qual Tweedy reclama, para um parceiro ou uma população: “Não desmorone enquanto estou desmoronando” e em A Lifetime to Find - uma conversa com a Morte, que chega de repente: “Aqui para reunir”. E em meio aos tons de teclado e aos provocantes sons de guitarra em All Across the World, Tweedy admite as emoções contraditórias de se sentir confortável enquanto outros sofrem - “Eu mal posso suportar saber o que é verdade” - enquanto ele se pergunta: “O que uma música pode fazer?"

Uma música pode fazer muito, e em Cruel Country, Wilco não oferece nenhuma grande lição ou grande plano, apenas observações, sentimentos e enigmas. Muitos dos melhores momentos do álbum não têm palavras. Bird Without a Tail / Base of My Skull oferece uma sequência associativa livre de dísticos sem sentido que parecem uma canção de ninar até terminar em um corte fatal; transforma-se em uma jam de dois acordes intrincadamente escolhida, com a bateria de Glenn Kotche fornecendo um impulso sussurrante enquanto Tweedy e Nels Cline lançam ideias de guitarra para frente e para trás, depois as entrelaçam. É um breve trecho de comunhão e consolo em tempos tristes. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cruel Country, de Wilco, causa uma primeira impressão modesta para uma obra-prima. Seu tom é naturalista e discreto; o álbum foi gravado em grande parte com Wilco tocando ao vivo no estúdio como uma banda de seis homens, silenciosamente saboreando a chance de fazer música juntos após o isolamento da pandemia.

Wilco se apresenta no Popload Festival 2016. Foto: Eliaria Andrade/ Estadão/Arquivo - 8/10/2016

A maioria das músicas tem um violão dedilhado silenciosamente em seu núcleo, básico e folk. A experimentação sonora que Wilco tem realizado desde sua obra-prima de 2001, Yankee Hotel Foxtrot - que recentemente a banda apresentou em shows em Nova York e em sua cidade natal de longa data, Chicago, e planeja reeditar em uma forma amplamente expandida em setembro - foi temporariamente, embora não inteiramente, retirada de Cruel Country, como que para deixar o artifício de lado.

“Fale comigo / Não quero ouvir poesia”, Jeff Tweedy canta em The Universe, continuando: “Diga claramente / Quero te ouvir falar.”

Mas Cruel Country também é um álbum duplo, com um total de 21 músicas, que se propõe a acionar a noção de “country” tanto como um estilo musical como uma nação. As músicas de Tweedy refletem sobre história, política, mortalidade, ambivalência e a utilidade - ou futilidade - da arte na América do século 21. Eles também, às vezes, confundem as distinções entre patriotismo e romance. No entanto, na música-título do álbum, Tweedy deixa a ambiguidade de lado enquanto canta: “Eu amo meu país como um garotinho / Vermelho, branco e azul”, e continua com “Eu amo meu país, estúpido e cruel”.

Wilco representava uma volta ao passado quando começou em 1994. Em uma década de grunge e hip-hop, a banda se baseou em uma trindade boomer com The Band, os Beatles e os Rolling Stones. E agora que o próprio grupo tem décadas em seu catálogo, Cruel Country também volta ao passado de Wilco; a banda usou uma abordagem ao vivo em estúdio semelhante em seu álbum de 2007, Sky Blue Sky. A música country que Wilco abraçou naquele álbum, e à qual retorna na maior parte de Cruel Country, tem uma safra particular: o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando Buck Owens e Merle Haggard empurravam o country para o rock enquanto bandas como Grateful Dead, os New Riders of the Purple Sage, os Byrds e os Flying Burrito Brothers estavam conectando o country de três acordes à psicodelia.

Meio século depois, em Cruel Country, o som é ainda mais nostálgico, embora ainda deixe espaço para a exploração, especialmente em algumas músicas que se abrem para jams que Wilco extrapola no palco. Com uma sonoridade arrastada em ritmo moderado, as músicas muitas vezes podem soar serenamente resignadas. Mas há uma tensão subjacente nas letras e na voz áspera, suave e imperfeita de Tweedy. Ele parece cansado, mas obstinado, agarrando-se ali como a música a que se apega.

O álbum abre com I Am My Mother, uma valsa sobre as esperanças e raízes de um imigrante: “Sonhos perigosos foram detectados na fronteira sul”, canta Tweedy. E em Hints, ele contempla uma nação amargamente dividida, pedindo: “Mantenha sua mão na minha”, mas observando: “Não há meio quando o outro lado / Prefere matar do que se comprometer”.

O álbum combina desespero e persistência, gravidade e humor. Wilco aparece com um country vibrante, alegre e despojado em Falling Apart (Right Now), no qual Tweedy reclama, para um parceiro ou uma população: “Não desmorone enquanto estou desmoronando” e em A Lifetime to Find - uma conversa com a Morte, que chega de repente: “Aqui para reunir”. E em meio aos tons de teclado e aos provocantes sons de guitarra em All Across the World, Tweedy admite as emoções contraditórias de se sentir confortável enquanto outros sofrem - “Eu mal posso suportar saber o que é verdade” - enquanto ele se pergunta: “O que uma música pode fazer?"

Uma música pode fazer muito, e em Cruel Country, Wilco não oferece nenhuma grande lição ou grande plano, apenas observações, sentimentos e enigmas. Muitos dos melhores momentos do álbum não têm palavras. Bird Without a Tail / Base of My Skull oferece uma sequência associativa livre de dísticos sem sentido que parecem uma canção de ninar até terminar em um corte fatal; transforma-se em uma jam de dois acordes intrincadamente escolhida, com a bateria de Glenn Kotche fornecendo um impulso sussurrante enquanto Tweedy e Nels Cline lançam ideias de guitarra para frente e para trás, depois as entrelaçam. É um breve trecho de comunhão e consolo em tempos tristes. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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