Na rotina de Débora Moura, as aulas, o livro e a luta para voltar aos palcos


Autora também criou petição online para sensibilizar governadora Ciarlini e reabrir centro de pesquisa teatral

Por Redação

Débora Araújo Seabra de Moura, que lança agora Débora Conta Histórias, diz que não é muito de ler, mas passou a infância ouvindo as histórias da mãe. E tinha a preferida, que Margarida, promotora de justiça aposentada e hoje advogada, ia contando aos poucos: a de sua vida. Quando ela estava com nove anos, foi hora de conhecer o capítulo mais doloroso.

Durante sete anos e meio, Margarida tentou engravidar. Já perto dos 40, sabia dos riscos que corria. Frederico veio primeiro. Débora, quase dois anos depois. “Meu mundo desabou. Desejei que ela morresse. Depois comecei a acreditar que por uma mágica a doença desapareceria”, conta. E foi isso que Débora ouviu aos nove anos, antes de dormir. Ela chorou, a mãe se assustou, mas isso as aproximou ainda mais. Aos 13, num rompante, disse que a síndrome não a incomodava mais.

Para chegar a esse ponto da história, foram anos de provações e experimentações, de idas e vindas a São Paulo. Numa dessas viagens, período em que a família se hospedava na casa do compadre Henfil, Margarida ouviu da fisioterapeuta do cartunista que Débora, então com quatro meses, não precisava de um médico, mas sim de uma equipe multidisciplinar. Abriu-se, com isso, não uma possibilidade de cura, que todos sabiam ser impossível, mas de minimizar os sintomas. Sem mudar a rotina, um dos conselhos de uma terapeuta ocupacional, Margarida e o marido Robério, psiquiatra, fizeram o que puderam pelo tratamento da menina. E incluíam no dia a dia uma boa dose de cultura.

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Débora acompanha a mãe em óperas e concertos – e também na tacinha de champanhe do intervalo. Viu Carmen, na Opera, em Paris. Emocionou-se com a Filarmônica de Berlim. Mas em seu repertório tem espaço para todos os gêneros, sem preconceito. A reportagem pergunta do que mais ela gosta. Débora sorri, marota, e responde com o dedo em riste: “Sertanejo”. A mãe se agita e brinca. “Aí dá uma desmunhecada geral. Não pudemos fazer nada.” Para minimizar o desgosto dos pais, diz que também ouve Beatles e Elis Regina.

Vai pouco ao cinema porque os filmes demoram a chegar em Natal – isso, quando chegam. Colegas, por exemplo, com portadores da síndrome de Down no elenco, não entrou em cartaz.

Mas é com o teatro, que frequenta desde antes de começar a andar, que Débora se realiza. Entre 2008 e 2010, fez aulas no Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral. Lá, encenou a primeira versão nordestina de A Megera Domada, de Shakespeare, que levou o nome de O Moço Que Casou Com Mulher Braba, participou de alguns autos de Natal e integrou o elenco da peça As Casadas Solteiras. Mantido pela Fundação José Augusto, do governo do estado, o centro está fechado desde 2010. E Débora não se conforma.

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Por duas vezes esteve cara a cara com a governadora Rosalba Ciarlini. Na primeira, elas estavam numa festa e Débora, depois de se apresentar como professora e atriz, perguntou como ficaria a cultura do Rio Grande do Norte. Pouco depois, se encontraram por acaso na fila do aeroporto e ela refez a questão. Até hoje ela espera a solução do problema, mas não espera sentada. Anda por Natal com um abaixo-assinado pedindo a reabertura do espaço, divulga a causa e protesta no Twitter e no Facebook. Esta semana, decidiu fazer uma petição online (leia no quadro abaixo). E não vai sossegar enquanto não encaminhar o documento à governadora – e, claro, ela reabrir a escola.

Débora tem essa inclinação artística, mas na hora de escolher a profissão, depois de alguns estágios em lojas e numa escola, optou pelo magistério. “Quando bati na escola, me apaixonei completamente”, diz, sorrindo. “Foi aí que comecei a tirar o chapéu para ela. Essa menina comeu brocha, como dizemos aqui. Da cabeça dela, chegou dizendo que tinha síndrome de Down, que estava lá para estudar e que não queria ser discriminada”, conta Margarida. Mesmo assim, foi. Ouviu da mãe que ela não precisava passar por toda aquela situação de desrespeito imposta por colegas de sala e não titubeou ao responder: “Eu não desisto dos meus sonhos”. Ultrapassou mais este obstáculo e está lá, diariamente, na sala de aula. Não porque preenche alguma cota ou porque é voluntária – no País, ainda não é permitido que um deficiente intelectual trabalhe e ganhe a pensão dos pais, no caso de morte deles, e por isso a família optou pela interdição de Débora. Está lá porque conquistou seu espaço. Se todos os sonhos foram realizados? “Não, agora quero ter a minha família”, responde.

Petição online pede reabertura de centro

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Ser aluna do Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral entre 2008 e 2010 foi muito importante para Débora Araújo Seabra de Moura. Lá, ela encenou duas peças, participou de alguns Autos de Natal e encontrou uma forma de expressão. O centro está fechado desde 2010, e Débora abriu esta semana uma petição on-line no site Avaaz chamada SOS Cultura RN para sensibilizar a governadora Rosalba Ciarlini para a importância do espaço.

Débora Araújo Seabra de Moura, que lança agora Débora Conta Histórias, diz que não é muito de ler, mas passou a infância ouvindo as histórias da mãe. E tinha a preferida, que Margarida, promotora de justiça aposentada e hoje advogada, ia contando aos poucos: a de sua vida. Quando ela estava com nove anos, foi hora de conhecer o capítulo mais doloroso.

Durante sete anos e meio, Margarida tentou engravidar. Já perto dos 40, sabia dos riscos que corria. Frederico veio primeiro. Débora, quase dois anos depois. “Meu mundo desabou. Desejei que ela morresse. Depois comecei a acreditar que por uma mágica a doença desapareceria”, conta. E foi isso que Débora ouviu aos nove anos, antes de dormir. Ela chorou, a mãe se assustou, mas isso as aproximou ainda mais. Aos 13, num rompante, disse que a síndrome não a incomodava mais.

Para chegar a esse ponto da história, foram anos de provações e experimentações, de idas e vindas a São Paulo. Numa dessas viagens, período em que a família se hospedava na casa do compadre Henfil, Margarida ouviu da fisioterapeuta do cartunista que Débora, então com quatro meses, não precisava de um médico, mas sim de uma equipe multidisciplinar. Abriu-se, com isso, não uma possibilidade de cura, que todos sabiam ser impossível, mas de minimizar os sintomas. Sem mudar a rotina, um dos conselhos de uma terapeuta ocupacional, Margarida e o marido Robério, psiquiatra, fizeram o que puderam pelo tratamento da menina. E incluíam no dia a dia uma boa dose de cultura.

Débora acompanha a mãe em óperas e concertos – e também na tacinha de champanhe do intervalo. Viu Carmen, na Opera, em Paris. Emocionou-se com a Filarmônica de Berlim. Mas em seu repertório tem espaço para todos os gêneros, sem preconceito. A reportagem pergunta do que mais ela gosta. Débora sorri, marota, e responde com o dedo em riste: “Sertanejo”. A mãe se agita e brinca. “Aí dá uma desmunhecada geral. Não pudemos fazer nada.” Para minimizar o desgosto dos pais, diz que também ouve Beatles e Elis Regina.

Vai pouco ao cinema porque os filmes demoram a chegar em Natal – isso, quando chegam. Colegas, por exemplo, com portadores da síndrome de Down no elenco, não entrou em cartaz.

Mas é com o teatro, que frequenta desde antes de começar a andar, que Débora se realiza. Entre 2008 e 2010, fez aulas no Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral. Lá, encenou a primeira versão nordestina de A Megera Domada, de Shakespeare, que levou o nome de O Moço Que Casou Com Mulher Braba, participou de alguns autos de Natal e integrou o elenco da peça As Casadas Solteiras. Mantido pela Fundação José Augusto, do governo do estado, o centro está fechado desde 2010. E Débora não se conforma.

Por duas vezes esteve cara a cara com a governadora Rosalba Ciarlini. Na primeira, elas estavam numa festa e Débora, depois de se apresentar como professora e atriz, perguntou como ficaria a cultura do Rio Grande do Norte. Pouco depois, se encontraram por acaso na fila do aeroporto e ela refez a questão. Até hoje ela espera a solução do problema, mas não espera sentada. Anda por Natal com um abaixo-assinado pedindo a reabertura do espaço, divulga a causa e protesta no Twitter e no Facebook. Esta semana, decidiu fazer uma petição online (leia no quadro abaixo). E não vai sossegar enquanto não encaminhar o documento à governadora – e, claro, ela reabrir a escola.

Débora tem essa inclinação artística, mas na hora de escolher a profissão, depois de alguns estágios em lojas e numa escola, optou pelo magistério. “Quando bati na escola, me apaixonei completamente”, diz, sorrindo. “Foi aí que comecei a tirar o chapéu para ela. Essa menina comeu brocha, como dizemos aqui. Da cabeça dela, chegou dizendo que tinha síndrome de Down, que estava lá para estudar e que não queria ser discriminada”, conta Margarida. Mesmo assim, foi. Ouviu da mãe que ela não precisava passar por toda aquela situação de desrespeito imposta por colegas de sala e não titubeou ao responder: “Eu não desisto dos meus sonhos”. Ultrapassou mais este obstáculo e está lá, diariamente, na sala de aula. Não porque preenche alguma cota ou porque é voluntária – no País, ainda não é permitido que um deficiente intelectual trabalhe e ganhe a pensão dos pais, no caso de morte deles, e por isso a família optou pela interdição de Débora. Está lá porque conquistou seu espaço. Se todos os sonhos foram realizados? “Não, agora quero ter a minha família”, responde.

Petição online pede reabertura de centro

Ser aluna do Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral entre 2008 e 2010 foi muito importante para Débora Araújo Seabra de Moura. Lá, ela encenou duas peças, participou de alguns Autos de Natal e encontrou uma forma de expressão. O centro está fechado desde 2010, e Débora abriu esta semana uma petição on-line no site Avaaz chamada SOS Cultura RN para sensibilizar a governadora Rosalba Ciarlini para a importância do espaço.

Débora Araújo Seabra de Moura, que lança agora Débora Conta Histórias, diz que não é muito de ler, mas passou a infância ouvindo as histórias da mãe. E tinha a preferida, que Margarida, promotora de justiça aposentada e hoje advogada, ia contando aos poucos: a de sua vida. Quando ela estava com nove anos, foi hora de conhecer o capítulo mais doloroso.

Durante sete anos e meio, Margarida tentou engravidar. Já perto dos 40, sabia dos riscos que corria. Frederico veio primeiro. Débora, quase dois anos depois. “Meu mundo desabou. Desejei que ela morresse. Depois comecei a acreditar que por uma mágica a doença desapareceria”, conta. E foi isso que Débora ouviu aos nove anos, antes de dormir. Ela chorou, a mãe se assustou, mas isso as aproximou ainda mais. Aos 13, num rompante, disse que a síndrome não a incomodava mais.

Para chegar a esse ponto da história, foram anos de provações e experimentações, de idas e vindas a São Paulo. Numa dessas viagens, período em que a família se hospedava na casa do compadre Henfil, Margarida ouviu da fisioterapeuta do cartunista que Débora, então com quatro meses, não precisava de um médico, mas sim de uma equipe multidisciplinar. Abriu-se, com isso, não uma possibilidade de cura, que todos sabiam ser impossível, mas de minimizar os sintomas. Sem mudar a rotina, um dos conselhos de uma terapeuta ocupacional, Margarida e o marido Robério, psiquiatra, fizeram o que puderam pelo tratamento da menina. E incluíam no dia a dia uma boa dose de cultura.

Débora acompanha a mãe em óperas e concertos – e também na tacinha de champanhe do intervalo. Viu Carmen, na Opera, em Paris. Emocionou-se com a Filarmônica de Berlim. Mas em seu repertório tem espaço para todos os gêneros, sem preconceito. A reportagem pergunta do que mais ela gosta. Débora sorri, marota, e responde com o dedo em riste: “Sertanejo”. A mãe se agita e brinca. “Aí dá uma desmunhecada geral. Não pudemos fazer nada.” Para minimizar o desgosto dos pais, diz que também ouve Beatles e Elis Regina.

Vai pouco ao cinema porque os filmes demoram a chegar em Natal – isso, quando chegam. Colegas, por exemplo, com portadores da síndrome de Down no elenco, não entrou em cartaz.

Mas é com o teatro, que frequenta desde antes de começar a andar, que Débora se realiza. Entre 2008 e 2010, fez aulas no Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral. Lá, encenou a primeira versão nordestina de A Megera Domada, de Shakespeare, que levou o nome de O Moço Que Casou Com Mulher Braba, participou de alguns autos de Natal e integrou o elenco da peça As Casadas Solteiras. Mantido pela Fundação José Augusto, do governo do estado, o centro está fechado desde 2010. E Débora não se conforma.

Por duas vezes esteve cara a cara com a governadora Rosalba Ciarlini. Na primeira, elas estavam numa festa e Débora, depois de se apresentar como professora e atriz, perguntou como ficaria a cultura do Rio Grande do Norte. Pouco depois, se encontraram por acaso na fila do aeroporto e ela refez a questão. Até hoje ela espera a solução do problema, mas não espera sentada. Anda por Natal com um abaixo-assinado pedindo a reabertura do espaço, divulga a causa e protesta no Twitter e no Facebook. Esta semana, decidiu fazer uma petição online (leia no quadro abaixo). E não vai sossegar enquanto não encaminhar o documento à governadora – e, claro, ela reabrir a escola.

Débora tem essa inclinação artística, mas na hora de escolher a profissão, depois de alguns estágios em lojas e numa escola, optou pelo magistério. “Quando bati na escola, me apaixonei completamente”, diz, sorrindo. “Foi aí que comecei a tirar o chapéu para ela. Essa menina comeu brocha, como dizemos aqui. Da cabeça dela, chegou dizendo que tinha síndrome de Down, que estava lá para estudar e que não queria ser discriminada”, conta Margarida. Mesmo assim, foi. Ouviu da mãe que ela não precisava passar por toda aquela situação de desrespeito imposta por colegas de sala e não titubeou ao responder: “Eu não desisto dos meus sonhos”. Ultrapassou mais este obstáculo e está lá, diariamente, na sala de aula. Não porque preenche alguma cota ou porque é voluntária – no País, ainda não é permitido que um deficiente intelectual trabalhe e ganhe a pensão dos pais, no caso de morte deles, e por isso a família optou pela interdição de Débora. Está lá porque conquistou seu espaço. Se todos os sonhos foram realizados? “Não, agora quero ter a minha família”, responde.

Petição online pede reabertura de centro

Ser aluna do Centro Experimental de Formação e Pesquisa Teatral entre 2008 e 2010 foi muito importante para Débora Araújo Seabra de Moura. Lá, ela encenou duas peças, participou de alguns Autos de Natal e encontrou uma forma de expressão. O centro está fechado desde 2010, e Débora abriu esta semana uma petição on-line no site Avaaz chamada SOS Cultura RN para sensibilizar a governadora Rosalba Ciarlini para a importância do espaço.

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