Vi o “debate” que não saiu das regras de “boas maneiras” do nosso sistema político - ou seja, como remarcaram algumas vezes os candidatos - que foi um arrazoado de poses, gingas, passos e, sobretudo, mendacidades verbais. Seria crueldade chamar esse encontro de malandragem eleitoreira, mas chegou perto porque o campo da “política” é, no Brasil, uma esfera das arrumações nas quais os fins justificam os meios.
Que divergência vimos, senão a negativa da negação que cada qual fazia ao outro? Nada vimos além da máscara porque até hoje a “política” pressupõe disfarces carnavalescos. Não assisti a um confronto de programas para o futuro, mas a defesas esfarrapadas de passados sem ao menos um aceno ao bom senso. Foram dois “políticos” no pior sentido brasileiro do termo, defendendo e negando suas verdades que, para o outro, eram mentiras. Perdi-me num labirinto de negativas que dispensava planos para o Brasil - pobre Brasil exilado - que, na discussão verbal e vazia, virou um Pilatos no Credo e na cilada - essa ética da política nacional.
Era um concurso de falsos números e dados a favor de quem falava, contra o outro. “Cara de pau”, disse Lula, “mentira”, disse Bolsonaro. Provas cabais, digo eu, de que, em “política”, como no 1984, de George Orwell, mentira é verdade. E todas as inversões valem porque o único interesse é a defesa-com-ataque...
A menos que você suponha, caro leitor ou leitora, que algum desses candidatos a dono do Brasil não vai reafirmar o seu populismo de “cuidar” do povo desvalido, provendo-o de comida, emprego, cerveja e salário. Enfim, de tudo que é preciso combinar com todos os tetos, sobretudo os tetos morais que colocam à prova o nosso caráter como povo e país. É impressionante que nenhum tenha falado de programas econômicos, de saúde ou educação, exceto prometendo abrir escolas que, sem professores motivados, pouco podem fazer...
Em muitos momentos, eu não sabia se estava diante de candidatos a paternidade nacional ou a Presidência da República. Esse papel que virou um cargo empossado ou possuído pelo eleito, que nele faz o que bem entender. Lamentei ter assistido a um entusiasmado jogo de narcisismo. Um muito confiante e serelepe, passando uma super certeza a encobrir um passado lastimável; o outro com um porte marcial a dizer mais do mesmo quando deveria explicitar planos. Fiquei envergonhado de ver tamanha perda de tempo num encontro de cavaleiros impecavelmente vestidos, cujo momento mais eletrizante não foi uma discussão do que fazer para o Brasil, mas como ser mais eficiente em exibir dados (a maioria exagerados e falsos) do que cada qual afirmou ter feito.
Resumo da ópera: ambos foram “piores” e minha modesta e certamente reacionária ou antipatriótica opinião é que nem um nem outro vale o meu voto.