Esse método, extremamente calculado, é quase que 100% adotado pelas figuras femininas na indústria musical, já que o artista homem 'pode' - machismo- iniciar uma carreira sem se preocupar em mostrar demais e cantar de menos.
A mesma tática não vale para uma figura masculina da classe LGBTQia+. A recepção quase sempre é sentida com a mesma sensação de um balde de água fria. Eu disse quase, certo?
Montero Lamar Hill é o nome de uma das figuras mais criativas e interessantes que emergiram no mundo da música nos últimos três anos.
Estou falando do cantor, rapper e compositor Lil Nas X, que teve seu nome estampado nas principais manchetes em 2018, quando emplacou a música mais certificada da história dos Estados Unidos.
A pop-country Old Town Road (com Billy Ray Cyrus) fez tanto sucesso que ultrapassou a recordista e intocável Mariah Carey, acumulando 19 semanas consecutivas no primeiro lugar da Billboard. No meio de todos esses meses no topo das paradas, Nas fez o improvável para um novato no mercado e se assumiu homossexual.
Um rapper negro e gay fora do armário com a música do ano. O que poderia dar errado? Ele virar o temido 'one hit wonder' (cantor de um único sucesso), ou ter seu alcance limitado?
Nada disso, o mais novo ícone queer emplacou mais duas músicas de sucesso do seu EP 7, dois Grammys e consolidou a sua imagem como um dos adolescentes mais influentes da indústria, ao lado de Billie Eilish.
Sem surpresa, os únicos grupos incomodados com o orgulho estampado do artista foram os homofóbicos e os conservadores. Esses últimos continuam alimentando o hype que envolve o nome de Lil Nas X.
Lançada há 10 dias, a tão esperada música Montero (Call Me By Your Name) é o atual single do rapper e a segunda música disponível que vai integrar o seu primeiro álbum Montero (previsto entre julho e setembro).
A canção pra lá de chiclete já acumula números grandes o suficiente para garantir mais um primeiro lugar na principal parada do mundo.
Lembra quando disse que os conservadores continuam a colocar o nome do rapper na boca do público? Parte do sucesso instantâneo de Montero veio das reações adversas com a forma livre que Nas explorou a sexualidade de uma figura queer no videoclipe da música.
Apenas de cueca e botas de cano alto, o rapper desce do céu ao inferno por uma infinita barra de pole dance. Como se isso não fosse impactante o suficiente, ele faz lap dance na maior figura mitológica criada em seu vídeo. Sim, ele rebola no colo do diabo e depois o mata.
Madonna, Britney Spears, Christina Aguilera e Miley Cyrus, todas as talentosas divas do pop passaram por essa transição em sua carreira e foram as fases que mais venderam discos, e também as mais veiculadas na imprensa.
Roupa curta e religião são alavancas certeiras para o aguardado momento divisor de carreiras.
E não tem nada de errado em ousar e explorar a própria liberdade, ainda mais se você representar uma minoria tão atacada, como é o caso do protagonista desta coluna.
referenceAos 21 anos, Lil Nas sabe muito bem o peso da sua representatividade. Na estreia de Montero, publicou uma carta destinada a seu antigo eu adolescente.
"Eu sei que nós prometemos a nós mesmos nunca sair do armário, nunca ser 'aquele tipo' de gay. Eu sei que nós prometemos morrer com esse segredo, mas esse clipe vai abrir as portas para tantas pessoas queer simplesmente existirem".
Há uma semana, o cantor segue rebatendo com bom humor os políticos e personalidades conservadoras que atacam o vídeo e também a sua polêmica coleção de tênis de 666 (rá) pares exclusivos inspirados no conceito satânico do lançamento.
A coleção se esgotou em menos de 1 minuto.
Lil Nas X não tolera os intolerantes e está só começando a sua importante jornada em pregar a liberdade de um corpo negro homossexual conseguir explorar a sua sexualidade com a mesma aceitação de um artista branco e hétero.