O mundo acadêmico vive - no TikTok


Conhecida como 'Dark Academia', trata-se de uma subcultura com forte ênfase na leitura, escrita, aprendizado, e pode ser melhor descrita como um espaço acadêmico tradicional com um ângulo gótico

Por Kristen Bateman

As escolas, como sabemos, estão fechadas. Não há reuniões de formandos e nem bailes de formatura. E tampouco estudos no exterior ou aulas de verão presenciais. E o que vai ocorrer em setembro, ninguém sabe.

Mas no mundo digital, um tipo diferente de comunidade acadêmica vem florescendo, onde os alunos criaram um nicho por conta própria, juntamente com uma estética que reflete o mundo que era visto outrora.

Conhecida como Dark Academia, trata-se de uma subcultura com forte ênfase na leitura, escrita, aprendizado, e pode ser melhor descrita como um espaço acadêmico tradicional com um ângulo gótico: pense em cardigans de malha grossa marrons, calças tweed vintage, uma bolsa de couro repleta de livros, fotos de fundo escuro, de poesias melancólicas e esqueletos alinhados ao lado de velas.

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Utensílios inspirados em Harry Potter que estão na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram, administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Instagram/ @MyFairestTreasure

Criadas por usuários entre 14 e 25 anos, as postagens na Dark Academia obtiveram mais de 18 milhões de visualizações no Tik Tok; há mais de 100 mil postagens no Instagram. E embora a Dark Academia seja anterior à pandemia, para muitos ela adquiriu uma nova importância neste tempo em que as escolas estão fechadas no mundo real.

Sydney Decker, estudante de arte dramática de 18 anos, que administra o popular MyFairestTreasure, uma conta no Instagram com o tema Dark Academia, começou a trazer postagens sobre modelos de roupa nesse estilo em janeiro de 2020, depois que o descobriu no final do semestre de outono na faculdade. Desde então ela agregou mais de 18 mil seguidores e foca nos “mood boards” (quadros de emoções) inspirados por referências literárias como os looks retrô que imitam roupas e casas que lembram a tradicional instituição de ensino de Hogwarts (Harry Potter) e ideias de roupa para Neil Perry de A Sociedade dos Poetas Mortos.

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“Estou completamente obcecada pela moda associada à estética: os blazers tweed, a calça xadrez, as malhas de gola rolê pretas e os acessórios sofisticados”, disse Decker. “Pretendo colecionar todas essas peças e usá-las sempre que possível”

Nos saguões da Dark Academia reinam a nostalgia e um mundo livre da moderna tecnologia. Muitos membros da comunidade focam no que a vida deve ter sido no século 19 e início do século 20 nas escolas particulares da Inglaterra, nos internatos, nas escolas primárias ou mesmo nas faculdades da Ivy League em New England.

A estudante brasileiraAna Alsan, que administra a conta no Instagram daDark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014. Foto: Reprodução/ Instagram
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Uma postagem típica pode envolver adolescentes exibindo orgulhosamente seus suéteres de malha em losangos acompanhados por uma série de fotos de livros com capas de couro, notas escritas à mão, uma página de O Morro dos Ventos Uivantes e uma fotografia da arquitetura grega clássica.

Não é incomum ver fãs se vestindo como personagens do seu livro predileto ou postando fotos vintage da escritora Donna Tartt, autora de A História Secreta, um texto básico da Dark Academia. O mistério do assassinato em 1992 narrado em ordem inversa liga habilmente seus personagens e a trama aos trajes ingleses, às saias de padrão escocês e as jaquetas tweed que os definem.

De acordo com Natalie Black, diretora de Strategy + Insights na Hierarchy, e fundadora de Culture X Curate, A História Secreta serve como “um guia para transformar toda a estética num verdadeiro estilo de vida. A tendência é um interessante remix de um amplo conjunto de eras, do século 18 à década de 1940”.

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Embora não esteja claro como e onde, exatamente, a Dark Academia começou, muitos usuários a descobriram no Tumblr. Ana Alsan, por exemplo, de 21 anos, estudante de linguística e literatura inglesa no Brasil que administra a conta no Instagram da Dark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014.

Post na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Lily Borges, de 15 anos, que posta vídeos dos seus suéteres de malha em losangos, arquitetura clássica, e romances de Virginia Woolf na tag Dark Academia também encontrou a comunidade no Tumblr quando ainda era mais jovem. “A comunidade é muito especial para mim porque quando criança eu era muito tímida e reservada. Fiquei muito interessada em assuntos acadêmicos ainda jovem. Meu livro favorito na sétima série era Crime e Castigo”.

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Embora pareça um nicho, parte da atração da Dark Academia está no fato de que é mais acessível esteticamente do que outras subculturas populares da internet – um exemplo é o Cottagecore, inspirado por uma interpretação romantizada da vida rural – e também enfatiza a inclusão e a fluidez de gênero.

Para fazer parte da Dark Academia você não precisa ter acesso a uma casa de campo, um jardim de flores, uma grande cozinha ou um caro vestido no estilo pradaria. Muitas das roupas que os fãs da Dark Academia vestem são vintage e são facilmente encontradas em lojas ou sites de segunda mão.

Laura Piszczatowska, estudante de História na Noruega administra a Dark Academia na conta Geminnorum no Instagram (mais de 28 mil seguidores), onde posta fotos de antigos prédios espanhóis à noite, o tremeluzir de uma vela e máquinas de datilografia. No Tik Tok, ela faz vídeos para música de piano do Vitamin String Quartet mostrando pilhas de livros, taças de chá, cartões postais antigos e cartas escritas com caneta de tinta. “Eu normalmente uso calças tweed, um suéter de gola rolê ou uma camisa branca, sapatos elegantes e casaco longo”.

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Detalhe da pintura de 1874, 'Absorvido em seus estudos', de Eilif Peterssen, que estána conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Evelyn Meyer, de 20 anos, que criou o “Dark Academia check” em setembro de 2019, prefere usar roupas da seção masculina da Goodwill nos seus vídeos, como também páginas dos livros coladas na sua parede, uma máquina de datilografia que ela possui e romances de beatniks e transcendentalistas.

“O blazer vintage andrógino realmente representa a estética”, disse Dilara Schloz, historiadora de moda e pesquisadora na Royal Holloway University, em Londres, que é uma fã da subcultura da Dark Academia. “Ele pode ser usado por garotos, garotos ou qualquer pessoa que não se enquadre nessas definições. Qualquer um pode ser feminino ou masculino. Os trajes clássicos da Dark Academia nos lembram da moda masculina nos anos 1930 e 1940”.

A Dark Academia tem um público LGBTQ+ dedicado, em parte graças ao fato de muitos dos livros e filmes que a comunidade preza, como Versos de Um Crime, sobre o poeta Allen Ginsberg, e If We Were Villains, de M.L.Rio, terem personagens LGBTQ+.

“É uma comunidade muito aberta, apesar de se voltar para os clássicos”, disse Lucien K, de 21 anos, que posta fotos suas lendo livros e se maquiando ouvindo Vivaldi. “E ela também rompe com estereótipos independente de gênero ou sexualidade”.

À medida que salas de aula, workshops e mesas redondas ficam virtuais e muitos estudantes se perguntam que poderão se vestir e voltar às escolas novamente, a Dark Academia vem preenchendo o vazio.

“Acho que uma boa parte da Dark Academia é estética, mas ela também é uma comunidade”, disse Declan Lyman, de 15 anos, que posta vídeos da Dark Academia no Tik Tok. “Quanto mais você entra na atmosfera mais se sente conectado com outras pessoas nas tags. O elemento principal é o desejo de aprender”.

Tradução de Terezinha Martino

As escolas, como sabemos, estão fechadas. Não há reuniões de formandos e nem bailes de formatura. E tampouco estudos no exterior ou aulas de verão presenciais. E o que vai ocorrer em setembro, ninguém sabe.

Mas no mundo digital, um tipo diferente de comunidade acadêmica vem florescendo, onde os alunos criaram um nicho por conta própria, juntamente com uma estética que reflete o mundo que era visto outrora.

Conhecida como Dark Academia, trata-se de uma subcultura com forte ênfase na leitura, escrita, aprendizado, e pode ser melhor descrita como um espaço acadêmico tradicional com um ângulo gótico: pense em cardigans de malha grossa marrons, calças tweed vintage, uma bolsa de couro repleta de livros, fotos de fundo escuro, de poesias melancólicas e esqueletos alinhados ao lado de velas.

Utensílios inspirados em Harry Potter que estão na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram, administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Instagram/ @MyFairestTreasure

Criadas por usuários entre 14 e 25 anos, as postagens na Dark Academia obtiveram mais de 18 milhões de visualizações no Tik Tok; há mais de 100 mil postagens no Instagram. E embora a Dark Academia seja anterior à pandemia, para muitos ela adquiriu uma nova importância neste tempo em que as escolas estão fechadas no mundo real.

Sydney Decker, estudante de arte dramática de 18 anos, que administra o popular MyFairestTreasure, uma conta no Instagram com o tema Dark Academia, começou a trazer postagens sobre modelos de roupa nesse estilo em janeiro de 2020, depois que o descobriu no final do semestre de outono na faculdade. Desde então ela agregou mais de 18 mil seguidores e foca nos “mood boards” (quadros de emoções) inspirados por referências literárias como os looks retrô que imitam roupas e casas que lembram a tradicional instituição de ensino de Hogwarts (Harry Potter) e ideias de roupa para Neil Perry de A Sociedade dos Poetas Mortos.

“Estou completamente obcecada pela moda associada à estética: os blazers tweed, a calça xadrez, as malhas de gola rolê pretas e os acessórios sofisticados”, disse Decker. “Pretendo colecionar todas essas peças e usá-las sempre que possível”

Nos saguões da Dark Academia reinam a nostalgia e um mundo livre da moderna tecnologia. Muitos membros da comunidade focam no que a vida deve ter sido no século 19 e início do século 20 nas escolas particulares da Inglaterra, nos internatos, nas escolas primárias ou mesmo nas faculdades da Ivy League em New England.

A estudante brasileiraAna Alsan, que administra a conta no Instagram daDark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014. Foto: Reprodução/ Instagram

Uma postagem típica pode envolver adolescentes exibindo orgulhosamente seus suéteres de malha em losangos acompanhados por uma série de fotos de livros com capas de couro, notas escritas à mão, uma página de O Morro dos Ventos Uivantes e uma fotografia da arquitetura grega clássica.

Não é incomum ver fãs se vestindo como personagens do seu livro predileto ou postando fotos vintage da escritora Donna Tartt, autora de A História Secreta, um texto básico da Dark Academia. O mistério do assassinato em 1992 narrado em ordem inversa liga habilmente seus personagens e a trama aos trajes ingleses, às saias de padrão escocês e as jaquetas tweed que os definem.

De acordo com Natalie Black, diretora de Strategy + Insights na Hierarchy, e fundadora de Culture X Curate, A História Secreta serve como “um guia para transformar toda a estética num verdadeiro estilo de vida. A tendência é um interessante remix de um amplo conjunto de eras, do século 18 à década de 1940”.

Embora não esteja claro como e onde, exatamente, a Dark Academia começou, muitos usuários a descobriram no Tumblr. Ana Alsan, por exemplo, de 21 anos, estudante de linguística e literatura inglesa no Brasil que administra a conta no Instagram da Dark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014.

Post na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Lily Borges, de 15 anos, que posta vídeos dos seus suéteres de malha em losangos, arquitetura clássica, e romances de Virginia Woolf na tag Dark Academia também encontrou a comunidade no Tumblr quando ainda era mais jovem. “A comunidade é muito especial para mim porque quando criança eu era muito tímida e reservada. Fiquei muito interessada em assuntos acadêmicos ainda jovem. Meu livro favorito na sétima série era Crime e Castigo”.

Embora pareça um nicho, parte da atração da Dark Academia está no fato de que é mais acessível esteticamente do que outras subculturas populares da internet – um exemplo é o Cottagecore, inspirado por uma interpretação romantizada da vida rural – e também enfatiza a inclusão e a fluidez de gênero.

Para fazer parte da Dark Academia você não precisa ter acesso a uma casa de campo, um jardim de flores, uma grande cozinha ou um caro vestido no estilo pradaria. Muitas das roupas que os fãs da Dark Academia vestem são vintage e são facilmente encontradas em lojas ou sites de segunda mão.

Laura Piszczatowska, estudante de História na Noruega administra a Dark Academia na conta Geminnorum no Instagram (mais de 28 mil seguidores), onde posta fotos de antigos prédios espanhóis à noite, o tremeluzir de uma vela e máquinas de datilografia. No Tik Tok, ela faz vídeos para música de piano do Vitamin String Quartet mostrando pilhas de livros, taças de chá, cartões postais antigos e cartas escritas com caneta de tinta. “Eu normalmente uso calças tweed, um suéter de gola rolê ou uma camisa branca, sapatos elegantes e casaco longo”.

Detalhe da pintura de 1874, 'Absorvido em seus estudos', de Eilif Peterssen, que estána conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Evelyn Meyer, de 20 anos, que criou o “Dark Academia check” em setembro de 2019, prefere usar roupas da seção masculina da Goodwill nos seus vídeos, como também páginas dos livros coladas na sua parede, uma máquina de datilografia que ela possui e romances de beatniks e transcendentalistas.

“O blazer vintage andrógino realmente representa a estética”, disse Dilara Schloz, historiadora de moda e pesquisadora na Royal Holloway University, em Londres, que é uma fã da subcultura da Dark Academia. “Ele pode ser usado por garotos, garotos ou qualquer pessoa que não se enquadre nessas definições. Qualquer um pode ser feminino ou masculino. Os trajes clássicos da Dark Academia nos lembram da moda masculina nos anos 1930 e 1940”.

A Dark Academia tem um público LGBTQ+ dedicado, em parte graças ao fato de muitos dos livros e filmes que a comunidade preza, como Versos de Um Crime, sobre o poeta Allen Ginsberg, e If We Were Villains, de M.L.Rio, terem personagens LGBTQ+.

“É uma comunidade muito aberta, apesar de se voltar para os clássicos”, disse Lucien K, de 21 anos, que posta fotos suas lendo livros e se maquiando ouvindo Vivaldi. “E ela também rompe com estereótipos independente de gênero ou sexualidade”.

À medida que salas de aula, workshops e mesas redondas ficam virtuais e muitos estudantes se perguntam que poderão se vestir e voltar às escolas novamente, a Dark Academia vem preenchendo o vazio.

“Acho que uma boa parte da Dark Academia é estética, mas ela também é uma comunidade”, disse Declan Lyman, de 15 anos, que posta vídeos da Dark Academia no Tik Tok. “Quanto mais você entra na atmosfera mais se sente conectado com outras pessoas nas tags. O elemento principal é o desejo de aprender”.

Tradução de Terezinha Martino

As escolas, como sabemos, estão fechadas. Não há reuniões de formandos e nem bailes de formatura. E tampouco estudos no exterior ou aulas de verão presenciais. E o que vai ocorrer em setembro, ninguém sabe.

Mas no mundo digital, um tipo diferente de comunidade acadêmica vem florescendo, onde os alunos criaram um nicho por conta própria, juntamente com uma estética que reflete o mundo que era visto outrora.

Conhecida como Dark Academia, trata-se de uma subcultura com forte ênfase na leitura, escrita, aprendizado, e pode ser melhor descrita como um espaço acadêmico tradicional com um ângulo gótico: pense em cardigans de malha grossa marrons, calças tweed vintage, uma bolsa de couro repleta de livros, fotos de fundo escuro, de poesias melancólicas e esqueletos alinhados ao lado de velas.

Utensílios inspirados em Harry Potter que estão na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram, administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Instagram/ @MyFairestTreasure

Criadas por usuários entre 14 e 25 anos, as postagens na Dark Academia obtiveram mais de 18 milhões de visualizações no Tik Tok; há mais de 100 mil postagens no Instagram. E embora a Dark Academia seja anterior à pandemia, para muitos ela adquiriu uma nova importância neste tempo em que as escolas estão fechadas no mundo real.

Sydney Decker, estudante de arte dramática de 18 anos, que administra o popular MyFairestTreasure, uma conta no Instagram com o tema Dark Academia, começou a trazer postagens sobre modelos de roupa nesse estilo em janeiro de 2020, depois que o descobriu no final do semestre de outono na faculdade. Desde então ela agregou mais de 18 mil seguidores e foca nos “mood boards” (quadros de emoções) inspirados por referências literárias como os looks retrô que imitam roupas e casas que lembram a tradicional instituição de ensino de Hogwarts (Harry Potter) e ideias de roupa para Neil Perry de A Sociedade dos Poetas Mortos.

“Estou completamente obcecada pela moda associada à estética: os blazers tweed, a calça xadrez, as malhas de gola rolê pretas e os acessórios sofisticados”, disse Decker. “Pretendo colecionar todas essas peças e usá-las sempre que possível”

Nos saguões da Dark Academia reinam a nostalgia e um mundo livre da moderna tecnologia. Muitos membros da comunidade focam no que a vida deve ter sido no século 19 e início do século 20 nas escolas particulares da Inglaterra, nos internatos, nas escolas primárias ou mesmo nas faculdades da Ivy League em New England.

A estudante brasileiraAna Alsan, que administra a conta no Instagram daDark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014. Foto: Reprodução/ Instagram

Uma postagem típica pode envolver adolescentes exibindo orgulhosamente seus suéteres de malha em losangos acompanhados por uma série de fotos de livros com capas de couro, notas escritas à mão, uma página de O Morro dos Ventos Uivantes e uma fotografia da arquitetura grega clássica.

Não é incomum ver fãs se vestindo como personagens do seu livro predileto ou postando fotos vintage da escritora Donna Tartt, autora de A História Secreta, um texto básico da Dark Academia. O mistério do assassinato em 1992 narrado em ordem inversa liga habilmente seus personagens e a trama aos trajes ingleses, às saias de padrão escocês e as jaquetas tweed que os definem.

De acordo com Natalie Black, diretora de Strategy + Insights na Hierarchy, e fundadora de Culture X Curate, A História Secreta serve como “um guia para transformar toda a estética num verdadeiro estilo de vida. A tendência é um interessante remix de um amplo conjunto de eras, do século 18 à década de 1940”.

Embora não esteja claro como e onde, exatamente, a Dark Academia começou, muitos usuários a descobriram no Tumblr. Ana Alsan, por exemplo, de 21 anos, estudante de linguística e literatura inglesa no Brasil que administra a conta no Instagram da Dark Academia, disse que deparou com essa subcultura no Tumblr em 2014.

Post na conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Lily Borges, de 15 anos, que posta vídeos dos seus suéteres de malha em losangos, arquitetura clássica, e romances de Virginia Woolf na tag Dark Academia também encontrou a comunidade no Tumblr quando ainda era mais jovem. “A comunidade é muito especial para mim porque quando criança eu era muito tímida e reservada. Fiquei muito interessada em assuntos acadêmicos ainda jovem. Meu livro favorito na sétima série era Crime e Castigo”.

Embora pareça um nicho, parte da atração da Dark Academia está no fato de que é mais acessível esteticamente do que outras subculturas populares da internet – um exemplo é o Cottagecore, inspirado por uma interpretação romantizada da vida rural – e também enfatiza a inclusão e a fluidez de gênero.

Para fazer parte da Dark Academia você não precisa ter acesso a uma casa de campo, um jardim de flores, uma grande cozinha ou um caro vestido no estilo pradaria. Muitas das roupas que os fãs da Dark Academia vestem são vintage e são facilmente encontradas em lojas ou sites de segunda mão.

Laura Piszczatowska, estudante de História na Noruega administra a Dark Academia na conta Geminnorum no Instagram (mais de 28 mil seguidores), onde posta fotos de antigos prédios espanhóis à noite, o tremeluzir de uma vela e máquinas de datilografia. No Tik Tok, ela faz vídeos para música de piano do Vitamin String Quartet mostrando pilhas de livros, taças de chá, cartões postais antigos e cartas escritas com caneta de tinta. “Eu normalmente uso calças tweed, um suéter de gola rolê ou uma camisa branca, sapatos elegantes e casaco longo”.

Detalhe da pintura de 1874, 'Absorvido em seus estudos', de Eilif Peterssen, que estána conta 'MyFairestTreasure' do Instagram administrada pelos cultuadores do grupo Dark Academia. Foto: Reprodução/ Instagram

Evelyn Meyer, de 20 anos, que criou o “Dark Academia check” em setembro de 2019, prefere usar roupas da seção masculina da Goodwill nos seus vídeos, como também páginas dos livros coladas na sua parede, uma máquina de datilografia que ela possui e romances de beatniks e transcendentalistas.

“O blazer vintage andrógino realmente representa a estética”, disse Dilara Schloz, historiadora de moda e pesquisadora na Royal Holloway University, em Londres, que é uma fã da subcultura da Dark Academia. “Ele pode ser usado por garotos, garotos ou qualquer pessoa que não se enquadre nessas definições. Qualquer um pode ser feminino ou masculino. Os trajes clássicos da Dark Academia nos lembram da moda masculina nos anos 1930 e 1940”.

A Dark Academia tem um público LGBTQ+ dedicado, em parte graças ao fato de muitos dos livros e filmes que a comunidade preza, como Versos de Um Crime, sobre o poeta Allen Ginsberg, e If We Were Villains, de M.L.Rio, terem personagens LGBTQ+.

“É uma comunidade muito aberta, apesar de se voltar para os clássicos”, disse Lucien K, de 21 anos, que posta fotos suas lendo livros e se maquiando ouvindo Vivaldi. “E ela também rompe com estereótipos independente de gênero ou sexualidade”.

À medida que salas de aula, workshops e mesas redondas ficam virtuais e muitos estudantes se perguntam que poderão se vestir e voltar às escolas novamente, a Dark Academia vem preenchendo o vazio.

“Acho que uma boa parte da Dark Academia é estética, mas ela também é uma comunidade”, disse Declan Lyman, de 15 anos, que posta vídeos da Dark Academia no Tik Tok. “Quanto mais você entra na atmosfera mais se sente conectado com outras pessoas nas tags. O elemento principal é o desejo de aprender”.

Tradução de Terezinha Martino

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