50/50 é uma comédia dramática otimista e ligeiramente ruim, sobre a luta de um jovem contra o câncer e cuja finalidade é arrancar lágrimas e fazer as pessoas soluçarem, mesmo que não por muito tempo. Certamente, esse mar de lágrimas não vai provocar uma inundação, como seria de esperar quando o jovem Adam, de 27 anos (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), produtor de rádio de Seattle, toma conhecimento de que tem um tumor maligno na espinha. Choque, mágoa, espanto é o que se seguem, como também piadas e a sabedoria de lidar com a doença e as mulheres.Quem consegue provocar o riso de modo inteligente é o melhor amigo de Adam, Kyle, interpretado, e às vezes gritando demais, por um descabelado Seth Rogen com sua familiar mistura de afabilidade, inocência e vulgaridade. Como muitos dos personagens interpretados por Rogen, Kyle é realmente só culpado das maneiras grosseiras e de se comportar como um cãozinho de estimação, que no mundo do "bromance", o amor fraternal, é um estado natural de graça, próximo da beatitude.Como todos esses caras que vivem um "bromance", Kyle é o tipo do rapaz bondoso que qualquer outro jovem bondoso quer ter ao seu lado, especialmente se a mulher que está ocupando este espaço é tão irritadiça como a namorada de Adam, Rachael (Bryce Dallas Howard). Ela pinta telas abstratas e não é muito generosa sexualmente, de modo que você adivinha para onde a situação se encaminha.Dirigido por Jonathan Levine (The Wackness), 50/50 foi escrito por Will Reiser, que se baseou na própria experiência com o câncer. (Ele e Rogen se tornaram amigos quando trabalharam na série de TV satírica Da Ali G Show.) O filme começa com Adam, que trabalha numa emissora de rádio com Kyle, envolvido em afazeres domésticos com Rachael.Com uma dor persistente nas costas, Adam vai ao médico e logo recebe o terrível diagnóstico e a sua incredulidade não é compatível com os termos médicos assustadores, fornecidos friamente, que caem sobre ele como a escuridão. Em questão de segundos ele penetra no terreno da doença, lugar que os cineastas tentam retratar com um sentimento real, ao mesmo tempo que procuram tornar a situação mais confortável e a menos ameaçadora possível. É um ato de equilíbrio difícil, com o qual Levine e Reiser lutam, à medida que - juntamente com as palhaçadas grosseiras de Kyle e a figura trágica de Adam - alternam trechos divertidos com aqueles interlúdios que aos poucos ficam mais assustadores. Então surge Anna Kendrick, como Katherine, uma terapeuta de 24 anos encarregada de cuidar de Adam, e torna tudo melhor.O simpático Gordon-Levitt tem mil maneiras de parecer infeliz, abatido, deprimido, histérico, exausto e com dores no estômago, mas há alguma coisa tão recessiva no caso de Adam, ou talvez o personagem não tenha sido bem concebido, que ele nunca prende você como seria de esperar, ou seria necessário. O problema é que ele não precisa conquistar você: o diagnóstico e o apelo natural de Gordon-Levitt o colocam do lado de Adam imediatamente.É que nem o ator nem os cineastas conseguem entrar na pele de Adam apesar de todos os close-ups e as cenas taciturnas repletas daquele tipo de silêncio que mais parece tentativa de um roteirista inseguro do que um homem encarando a sua mortalidade.Mas Gordon-Levitt conquista a sua simpatia, mesmo quando Adam entra no terreno do relacionamento estremecido com Rachael. (Bryce Howard melhora a cada desempenho, mas precisa cuidar para não ficar encerrada no tipo de personagem rabugento.) O comportamento de Rachael não parece muito real, mas ao contrário de alguns "bromances", nem ela é apenas mais um personagem com seios, mas Howard a transforma numa real personagem. Outros personagens interessantes incluem uma Anjelica Houston ótima, como a mãe de Adam, e o grande Philip Baker Hall como o sujeito rabugento afetado pelo câncer e que se automedica com ervas e, o melhor de todos, Anna Kendrick, atriz cujo timing cômico esplêndido levanta o filme, e você. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO