RODRIGO FONSECA Amir Labaki meteu um golaço na copa da brasilidade ao armar a 28. edição de seu É Tudo Verdade (ETV), que começa nesta quinta-feira com "Subject" (em SP) e "1968, Um Ano Na Vida" (no RJ), com uma retrospectiva dedicada ao pioneiro da construção de uma ideia de país nas telonas, Humberto Mauro (1897-1983). A partir de 1925, quando rodou "Valadião, o Cratera", esse mineiro de Volta Grande iniciou uma discreta (porém, indelével) revolução no cinema feito em solo nacional, que duraria até 1974, quando finalizou sua obra, com "Carro de bois". Foi com ele, em produções como "Ganga Bruta" (1931) e "Braza dormida" (1928), que a produção audiovisual feita em nossas terras assumiu uma identidade brasileira, sem xerocar influências externos. Seus documentários e suas ficções fizeram dessa identidade um objeto, uma bandeira, uma poética. Não por acaso, toda a geração do Cinema Novo (com Glauber Rocha, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade...) via nele um marco. Por isso, a projeção do longa-metragem "Humberto Mauro, Cinema É Cachoeira", na seleção do ETV - neste sábado, às 19h, no Estação Net Rio 4 - cai uma síntese de sua carreira. Aclamada em sua passagem pela mostra Classici Documentari do 75º Festival de Veneza, em 2018, a produção tem um simbolismo político singular na afirmação da memória da filmografia do Brasil em solo estrangeiro, feita sob a (fina) direção do ator e cineasta André Di Mauro, sobrinho-neto do Humberto. André encantou as telas venezianas ao celebrar os 80 anos de um marco histórico da cinefilia latina: em 1938, Humberto passou pelo Lido, então na sexta edição da sua maratona competitiva anual, com "O Descobrimento do Brasil" e os curtas "Vitória-Régia" e "Os céus do Brasil". Na seleção armada por Labaki há dez títulos dirigidos por HM, entre eles "Carro de Bois" (1974), "Engenhos e Usinas" (1955) e "Um Apólogo" (1939).
Com filmes inéditos de gigantes como Susanna Lira e Cao Guimarães em sua competição oficial, o É Tudo Verdade merece aplausos pela seleção de uma joia: "MAURO, HUMBERTO", de David E. Neves (1938-1994). Eis um clássico de 1975 que pode ser definido como um poema filmado. Articulador mais afetuoso dos diretores do Cinema Novo, autor do livro "Cartas Ao Meu Bar", o diretor de "Fulaninha" (1986) presta um tributo ao pai da brasilidade em nossas telas filmando seu cotidiano, em sua casa em Volta Grande, e em seu escritório no antigo Instituto Nacional de Cinema, espaço que depois se tornou a Embrafilme. Além de um depoimento do próprio Humberto Mauro, são também entrevistados os cineastas Alex Viany e Glauber Rocha. Vai ter projeção dele no Estação Net Rio 4, dia 14, às 19h.