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Jason Statham tá infiltrado na espionagem em 'Esquema de Risco: Operação Fortune'


Por Rodrigo Fonseca
"Esquema de Risco - Operação Fortune", é promessa de salas de exibição cheias, num duo entre Hugh Grant e Jason Statham  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA A partir desta quinta-feira, a cinefilia brasileira vai se empapuçar com os litros de adrenalina e bom humor de "Esquema de Risco - Operação Fortune", o novo longa-metragem do diretor inglês Guy Ritchie. Habitual parceiro do cineasta, Jason Statham é o protagonista, o agente Fortune. A tarefa dele é unir uma das melhores equipes de operações especiais do mundo (Aubrey Plaza, Cary Elwes e Bugzy Malone) para rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia de armas mortais que está sendo realizada por um milionário do Mal, Greg Simmonds (Hugh Grant). Mas o time de Fortune vai precisar da ajuda do astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para passar despercebido nessa missão. Uma missão que entra em cartaz cercada de expectativa graças ao êxito de bilheteria pelo mundo afora do longa anterior da dupla Ritchie + Statham: "Infiltrado" (2021). Sua receita foi de US$ 103 milhões. Com seu jeitão despojado e seu acento cockney, num falar de palavras duras, Statham parece o oposto da apolínea figura de Gary Cooper (1901-1961), sobretudo em sua maneira de diminuir a densidade populacional da bandidagem, por onde pisa, na Los Angeles de "Wrath of Man", título original de "Infiltrado". Trata-se do filme mais exuberante de Guy Ritchie desde seu "Sherlock Holmes", em 2009. Ele pode ser visto, hoje, na Amazon Prime. Apesar de muitas singularidades é impossível não se estabelecer um paralelo entre Jason e Cooper neste longa-metragem sobre justiçamentos, que faturou US$ 56 milhões em apenas duas semanas de circuito. Contada com idas e vindas no tempo a partir de uma montagem sinuosa (de James Herbert), a saga de um sujeito de índole torta para vingar a morte do próprio filho, revelando, pouco a pouco, ser mais do que apenas um ás no tiro guarda semelhanças com o filme que deu a Cooper o Oscar de melhor ator, em 1953: "Matar ou Morrer" ("High Noon").

 Foto: Estadão
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Embora tenha as mesmas manhas acerca da representação do submundo de todos as boas longas de Ritchie, "Infiltrado" é menos um thriller noir e mais um filme de ação clássico. E, nos cinemas, a ação é filha cosmopolita do western. Jamais haveria haveria Rambo sem Ethan Edwards, o maior caubói de John Wayne, visto em "Rastros de Ódio" (1956). E a ação, tal qual o bangue-bangue, foi tornada proscrita pelos fariseus das fake news. E já é assim faz tempo... Quando entrou na puberdade das artes modernas, após a II Guerra, o Cinema sacrificou o faroeste, tratando o filão como um sarcófago das narrativas épicas, incapaz de suportar o peso da psicologia que os anos de 1950 (em diante) passaram a impor aos storytellers, como um veio de espichar a durabilidade e a essencialidade dos personagens. Vem sendo assim também com os action films, que parecem viver de franquias como "Fast & Furious" e "The Expendables". Para dar adeus ao gênero, que experimentou sobrevidas, sempre trágicas ("Os Imperdoáveis"), niilistas ("Os Oito Odiados") ou sazonalmente ambientalistas ("Dança Com Lobos" ou "First Cow"), Hollywood esculpiu "Matar ou Morrer", escalando como signo de bondade um xerife: Will Kane. Cooper o encarna como um herói outrora intrépido e, hoje, cansado pela idade, ciente de já ter dado à sua cidade o melhor de si. Mas um bandido do passado vai voltar, no trem das 12 horas, para se vingar dele. Seria fácil, fácil pra ele, fugir dali, deixando o passado pra trás, e meter o pé. Mas o molde a partir do qual Kane foi esculpido transforma barro em gente a partir de uma mandinga, hoje cada vez mais esquecida, que prega: "Um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer". Kane fica não porque precisa, mas porque tem um dever, um fardo. O mesmo se dá com Statham nesta pérola de Ritchie. Aliás, é sempre isso o que ele faz, numa perspectiva autoral de construção de modos de atuar. Statham é um "ator autor". Sua autoralidade sempre encontra ressonância na versão brasileira de seus filmes graças ao desempenho de seu dublador habitual, Armando Tiraboschi.

"Infiltrado" está na grade da Amazon Prime  

Centrado numa cruzada de vingança no universo do transporte de valores milionários pelas estradas, "Infiltrado" revive (e renova) a bem-sucedida parceria entre Statham e Ritchie, cuja carreira foi vitaminada após a versão live action de "Aladdin", em 2019. Os dois travaram amizade e parceria em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e "Snatch - Porcos e Diamantes" (2001), repetindo a sinergia em "Revólver" (2005). Ritchie é uma grife, mesmo dividindo opiniões em seu estilo quase epilético, de cortes velozes, que rendeu fortuna ao cinemão (com o já citado Sherlock com Robert Downey Jr.) e emplacou thrillers estilosos, como "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) e (o excepcional) "Magnatas do Crime" (2019). Mas quando volta às telas com Statham, Ritchie volta calçado numa outra grife. Na ponta do lápis, de 2002, quando estreou a trilogia "Carga Explosiva", até 2019, quando foi visto em "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw", o rol de filmes estrelados por Jason faturaram cerca de US$ 1,6 bilhão. Não por acaso, Sylvester Stallone, o midas da adrenalina, escolheu o britânico de 53 anos para ser o "herdeiro" de seu legado, escalando-o para estar a seu lado na cinessérie "The Expendables", 2010-2014), cuja receita beira US$ 802 milhões.

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Desenvolvido sob o selo da MGM, "Wrath of Man" é uma releitura anglo-americana do thriller francês "Assalto ao Carro Forte" (2004), de Nicolas Boukhrief. Statham assume o papel que era de Albert Dupontel, agora chamado de H. Repleto de destreza em lutas e no uso de armas de fogo, ele entra para uma equipe de guardas responsáveis por proteger sacos de dinheiro. Mas H não entrou nesse trabalho interessado em trabalho e, sim, em uma revanche pessoal, envolvendo tragédias pessoais. Mas ao se envolver no negócio de roubos milionários, ele acaba se colocando em perigo. Em geral, os filmes de Statham rompem com o bom mocismo do politicamente correto, como se vê em "Parker" (2013), um de seus melhores trabalhos, no qual ele contracena com Jennifer Lopez. Em 2018, Statham estrelou seu maior êxito comercial, até aqui: "Megatubarão", que faturou US$ 530 milhões. Ali, ao enfrentar um tubarão gigantesco, ninguém acreditava que ele poderia usar suas proficiências de luta (ainda adolescente, ele estudou kung fu, caratê e kickboxing), mas... pobre do peixão que o encarou. Ali, ele ainda empregou sua experiência como campeão da seleção britânica de mergulho. São habilidades que transformam Statham no muso da pancadaria, o que se refina agora com "Esquema de Risco - Operação Fortune".

"Esquema de Risco - Operação Fortune", é promessa de salas de exibição cheias, num duo entre Hugh Grant e Jason Statham  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA A partir desta quinta-feira, a cinefilia brasileira vai se empapuçar com os litros de adrenalina e bom humor de "Esquema de Risco - Operação Fortune", o novo longa-metragem do diretor inglês Guy Ritchie. Habitual parceiro do cineasta, Jason Statham é o protagonista, o agente Fortune. A tarefa dele é unir uma das melhores equipes de operações especiais do mundo (Aubrey Plaza, Cary Elwes e Bugzy Malone) para rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia de armas mortais que está sendo realizada por um milionário do Mal, Greg Simmonds (Hugh Grant). Mas o time de Fortune vai precisar da ajuda do astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para passar despercebido nessa missão. Uma missão que entra em cartaz cercada de expectativa graças ao êxito de bilheteria pelo mundo afora do longa anterior da dupla Ritchie + Statham: "Infiltrado" (2021). Sua receita foi de US$ 103 milhões. Com seu jeitão despojado e seu acento cockney, num falar de palavras duras, Statham parece o oposto da apolínea figura de Gary Cooper (1901-1961), sobretudo em sua maneira de diminuir a densidade populacional da bandidagem, por onde pisa, na Los Angeles de "Wrath of Man", título original de "Infiltrado". Trata-se do filme mais exuberante de Guy Ritchie desde seu "Sherlock Holmes", em 2009. Ele pode ser visto, hoje, na Amazon Prime. Apesar de muitas singularidades é impossível não se estabelecer um paralelo entre Jason e Cooper neste longa-metragem sobre justiçamentos, que faturou US$ 56 milhões em apenas duas semanas de circuito. Contada com idas e vindas no tempo a partir de uma montagem sinuosa (de James Herbert), a saga de um sujeito de índole torta para vingar a morte do próprio filho, revelando, pouco a pouco, ser mais do que apenas um ás no tiro guarda semelhanças com o filme que deu a Cooper o Oscar de melhor ator, em 1953: "Matar ou Morrer" ("High Noon").

 Foto: Estadão

Embora tenha as mesmas manhas acerca da representação do submundo de todos as boas longas de Ritchie, "Infiltrado" é menos um thriller noir e mais um filme de ação clássico. E, nos cinemas, a ação é filha cosmopolita do western. Jamais haveria haveria Rambo sem Ethan Edwards, o maior caubói de John Wayne, visto em "Rastros de Ódio" (1956). E a ação, tal qual o bangue-bangue, foi tornada proscrita pelos fariseus das fake news. E já é assim faz tempo... Quando entrou na puberdade das artes modernas, após a II Guerra, o Cinema sacrificou o faroeste, tratando o filão como um sarcófago das narrativas épicas, incapaz de suportar o peso da psicologia que os anos de 1950 (em diante) passaram a impor aos storytellers, como um veio de espichar a durabilidade e a essencialidade dos personagens. Vem sendo assim também com os action films, que parecem viver de franquias como "Fast & Furious" e "The Expendables". Para dar adeus ao gênero, que experimentou sobrevidas, sempre trágicas ("Os Imperdoáveis"), niilistas ("Os Oito Odiados") ou sazonalmente ambientalistas ("Dança Com Lobos" ou "First Cow"), Hollywood esculpiu "Matar ou Morrer", escalando como signo de bondade um xerife: Will Kane. Cooper o encarna como um herói outrora intrépido e, hoje, cansado pela idade, ciente de já ter dado à sua cidade o melhor de si. Mas um bandido do passado vai voltar, no trem das 12 horas, para se vingar dele. Seria fácil, fácil pra ele, fugir dali, deixando o passado pra trás, e meter o pé. Mas o molde a partir do qual Kane foi esculpido transforma barro em gente a partir de uma mandinga, hoje cada vez mais esquecida, que prega: "Um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer". Kane fica não porque precisa, mas porque tem um dever, um fardo. O mesmo se dá com Statham nesta pérola de Ritchie. Aliás, é sempre isso o que ele faz, numa perspectiva autoral de construção de modos de atuar. Statham é um "ator autor". Sua autoralidade sempre encontra ressonância na versão brasileira de seus filmes graças ao desempenho de seu dublador habitual, Armando Tiraboschi.

"Infiltrado" está na grade da Amazon Prime  

Centrado numa cruzada de vingança no universo do transporte de valores milionários pelas estradas, "Infiltrado" revive (e renova) a bem-sucedida parceria entre Statham e Ritchie, cuja carreira foi vitaminada após a versão live action de "Aladdin", em 2019. Os dois travaram amizade e parceria em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e "Snatch - Porcos e Diamantes" (2001), repetindo a sinergia em "Revólver" (2005). Ritchie é uma grife, mesmo dividindo opiniões em seu estilo quase epilético, de cortes velozes, que rendeu fortuna ao cinemão (com o já citado Sherlock com Robert Downey Jr.) e emplacou thrillers estilosos, como "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) e (o excepcional) "Magnatas do Crime" (2019). Mas quando volta às telas com Statham, Ritchie volta calçado numa outra grife. Na ponta do lápis, de 2002, quando estreou a trilogia "Carga Explosiva", até 2019, quando foi visto em "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw", o rol de filmes estrelados por Jason faturaram cerca de US$ 1,6 bilhão. Não por acaso, Sylvester Stallone, o midas da adrenalina, escolheu o britânico de 53 anos para ser o "herdeiro" de seu legado, escalando-o para estar a seu lado na cinessérie "The Expendables", 2010-2014), cuja receita beira US$ 802 milhões.

Desenvolvido sob o selo da MGM, "Wrath of Man" é uma releitura anglo-americana do thriller francês "Assalto ao Carro Forte" (2004), de Nicolas Boukhrief. Statham assume o papel que era de Albert Dupontel, agora chamado de H. Repleto de destreza em lutas e no uso de armas de fogo, ele entra para uma equipe de guardas responsáveis por proteger sacos de dinheiro. Mas H não entrou nesse trabalho interessado em trabalho e, sim, em uma revanche pessoal, envolvendo tragédias pessoais. Mas ao se envolver no negócio de roubos milionários, ele acaba se colocando em perigo. Em geral, os filmes de Statham rompem com o bom mocismo do politicamente correto, como se vê em "Parker" (2013), um de seus melhores trabalhos, no qual ele contracena com Jennifer Lopez. Em 2018, Statham estrelou seu maior êxito comercial, até aqui: "Megatubarão", que faturou US$ 530 milhões. Ali, ao enfrentar um tubarão gigantesco, ninguém acreditava que ele poderia usar suas proficiências de luta (ainda adolescente, ele estudou kung fu, caratê e kickboxing), mas... pobre do peixão que o encarou. Ali, ele ainda empregou sua experiência como campeão da seleção britânica de mergulho. São habilidades que transformam Statham no muso da pancadaria, o que se refina agora com "Esquema de Risco - Operação Fortune".

"Esquema de Risco - Operação Fortune", é promessa de salas de exibição cheias, num duo entre Hugh Grant e Jason Statham  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA A partir desta quinta-feira, a cinefilia brasileira vai se empapuçar com os litros de adrenalina e bom humor de "Esquema de Risco - Operação Fortune", o novo longa-metragem do diretor inglês Guy Ritchie. Habitual parceiro do cineasta, Jason Statham é o protagonista, o agente Fortune. A tarefa dele é unir uma das melhores equipes de operações especiais do mundo (Aubrey Plaza, Cary Elwes e Bugzy Malone) para rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia de armas mortais que está sendo realizada por um milionário do Mal, Greg Simmonds (Hugh Grant). Mas o time de Fortune vai precisar da ajuda do astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para passar despercebido nessa missão. Uma missão que entra em cartaz cercada de expectativa graças ao êxito de bilheteria pelo mundo afora do longa anterior da dupla Ritchie + Statham: "Infiltrado" (2021). Sua receita foi de US$ 103 milhões. Com seu jeitão despojado e seu acento cockney, num falar de palavras duras, Statham parece o oposto da apolínea figura de Gary Cooper (1901-1961), sobretudo em sua maneira de diminuir a densidade populacional da bandidagem, por onde pisa, na Los Angeles de "Wrath of Man", título original de "Infiltrado". Trata-se do filme mais exuberante de Guy Ritchie desde seu "Sherlock Holmes", em 2009. Ele pode ser visto, hoje, na Amazon Prime. Apesar de muitas singularidades é impossível não se estabelecer um paralelo entre Jason e Cooper neste longa-metragem sobre justiçamentos, que faturou US$ 56 milhões em apenas duas semanas de circuito. Contada com idas e vindas no tempo a partir de uma montagem sinuosa (de James Herbert), a saga de um sujeito de índole torta para vingar a morte do próprio filho, revelando, pouco a pouco, ser mais do que apenas um ás no tiro guarda semelhanças com o filme que deu a Cooper o Oscar de melhor ator, em 1953: "Matar ou Morrer" ("High Noon").

 Foto: Estadão

Embora tenha as mesmas manhas acerca da representação do submundo de todos as boas longas de Ritchie, "Infiltrado" é menos um thriller noir e mais um filme de ação clássico. E, nos cinemas, a ação é filha cosmopolita do western. Jamais haveria haveria Rambo sem Ethan Edwards, o maior caubói de John Wayne, visto em "Rastros de Ódio" (1956). E a ação, tal qual o bangue-bangue, foi tornada proscrita pelos fariseus das fake news. E já é assim faz tempo... Quando entrou na puberdade das artes modernas, após a II Guerra, o Cinema sacrificou o faroeste, tratando o filão como um sarcófago das narrativas épicas, incapaz de suportar o peso da psicologia que os anos de 1950 (em diante) passaram a impor aos storytellers, como um veio de espichar a durabilidade e a essencialidade dos personagens. Vem sendo assim também com os action films, que parecem viver de franquias como "Fast & Furious" e "The Expendables". Para dar adeus ao gênero, que experimentou sobrevidas, sempre trágicas ("Os Imperdoáveis"), niilistas ("Os Oito Odiados") ou sazonalmente ambientalistas ("Dança Com Lobos" ou "First Cow"), Hollywood esculpiu "Matar ou Morrer", escalando como signo de bondade um xerife: Will Kane. Cooper o encarna como um herói outrora intrépido e, hoje, cansado pela idade, ciente de já ter dado à sua cidade o melhor de si. Mas um bandido do passado vai voltar, no trem das 12 horas, para se vingar dele. Seria fácil, fácil pra ele, fugir dali, deixando o passado pra trás, e meter o pé. Mas o molde a partir do qual Kane foi esculpido transforma barro em gente a partir de uma mandinga, hoje cada vez mais esquecida, que prega: "Um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer". Kane fica não porque precisa, mas porque tem um dever, um fardo. O mesmo se dá com Statham nesta pérola de Ritchie. Aliás, é sempre isso o que ele faz, numa perspectiva autoral de construção de modos de atuar. Statham é um "ator autor". Sua autoralidade sempre encontra ressonância na versão brasileira de seus filmes graças ao desempenho de seu dublador habitual, Armando Tiraboschi.

"Infiltrado" está na grade da Amazon Prime  

Centrado numa cruzada de vingança no universo do transporte de valores milionários pelas estradas, "Infiltrado" revive (e renova) a bem-sucedida parceria entre Statham e Ritchie, cuja carreira foi vitaminada após a versão live action de "Aladdin", em 2019. Os dois travaram amizade e parceria em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e "Snatch - Porcos e Diamantes" (2001), repetindo a sinergia em "Revólver" (2005). Ritchie é uma grife, mesmo dividindo opiniões em seu estilo quase epilético, de cortes velozes, que rendeu fortuna ao cinemão (com o já citado Sherlock com Robert Downey Jr.) e emplacou thrillers estilosos, como "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) e (o excepcional) "Magnatas do Crime" (2019). Mas quando volta às telas com Statham, Ritchie volta calçado numa outra grife. Na ponta do lápis, de 2002, quando estreou a trilogia "Carga Explosiva", até 2019, quando foi visto em "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw", o rol de filmes estrelados por Jason faturaram cerca de US$ 1,6 bilhão. Não por acaso, Sylvester Stallone, o midas da adrenalina, escolheu o britânico de 53 anos para ser o "herdeiro" de seu legado, escalando-o para estar a seu lado na cinessérie "The Expendables", 2010-2014), cuja receita beira US$ 802 milhões.

Desenvolvido sob o selo da MGM, "Wrath of Man" é uma releitura anglo-americana do thriller francês "Assalto ao Carro Forte" (2004), de Nicolas Boukhrief. Statham assume o papel que era de Albert Dupontel, agora chamado de H. Repleto de destreza em lutas e no uso de armas de fogo, ele entra para uma equipe de guardas responsáveis por proteger sacos de dinheiro. Mas H não entrou nesse trabalho interessado em trabalho e, sim, em uma revanche pessoal, envolvendo tragédias pessoais. Mas ao se envolver no negócio de roubos milionários, ele acaba se colocando em perigo. Em geral, os filmes de Statham rompem com o bom mocismo do politicamente correto, como se vê em "Parker" (2013), um de seus melhores trabalhos, no qual ele contracena com Jennifer Lopez. Em 2018, Statham estrelou seu maior êxito comercial, até aqui: "Megatubarão", que faturou US$ 530 milhões. Ali, ao enfrentar um tubarão gigantesco, ninguém acreditava que ele poderia usar suas proficiências de luta (ainda adolescente, ele estudou kung fu, caratê e kickboxing), mas... pobre do peixão que o encarou. Ali, ele ainda empregou sua experiência como campeão da seleção britânica de mergulho. São habilidades que transformam Statham no muso da pancadaria, o que se refina agora com "Esquema de Risco - Operação Fortune".

"Esquema de Risco - Operação Fortune", é promessa de salas de exibição cheias, num duo entre Hugh Grant e Jason Statham  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA A partir desta quinta-feira, a cinefilia brasileira vai se empapuçar com os litros de adrenalina e bom humor de "Esquema de Risco - Operação Fortune", o novo longa-metragem do diretor inglês Guy Ritchie. Habitual parceiro do cineasta, Jason Statham é o protagonista, o agente Fortune. A tarefa dele é unir uma das melhores equipes de operações especiais do mundo (Aubrey Plaza, Cary Elwes e Bugzy Malone) para rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia de armas mortais que está sendo realizada por um milionário do Mal, Greg Simmonds (Hugh Grant). Mas o time de Fortune vai precisar da ajuda do astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para passar despercebido nessa missão. Uma missão que entra em cartaz cercada de expectativa graças ao êxito de bilheteria pelo mundo afora do longa anterior da dupla Ritchie + Statham: "Infiltrado" (2021). Sua receita foi de US$ 103 milhões. Com seu jeitão despojado e seu acento cockney, num falar de palavras duras, Statham parece o oposto da apolínea figura de Gary Cooper (1901-1961), sobretudo em sua maneira de diminuir a densidade populacional da bandidagem, por onde pisa, na Los Angeles de "Wrath of Man", título original de "Infiltrado". Trata-se do filme mais exuberante de Guy Ritchie desde seu "Sherlock Holmes", em 2009. Ele pode ser visto, hoje, na Amazon Prime. Apesar de muitas singularidades é impossível não se estabelecer um paralelo entre Jason e Cooper neste longa-metragem sobre justiçamentos, que faturou US$ 56 milhões em apenas duas semanas de circuito. Contada com idas e vindas no tempo a partir de uma montagem sinuosa (de James Herbert), a saga de um sujeito de índole torta para vingar a morte do próprio filho, revelando, pouco a pouco, ser mais do que apenas um ás no tiro guarda semelhanças com o filme que deu a Cooper o Oscar de melhor ator, em 1953: "Matar ou Morrer" ("High Noon").

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Embora tenha as mesmas manhas acerca da representação do submundo de todos as boas longas de Ritchie, "Infiltrado" é menos um thriller noir e mais um filme de ação clássico. E, nos cinemas, a ação é filha cosmopolita do western. Jamais haveria haveria Rambo sem Ethan Edwards, o maior caubói de John Wayne, visto em "Rastros de Ódio" (1956). E a ação, tal qual o bangue-bangue, foi tornada proscrita pelos fariseus das fake news. E já é assim faz tempo... Quando entrou na puberdade das artes modernas, após a II Guerra, o Cinema sacrificou o faroeste, tratando o filão como um sarcófago das narrativas épicas, incapaz de suportar o peso da psicologia que os anos de 1950 (em diante) passaram a impor aos storytellers, como um veio de espichar a durabilidade e a essencialidade dos personagens. Vem sendo assim também com os action films, que parecem viver de franquias como "Fast & Furious" e "The Expendables". Para dar adeus ao gênero, que experimentou sobrevidas, sempre trágicas ("Os Imperdoáveis"), niilistas ("Os Oito Odiados") ou sazonalmente ambientalistas ("Dança Com Lobos" ou "First Cow"), Hollywood esculpiu "Matar ou Morrer", escalando como signo de bondade um xerife: Will Kane. Cooper o encarna como um herói outrora intrépido e, hoje, cansado pela idade, ciente de já ter dado à sua cidade o melhor de si. Mas um bandido do passado vai voltar, no trem das 12 horas, para se vingar dele. Seria fácil, fácil pra ele, fugir dali, deixando o passado pra trás, e meter o pé. Mas o molde a partir do qual Kane foi esculpido transforma barro em gente a partir de uma mandinga, hoje cada vez mais esquecida, que prega: "Um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer". Kane fica não porque precisa, mas porque tem um dever, um fardo. O mesmo se dá com Statham nesta pérola de Ritchie. Aliás, é sempre isso o que ele faz, numa perspectiva autoral de construção de modos de atuar. Statham é um "ator autor". Sua autoralidade sempre encontra ressonância na versão brasileira de seus filmes graças ao desempenho de seu dublador habitual, Armando Tiraboschi.

"Infiltrado" está na grade da Amazon Prime  

Centrado numa cruzada de vingança no universo do transporte de valores milionários pelas estradas, "Infiltrado" revive (e renova) a bem-sucedida parceria entre Statham e Ritchie, cuja carreira foi vitaminada após a versão live action de "Aladdin", em 2019. Os dois travaram amizade e parceria em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e "Snatch - Porcos e Diamantes" (2001), repetindo a sinergia em "Revólver" (2005). Ritchie é uma grife, mesmo dividindo opiniões em seu estilo quase epilético, de cortes velozes, que rendeu fortuna ao cinemão (com o já citado Sherlock com Robert Downey Jr.) e emplacou thrillers estilosos, como "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) e (o excepcional) "Magnatas do Crime" (2019). Mas quando volta às telas com Statham, Ritchie volta calçado numa outra grife. Na ponta do lápis, de 2002, quando estreou a trilogia "Carga Explosiva", até 2019, quando foi visto em "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw", o rol de filmes estrelados por Jason faturaram cerca de US$ 1,6 bilhão. Não por acaso, Sylvester Stallone, o midas da adrenalina, escolheu o britânico de 53 anos para ser o "herdeiro" de seu legado, escalando-o para estar a seu lado na cinessérie "The Expendables", 2010-2014), cuja receita beira US$ 802 milhões.

Desenvolvido sob o selo da MGM, "Wrath of Man" é uma releitura anglo-americana do thriller francês "Assalto ao Carro Forte" (2004), de Nicolas Boukhrief. Statham assume o papel que era de Albert Dupontel, agora chamado de H. Repleto de destreza em lutas e no uso de armas de fogo, ele entra para uma equipe de guardas responsáveis por proteger sacos de dinheiro. Mas H não entrou nesse trabalho interessado em trabalho e, sim, em uma revanche pessoal, envolvendo tragédias pessoais. Mas ao se envolver no negócio de roubos milionários, ele acaba se colocando em perigo. Em geral, os filmes de Statham rompem com o bom mocismo do politicamente correto, como se vê em "Parker" (2013), um de seus melhores trabalhos, no qual ele contracena com Jennifer Lopez. Em 2018, Statham estrelou seu maior êxito comercial, até aqui: "Megatubarão", que faturou US$ 530 milhões. Ali, ao enfrentar um tubarão gigantesco, ninguém acreditava que ele poderia usar suas proficiências de luta (ainda adolescente, ele estudou kung fu, caratê e kickboxing), mas... pobre do peixão que o encarou. Ali, ele ainda empregou sua experiência como campeão da seleção britânica de mergulho. São habilidades que transformam Statham no muso da pancadaria, o que se refina agora com "Esquema de Risco - Operação Fortune".

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