De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

José Karini, um ator em seu apogeu, faz da peça 'Guerras' a homilia do estarrecimento


Por Rodrigo Fonseca
José Karini tem uma atuação estontenate em "Guerras", painel de conflitos históricos - Foto: Sabrina da Paz

RODRIGO FONSECA Após um loooooongo e doloroso silêncio, que nos desterritorializa das poltronas do CCBB-RJ e nos catapulta prum lugar simbólico, milenar, onde o ponteiro dos relógios se transforma numa rosa dos ventos da opressão, José Karini professa uma homilia bárbara para abrir os trabalhos cênicos - o seu e o de seu personagem - em "Guerras". Usa um colete de soldado, mas não porta armas, apenas um cantil. Ouvem-se tiros apenas quando ele gargareja ácido, numa fala que se assemelha a um dos "Cantos", de Ezra Pound. Em seus "Cantares", o poeta de Idaho resfolega: "Sem agasalho ou choro,/ Empilhe minhas armas numa tumba/ À beira-mar com esta gravação:/ Um homem sem fortuna e com um nome a vir". O resfolego do exército de um homem só vivido por Karini navega por águas similares. Águas manchadas com o vermute que sai das veias de inimigos acumulados ao longo de uma História de brutalidades, na qual o ódio se deu protagonismo múltiplas e cansativas vezes. É pelo cansaço que corre a toada do monólogo dirigido de formas implosiva por Renato Carrera, numa dramaturgia esculpida por Sidnei Cruz, em sintonia com os percalços mais bestiais do Brasil desde o Golpe de 2016. Gotejando a dose certa de luz sobre os rosto de um ator em estado de graça, a iluminação de Leandro Barreto dá a Karini a chance de agigantar um palavreado que nos faz ruminar tudo por que passamos nos últimos sete anos. São citados os crimes que vieram dos sumerianos; chegaram aos gregos; foram importados pelos romanos; passaram por empalamento nas tribos bárbaras; acabaram crucificados pela Igreja; navegaram o mundo nas caravelas; clamaram (falsos que são) por Liberdade, Igualdade e Fraternidade; chafurdaram em trincheiras; gaseificaram câmeras de morte; e se digitalizaram. O périplo é longo. Mas Karini não cansa e se liquefaz por um cenário com direçaão de arte de Daniel de Jesus, que cuidou também dos figurinos e da programação visual, num esforço pluralista. O texto, por vezes, em seu espelhamento entre o Hoje e o Outrora, tem umas faltas de ar, mas é inteligente o suficiente pra levantar e seguir no ringue. O que é dito se combina com uma coreografia digna das lutas de Bruce Lee, num trabalho encantatório de corpo estruturado por Simone Nobre. Sob a discreta (porém, acertada) trilha sonora de Renato Carrera e Jean Marcel Gatti, Karini se estende ao máximo num kung fu de si mesmo, imolando-se num compilado de falas de mais de 30 personalidades mundiais (Gandhi, Chaplin, Churchill) em referência aos conflitos da vida humana. É um desempenho que apenas um ourives da atuação - como José K. é - consegue executar sem exageros, no timbre certo de seu físico e do vazio nosso de todo dia. Lembra - e muito - um filmaço que revelou Luc Besson ao mundo, há 40 anos, "Le Dernier Combat" (1983), premiado em festivais em Sitges, Arvoriaz, Porto e Taormina. É a saga (silenciosa, sem fala alguma) de um combatente que entende a nulidade dos discursos bélicos ao se perceber sozinho, sem sentido, entre poucos. É esse o entendimento que Karini nos passa, com toda a inteligência de seus 30 anos de estrada. Em cartaz no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil carioca, a temporada de "Guerras" segue até 30 de abril, de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h.

José Karini tem uma atuação estontenate em "Guerras", painel de conflitos históricos - Foto: Sabrina da Paz

RODRIGO FONSECA Após um loooooongo e doloroso silêncio, que nos desterritorializa das poltronas do CCBB-RJ e nos catapulta prum lugar simbólico, milenar, onde o ponteiro dos relógios se transforma numa rosa dos ventos da opressão, José Karini professa uma homilia bárbara para abrir os trabalhos cênicos - o seu e o de seu personagem - em "Guerras". Usa um colete de soldado, mas não porta armas, apenas um cantil. Ouvem-se tiros apenas quando ele gargareja ácido, numa fala que se assemelha a um dos "Cantos", de Ezra Pound. Em seus "Cantares", o poeta de Idaho resfolega: "Sem agasalho ou choro,/ Empilhe minhas armas numa tumba/ À beira-mar com esta gravação:/ Um homem sem fortuna e com um nome a vir". O resfolego do exército de um homem só vivido por Karini navega por águas similares. Águas manchadas com o vermute que sai das veias de inimigos acumulados ao longo de uma História de brutalidades, na qual o ódio se deu protagonismo múltiplas e cansativas vezes. É pelo cansaço que corre a toada do monólogo dirigido de formas implosiva por Renato Carrera, numa dramaturgia esculpida por Sidnei Cruz, em sintonia com os percalços mais bestiais do Brasil desde o Golpe de 2016. Gotejando a dose certa de luz sobre os rosto de um ator em estado de graça, a iluminação de Leandro Barreto dá a Karini a chance de agigantar um palavreado que nos faz ruminar tudo por que passamos nos últimos sete anos. São citados os crimes que vieram dos sumerianos; chegaram aos gregos; foram importados pelos romanos; passaram por empalamento nas tribos bárbaras; acabaram crucificados pela Igreja; navegaram o mundo nas caravelas; clamaram (falsos que são) por Liberdade, Igualdade e Fraternidade; chafurdaram em trincheiras; gaseificaram câmeras de morte; e se digitalizaram. O périplo é longo. Mas Karini não cansa e se liquefaz por um cenário com direçaão de arte de Daniel de Jesus, que cuidou também dos figurinos e da programação visual, num esforço pluralista. O texto, por vezes, em seu espelhamento entre o Hoje e o Outrora, tem umas faltas de ar, mas é inteligente o suficiente pra levantar e seguir no ringue. O que é dito se combina com uma coreografia digna das lutas de Bruce Lee, num trabalho encantatório de corpo estruturado por Simone Nobre. Sob a discreta (porém, acertada) trilha sonora de Renato Carrera e Jean Marcel Gatti, Karini se estende ao máximo num kung fu de si mesmo, imolando-se num compilado de falas de mais de 30 personalidades mundiais (Gandhi, Chaplin, Churchill) em referência aos conflitos da vida humana. É um desempenho que apenas um ourives da atuação - como José K. é - consegue executar sem exageros, no timbre certo de seu físico e do vazio nosso de todo dia. Lembra - e muito - um filmaço que revelou Luc Besson ao mundo, há 40 anos, "Le Dernier Combat" (1983), premiado em festivais em Sitges, Arvoriaz, Porto e Taormina. É a saga (silenciosa, sem fala alguma) de um combatente que entende a nulidade dos discursos bélicos ao se perceber sozinho, sem sentido, entre poucos. É esse o entendimento que Karini nos passa, com toda a inteligência de seus 30 anos de estrada. Em cartaz no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil carioca, a temporada de "Guerras" segue até 30 de abril, de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h.

José Karini tem uma atuação estontenate em "Guerras", painel de conflitos históricos - Foto: Sabrina da Paz

RODRIGO FONSECA Após um loooooongo e doloroso silêncio, que nos desterritorializa das poltronas do CCBB-RJ e nos catapulta prum lugar simbólico, milenar, onde o ponteiro dos relógios se transforma numa rosa dos ventos da opressão, José Karini professa uma homilia bárbara para abrir os trabalhos cênicos - o seu e o de seu personagem - em "Guerras". Usa um colete de soldado, mas não porta armas, apenas um cantil. Ouvem-se tiros apenas quando ele gargareja ácido, numa fala que se assemelha a um dos "Cantos", de Ezra Pound. Em seus "Cantares", o poeta de Idaho resfolega: "Sem agasalho ou choro,/ Empilhe minhas armas numa tumba/ À beira-mar com esta gravação:/ Um homem sem fortuna e com um nome a vir". O resfolego do exército de um homem só vivido por Karini navega por águas similares. Águas manchadas com o vermute que sai das veias de inimigos acumulados ao longo de uma História de brutalidades, na qual o ódio se deu protagonismo múltiplas e cansativas vezes. É pelo cansaço que corre a toada do monólogo dirigido de formas implosiva por Renato Carrera, numa dramaturgia esculpida por Sidnei Cruz, em sintonia com os percalços mais bestiais do Brasil desde o Golpe de 2016. Gotejando a dose certa de luz sobre os rosto de um ator em estado de graça, a iluminação de Leandro Barreto dá a Karini a chance de agigantar um palavreado que nos faz ruminar tudo por que passamos nos últimos sete anos. São citados os crimes que vieram dos sumerianos; chegaram aos gregos; foram importados pelos romanos; passaram por empalamento nas tribos bárbaras; acabaram crucificados pela Igreja; navegaram o mundo nas caravelas; clamaram (falsos que são) por Liberdade, Igualdade e Fraternidade; chafurdaram em trincheiras; gaseificaram câmeras de morte; e se digitalizaram. O périplo é longo. Mas Karini não cansa e se liquefaz por um cenário com direçaão de arte de Daniel de Jesus, que cuidou também dos figurinos e da programação visual, num esforço pluralista. O texto, por vezes, em seu espelhamento entre o Hoje e o Outrora, tem umas faltas de ar, mas é inteligente o suficiente pra levantar e seguir no ringue. O que é dito se combina com uma coreografia digna das lutas de Bruce Lee, num trabalho encantatório de corpo estruturado por Simone Nobre. Sob a discreta (porém, acertada) trilha sonora de Renato Carrera e Jean Marcel Gatti, Karini se estende ao máximo num kung fu de si mesmo, imolando-se num compilado de falas de mais de 30 personalidades mundiais (Gandhi, Chaplin, Churchill) em referência aos conflitos da vida humana. É um desempenho que apenas um ourives da atuação - como José K. é - consegue executar sem exageros, no timbre certo de seu físico e do vazio nosso de todo dia. Lembra - e muito - um filmaço que revelou Luc Besson ao mundo, há 40 anos, "Le Dernier Combat" (1983), premiado em festivais em Sitges, Arvoriaz, Porto e Taormina. É a saga (silenciosa, sem fala alguma) de um combatente que entende a nulidade dos discursos bélicos ao se perceber sozinho, sem sentido, entre poucos. É esse o entendimento que Karini nos passa, com toda a inteligência de seus 30 anos de estrada. Em cartaz no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil carioca, a temporada de "Guerras" segue até 30 de abril, de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h.

José Karini tem uma atuação estontenate em "Guerras", painel de conflitos históricos - Foto: Sabrina da Paz

RODRIGO FONSECA Após um loooooongo e doloroso silêncio, que nos desterritorializa das poltronas do CCBB-RJ e nos catapulta prum lugar simbólico, milenar, onde o ponteiro dos relógios se transforma numa rosa dos ventos da opressão, José Karini professa uma homilia bárbara para abrir os trabalhos cênicos - o seu e o de seu personagem - em "Guerras". Usa um colete de soldado, mas não porta armas, apenas um cantil. Ouvem-se tiros apenas quando ele gargareja ácido, numa fala que se assemelha a um dos "Cantos", de Ezra Pound. Em seus "Cantares", o poeta de Idaho resfolega: "Sem agasalho ou choro,/ Empilhe minhas armas numa tumba/ À beira-mar com esta gravação:/ Um homem sem fortuna e com um nome a vir". O resfolego do exército de um homem só vivido por Karini navega por águas similares. Águas manchadas com o vermute que sai das veias de inimigos acumulados ao longo de uma História de brutalidades, na qual o ódio se deu protagonismo múltiplas e cansativas vezes. É pelo cansaço que corre a toada do monólogo dirigido de formas implosiva por Renato Carrera, numa dramaturgia esculpida por Sidnei Cruz, em sintonia com os percalços mais bestiais do Brasil desde o Golpe de 2016. Gotejando a dose certa de luz sobre os rosto de um ator em estado de graça, a iluminação de Leandro Barreto dá a Karini a chance de agigantar um palavreado que nos faz ruminar tudo por que passamos nos últimos sete anos. São citados os crimes que vieram dos sumerianos; chegaram aos gregos; foram importados pelos romanos; passaram por empalamento nas tribos bárbaras; acabaram crucificados pela Igreja; navegaram o mundo nas caravelas; clamaram (falsos que são) por Liberdade, Igualdade e Fraternidade; chafurdaram em trincheiras; gaseificaram câmeras de morte; e se digitalizaram. O périplo é longo. Mas Karini não cansa e se liquefaz por um cenário com direçaão de arte de Daniel de Jesus, que cuidou também dos figurinos e da programação visual, num esforço pluralista. O texto, por vezes, em seu espelhamento entre o Hoje e o Outrora, tem umas faltas de ar, mas é inteligente o suficiente pra levantar e seguir no ringue. O que é dito se combina com uma coreografia digna das lutas de Bruce Lee, num trabalho encantatório de corpo estruturado por Simone Nobre. Sob a discreta (porém, acertada) trilha sonora de Renato Carrera e Jean Marcel Gatti, Karini se estende ao máximo num kung fu de si mesmo, imolando-se num compilado de falas de mais de 30 personalidades mundiais (Gandhi, Chaplin, Churchill) em referência aos conflitos da vida humana. É um desempenho que apenas um ourives da atuação - como José K. é - consegue executar sem exageros, no timbre certo de seu físico e do vazio nosso de todo dia. Lembra - e muito - um filmaço que revelou Luc Besson ao mundo, há 40 anos, "Le Dernier Combat" (1983), premiado em festivais em Sitges, Arvoriaz, Porto e Taormina. É a saga (silenciosa, sem fala alguma) de um combatente que entende a nulidade dos discursos bélicos ao se perceber sozinho, sem sentido, entre poucos. É esse o entendimento que Karini nos passa, com toda a inteligência de seus 30 anos de estrada. Em cartaz no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil carioca, a temporada de "Guerras" segue até 30 de abril, de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h.

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