RODRIGO FONSECA Amado no Brasil por "A Espuma dos Dias" (2013), "Rebobine, Por Favor" (2008) e, em especial, "Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças" (2004), o francês Michel Gondry deu basta no hiato criativo que o manteve longe das telas desde 2015 (após o fracasso de "Micróbio e Gasolina") e deu o ar de sua genialidade em Cannes. A Quinzena de Cineastas tá aos suspiros desde ontem com seu belíssimo "Le Livre Des Solutions". Trata-se de uma comédia simples, calcada em diálogos bons, na qual os surtos criativos de um diretor bipolar, Marc, são o foco da trama. O papel foi confiado a um inspirado Pierre Niney, que entra em cena escudado pela melhor comediante da França hoje, Blanche Gardin. E ainda tem uma doce participação de Françoise Lebrun. Com toda a enganharia visual artesanal que marca sua obra desde os clipes com Björk, nos anos 1990, Gondry deu a Cannes 1h42 de leveza e invenção com as loucas ideias de Marc (Niney) para finalizar em sua casa um filme de autor que seus produtores estão bicotando. Suas ideias rendem sequências hilárias. Acerca da competição oficial pela Palma de Ouro de 2023, já foram exibidos onze dos 21 concorrentes, todos bem lapidados, com uma aposta recorrente em desajustes ligados ao desamparo estatal e em exercícios estilísticos sobre representação (ou seja, tramas abertas dentro de outra trama). A única decepção: o turco "About Dry Grasses", um repetitivo e desgastado de Nuri Bilge Ceylan sobre um professor de Artes às voltas com a inércia. A maior surpresa foi o drama romântico senegalês "Banel e Adama", da estreante Ramata-Toulaye Sy. Os dois melhores filmes: "Anatomie d'Une Chute", de Justine Triet (um aulão de roteiro com uma atuação demolidora de Sandra Hüller) e "Firebrand", a imersão de Karim Aïnouz na corte de Henrique VIII. A atuação de Jude Law é um primor. No dia 27 vamos saber quem ganha.
COM 88% OFF