RODRIGO FONSECA Geral fala de "Não Olhe Para Cima", da Adam McKay, sem parar, desde os suspiros finais de 2021, atraindo holofotes para a Netflix, assim como multidões hão de falar da Amazon Prime com a chegada do novo trabalho de George Clooney como diretor, "The Tender Bar", no dia 7. É a streaminguesfera bombando, a mil. Mas há um cantinho dela, erigido com os tijolinhos da autoralidade, a MUBI, que se destacou ao longo do ano passado por veios diversos. Além de promover retrospectivas de obras essenciais à vida (como a de Wong Kar Wai e a de Pedro Almodóvar) e de criar um relicário do pretérito perfeito das telas (com a presença de "Boudu, Salvo das Águas", lançado por Jean Renoir em 1932; e "Carrossel da Esperança", dirigido por Jacques Tati em 1949), o www.mubi.com vem lançando pérolas recém-tiradas do forno pelos festivais de prestígio classe AA do planisfério cinéfilo. Em novembro, um novíssimo Leos Carax, laureado com o prêmio de direção de Cannes, o musical "Annette", entrou em sua grade aqui do Brasil. Sexta-feira é a vez de a plataforma lançar o vencedor do Prêmio da Crítica (dado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica - Fipresci): "What Do We See When We Look at the Sky?", de Aleksandre Koberidze, da Geórgia. E no fim do mês, no dia 28, chega por lá o magistral "Titane", a Palma de Ouro dada por um júri presidido por Spike Lee, em julho passado, à diretora francesa Julia Ducournau. "Não divulgamos números de audiência, mas podemos dizer que nosso recente lançamento "ANNETTE" está no topo das performances de engajamento no Brasil, junto com "SHIVA BABY". Além disso, seguindo ótimos desempenhos em 2021 estão os exclusivos "FIRST COW" e "SWEAT" da MUBI", diz Nathalia Montecristo, gerente de marketing da MUBI no Brasil. "É importante dizer que os títulos acima estão ao lado de clássicos e curtas-metragens, refletindo a premissa da MUBI de que o grande cinema é atemporal. "NIMIC" de Yorgos Lanthimos e títulos restaurados do mestre de Hong Kong Wong Kar Wai como "CHUNGKING EXPRESS" e "IN THE MOOD FOR LOVE" são exemplos de títulos de sucesso para o público brasileiro. Afinal, a MUBI é feita por pessoas que amam cinema para pessoas que amam filmes e queremos trazer títulos de todo o mundo e dar-lhes espaço e meios para chegarem a este público".
Tem filme nacional a rodo na MUBI também, como é o caso do recente resgate dos .docs e experimentos visuais do mineiro Cao Guimarães pela plataforma. Neste sábado, eles lançam por lá uma joia da ironia carioca aplaudida em Roterdã, em 2018: "Neville D'Almeida: Cronista da Beleza e do Caos", de Mario Abbade. "Com mais de 12 milhões de membros em todo o mundo, vimos um rápido crescimento em nossos assinantes globalmente nos últimos anos, especialmente desde o início de 2020. Individualmente, o Brasil é um dos mercados de crescimento mais rápidos da MUBI, com consistência nos altos níveis de engajamento da audiência", explica Nathalia ao P de Pop. "Por outro lado, a MUBI adora ter seus filmes na tela grande e tem parceria com distribuidores locais no Brasil para ter os títulos nos cinemas. Foi o caso da Vitrine Filmes para "FIRST COW" e "ANNETTE", lançado pela O2 nos cinemas nesta semana. Isso sem falar na parceria com festivais de cinema para ampliar a audiência dos títulos da MUBI nas telonas. Em 2021, fizemos parceria pela primeira vez com o Festival do Rio - um dos mais tradicionais eventos do cinema e do setor do país. Estamos muito felizes e orgulhosos de ter reunido para sua retomada da programação física cinco títulos primorosamente restaurados e exclusivos de Wong Kar Wai, quatro dos nossos próximos lançamentos ("MEMORIA", "TITANE", "COW" e "A CHIARA") e coapresentado uma exibição comemorativa de 45 anos da obra icônica do cinema nacional "DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS. Além disso, ampliamos nossa parceria com o Festival Cabíria, e a performance de títulos brasileiros como "TRANSAMAZÔNIA" e "REBU" foi muito boa. E ainda tivemos a oportunidade de ter as redes sociais MUBI como plataforma para cineastas brasileiros discutirem seus títulos durante a programação deste especial".
Em sua lista para a arrancada de 2022, Nathalia destaca a chega de novos títulos de Tati, como "Meu Tio" (1958) e "As Aventuras de M. Hulot no Tráfego Louco" (1971), e do drama cearense "Greta", de Armando Praça, que encantou a Berlinale em 2019.
p.s.: Às 2h desta segunda, a TV Globo exibe um filmaço da diretora Shainee Gabel, lançado no Festival de Veneza, em 2004, "Uma Canção De Amor Para Bobby Long", que traz uma das belas atuações de John Travolta. Herdeira da casa onde passou a infância, em Nova Orleans, a jovem Pursy (Scarlett Johansson, numa interpretação indicada ao Globo de Ouro) retorna à cidade natal após a morte da mãe para reivindicar a propriedade. Ao chegar, descobre que lá estão morando um ex-professor de literatura (Travolta, dublado magistralmente por Mário Jorge) e seu protegido Lawson (papel de Gabriel Macht), candidato a escritor, criando-se antagonismos e um impasse, pois nenhum dos três pretende se mudar dali.