De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'O Baterista' faz o teatro carioca pedir bis


Por Rodrigo Fonseca
Antônio Fragoso dá um solo de excelência em monólogo escrito por Celso Taddei, com batida pop de "Qual É A Música?"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Num dos trechos mais doídos de "Born to Be Blue" (2015), pérola cinematográfica lançada por aqui só na TV a cabo e na Amazon Prime, com o título "Chet Baker: A Lenda do Jazz", Ethan Hawke traduz no olhar e nos lábios trêmulos a decisão de seu personagem diante da escolha entre injetar heroína na veia ou assumir seu solo de sopro de cara limpa. Num diálogo com a atriz Carmen Ejogo, que vive a grande paixão do jazzista, Ethan gargareja um desabafo. Nele, o gênio que gravou "Look For The Silver Lining" associa a sensação do medo à força da criação, para justificar a incapacidade de nunca conseguir se ver e se sentir grande. É esse o preceito que rege uma joia hoje em cartaz nos palcos do Rio de Janeiro: "O Baterista". É uma peça de um humor contagiante, mas que (se) reserva momentos de sufoco. Só há duas apresentações do espetáculo restantes este ano, nesta quarta e nesta quinta, no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea. É o que sobra para se apreciar a autopsia em corpo vivo de um amor que fechou a conta do bar do benquerer sem avisar uma das partes... no caso, o personagem do título. Sua trama gira em torno das inquietudes do percussionista encarnado por um Antônio Fragoso na margem do assombro, em espantoso domínio da dramédia. Fragoso intepreta como Hawke, quase sempre: sua atuação flana pela zona fluída entre a leveza de quem vive à deriva do colapso, na modorra dos dias, até que sua memória e sua carência resolvem traí-lo, levando-o a notas dissonantes, a espasmos que estouram o público de rir. E isso sem jamais perder de vista o espírito de "aula de música" que esse conservatório de percussão em forma de monólogo cria. Nas carrapetas estão: o Rocky Balboa do roteiro, Celso Taddei, assinando a dramaturgia, aparando afiados diálogos sobre a arte de perder; Diego Molina, na direção, solfejando todo o batuque orquestrado por seu protagonista; e Alexandre Regis, numa fina assistência. Há uma história fascinante de cruzamentos entre música pop e teatro nos palcos cariocas, de 2000 pra cá. Basta lembrar a encenação de "A Vida É Cheia de Som de Fúria", feita por Felipe Hirsch a partir de Nick Hornby (em "High Fidelity"), ou o brilhante "Michael e Eu", de Marcelo Pedreira, encenado com Pedroca Monteiro e Bruno Garcia. "O Baterista" entra nesse lugar, em especial quando o personagem de Fragoso desfila seu conhecimento sobre a batida (seja no bumbo, no tambor, no atabaque ou em sua aparelhagem plural, de pratos e baquetas) como uma bússola para o processo civilizatório. Essa viagem histórica (como a ironia melancólica habitual de Taddei) começa entre os neandertais e vai até os Paralamas, no B-Rock, passando por ícones do bebop e por Ringo Starr. Aprende-se muito, de diálogo em diálogo, mas o que conta mais são as entrelinhas amorosas que Fragoso despeja, qual fragmentos de um discurso fraturado pelo rancor e pelo abandono.

 Foto: Estadão
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Monique é a nota que mais se repete - e com mais dor - entre os cacos de coração que a gente ajuda o protagonista a colar. Ela é a "Cavalgada das Valquírias" no "Apocalypse Now" de um ás da bateria que, sem mais e melhores blues pra tocar, deixa sua amargura sair em refluxo, em meio a uma masterclass de percussão que ministra na garagem da casa de seu pai. Há ruídos que fazem sua composição tropeçar em sua demasiada humanidade. Temos um vizinho mané; uma tensão crônica frente a redes sociais que o conectem ao pretérito mais que perfeito vivido com Monique; olhadelas recorrentes no celular; e a lembrança de um tecladista metido a Jerry Lee Lewis. Foi esse aspirante a Richard Clayderman quem roubou Monique. Não só ele. O baterista perdeu sua amada por culpa um tédio aparente em que imergiu, caindo na mesma armadilha exposta por Ethan Hawke ao viver Chet Baker no cinema. É do medo que um artista tira sua força. Mas medo é algo que se encara de frente: no ringue, só entram o temor, o instrumento musical, o talento e o Viver, que é juiz de tudo. Mas Chet precisou das drogas para amortecer as pancadas que levou e acabou perdido nelas. Já o baterista que Fragoso compõe magistralmente nesse "Qual É A Música?" on the rocks precisa de desculpas, sempre, para não demonstrar a Monique que, na vida, às vezes, a gente perde à vista o que é pra ser retirado da gente a prazo. No caso dele, perdeu-se o amor e a autoconfiança. Mas restou uma narrativa de desabafo devastadora, que arranca risos aos quilos, sob a iluminação dionisíaca (e precisa) de Anderson Ratto. A direção musical de Pedro Coelho e Marcio Lomiranda nos dá uma jukebox de sensações, sem desafinar. Tem sessão de "O Baterista" às 20h deste 7 de dezembro, e dia 8. Vai ver... e sorrir.

Antônio Fragoso dá um solo de excelência em monólogo escrito por Celso Taddei, com batida pop de "Qual É A Música?"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Num dos trechos mais doídos de "Born to Be Blue" (2015), pérola cinematográfica lançada por aqui só na TV a cabo e na Amazon Prime, com o título "Chet Baker: A Lenda do Jazz", Ethan Hawke traduz no olhar e nos lábios trêmulos a decisão de seu personagem diante da escolha entre injetar heroína na veia ou assumir seu solo de sopro de cara limpa. Num diálogo com a atriz Carmen Ejogo, que vive a grande paixão do jazzista, Ethan gargareja um desabafo. Nele, o gênio que gravou "Look For The Silver Lining" associa a sensação do medo à força da criação, para justificar a incapacidade de nunca conseguir se ver e se sentir grande. É esse o preceito que rege uma joia hoje em cartaz nos palcos do Rio de Janeiro: "O Baterista". É uma peça de um humor contagiante, mas que (se) reserva momentos de sufoco. Só há duas apresentações do espetáculo restantes este ano, nesta quarta e nesta quinta, no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea. É o que sobra para se apreciar a autopsia em corpo vivo de um amor que fechou a conta do bar do benquerer sem avisar uma das partes... no caso, o personagem do título. Sua trama gira em torno das inquietudes do percussionista encarnado por um Antônio Fragoso na margem do assombro, em espantoso domínio da dramédia. Fragoso intepreta como Hawke, quase sempre: sua atuação flana pela zona fluída entre a leveza de quem vive à deriva do colapso, na modorra dos dias, até que sua memória e sua carência resolvem traí-lo, levando-o a notas dissonantes, a espasmos que estouram o público de rir. E isso sem jamais perder de vista o espírito de "aula de música" que esse conservatório de percussão em forma de monólogo cria. Nas carrapetas estão: o Rocky Balboa do roteiro, Celso Taddei, assinando a dramaturgia, aparando afiados diálogos sobre a arte de perder; Diego Molina, na direção, solfejando todo o batuque orquestrado por seu protagonista; e Alexandre Regis, numa fina assistência. Há uma história fascinante de cruzamentos entre música pop e teatro nos palcos cariocas, de 2000 pra cá. Basta lembrar a encenação de "A Vida É Cheia de Som de Fúria", feita por Felipe Hirsch a partir de Nick Hornby (em "High Fidelity"), ou o brilhante "Michael e Eu", de Marcelo Pedreira, encenado com Pedroca Monteiro e Bruno Garcia. "O Baterista" entra nesse lugar, em especial quando o personagem de Fragoso desfila seu conhecimento sobre a batida (seja no bumbo, no tambor, no atabaque ou em sua aparelhagem plural, de pratos e baquetas) como uma bússola para o processo civilizatório. Essa viagem histórica (como a ironia melancólica habitual de Taddei) começa entre os neandertais e vai até os Paralamas, no B-Rock, passando por ícones do bebop e por Ringo Starr. Aprende-se muito, de diálogo em diálogo, mas o que conta mais são as entrelinhas amorosas que Fragoso despeja, qual fragmentos de um discurso fraturado pelo rancor e pelo abandono.

 Foto: Estadão

Monique é a nota que mais se repete - e com mais dor - entre os cacos de coração que a gente ajuda o protagonista a colar. Ela é a "Cavalgada das Valquírias" no "Apocalypse Now" de um ás da bateria que, sem mais e melhores blues pra tocar, deixa sua amargura sair em refluxo, em meio a uma masterclass de percussão que ministra na garagem da casa de seu pai. Há ruídos que fazem sua composição tropeçar em sua demasiada humanidade. Temos um vizinho mané; uma tensão crônica frente a redes sociais que o conectem ao pretérito mais que perfeito vivido com Monique; olhadelas recorrentes no celular; e a lembrança de um tecladista metido a Jerry Lee Lewis. Foi esse aspirante a Richard Clayderman quem roubou Monique. Não só ele. O baterista perdeu sua amada por culpa um tédio aparente em que imergiu, caindo na mesma armadilha exposta por Ethan Hawke ao viver Chet Baker no cinema. É do medo que um artista tira sua força. Mas medo é algo que se encara de frente: no ringue, só entram o temor, o instrumento musical, o talento e o Viver, que é juiz de tudo. Mas Chet precisou das drogas para amortecer as pancadas que levou e acabou perdido nelas. Já o baterista que Fragoso compõe magistralmente nesse "Qual É A Música?" on the rocks precisa de desculpas, sempre, para não demonstrar a Monique que, na vida, às vezes, a gente perde à vista o que é pra ser retirado da gente a prazo. No caso dele, perdeu-se o amor e a autoconfiança. Mas restou uma narrativa de desabafo devastadora, que arranca risos aos quilos, sob a iluminação dionisíaca (e precisa) de Anderson Ratto. A direção musical de Pedro Coelho e Marcio Lomiranda nos dá uma jukebox de sensações, sem desafinar. Tem sessão de "O Baterista" às 20h deste 7 de dezembro, e dia 8. Vai ver... e sorrir.

Antônio Fragoso dá um solo de excelência em monólogo escrito por Celso Taddei, com batida pop de "Qual É A Música?"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Num dos trechos mais doídos de "Born to Be Blue" (2015), pérola cinematográfica lançada por aqui só na TV a cabo e na Amazon Prime, com o título "Chet Baker: A Lenda do Jazz", Ethan Hawke traduz no olhar e nos lábios trêmulos a decisão de seu personagem diante da escolha entre injetar heroína na veia ou assumir seu solo de sopro de cara limpa. Num diálogo com a atriz Carmen Ejogo, que vive a grande paixão do jazzista, Ethan gargareja um desabafo. Nele, o gênio que gravou "Look For The Silver Lining" associa a sensação do medo à força da criação, para justificar a incapacidade de nunca conseguir se ver e se sentir grande. É esse o preceito que rege uma joia hoje em cartaz nos palcos do Rio de Janeiro: "O Baterista". É uma peça de um humor contagiante, mas que (se) reserva momentos de sufoco. Só há duas apresentações do espetáculo restantes este ano, nesta quarta e nesta quinta, no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea. É o que sobra para se apreciar a autopsia em corpo vivo de um amor que fechou a conta do bar do benquerer sem avisar uma das partes... no caso, o personagem do título. Sua trama gira em torno das inquietudes do percussionista encarnado por um Antônio Fragoso na margem do assombro, em espantoso domínio da dramédia. Fragoso intepreta como Hawke, quase sempre: sua atuação flana pela zona fluída entre a leveza de quem vive à deriva do colapso, na modorra dos dias, até que sua memória e sua carência resolvem traí-lo, levando-o a notas dissonantes, a espasmos que estouram o público de rir. E isso sem jamais perder de vista o espírito de "aula de música" que esse conservatório de percussão em forma de monólogo cria. Nas carrapetas estão: o Rocky Balboa do roteiro, Celso Taddei, assinando a dramaturgia, aparando afiados diálogos sobre a arte de perder; Diego Molina, na direção, solfejando todo o batuque orquestrado por seu protagonista; e Alexandre Regis, numa fina assistência. Há uma história fascinante de cruzamentos entre música pop e teatro nos palcos cariocas, de 2000 pra cá. Basta lembrar a encenação de "A Vida É Cheia de Som de Fúria", feita por Felipe Hirsch a partir de Nick Hornby (em "High Fidelity"), ou o brilhante "Michael e Eu", de Marcelo Pedreira, encenado com Pedroca Monteiro e Bruno Garcia. "O Baterista" entra nesse lugar, em especial quando o personagem de Fragoso desfila seu conhecimento sobre a batida (seja no bumbo, no tambor, no atabaque ou em sua aparelhagem plural, de pratos e baquetas) como uma bússola para o processo civilizatório. Essa viagem histórica (como a ironia melancólica habitual de Taddei) começa entre os neandertais e vai até os Paralamas, no B-Rock, passando por ícones do bebop e por Ringo Starr. Aprende-se muito, de diálogo em diálogo, mas o que conta mais são as entrelinhas amorosas que Fragoso despeja, qual fragmentos de um discurso fraturado pelo rancor e pelo abandono.

 Foto: Estadão

Monique é a nota que mais se repete - e com mais dor - entre os cacos de coração que a gente ajuda o protagonista a colar. Ela é a "Cavalgada das Valquírias" no "Apocalypse Now" de um ás da bateria que, sem mais e melhores blues pra tocar, deixa sua amargura sair em refluxo, em meio a uma masterclass de percussão que ministra na garagem da casa de seu pai. Há ruídos que fazem sua composição tropeçar em sua demasiada humanidade. Temos um vizinho mané; uma tensão crônica frente a redes sociais que o conectem ao pretérito mais que perfeito vivido com Monique; olhadelas recorrentes no celular; e a lembrança de um tecladista metido a Jerry Lee Lewis. Foi esse aspirante a Richard Clayderman quem roubou Monique. Não só ele. O baterista perdeu sua amada por culpa um tédio aparente em que imergiu, caindo na mesma armadilha exposta por Ethan Hawke ao viver Chet Baker no cinema. É do medo que um artista tira sua força. Mas medo é algo que se encara de frente: no ringue, só entram o temor, o instrumento musical, o talento e o Viver, que é juiz de tudo. Mas Chet precisou das drogas para amortecer as pancadas que levou e acabou perdido nelas. Já o baterista que Fragoso compõe magistralmente nesse "Qual É A Música?" on the rocks precisa de desculpas, sempre, para não demonstrar a Monique que, na vida, às vezes, a gente perde à vista o que é pra ser retirado da gente a prazo. No caso dele, perdeu-se o amor e a autoconfiança. Mas restou uma narrativa de desabafo devastadora, que arranca risos aos quilos, sob a iluminação dionisíaca (e precisa) de Anderson Ratto. A direção musical de Pedro Coelho e Marcio Lomiranda nos dá uma jukebox de sensações, sem desafinar. Tem sessão de "O Baterista" às 20h deste 7 de dezembro, e dia 8. Vai ver... e sorrir.

Antônio Fragoso dá um solo de excelência em monólogo escrito por Celso Taddei, com batida pop de "Qual É A Música?"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Num dos trechos mais doídos de "Born to Be Blue" (2015), pérola cinematográfica lançada por aqui só na TV a cabo e na Amazon Prime, com o título "Chet Baker: A Lenda do Jazz", Ethan Hawke traduz no olhar e nos lábios trêmulos a decisão de seu personagem diante da escolha entre injetar heroína na veia ou assumir seu solo de sopro de cara limpa. Num diálogo com a atriz Carmen Ejogo, que vive a grande paixão do jazzista, Ethan gargareja um desabafo. Nele, o gênio que gravou "Look For The Silver Lining" associa a sensação do medo à força da criação, para justificar a incapacidade de nunca conseguir se ver e se sentir grande. É esse o preceito que rege uma joia hoje em cartaz nos palcos do Rio de Janeiro: "O Baterista". É uma peça de um humor contagiante, mas que (se) reserva momentos de sufoco. Só há duas apresentações do espetáculo restantes este ano, nesta quarta e nesta quinta, no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea. É o que sobra para se apreciar a autopsia em corpo vivo de um amor que fechou a conta do bar do benquerer sem avisar uma das partes... no caso, o personagem do título. Sua trama gira em torno das inquietudes do percussionista encarnado por um Antônio Fragoso na margem do assombro, em espantoso domínio da dramédia. Fragoso intepreta como Hawke, quase sempre: sua atuação flana pela zona fluída entre a leveza de quem vive à deriva do colapso, na modorra dos dias, até que sua memória e sua carência resolvem traí-lo, levando-o a notas dissonantes, a espasmos que estouram o público de rir. E isso sem jamais perder de vista o espírito de "aula de música" que esse conservatório de percussão em forma de monólogo cria. Nas carrapetas estão: o Rocky Balboa do roteiro, Celso Taddei, assinando a dramaturgia, aparando afiados diálogos sobre a arte de perder; Diego Molina, na direção, solfejando todo o batuque orquestrado por seu protagonista; e Alexandre Regis, numa fina assistência. Há uma história fascinante de cruzamentos entre música pop e teatro nos palcos cariocas, de 2000 pra cá. Basta lembrar a encenação de "A Vida É Cheia de Som de Fúria", feita por Felipe Hirsch a partir de Nick Hornby (em "High Fidelity"), ou o brilhante "Michael e Eu", de Marcelo Pedreira, encenado com Pedroca Monteiro e Bruno Garcia. "O Baterista" entra nesse lugar, em especial quando o personagem de Fragoso desfila seu conhecimento sobre a batida (seja no bumbo, no tambor, no atabaque ou em sua aparelhagem plural, de pratos e baquetas) como uma bússola para o processo civilizatório. Essa viagem histórica (como a ironia melancólica habitual de Taddei) começa entre os neandertais e vai até os Paralamas, no B-Rock, passando por ícones do bebop e por Ringo Starr. Aprende-se muito, de diálogo em diálogo, mas o que conta mais são as entrelinhas amorosas que Fragoso despeja, qual fragmentos de um discurso fraturado pelo rancor e pelo abandono.

 Foto: Estadão

Monique é a nota que mais se repete - e com mais dor - entre os cacos de coração que a gente ajuda o protagonista a colar. Ela é a "Cavalgada das Valquírias" no "Apocalypse Now" de um ás da bateria que, sem mais e melhores blues pra tocar, deixa sua amargura sair em refluxo, em meio a uma masterclass de percussão que ministra na garagem da casa de seu pai. Há ruídos que fazem sua composição tropeçar em sua demasiada humanidade. Temos um vizinho mané; uma tensão crônica frente a redes sociais que o conectem ao pretérito mais que perfeito vivido com Monique; olhadelas recorrentes no celular; e a lembrança de um tecladista metido a Jerry Lee Lewis. Foi esse aspirante a Richard Clayderman quem roubou Monique. Não só ele. O baterista perdeu sua amada por culpa um tédio aparente em que imergiu, caindo na mesma armadilha exposta por Ethan Hawke ao viver Chet Baker no cinema. É do medo que um artista tira sua força. Mas medo é algo que se encara de frente: no ringue, só entram o temor, o instrumento musical, o talento e o Viver, que é juiz de tudo. Mas Chet precisou das drogas para amortecer as pancadas que levou e acabou perdido nelas. Já o baterista que Fragoso compõe magistralmente nesse "Qual É A Música?" on the rocks precisa de desculpas, sempre, para não demonstrar a Monique que, na vida, às vezes, a gente perde à vista o que é pra ser retirado da gente a prazo. No caso dele, perdeu-se o amor e a autoconfiança. Mas restou uma narrativa de desabafo devastadora, que arranca risos aos quilos, sob a iluminação dionisíaca (e precisa) de Anderson Ratto. A direção musical de Pedro Coelho e Marcio Lomiranda nos dá uma jukebox de sensações, sem desafinar. Tem sessão de "O Baterista" às 20h deste 7 de dezembro, e dia 8. Vai ver... e sorrir.

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