De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'O Contato' renova a estética de Vicente Ferraz ao falar de lutas indígenas


Por Rodrigo Fonseca
Cena de "O Contato" - Fotos de divulgação cedidas pelo diretor Vicente Ferraz  

Rodrigo Fonseca Narrativas sobre as batalhas indígenas pela sobrevivência são temas de honra na grade de todo grande festival de documentários, como é o caso do É Tudo Verdade, que se embrenhou na realidade dos povos indígenas amazônicos como "O Contato", de Vicente Ferraz. O diretor do premiado longa-metragem "Soy Cuba: O Mamute Siberiano" (laureado em Gramado, em 2005) brilhou na ficção, há dez anos, com "Estrada 47". Mas narrativas documentais nunca saíram de seu foco. Rodando "O Contato", ele se deslocou até a tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Venezuela -, indo em direção a um vasto e pouco conhecido território chamado Cabeça de Cachorro. Lá, Ferraz acompanha as travessias feitas por personagens que transitam entre suas aldeias e a cidade indígena de São Gabriel da Cachoeira. Capta-se um universo de trocas multiétnicas, de grande diversidade linguística, de buscas por novos conhecimentos, onde se evidencia a relação dos povos originários com seus sonhos e com suas práticas místicas. Lá, o cineasta testemunha caminhos de sobrevivência desses povos que habitam uma região de extrema beleza, ameaçada pelo narco-garimpo.O que São Gabriel da Cachoeira representa como geografia, como caldeirão de cultura, como instância de preservação, como lugar de risco? VICENTE FERRAZ: São Gabriel da Cachoeira é um dos maiores municípios brasileiros. Um dos maiores do mundo! Seu território é maior do que 60 países. Lá vivem aproximadamente 45 mil habitantes, sendo que mais de 90% são indígenas. Nesse imenso território encontram-se 23 etnias que falam 19 línguas. Um dos lugares do planeta com maior diversidade cultura. Esse território se manteve relativamente preservado, principalmente pela Constituição de 1988, que demarcou as principais TIs do Brasil. Lá estão as principais unidades de preservação, e por isso foram ameaçadas pelo governo anterior. Quem não se lembra do ex-mandatário falando do Nióbio e outras riquezas?Do projeto original, quando o filme ainda se chamava "A Cabeça do Cachorro - Terra de Índio", o que permaneceu do uso de línguas como tukano, baniwa, yanomami, hupda e nheengatu? O que a mistura delas opera num processo de dramaturgia? VICENTE FERRAZ: Um filme, principalmente um documentário, encontra seus caminhos entre o projeto e a edição final. Em geral, meus filmes mudam de título durante esse processo. O anterior, uma ficção sobre brasileiros na Segunda Guerra Mundial, chamou-se "A Montanha", depois mudei para "Estrada 47". No caso de "O Contato", desde o início das filmagens, sabíamos que estávamos indo além de registrar a diversidade étnica de uma região chamada pelos militares de A Cabeça do Cachorro. Estávamos falamos sobre um imenso museu vivo, a céu aberto, que guarda a memória trágica do contato que aconteceu durantes os 500 anos de colonização. E que ainda ocorre! Impactando corações e mentes dos povos que ali habitam. Essa é a premissa do documentário que está expressa no título e nos primeiros minutos da sua narrativa. O quão elástico é o rótulo "etnográfico" num documentário como esse? VICENTE FERRAZ: Muitas vezes para decodificar um filme recorremos a grandes movimentos ou escolas cinematográfica, por isso penso que, ao reduzir, perdemos outras dimensões da obra. Veja o meu caso, que transito entre a ficção e o documentário, sem nenhum problema. Na minha cabeça, é sempre um mesmo filme que estou fazendo. Conhecemos o cinema etnográfico quase como uma escola, com grandes expoentes, principalmente Jean Rouch, entre outros. Mas quando pensei em fazer "O Contato", eu me voltei para os filmes que fiz anteriormente e quis, de alguma maneira, mergulhar profundamente nas minhas inquietações, principalmente sobre os anônimos, os deserdados no centro da História com H maiúsculo. A princípio, não fui com uma estética pré concebida. Lentamente fui descobrindo aquela realidade a partir do cotidiano daquelas pessoas. Aos poucos consegui me aproximar delas e, finalmente, elas abriram suas memórias e seus corações. Claro que eu necessitava de uma ferramenta cinematográfica para traduzir essas emoções para um documentário. Os filmes que estavam no meu consciente e inconsciente enquanto filmava eram os que remetiam a um realismo poético. E, por incrível que pareça, sempre vinha uma trilogia de ficção que marcou a minha formação, "A trilogia de Apu", principalmente "Pather Panchali" ("A Canção da Estrada"), de Satiyajit Ray. Como documentário, claro que "O Contato" é "flahertiano" principalmente pelos dois filmes do mestre que mais amo: "Lousiana Story" e "Os Homens de Aran". Mas isso não é nada novo no cinema contemporâneo. Isso encontramos em belíssimos filmes realizados nesse século, como "Quando os Camelos Choram" ou na obra de Gianfranco Rosi.

Cena de "O Contato" - Fotos de divulgação cedidas pelo diretor Vicente Ferraz  

Rodrigo Fonseca Narrativas sobre as batalhas indígenas pela sobrevivência são temas de honra na grade de todo grande festival de documentários, como é o caso do É Tudo Verdade, que se embrenhou na realidade dos povos indígenas amazônicos como "O Contato", de Vicente Ferraz. O diretor do premiado longa-metragem "Soy Cuba: O Mamute Siberiano" (laureado em Gramado, em 2005) brilhou na ficção, há dez anos, com "Estrada 47". Mas narrativas documentais nunca saíram de seu foco. Rodando "O Contato", ele se deslocou até a tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Venezuela -, indo em direção a um vasto e pouco conhecido território chamado Cabeça de Cachorro. Lá, Ferraz acompanha as travessias feitas por personagens que transitam entre suas aldeias e a cidade indígena de São Gabriel da Cachoeira. Capta-se um universo de trocas multiétnicas, de grande diversidade linguística, de buscas por novos conhecimentos, onde se evidencia a relação dos povos originários com seus sonhos e com suas práticas místicas. Lá, o cineasta testemunha caminhos de sobrevivência desses povos que habitam uma região de extrema beleza, ameaçada pelo narco-garimpo.O que São Gabriel da Cachoeira representa como geografia, como caldeirão de cultura, como instância de preservação, como lugar de risco? VICENTE FERRAZ: São Gabriel da Cachoeira é um dos maiores municípios brasileiros. Um dos maiores do mundo! Seu território é maior do que 60 países. Lá vivem aproximadamente 45 mil habitantes, sendo que mais de 90% são indígenas. Nesse imenso território encontram-se 23 etnias que falam 19 línguas. Um dos lugares do planeta com maior diversidade cultura. Esse território se manteve relativamente preservado, principalmente pela Constituição de 1988, que demarcou as principais TIs do Brasil. Lá estão as principais unidades de preservação, e por isso foram ameaçadas pelo governo anterior. Quem não se lembra do ex-mandatário falando do Nióbio e outras riquezas?Do projeto original, quando o filme ainda se chamava "A Cabeça do Cachorro - Terra de Índio", o que permaneceu do uso de línguas como tukano, baniwa, yanomami, hupda e nheengatu? O que a mistura delas opera num processo de dramaturgia? VICENTE FERRAZ: Um filme, principalmente um documentário, encontra seus caminhos entre o projeto e a edição final. Em geral, meus filmes mudam de título durante esse processo. O anterior, uma ficção sobre brasileiros na Segunda Guerra Mundial, chamou-se "A Montanha", depois mudei para "Estrada 47". No caso de "O Contato", desde o início das filmagens, sabíamos que estávamos indo além de registrar a diversidade étnica de uma região chamada pelos militares de A Cabeça do Cachorro. Estávamos falamos sobre um imenso museu vivo, a céu aberto, que guarda a memória trágica do contato que aconteceu durantes os 500 anos de colonização. E que ainda ocorre! Impactando corações e mentes dos povos que ali habitam. Essa é a premissa do documentário que está expressa no título e nos primeiros minutos da sua narrativa. O quão elástico é o rótulo "etnográfico" num documentário como esse? VICENTE FERRAZ: Muitas vezes para decodificar um filme recorremos a grandes movimentos ou escolas cinematográfica, por isso penso que, ao reduzir, perdemos outras dimensões da obra. Veja o meu caso, que transito entre a ficção e o documentário, sem nenhum problema. Na minha cabeça, é sempre um mesmo filme que estou fazendo. Conhecemos o cinema etnográfico quase como uma escola, com grandes expoentes, principalmente Jean Rouch, entre outros. Mas quando pensei em fazer "O Contato", eu me voltei para os filmes que fiz anteriormente e quis, de alguma maneira, mergulhar profundamente nas minhas inquietações, principalmente sobre os anônimos, os deserdados no centro da História com H maiúsculo. A princípio, não fui com uma estética pré concebida. Lentamente fui descobrindo aquela realidade a partir do cotidiano daquelas pessoas. Aos poucos consegui me aproximar delas e, finalmente, elas abriram suas memórias e seus corações. Claro que eu necessitava de uma ferramenta cinematográfica para traduzir essas emoções para um documentário. Os filmes que estavam no meu consciente e inconsciente enquanto filmava eram os que remetiam a um realismo poético. E, por incrível que pareça, sempre vinha uma trilogia de ficção que marcou a minha formação, "A trilogia de Apu", principalmente "Pather Panchali" ("A Canção da Estrada"), de Satiyajit Ray. Como documentário, claro que "O Contato" é "flahertiano" principalmente pelos dois filmes do mestre que mais amo: "Lousiana Story" e "Os Homens de Aran". Mas isso não é nada novo no cinema contemporâneo. Isso encontramos em belíssimos filmes realizados nesse século, como "Quando os Camelos Choram" ou na obra de Gianfranco Rosi.

Cena de "O Contato" - Fotos de divulgação cedidas pelo diretor Vicente Ferraz  

Rodrigo Fonseca Narrativas sobre as batalhas indígenas pela sobrevivência são temas de honra na grade de todo grande festival de documentários, como é o caso do É Tudo Verdade, que se embrenhou na realidade dos povos indígenas amazônicos como "O Contato", de Vicente Ferraz. O diretor do premiado longa-metragem "Soy Cuba: O Mamute Siberiano" (laureado em Gramado, em 2005) brilhou na ficção, há dez anos, com "Estrada 47". Mas narrativas documentais nunca saíram de seu foco. Rodando "O Contato", ele se deslocou até a tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Venezuela -, indo em direção a um vasto e pouco conhecido território chamado Cabeça de Cachorro. Lá, Ferraz acompanha as travessias feitas por personagens que transitam entre suas aldeias e a cidade indígena de São Gabriel da Cachoeira. Capta-se um universo de trocas multiétnicas, de grande diversidade linguística, de buscas por novos conhecimentos, onde se evidencia a relação dos povos originários com seus sonhos e com suas práticas místicas. Lá, o cineasta testemunha caminhos de sobrevivência desses povos que habitam uma região de extrema beleza, ameaçada pelo narco-garimpo.O que São Gabriel da Cachoeira representa como geografia, como caldeirão de cultura, como instância de preservação, como lugar de risco? VICENTE FERRAZ: São Gabriel da Cachoeira é um dos maiores municípios brasileiros. Um dos maiores do mundo! Seu território é maior do que 60 países. Lá vivem aproximadamente 45 mil habitantes, sendo que mais de 90% são indígenas. Nesse imenso território encontram-se 23 etnias que falam 19 línguas. Um dos lugares do planeta com maior diversidade cultura. Esse território se manteve relativamente preservado, principalmente pela Constituição de 1988, que demarcou as principais TIs do Brasil. Lá estão as principais unidades de preservação, e por isso foram ameaçadas pelo governo anterior. Quem não se lembra do ex-mandatário falando do Nióbio e outras riquezas?Do projeto original, quando o filme ainda se chamava "A Cabeça do Cachorro - Terra de Índio", o que permaneceu do uso de línguas como tukano, baniwa, yanomami, hupda e nheengatu? O que a mistura delas opera num processo de dramaturgia? VICENTE FERRAZ: Um filme, principalmente um documentário, encontra seus caminhos entre o projeto e a edição final. Em geral, meus filmes mudam de título durante esse processo. O anterior, uma ficção sobre brasileiros na Segunda Guerra Mundial, chamou-se "A Montanha", depois mudei para "Estrada 47". No caso de "O Contato", desde o início das filmagens, sabíamos que estávamos indo além de registrar a diversidade étnica de uma região chamada pelos militares de A Cabeça do Cachorro. Estávamos falamos sobre um imenso museu vivo, a céu aberto, que guarda a memória trágica do contato que aconteceu durantes os 500 anos de colonização. E que ainda ocorre! Impactando corações e mentes dos povos que ali habitam. Essa é a premissa do documentário que está expressa no título e nos primeiros minutos da sua narrativa. O quão elástico é o rótulo "etnográfico" num documentário como esse? VICENTE FERRAZ: Muitas vezes para decodificar um filme recorremos a grandes movimentos ou escolas cinematográfica, por isso penso que, ao reduzir, perdemos outras dimensões da obra. Veja o meu caso, que transito entre a ficção e o documentário, sem nenhum problema. Na minha cabeça, é sempre um mesmo filme que estou fazendo. Conhecemos o cinema etnográfico quase como uma escola, com grandes expoentes, principalmente Jean Rouch, entre outros. Mas quando pensei em fazer "O Contato", eu me voltei para os filmes que fiz anteriormente e quis, de alguma maneira, mergulhar profundamente nas minhas inquietações, principalmente sobre os anônimos, os deserdados no centro da História com H maiúsculo. A princípio, não fui com uma estética pré concebida. Lentamente fui descobrindo aquela realidade a partir do cotidiano daquelas pessoas. Aos poucos consegui me aproximar delas e, finalmente, elas abriram suas memórias e seus corações. Claro que eu necessitava de uma ferramenta cinematográfica para traduzir essas emoções para um documentário. Os filmes que estavam no meu consciente e inconsciente enquanto filmava eram os que remetiam a um realismo poético. E, por incrível que pareça, sempre vinha uma trilogia de ficção que marcou a minha formação, "A trilogia de Apu", principalmente "Pather Panchali" ("A Canção da Estrada"), de Satiyajit Ray. Como documentário, claro que "O Contato" é "flahertiano" principalmente pelos dois filmes do mestre que mais amo: "Lousiana Story" e "Os Homens de Aran". Mas isso não é nada novo no cinema contemporâneo. Isso encontramos em belíssimos filmes realizados nesse século, como "Quando os Camelos Choram" ou na obra de Gianfranco Rosi.

Cena de "O Contato" - Fotos de divulgação cedidas pelo diretor Vicente Ferraz  

Rodrigo Fonseca Narrativas sobre as batalhas indígenas pela sobrevivência são temas de honra na grade de todo grande festival de documentários, como é o caso do É Tudo Verdade, que se embrenhou na realidade dos povos indígenas amazônicos como "O Contato", de Vicente Ferraz. O diretor do premiado longa-metragem "Soy Cuba: O Mamute Siberiano" (laureado em Gramado, em 2005) brilhou na ficção, há dez anos, com "Estrada 47". Mas narrativas documentais nunca saíram de seu foco. Rodando "O Contato", ele se deslocou até a tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Venezuela -, indo em direção a um vasto e pouco conhecido território chamado Cabeça de Cachorro. Lá, Ferraz acompanha as travessias feitas por personagens que transitam entre suas aldeias e a cidade indígena de São Gabriel da Cachoeira. Capta-se um universo de trocas multiétnicas, de grande diversidade linguística, de buscas por novos conhecimentos, onde se evidencia a relação dos povos originários com seus sonhos e com suas práticas místicas. Lá, o cineasta testemunha caminhos de sobrevivência desses povos que habitam uma região de extrema beleza, ameaçada pelo narco-garimpo.O que São Gabriel da Cachoeira representa como geografia, como caldeirão de cultura, como instância de preservação, como lugar de risco? VICENTE FERRAZ: São Gabriel da Cachoeira é um dos maiores municípios brasileiros. Um dos maiores do mundo! Seu território é maior do que 60 países. Lá vivem aproximadamente 45 mil habitantes, sendo que mais de 90% são indígenas. Nesse imenso território encontram-se 23 etnias que falam 19 línguas. Um dos lugares do planeta com maior diversidade cultura. Esse território se manteve relativamente preservado, principalmente pela Constituição de 1988, que demarcou as principais TIs do Brasil. Lá estão as principais unidades de preservação, e por isso foram ameaçadas pelo governo anterior. Quem não se lembra do ex-mandatário falando do Nióbio e outras riquezas?Do projeto original, quando o filme ainda se chamava "A Cabeça do Cachorro - Terra de Índio", o que permaneceu do uso de línguas como tukano, baniwa, yanomami, hupda e nheengatu? O que a mistura delas opera num processo de dramaturgia? VICENTE FERRAZ: Um filme, principalmente um documentário, encontra seus caminhos entre o projeto e a edição final. Em geral, meus filmes mudam de título durante esse processo. O anterior, uma ficção sobre brasileiros na Segunda Guerra Mundial, chamou-se "A Montanha", depois mudei para "Estrada 47". No caso de "O Contato", desde o início das filmagens, sabíamos que estávamos indo além de registrar a diversidade étnica de uma região chamada pelos militares de A Cabeça do Cachorro. Estávamos falamos sobre um imenso museu vivo, a céu aberto, que guarda a memória trágica do contato que aconteceu durantes os 500 anos de colonização. E que ainda ocorre! Impactando corações e mentes dos povos que ali habitam. Essa é a premissa do documentário que está expressa no título e nos primeiros minutos da sua narrativa. O quão elástico é o rótulo "etnográfico" num documentário como esse? VICENTE FERRAZ: Muitas vezes para decodificar um filme recorremos a grandes movimentos ou escolas cinematográfica, por isso penso que, ao reduzir, perdemos outras dimensões da obra. Veja o meu caso, que transito entre a ficção e o documentário, sem nenhum problema. Na minha cabeça, é sempre um mesmo filme que estou fazendo. Conhecemos o cinema etnográfico quase como uma escola, com grandes expoentes, principalmente Jean Rouch, entre outros. Mas quando pensei em fazer "O Contato", eu me voltei para os filmes que fiz anteriormente e quis, de alguma maneira, mergulhar profundamente nas minhas inquietações, principalmente sobre os anônimos, os deserdados no centro da História com H maiúsculo. A princípio, não fui com uma estética pré concebida. Lentamente fui descobrindo aquela realidade a partir do cotidiano daquelas pessoas. Aos poucos consegui me aproximar delas e, finalmente, elas abriram suas memórias e seus corações. Claro que eu necessitava de uma ferramenta cinematográfica para traduzir essas emoções para um documentário. Os filmes que estavam no meu consciente e inconsciente enquanto filmava eram os que remetiam a um realismo poético. E, por incrível que pareça, sempre vinha uma trilogia de ficção que marcou a minha formação, "A trilogia de Apu", principalmente "Pather Panchali" ("A Canção da Estrada"), de Satiyajit Ray. Como documentário, claro que "O Contato" é "flahertiano" principalmente pelos dois filmes do mestre que mais amo: "Lousiana Story" e "Os Homens de Aran". Mas isso não é nada novo no cinema contemporâneo. Isso encontramos em belíssimos filmes realizados nesse século, como "Quando os Camelos Choram" ou na obra de Gianfranco Rosi.

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