De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'O Menu' está servido na Star+


Por Rodrigo Fonseca
Ralph Fiennes é dublado por Marco Antônio Abreu na versão brasileira de "O Menu"  

Rodrigo Fonseca Com uma bilheteria estimada em US$ 79 milhões, configurando-se como um sucesso de bilheteria, "O Menu" vai oferecer seu generoso cardápio de perversões aos clientes da Star +, a plataforma ligada à Disney que levou pra si o acervo da 20th Century Fox. Bastar clicar e curtir. É um show a atuação de Raph Fiennes. Pouco depois de ter despertado a atenção da crítica em sua participação no dionisíaco "O Bebê Santo de Mâcon", em maio de 1993, Ralph Nathaniel Twisleton-Wykeham-Fiennes fez Hollywood se assombrar com seu (ainda jovem) talento na maneira de encarnar um nazista. Ele viveu o comandante Amon Goeth em "A Lista de Schindler", há 30 anos, e fez dele uma besta furiosa. Traduzia em seu olhar vítreo todo o horror do hitlerismo. Ali, sob as bênçãos de Spielberg, ele acabou concorrendo ao Oscar (de Melhor Coadjuvante, em 1994), sempre encontrando meios de regressar a essa persona bestial que o consagrou. Mesmo nos papéis nos quais a serenidade é sua guia, como "O Jardineiro Fiel" (2005), ele injeta um quinhão de fúria em fuguras de perfil doce. Não por acaso foi ele o escolhido para ser o vilão Voldemort na versão pra telona da série de livros do bruxo Harry Potter (2011-2012). Coube a ele, ainda, ser o psicopata Francis Dolarhyde de "Dragão Vermelho" (2002), desafiando o Hannibal Lecter de Anthony Hopkins. Ainda sobrou-lhe o carma de ser Hades em "Fúria de Titãs" (2010). Todos esses personagens destilam perversidade. Lapidaram uma maneira de atuar implosiva, em que o ódio vai detonando toda a razão que resta nos tipos que ele encarna - e toda a humanidade de suas almas. É o que se vê em "O Menu" ("The Menu"), um thriller de tintas levemente cômicas, ainda que mais próximo do medo do que da gargalhada, no qual o ator inglês de 59 anos conseguiu a mais gráficas de todas as suas expressões do horror. É um desempenho brilhante, que vem transformando o longa-metragem dirigido por Mark Mylod (craque na realização de séries, como "Succession") num sucesso internacional. Sua bilheteria chegou a US$ 40 milhões num piscar de olhos. Exibido em festivais de prestígio como Toronto e Mar Del Plata, a fim de angariar prestígio pra Mylod, em sua incursão no cinema, "O Menu" é estruturado a partir de contínuas reviravoltas de roteiro - algumas bem bruscas - que nos surpreende com revelações a cada 15 minutos, de mãos dados ao espanto, com sequências de violência na medida da boa digestão. É um "filme de monstro" clássico, assumindo o chef Slowik (Fiennes) como sua criatura assustadora. Uma criatura que vai da fleuma à animalidade em segundos, num projeto pessoal de perfeição de temperos mefistofélicos. Avançando nesse tal projeto, o espectador se encontra diante de um fino tratado sobre a luta de classes em forma de "Master Chef" - cujo produtor é o diretor Adam Mckay de "Vice" (2018) e "Não Olhe Para Cima" (2021). Numa região insular, Slowik mantém uma mansão onde promove banquetes caríssimos para convidados selecionados a dedo, que pagam uma fortuna por comidas medidas a milímetros, com reduções de azeite balsâmico e especiarias das mais variadas. Entre os clientes da noite em que a narrativa se passa, encontramos um jovem entusiasta de bom garfo, Tyler (Nicholas Hout, de "Tolkien"), rico, mas submisso a ditames morais. O sujeito leva uma amante de origens pobres, Margot (a sempre afiada Anya Taylor-Joy, de "O Gambito da Rainha"), para se empapuçar de iguarias. Mas a cada prato, Slowik promove um ritual macabro, matando as pessoas que servem de suas guloseimas, ou enlouquecendo-as, munido de informações secretas dos sua clientela. Quem fala mal do seu espetáculo pré-comilança, perde um dedo, literalmente. Mas cada performance gastronômica de Slowik detona um debate marxista, no qual Margot sempre aparece como vítima, demonstrando um certo (e irritante) determinismo sociológico do cineasta ao julgar seus personagens. É como se estivéssemos numa aula sobre "O Capital", de Marx, com bacon e molho ranch. Mas o carisma monstruoso de Fiennes garante o prazer. No Brasil, o astro foi dublado por Marco Antônio Abreu.

p.s.: Nesta quinta, às 20h, Walter Lima Jr. vai exibir um de seus filmes mais raros, "Joana Angélica" (1979), no Estação NET Botafogo, em sessão seguida de debate entre o mítico cineasta o diretor e ator Kayo Caiazzo.

Ralph Fiennes é dublado por Marco Antônio Abreu na versão brasileira de "O Menu"  

Rodrigo Fonseca Com uma bilheteria estimada em US$ 79 milhões, configurando-se como um sucesso de bilheteria, "O Menu" vai oferecer seu generoso cardápio de perversões aos clientes da Star +, a plataforma ligada à Disney que levou pra si o acervo da 20th Century Fox. Bastar clicar e curtir. É um show a atuação de Raph Fiennes. Pouco depois de ter despertado a atenção da crítica em sua participação no dionisíaco "O Bebê Santo de Mâcon", em maio de 1993, Ralph Nathaniel Twisleton-Wykeham-Fiennes fez Hollywood se assombrar com seu (ainda jovem) talento na maneira de encarnar um nazista. Ele viveu o comandante Amon Goeth em "A Lista de Schindler", há 30 anos, e fez dele uma besta furiosa. Traduzia em seu olhar vítreo todo o horror do hitlerismo. Ali, sob as bênçãos de Spielberg, ele acabou concorrendo ao Oscar (de Melhor Coadjuvante, em 1994), sempre encontrando meios de regressar a essa persona bestial que o consagrou. Mesmo nos papéis nos quais a serenidade é sua guia, como "O Jardineiro Fiel" (2005), ele injeta um quinhão de fúria em fuguras de perfil doce. Não por acaso foi ele o escolhido para ser o vilão Voldemort na versão pra telona da série de livros do bruxo Harry Potter (2011-2012). Coube a ele, ainda, ser o psicopata Francis Dolarhyde de "Dragão Vermelho" (2002), desafiando o Hannibal Lecter de Anthony Hopkins. Ainda sobrou-lhe o carma de ser Hades em "Fúria de Titãs" (2010). Todos esses personagens destilam perversidade. Lapidaram uma maneira de atuar implosiva, em que o ódio vai detonando toda a razão que resta nos tipos que ele encarna - e toda a humanidade de suas almas. É o que se vê em "O Menu" ("The Menu"), um thriller de tintas levemente cômicas, ainda que mais próximo do medo do que da gargalhada, no qual o ator inglês de 59 anos conseguiu a mais gráficas de todas as suas expressões do horror. É um desempenho brilhante, que vem transformando o longa-metragem dirigido por Mark Mylod (craque na realização de séries, como "Succession") num sucesso internacional. Sua bilheteria chegou a US$ 40 milhões num piscar de olhos. Exibido em festivais de prestígio como Toronto e Mar Del Plata, a fim de angariar prestígio pra Mylod, em sua incursão no cinema, "O Menu" é estruturado a partir de contínuas reviravoltas de roteiro - algumas bem bruscas - que nos surpreende com revelações a cada 15 minutos, de mãos dados ao espanto, com sequências de violência na medida da boa digestão. É um "filme de monstro" clássico, assumindo o chef Slowik (Fiennes) como sua criatura assustadora. Uma criatura que vai da fleuma à animalidade em segundos, num projeto pessoal de perfeição de temperos mefistofélicos. Avançando nesse tal projeto, o espectador se encontra diante de um fino tratado sobre a luta de classes em forma de "Master Chef" - cujo produtor é o diretor Adam Mckay de "Vice" (2018) e "Não Olhe Para Cima" (2021). Numa região insular, Slowik mantém uma mansão onde promove banquetes caríssimos para convidados selecionados a dedo, que pagam uma fortuna por comidas medidas a milímetros, com reduções de azeite balsâmico e especiarias das mais variadas. Entre os clientes da noite em que a narrativa se passa, encontramos um jovem entusiasta de bom garfo, Tyler (Nicholas Hout, de "Tolkien"), rico, mas submisso a ditames morais. O sujeito leva uma amante de origens pobres, Margot (a sempre afiada Anya Taylor-Joy, de "O Gambito da Rainha"), para se empapuçar de iguarias. Mas a cada prato, Slowik promove um ritual macabro, matando as pessoas que servem de suas guloseimas, ou enlouquecendo-as, munido de informações secretas dos sua clientela. Quem fala mal do seu espetáculo pré-comilança, perde um dedo, literalmente. Mas cada performance gastronômica de Slowik detona um debate marxista, no qual Margot sempre aparece como vítima, demonstrando um certo (e irritante) determinismo sociológico do cineasta ao julgar seus personagens. É como se estivéssemos numa aula sobre "O Capital", de Marx, com bacon e molho ranch. Mas o carisma monstruoso de Fiennes garante o prazer. No Brasil, o astro foi dublado por Marco Antônio Abreu.

p.s.: Nesta quinta, às 20h, Walter Lima Jr. vai exibir um de seus filmes mais raros, "Joana Angélica" (1979), no Estação NET Botafogo, em sessão seguida de debate entre o mítico cineasta o diretor e ator Kayo Caiazzo.

Ralph Fiennes é dublado por Marco Antônio Abreu na versão brasileira de "O Menu"  

Rodrigo Fonseca Com uma bilheteria estimada em US$ 79 milhões, configurando-se como um sucesso de bilheteria, "O Menu" vai oferecer seu generoso cardápio de perversões aos clientes da Star +, a plataforma ligada à Disney que levou pra si o acervo da 20th Century Fox. Bastar clicar e curtir. É um show a atuação de Raph Fiennes. Pouco depois de ter despertado a atenção da crítica em sua participação no dionisíaco "O Bebê Santo de Mâcon", em maio de 1993, Ralph Nathaniel Twisleton-Wykeham-Fiennes fez Hollywood se assombrar com seu (ainda jovem) talento na maneira de encarnar um nazista. Ele viveu o comandante Amon Goeth em "A Lista de Schindler", há 30 anos, e fez dele uma besta furiosa. Traduzia em seu olhar vítreo todo o horror do hitlerismo. Ali, sob as bênçãos de Spielberg, ele acabou concorrendo ao Oscar (de Melhor Coadjuvante, em 1994), sempre encontrando meios de regressar a essa persona bestial que o consagrou. Mesmo nos papéis nos quais a serenidade é sua guia, como "O Jardineiro Fiel" (2005), ele injeta um quinhão de fúria em fuguras de perfil doce. Não por acaso foi ele o escolhido para ser o vilão Voldemort na versão pra telona da série de livros do bruxo Harry Potter (2011-2012). Coube a ele, ainda, ser o psicopata Francis Dolarhyde de "Dragão Vermelho" (2002), desafiando o Hannibal Lecter de Anthony Hopkins. Ainda sobrou-lhe o carma de ser Hades em "Fúria de Titãs" (2010). Todos esses personagens destilam perversidade. Lapidaram uma maneira de atuar implosiva, em que o ódio vai detonando toda a razão que resta nos tipos que ele encarna - e toda a humanidade de suas almas. É o que se vê em "O Menu" ("The Menu"), um thriller de tintas levemente cômicas, ainda que mais próximo do medo do que da gargalhada, no qual o ator inglês de 59 anos conseguiu a mais gráficas de todas as suas expressões do horror. É um desempenho brilhante, que vem transformando o longa-metragem dirigido por Mark Mylod (craque na realização de séries, como "Succession") num sucesso internacional. Sua bilheteria chegou a US$ 40 milhões num piscar de olhos. Exibido em festivais de prestígio como Toronto e Mar Del Plata, a fim de angariar prestígio pra Mylod, em sua incursão no cinema, "O Menu" é estruturado a partir de contínuas reviravoltas de roteiro - algumas bem bruscas - que nos surpreende com revelações a cada 15 minutos, de mãos dados ao espanto, com sequências de violência na medida da boa digestão. É um "filme de monstro" clássico, assumindo o chef Slowik (Fiennes) como sua criatura assustadora. Uma criatura que vai da fleuma à animalidade em segundos, num projeto pessoal de perfeição de temperos mefistofélicos. Avançando nesse tal projeto, o espectador se encontra diante de um fino tratado sobre a luta de classes em forma de "Master Chef" - cujo produtor é o diretor Adam Mckay de "Vice" (2018) e "Não Olhe Para Cima" (2021). Numa região insular, Slowik mantém uma mansão onde promove banquetes caríssimos para convidados selecionados a dedo, que pagam uma fortuna por comidas medidas a milímetros, com reduções de azeite balsâmico e especiarias das mais variadas. Entre os clientes da noite em que a narrativa se passa, encontramos um jovem entusiasta de bom garfo, Tyler (Nicholas Hout, de "Tolkien"), rico, mas submisso a ditames morais. O sujeito leva uma amante de origens pobres, Margot (a sempre afiada Anya Taylor-Joy, de "O Gambito da Rainha"), para se empapuçar de iguarias. Mas a cada prato, Slowik promove um ritual macabro, matando as pessoas que servem de suas guloseimas, ou enlouquecendo-as, munido de informações secretas dos sua clientela. Quem fala mal do seu espetáculo pré-comilança, perde um dedo, literalmente. Mas cada performance gastronômica de Slowik detona um debate marxista, no qual Margot sempre aparece como vítima, demonstrando um certo (e irritante) determinismo sociológico do cineasta ao julgar seus personagens. É como se estivéssemos numa aula sobre "O Capital", de Marx, com bacon e molho ranch. Mas o carisma monstruoso de Fiennes garante o prazer. No Brasil, o astro foi dublado por Marco Antônio Abreu.

p.s.: Nesta quinta, às 20h, Walter Lima Jr. vai exibir um de seus filmes mais raros, "Joana Angélica" (1979), no Estação NET Botafogo, em sessão seguida de debate entre o mítico cineasta o diretor e ator Kayo Caiazzo.

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