RODRIGO FONSECA Espécie de carta de intenções sobre o futuro da animação, cunhada sob a forma de curadoria pelo maior festival do setor no mundo, o Showcase Annecy, apresentado anualmente em solo francês no Marché du Film de Cannes, reunindo uma série de projetos em desenvolvimento, vai ter um longa brasileiro este ano. O gaúcho Otto Guerra ("Wood & Stock: Sexo, Orégano & Rock'n'roll") é produtor e codiretor da uma narrativa com título irreverente, "O Filho da Puta", que tem o cineasta Gabriel Martins (de "Marte Um") em seu elenco de vozes. Otto assina a direção com Tania Anaya, Erica Maradona e Savio Leite. Na entrevista a seguir, o mítico ás do cinema animado brasileiro, na ativa há 45 anos, explica o que é "The Son Of A Bitch".
Do que esse trata essa sua volta aos longas? Tá pronta? Sai onde e quando? Annecy mesmo? Do que trata? É comédia? É desenho 2D, é computação? Qual é o teu elenco de vozes? Otto Guerra: Não tem volta. Cada longa são cinco anos de produção. Terminamos a função com o "Cidade dos Piratas", em 2019, e, em 2024, terminaremos "O Filho da Puta". O filme foi selecionado pro Ventana Sur, em Buenos Aires, e, lá, o pessoal de Annecy viu e indicou nosso filme pro Mercado de Filmes (o Marché du Film) em Cannes. "O Filho da Puta" é uma comédia dramática. Ele conta as agruras de um menino e seu cachorro Bacalhau, que saem de Veredas, pequena cidade no interior do sertão mineiro, em busca do pai. É uma espécie de road movie a pé, ou a clássica jornada do herói. O elenco é todo mineiro, encabeçado pelo protagonista, Gabriel Martins, diretor do "Marte Um", que faz o Ismael, o tal filho da puta.Como essa animação conversa com teus trabalhos mais recentes? Otto Guerra: "O Filho da Puta" é o primeiro filme bem comportado nosso. Tem até roteiro. E é de uma baiana que mora em Madrid, a Carla Guimarães, que me mandou em 2011. Considero esse o primeiro filme pós-saída da infância da nossa produtora, isso aos 45 anos. A Otto Desenhos Animados agora é uma jovem adolescente cheia de pulsão, sobretudo feminina, tanto que nos juntamos em coprodução com a Anaya de BH e a direção de arte e codireção é da minha sócia, Erica Maradona, que, além da genial estética do filme, junto a mim, Tânia Anaya e Sávio Leite, codirige o filme.
Em que pé se encontra a animação hoje no Brasil? Em seus 45 anos, como a Otto Desenhos tem reagido às intempéries do mercado? Otto Guerra: Quando vi que a direita ia dar o golpe de estado na Dilma - e isso significava um corte total na cultura -, corremos, na Otto Desenhos Animados, com vários projetos e emplacamos alguns. Saíram dois longas, um Núcleo Criativo, a série "Rocky & Hudson" e mais uns curtas. Dessa forma, nesses seis anos de seca na cultura nacional, nem sentimos, pois tivemos trabalho sempre e temos trabalho até o fim de 2024. Mas, agora, a Ancine tá voltando com tudo. Ando tranquilo e feliz pois a animação brasileira está consolidada globalmente. Estamos produzindo mais e mais animações e seguiremos.