De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Paolo Taviani revive Pirandello na Berlinale


Por Rodrigo Fonseca
O diretor Paolo Taviani em foto oficial da Berlinale, clicada por ©Gerald Bruneau: aos 90 anos, ele integra a seleção dos 18 longas-metragens indicados ao Urso de Ouro de 2022 Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Aos 90 anos, Paolo Taviani pode vencer a Berlinale outra vez, como fez uma década atrás, com "César Deve Morrer" (2012), rodado em duo com seu irmão, Vittorio (1929-2018). Dono de uma carreira invejável, construída de 1954 (após o lançamento do curta "San Miniato, luglio '44") a 2017 (data de estreia de "Uma Questão Pessoal"), sempre ao lado do mano mais velho, o nonagenário realizador trouxe à 72ª edição do Festival de Berlim - que conhecerá seus ganhadores nesta quarta-feira - uma das narrativas mais criativas e de plot mais original de todo o evento. "Leonora Addio" é o nome do novo longa-metragem do realizador de "Pai Patrão" (Palma de Ouro em 1977). E merece, no mínimo, a láurea de melhor roteiro, assinado pelo próprio cineasta. Sua escrita é finíssima. Trata-se de uma narrativa em dois hemisférios umbilicalmente ligados, ainda que a primeira metade - com cenas de arquivo e imagens de "Paisà", de Rossellini, e de "A Aventura", de Antonioni - seja deveras superior. Mas há uma beleza no longa como um todo - à força da fotografia meio em cor, meio em PB de Paolo Carnera e Simone Zampagni -, ainda que seja uma beleza triste, capaz de evocar a sensação de estarmos diante não de uma celebração da vida, mas de um testamento. Mas se trata de um testamento prospectivo, que clama pelas potências do cinema e seus deveres políticos de incendiar resistências. A excentricidade do enredo parte de uma premissa funérea. No tomo 1 do filme, vemos um périplo estatal do governo italiano, no Pós-Guerra, para remover as cinzas do dramaturgo e escritor Prêmio Nobel Luigi Pirandello (1867-1936) de um cemitério fascista em Roma e levá-las até um digno recanto na Sicília. O que se passa com sua mortalha é digno das situações inusitadas da peça "Seis Personagens à Procura de um Autor" (1921), pérola da dramaturgia pirandelliana. É gente jogando cartas sobre a urna onde está o "morto", é gente se recusando a viajar ao lado do defunto cremado... É uma confusão atrás da outra, tendo sempre um inspirado Fabrizio Ferracane no papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello. O tomo dois nasce de uma fala repetida ao longo do primeiro hemisfério sobre o contraste entre velhice e juventude, que parte de uma máxima de Luigi em "I Vecchi e I Giovani" ("Os Velhos e Os Moços", 1909) de que tudo passa. A partir dela, Paolo Taviani faz uma adaptação do conto "Leonora, Adeus!" sobre consequências de um prego na mão de um imigrante que se solta a dançar, num palco, ao ritmo de uma música pop. Essa segunda porção do longa é mais acadêmica, corriqueira, mas não lhe falta viço... nem dor. Estamos diante de um espetáculo... dos mais tocantes... sobre a Finitude, vista não da ótica das perdas e danos e, sim, do balanço do que se fez de positivo, do que se viveu de melhor. E como os Taviani viveram bem o cinema. E Paolo ainda vive. Que esplendor está sendo esse filme dele para os momentos finais da Berlinale de 2022, cujos melhores filmes (fora o de Paolo) foram "Avec Amour et Acharnement", da francesa Claire Denis; e "Drii Winter" ("A Piece of Sky"), do suíço Michael Koch.

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Em "Leonora Addio", Fabrizio Ferracane faz o papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello Foto: Estadão

p.s.: Com mais de 25 anos de atuação no ramo da gastronomia, o empresário João Diniz lança seu primeiro livro, no próximo dia 21/02, às 20h, no Balh Restaurante, em Ipanema. Em "Ordem na Casa - A força do Rio através dos setores de Gastronomia, Eventos e Turismo", o autor conta como se viu engajado na defesa da manutenção de empregos no setor que foi um dos mais impactados pela crise do novo coronavírus. Na publicação, o empresário explica o que o levou a sair às ruas para defender trabalhadores que acabaram perdendo seus postos de trabalho, assim como outras ações que tomou em prol da empregabilidade no setor, como a criação de um Instituto de Capacitação na área da gastronomia e eventos, com vagas gratuitas para desempregados.

O diretor Paolo Taviani em foto oficial da Berlinale, clicada por ©Gerald Bruneau: aos 90 anos, ele integra a seleção dos 18 longas-metragens indicados ao Urso de Ouro de 2022 Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Aos 90 anos, Paolo Taviani pode vencer a Berlinale outra vez, como fez uma década atrás, com "César Deve Morrer" (2012), rodado em duo com seu irmão, Vittorio (1929-2018). Dono de uma carreira invejável, construída de 1954 (após o lançamento do curta "San Miniato, luglio '44") a 2017 (data de estreia de "Uma Questão Pessoal"), sempre ao lado do mano mais velho, o nonagenário realizador trouxe à 72ª edição do Festival de Berlim - que conhecerá seus ganhadores nesta quarta-feira - uma das narrativas mais criativas e de plot mais original de todo o evento. "Leonora Addio" é o nome do novo longa-metragem do realizador de "Pai Patrão" (Palma de Ouro em 1977). E merece, no mínimo, a láurea de melhor roteiro, assinado pelo próprio cineasta. Sua escrita é finíssima. Trata-se de uma narrativa em dois hemisférios umbilicalmente ligados, ainda que a primeira metade - com cenas de arquivo e imagens de "Paisà", de Rossellini, e de "A Aventura", de Antonioni - seja deveras superior. Mas há uma beleza no longa como um todo - à força da fotografia meio em cor, meio em PB de Paolo Carnera e Simone Zampagni -, ainda que seja uma beleza triste, capaz de evocar a sensação de estarmos diante não de uma celebração da vida, mas de um testamento. Mas se trata de um testamento prospectivo, que clama pelas potências do cinema e seus deveres políticos de incendiar resistências. A excentricidade do enredo parte de uma premissa funérea. No tomo 1 do filme, vemos um périplo estatal do governo italiano, no Pós-Guerra, para remover as cinzas do dramaturgo e escritor Prêmio Nobel Luigi Pirandello (1867-1936) de um cemitério fascista em Roma e levá-las até um digno recanto na Sicília. O que se passa com sua mortalha é digno das situações inusitadas da peça "Seis Personagens à Procura de um Autor" (1921), pérola da dramaturgia pirandelliana. É gente jogando cartas sobre a urna onde está o "morto", é gente se recusando a viajar ao lado do defunto cremado... É uma confusão atrás da outra, tendo sempre um inspirado Fabrizio Ferracane no papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello. O tomo dois nasce de uma fala repetida ao longo do primeiro hemisfério sobre o contraste entre velhice e juventude, que parte de uma máxima de Luigi em "I Vecchi e I Giovani" ("Os Velhos e Os Moços", 1909) de que tudo passa. A partir dela, Paolo Taviani faz uma adaptação do conto "Leonora, Adeus!" sobre consequências de um prego na mão de um imigrante que se solta a dançar, num palco, ao ritmo de uma música pop. Essa segunda porção do longa é mais acadêmica, corriqueira, mas não lhe falta viço... nem dor. Estamos diante de um espetáculo... dos mais tocantes... sobre a Finitude, vista não da ótica das perdas e danos e, sim, do balanço do que se fez de positivo, do que se viveu de melhor. E como os Taviani viveram bem o cinema. E Paolo ainda vive. Que esplendor está sendo esse filme dele para os momentos finais da Berlinale de 2022, cujos melhores filmes (fora o de Paolo) foram "Avec Amour et Acharnement", da francesa Claire Denis; e "Drii Winter" ("A Piece of Sky"), do suíço Michael Koch.

Em "Leonora Addio", Fabrizio Ferracane faz o papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello Foto: Estadão

p.s.: Com mais de 25 anos de atuação no ramo da gastronomia, o empresário João Diniz lança seu primeiro livro, no próximo dia 21/02, às 20h, no Balh Restaurante, em Ipanema. Em "Ordem na Casa - A força do Rio através dos setores de Gastronomia, Eventos e Turismo", o autor conta como se viu engajado na defesa da manutenção de empregos no setor que foi um dos mais impactados pela crise do novo coronavírus. Na publicação, o empresário explica o que o levou a sair às ruas para defender trabalhadores que acabaram perdendo seus postos de trabalho, assim como outras ações que tomou em prol da empregabilidade no setor, como a criação de um Instituto de Capacitação na área da gastronomia e eventos, com vagas gratuitas para desempregados.

O diretor Paolo Taviani em foto oficial da Berlinale, clicada por ©Gerald Bruneau: aos 90 anos, ele integra a seleção dos 18 longas-metragens indicados ao Urso de Ouro de 2022 Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Aos 90 anos, Paolo Taviani pode vencer a Berlinale outra vez, como fez uma década atrás, com "César Deve Morrer" (2012), rodado em duo com seu irmão, Vittorio (1929-2018). Dono de uma carreira invejável, construída de 1954 (após o lançamento do curta "San Miniato, luglio '44") a 2017 (data de estreia de "Uma Questão Pessoal"), sempre ao lado do mano mais velho, o nonagenário realizador trouxe à 72ª edição do Festival de Berlim - que conhecerá seus ganhadores nesta quarta-feira - uma das narrativas mais criativas e de plot mais original de todo o evento. "Leonora Addio" é o nome do novo longa-metragem do realizador de "Pai Patrão" (Palma de Ouro em 1977). E merece, no mínimo, a láurea de melhor roteiro, assinado pelo próprio cineasta. Sua escrita é finíssima. Trata-se de uma narrativa em dois hemisférios umbilicalmente ligados, ainda que a primeira metade - com cenas de arquivo e imagens de "Paisà", de Rossellini, e de "A Aventura", de Antonioni - seja deveras superior. Mas há uma beleza no longa como um todo - à força da fotografia meio em cor, meio em PB de Paolo Carnera e Simone Zampagni -, ainda que seja uma beleza triste, capaz de evocar a sensação de estarmos diante não de uma celebração da vida, mas de um testamento. Mas se trata de um testamento prospectivo, que clama pelas potências do cinema e seus deveres políticos de incendiar resistências. A excentricidade do enredo parte de uma premissa funérea. No tomo 1 do filme, vemos um périplo estatal do governo italiano, no Pós-Guerra, para remover as cinzas do dramaturgo e escritor Prêmio Nobel Luigi Pirandello (1867-1936) de um cemitério fascista em Roma e levá-las até um digno recanto na Sicília. O que se passa com sua mortalha é digno das situações inusitadas da peça "Seis Personagens à Procura de um Autor" (1921), pérola da dramaturgia pirandelliana. É gente jogando cartas sobre a urna onde está o "morto", é gente se recusando a viajar ao lado do defunto cremado... É uma confusão atrás da outra, tendo sempre um inspirado Fabrizio Ferracane no papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello. O tomo dois nasce de uma fala repetida ao longo do primeiro hemisfério sobre o contraste entre velhice e juventude, que parte de uma máxima de Luigi em "I Vecchi e I Giovani" ("Os Velhos e Os Moços", 1909) de que tudo passa. A partir dela, Paolo Taviani faz uma adaptação do conto "Leonora, Adeus!" sobre consequências de um prego na mão de um imigrante que se solta a dançar, num palco, ao ritmo de uma música pop. Essa segunda porção do longa é mais acadêmica, corriqueira, mas não lhe falta viço... nem dor. Estamos diante de um espetáculo... dos mais tocantes... sobre a Finitude, vista não da ótica das perdas e danos e, sim, do balanço do que se fez de positivo, do que se viveu de melhor. E como os Taviani viveram bem o cinema. E Paolo ainda vive. Que esplendor está sendo esse filme dele para os momentos finais da Berlinale de 2022, cujos melhores filmes (fora o de Paolo) foram "Avec Amour et Acharnement", da francesa Claire Denis; e "Drii Winter" ("A Piece of Sky"), do suíço Michael Koch.

Em "Leonora Addio", Fabrizio Ferracane faz o papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello Foto: Estadão

p.s.: Com mais de 25 anos de atuação no ramo da gastronomia, o empresário João Diniz lança seu primeiro livro, no próximo dia 21/02, às 20h, no Balh Restaurante, em Ipanema. Em "Ordem na Casa - A força do Rio através dos setores de Gastronomia, Eventos e Turismo", o autor conta como se viu engajado na defesa da manutenção de empregos no setor que foi um dos mais impactados pela crise do novo coronavírus. Na publicação, o empresário explica o que o levou a sair às ruas para defender trabalhadores que acabaram perdendo seus postos de trabalho, assim como outras ações que tomou em prol da empregabilidade no setor, como a criação de um Instituto de Capacitação na área da gastronomia e eventos, com vagas gratuitas para desempregados.

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