RODRIGO FONSECA Numa temporada dominada por super-heróis e animações, em que a "Liga dos SuperPets" voa longa com uma estreia avaliada em US$ 41 milhões, e "Thor: Amor e Trovão" arranha cerca de US$ 665 milhões, um melodrama com cara de novela das seis, egresso da literatura, anda bombando nas bilheterias americanas, candidatando-se para potenciais indicações ao Oscar, em 2023: "Um Lugar Bem Longe Daqui". A adaptação para as telas de "Where The Crawdads Sing", de Delia Owens - que vendeu dois milhões de exemplares lá fora, e brilha nas livrarias do Brasil, em edição finíssima da Intrínseca - é uma gratíssima atualização das narrativas de tom folhetinesco. Um tempero de thriller jurídico equilibra sua cota de sacarose. Sua receita na venda de ingressos já está em US$ 62 milhões. Chove elogio para a direção segura de Olivia Newman (de "Minha Primeira Luta"). Vai ter até sessão dele na Piazza Grande do Festival de Locarno nesta sexta, com todos os brios e loas que o evento suíço, feito sob a curadoria do crítico Giona A. Nazzaro oferece. Na trama, uma jovem catadora de mexilhões, Kya (Daisy Edgar-Jones), criada num pântano sem pai nem mãe, é acusada de assassinato no momento em que vê sua vida avançar, ao se dedicar ao desenho de conchas. Daisy é de uma vitalidade estonteante em sua atuação, sem derrapar um segundo sequer em sua composição de personagem. David Strathairn é a única voz do elenco que se sobrepõe à dele, no papel de Tom Milton, o dedicado advogado de defesa da moça. A edição joga com a memória, o passado e o presente de maneira sinuosa, criando uma tensão de prender o espectador na poltrona e jogar a chave fora.
Outro filme que vem se destacando no circuito estrangeiro sem se apoiar em superpoderes é "The Last Bus". O lacrimoso drama britânico dirigido por Gillies MacKinnon acompanha as andanças de um mecânico idoso (Timothy Spall, esplendoroso) pelo Reino Unido adentro a fim de cumprir uma promessa, cruzando o país de ônibus. A cada parada temos uma surpresa.
p.s.: Tem "Terminale Norte", de Lucrecia Martel, na MUBI. Cinco anos depois de "Zama" (2017), a aclamada diretora argentina regressou ao circuito dos festivais de cinema, via Berlim, com um curta sobre um grupo de mulheres - todas artistas, de diferentes áreas - que se reúnem para cantar, bailar e trocar histórias sobre suas vidas, e conversar sobre reinvenções. São 37 poéticos minutos de um documentário que tem a cantora Julieta Laso guiando um cerimonial de tom memorialista cerca da sororidade.
p.s. 2: Tem "Creed II" hoje na "Tela Quente" da TV Globo, com Michael B. Jordan no papel central e Sylvester Stallone encarnando Rocky Balboa, dublado pelo bamba Luiz Feier.