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'Sideral' decola na espera pelo Oscar


Por Rodrigo Fonseca
O curta "Sideral" fez sua estreia na competição de Cannes  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há chances de o Brasil ter vez no Oscar, em concurso. Enquanto comemorava a consagração mundial de "Big Bang", com o qual venceu a competição Corti d'Autore do Festival de Locarno, na Suíça, Carlos Segundo - diretor parte paulista, parte mineiro, parte potiguar, nascido em São Paulo, em 1979 - viu seu nome entrar na disputadíssima Shorttlist da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com seu filme anterior, "Sideral". Ele está no rol dos 15 títulos que podem concorrer ao Oscar, no dia 12 de março. Arrebatador em sua montagem, "Sideral" concorreu à Palma de Ouro em 2021 e conquistou o prêmio Canal Plus no 44° Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, também na França. Uma nova peneirada entre os pré-selecionados está sendo feita nos EUA e no dia 24, terça que vem, serão revelados os cinco finalistas. O Brasil pode estar lá, graças ao refinamento singular de Carlos, que hoje é professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele rodou "Sideral" na capital do estado onde hoje leciona. A trama: em Natal, Rio Grande do Norte, o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. Um casal mora com os dois filhos perto do centro espacial. Ele é mecânico, enquanto ela é faxineira. Porém, a mulher sonha com outros horizontes. Também se olha para o universo que nos cerca em "Big Bang", no qual um técnico de fogões acredita destruir tudo aquilo em que ele penetra.

O diretor Carlos Segundo  Foto: Estadão
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O que "Sideral" mostra acerca das relações afetivas naquele Brasil repleto de indelicadezas que vivemos até o dia 1 de janeiro de 2023? Carlos Segundo: Acredito que a força de "Sideral" se encontre justamente no fato de falar de um Brasil que está para além desses últimos desastrosos e violentos seis anos. De fato, com a ascensão de um governo ultradireitista, cuja insensibilidade humana é a marca maior, acabamos por posicionar o filme nesse lugar de quase contraofensiva. Mas a misoginia e o patriarcalismo que o filme apresenta é uma marca histórica do país. E esse foi um dos motivos, por exemplo, da escolha da cor do filme, a tentativa de posicioná-lo em um não tempo.

 

Qual é a dimensão de corpo como instância política de afirmação de identidade e de representatividade, que guia BIG BANG? O que mais arrebatou Locarno no teu filme? O que mais te arrebatou em Locarno? Carlos Segundo: "Big Bang" é o segundo filme de uma trilogia do "espaço", sendo "Sideral" o primeiro. Nesse segundo filme, havia uma intenção de pensar o corpo como partícula. Nesse sentido, dentro do "universo" como tema, essa partícula tem uma possibilidade/capacidade de expansão e transformação do mundo que lhe cerca. Quando me surge essa ideia, eu decido levá-la ao extremo, e, nesse momento, vem o desejo de trabalhar com um personagem como Chico, um homem com nanismo. Há nesse movimento uma coerência com os outros filmes e personagens que costumo filmar. São personagens marginalizados (de diferentes formas), mas muito potentes. Então, "Big Bang" já nasce com essa instância política pelo simples fato desse corpo ocupar a tela de uma forma não caricata. Talvez seja isso que arrebatou Locarno e os outros festivais que o filme vem trilhando. Porque, no fundo, existe um medo da força e da ofensiva das diferenças. Quando esses corpos são apresentados com sua pulsão de vida, o resultado é quase sempre arrebatador. E o Giovanni é um atorzaço, a partícula em si.

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Como você analisa a diversidade e a representatividade entre os filmes da shortlist do Oscar de 2023? Que missão você tem pela frente? Carlos Segundo: Em um sobrevoo na shortlist, com duas ou três exceções, é muito perceptível essa presença de uma diversidade de temas e uma representatividade de corpos. O que é incrível. Isso mostra que há de fato uma preocupação dos votantes com relação ao cinema que precisa ser defendido e priorizado. Isso nos dá mais orgulho ainda, ao ver que "Sideral" se entrelaça a esse movimento.

O curta "Sideral" fez sua estreia na competição de Cannes  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há chances de o Brasil ter vez no Oscar, em concurso. Enquanto comemorava a consagração mundial de "Big Bang", com o qual venceu a competição Corti d'Autore do Festival de Locarno, na Suíça, Carlos Segundo - diretor parte paulista, parte mineiro, parte potiguar, nascido em São Paulo, em 1979 - viu seu nome entrar na disputadíssima Shorttlist da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com seu filme anterior, "Sideral". Ele está no rol dos 15 títulos que podem concorrer ao Oscar, no dia 12 de março. Arrebatador em sua montagem, "Sideral" concorreu à Palma de Ouro em 2021 e conquistou o prêmio Canal Plus no 44° Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, também na França. Uma nova peneirada entre os pré-selecionados está sendo feita nos EUA e no dia 24, terça que vem, serão revelados os cinco finalistas. O Brasil pode estar lá, graças ao refinamento singular de Carlos, que hoje é professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele rodou "Sideral" na capital do estado onde hoje leciona. A trama: em Natal, Rio Grande do Norte, o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. Um casal mora com os dois filhos perto do centro espacial. Ele é mecânico, enquanto ela é faxineira. Porém, a mulher sonha com outros horizontes. Também se olha para o universo que nos cerca em "Big Bang", no qual um técnico de fogões acredita destruir tudo aquilo em que ele penetra.

O diretor Carlos Segundo  Foto: Estadão

O que "Sideral" mostra acerca das relações afetivas naquele Brasil repleto de indelicadezas que vivemos até o dia 1 de janeiro de 2023? Carlos Segundo: Acredito que a força de "Sideral" se encontre justamente no fato de falar de um Brasil que está para além desses últimos desastrosos e violentos seis anos. De fato, com a ascensão de um governo ultradireitista, cuja insensibilidade humana é a marca maior, acabamos por posicionar o filme nesse lugar de quase contraofensiva. Mas a misoginia e o patriarcalismo que o filme apresenta é uma marca histórica do país. E esse foi um dos motivos, por exemplo, da escolha da cor do filme, a tentativa de posicioná-lo em um não tempo.

 

Qual é a dimensão de corpo como instância política de afirmação de identidade e de representatividade, que guia BIG BANG? O que mais arrebatou Locarno no teu filme? O que mais te arrebatou em Locarno? Carlos Segundo: "Big Bang" é o segundo filme de uma trilogia do "espaço", sendo "Sideral" o primeiro. Nesse segundo filme, havia uma intenção de pensar o corpo como partícula. Nesse sentido, dentro do "universo" como tema, essa partícula tem uma possibilidade/capacidade de expansão e transformação do mundo que lhe cerca. Quando me surge essa ideia, eu decido levá-la ao extremo, e, nesse momento, vem o desejo de trabalhar com um personagem como Chico, um homem com nanismo. Há nesse movimento uma coerência com os outros filmes e personagens que costumo filmar. São personagens marginalizados (de diferentes formas), mas muito potentes. Então, "Big Bang" já nasce com essa instância política pelo simples fato desse corpo ocupar a tela de uma forma não caricata. Talvez seja isso que arrebatou Locarno e os outros festivais que o filme vem trilhando. Porque, no fundo, existe um medo da força e da ofensiva das diferenças. Quando esses corpos são apresentados com sua pulsão de vida, o resultado é quase sempre arrebatador. E o Giovanni é um atorzaço, a partícula em si.

Como você analisa a diversidade e a representatividade entre os filmes da shortlist do Oscar de 2023? Que missão você tem pela frente? Carlos Segundo: Em um sobrevoo na shortlist, com duas ou três exceções, é muito perceptível essa presença de uma diversidade de temas e uma representatividade de corpos. O que é incrível. Isso mostra que há de fato uma preocupação dos votantes com relação ao cinema que precisa ser defendido e priorizado. Isso nos dá mais orgulho ainda, ao ver que "Sideral" se entrelaça a esse movimento.

O curta "Sideral" fez sua estreia na competição de Cannes  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há chances de o Brasil ter vez no Oscar, em concurso. Enquanto comemorava a consagração mundial de "Big Bang", com o qual venceu a competição Corti d'Autore do Festival de Locarno, na Suíça, Carlos Segundo - diretor parte paulista, parte mineiro, parte potiguar, nascido em São Paulo, em 1979 - viu seu nome entrar na disputadíssima Shorttlist da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com seu filme anterior, "Sideral". Ele está no rol dos 15 títulos que podem concorrer ao Oscar, no dia 12 de março. Arrebatador em sua montagem, "Sideral" concorreu à Palma de Ouro em 2021 e conquistou o prêmio Canal Plus no 44° Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, também na França. Uma nova peneirada entre os pré-selecionados está sendo feita nos EUA e no dia 24, terça que vem, serão revelados os cinco finalistas. O Brasil pode estar lá, graças ao refinamento singular de Carlos, que hoje é professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele rodou "Sideral" na capital do estado onde hoje leciona. A trama: em Natal, Rio Grande do Norte, o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. Um casal mora com os dois filhos perto do centro espacial. Ele é mecânico, enquanto ela é faxineira. Porém, a mulher sonha com outros horizontes. Também se olha para o universo que nos cerca em "Big Bang", no qual um técnico de fogões acredita destruir tudo aquilo em que ele penetra.

O diretor Carlos Segundo  Foto: Estadão

O que "Sideral" mostra acerca das relações afetivas naquele Brasil repleto de indelicadezas que vivemos até o dia 1 de janeiro de 2023? Carlos Segundo: Acredito que a força de "Sideral" se encontre justamente no fato de falar de um Brasil que está para além desses últimos desastrosos e violentos seis anos. De fato, com a ascensão de um governo ultradireitista, cuja insensibilidade humana é a marca maior, acabamos por posicionar o filme nesse lugar de quase contraofensiva. Mas a misoginia e o patriarcalismo que o filme apresenta é uma marca histórica do país. E esse foi um dos motivos, por exemplo, da escolha da cor do filme, a tentativa de posicioná-lo em um não tempo.

 

Qual é a dimensão de corpo como instância política de afirmação de identidade e de representatividade, que guia BIG BANG? O que mais arrebatou Locarno no teu filme? O que mais te arrebatou em Locarno? Carlos Segundo: "Big Bang" é o segundo filme de uma trilogia do "espaço", sendo "Sideral" o primeiro. Nesse segundo filme, havia uma intenção de pensar o corpo como partícula. Nesse sentido, dentro do "universo" como tema, essa partícula tem uma possibilidade/capacidade de expansão e transformação do mundo que lhe cerca. Quando me surge essa ideia, eu decido levá-la ao extremo, e, nesse momento, vem o desejo de trabalhar com um personagem como Chico, um homem com nanismo. Há nesse movimento uma coerência com os outros filmes e personagens que costumo filmar. São personagens marginalizados (de diferentes formas), mas muito potentes. Então, "Big Bang" já nasce com essa instância política pelo simples fato desse corpo ocupar a tela de uma forma não caricata. Talvez seja isso que arrebatou Locarno e os outros festivais que o filme vem trilhando. Porque, no fundo, existe um medo da força e da ofensiva das diferenças. Quando esses corpos são apresentados com sua pulsão de vida, o resultado é quase sempre arrebatador. E o Giovanni é um atorzaço, a partícula em si.

Como você analisa a diversidade e a representatividade entre os filmes da shortlist do Oscar de 2023? Que missão você tem pela frente? Carlos Segundo: Em um sobrevoo na shortlist, com duas ou três exceções, é muito perceptível essa presença de uma diversidade de temas e uma representatividade de corpos. O que é incrível. Isso mostra que há de fato uma preocupação dos votantes com relação ao cinema que precisa ser defendido e priorizado. Isso nos dá mais orgulho ainda, ao ver que "Sideral" se entrelaça a esse movimento.

O curta "Sideral" fez sua estreia na competição de Cannes  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há chances de o Brasil ter vez no Oscar, em concurso. Enquanto comemorava a consagração mundial de "Big Bang", com o qual venceu a competição Corti d'Autore do Festival de Locarno, na Suíça, Carlos Segundo - diretor parte paulista, parte mineiro, parte potiguar, nascido em São Paulo, em 1979 - viu seu nome entrar na disputadíssima Shorttlist da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com seu filme anterior, "Sideral". Ele está no rol dos 15 títulos que podem concorrer ao Oscar, no dia 12 de março. Arrebatador em sua montagem, "Sideral" concorreu à Palma de Ouro em 2021 e conquistou o prêmio Canal Plus no 44° Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, também na França. Uma nova peneirada entre os pré-selecionados está sendo feita nos EUA e no dia 24, terça que vem, serão revelados os cinco finalistas. O Brasil pode estar lá, graças ao refinamento singular de Carlos, que hoje é professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele rodou "Sideral" na capital do estado onde hoje leciona. A trama: em Natal, Rio Grande do Norte, o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. Um casal mora com os dois filhos perto do centro espacial. Ele é mecânico, enquanto ela é faxineira. Porém, a mulher sonha com outros horizontes. Também se olha para o universo que nos cerca em "Big Bang", no qual um técnico de fogões acredita destruir tudo aquilo em que ele penetra.

O diretor Carlos Segundo  Foto: Estadão

O que "Sideral" mostra acerca das relações afetivas naquele Brasil repleto de indelicadezas que vivemos até o dia 1 de janeiro de 2023? Carlos Segundo: Acredito que a força de "Sideral" se encontre justamente no fato de falar de um Brasil que está para além desses últimos desastrosos e violentos seis anos. De fato, com a ascensão de um governo ultradireitista, cuja insensibilidade humana é a marca maior, acabamos por posicionar o filme nesse lugar de quase contraofensiva. Mas a misoginia e o patriarcalismo que o filme apresenta é uma marca histórica do país. E esse foi um dos motivos, por exemplo, da escolha da cor do filme, a tentativa de posicioná-lo em um não tempo.

 

Qual é a dimensão de corpo como instância política de afirmação de identidade e de representatividade, que guia BIG BANG? O que mais arrebatou Locarno no teu filme? O que mais te arrebatou em Locarno? Carlos Segundo: "Big Bang" é o segundo filme de uma trilogia do "espaço", sendo "Sideral" o primeiro. Nesse segundo filme, havia uma intenção de pensar o corpo como partícula. Nesse sentido, dentro do "universo" como tema, essa partícula tem uma possibilidade/capacidade de expansão e transformação do mundo que lhe cerca. Quando me surge essa ideia, eu decido levá-la ao extremo, e, nesse momento, vem o desejo de trabalhar com um personagem como Chico, um homem com nanismo. Há nesse movimento uma coerência com os outros filmes e personagens que costumo filmar. São personagens marginalizados (de diferentes formas), mas muito potentes. Então, "Big Bang" já nasce com essa instância política pelo simples fato desse corpo ocupar a tela de uma forma não caricata. Talvez seja isso que arrebatou Locarno e os outros festivais que o filme vem trilhando. Porque, no fundo, existe um medo da força e da ofensiva das diferenças. Quando esses corpos são apresentados com sua pulsão de vida, o resultado é quase sempre arrebatador. E o Giovanni é um atorzaço, a partícula em si.

Como você analisa a diversidade e a representatividade entre os filmes da shortlist do Oscar de 2023? Que missão você tem pela frente? Carlos Segundo: Em um sobrevoo na shortlist, com duas ou três exceções, é muito perceptível essa presença de uma diversidade de temas e uma representatividade de corpos. O que é incrível. Isso mostra que há de fato uma preocupação dos votantes com relação ao cinema que precisa ser defendido e priorizado. Isso nos dá mais orgulho ainda, ao ver que "Sideral" se entrelaça a esse movimento.

O curta "Sideral" fez sua estreia na competição de Cannes  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há chances de o Brasil ter vez no Oscar, em concurso. Enquanto comemorava a consagração mundial de "Big Bang", com o qual venceu a competição Corti d'Autore do Festival de Locarno, na Suíça, Carlos Segundo - diretor parte paulista, parte mineiro, parte potiguar, nascido em São Paulo, em 1979 - viu seu nome entrar na disputadíssima Shorttlist da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com seu filme anterior, "Sideral". Ele está no rol dos 15 títulos que podem concorrer ao Oscar, no dia 12 de março. Arrebatador em sua montagem, "Sideral" concorreu à Palma de Ouro em 2021 e conquistou o prêmio Canal Plus no 44° Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, também na França. Uma nova peneirada entre os pré-selecionados está sendo feita nos EUA e no dia 24, terça que vem, serão revelados os cinco finalistas. O Brasil pode estar lá, graças ao refinamento singular de Carlos, que hoje é professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele rodou "Sideral" na capital do estado onde hoje leciona. A trama: em Natal, Rio Grande do Norte, o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. Um casal mora com os dois filhos perto do centro espacial. Ele é mecânico, enquanto ela é faxineira. Porém, a mulher sonha com outros horizontes. Também se olha para o universo que nos cerca em "Big Bang", no qual um técnico de fogões acredita destruir tudo aquilo em que ele penetra.

O diretor Carlos Segundo  Foto: Estadão

O que "Sideral" mostra acerca das relações afetivas naquele Brasil repleto de indelicadezas que vivemos até o dia 1 de janeiro de 2023? Carlos Segundo: Acredito que a força de "Sideral" se encontre justamente no fato de falar de um Brasil que está para além desses últimos desastrosos e violentos seis anos. De fato, com a ascensão de um governo ultradireitista, cuja insensibilidade humana é a marca maior, acabamos por posicionar o filme nesse lugar de quase contraofensiva. Mas a misoginia e o patriarcalismo que o filme apresenta é uma marca histórica do país. E esse foi um dos motivos, por exemplo, da escolha da cor do filme, a tentativa de posicioná-lo em um não tempo.

 

Qual é a dimensão de corpo como instância política de afirmação de identidade e de representatividade, que guia BIG BANG? O que mais arrebatou Locarno no teu filme? O que mais te arrebatou em Locarno? Carlos Segundo: "Big Bang" é o segundo filme de uma trilogia do "espaço", sendo "Sideral" o primeiro. Nesse segundo filme, havia uma intenção de pensar o corpo como partícula. Nesse sentido, dentro do "universo" como tema, essa partícula tem uma possibilidade/capacidade de expansão e transformação do mundo que lhe cerca. Quando me surge essa ideia, eu decido levá-la ao extremo, e, nesse momento, vem o desejo de trabalhar com um personagem como Chico, um homem com nanismo. Há nesse movimento uma coerência com os outros filmes e personagens que costumo filmar. São personagens marginalizados (de diferentes formas), mas muito potentes. Então, "Big Bang" já nasce com essa instância política pelo simples fato desse corpo ocupar a tela de uma forma não caricata. Talvez seja isso que arrebatou Locarno e os outros festivais que o filme vem trilhando. Porque, no fundo, existe um medo da força e da ofensiva das diferenças. Quando esses corpos são apresentados com sua pulsão de vida, o resultado é quase sempre arrebatador. E o Giovanni é um atorzaço, a partícula em si.

Como você analisa a diversidade e a representatividade entre os filmes da shortlist do Oscar de 2023? Que missão você tem pela frente? Carlos Segundo: Em um sobrevoo na shortlist, com duas ou três exceções, é muito perceptível essa presença de uma diversidade de temas e uma representatividade de corpos. O que é incrível. Isso mostra que há de fato uma preocupação dos votantes com relação ao cinema que precisa ser defendido e priorizado. Isso nos dá mais orgulho ainda, ao ver que "Sideral" se entrelaça a esse movimento.

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