De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Versão brasileira: Isaac Bardavid


Por Rodrigo Fonseca
Voz oficial de Wolverine no Brasil desde 1994, Isaac Bardavid fez História na dublagem Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Às vésperas de "Logan" ser exibido no encerramento da Berlinale 2017, eu liguei para Isaac Bardavid, que acaba de serenar, para entender o desafio de dar voz a um personagem tão icônico quanto o Wolverine. Um desafio que ele encarou a partir de 1994, quando estreou o desenho animado dos "X-Men" na TV Globo, até aqueles dias, que antecederam a estreia do último filme do herói em sua encarnação com Hugh Jackman. A resposta dele não passava por aspectos técnicos. Lorde que era, Bardavid enveredou pela dramaturgia e contou um detalhe: "Impressionou-me um momento em que aquele homem, o Wolverine, olha para uma menina diante dele, paternalmente, e diz 'então isso é que ter uma filha?' com uma dor de alma, com uma grandeza". O que as artes sentem nesta terça-feira, diante da morte de Isaac, é uma dor de alma. Foi-se um gigante. Bardavid era grande como os heróis e vilões a quem deu sua voz roufenha e toda a sabedoria de quem dedicou anos aos palcos. Suas composições não se limitavam ao encaixe do bate-boca exigido pelo sincronismo. Sua atuação era de quem refletia o que existe na medula da palavra a ser dublada. Ele pensava a essência de um texto. Com ele, a Etérnia do Esqueleto falava Português, e numa dicção perfeita.

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Bardavid foi um esgrimista da arte dobrar, assim como foram Mario Monjardim, Julio Chaves, Dario de Castro, Iara Riça, Ana Lúcia Menezes, Leonardo José, Orlando Drummond e tantas outras e tantos outros que perdemos pelo caminho entre 2020 e 2021. Com essa turma, cada um em sua geração, cada qual em seu loop, fomos alfabetizados. Desde que a TV brasileira estetizou a proficiência artística da dobragem como parte essencial de nossa fruição estética do audiovisual, a partir dos anos 1950, os dubladores alfabetizam nosso país. Foi com o genial Nilton Valério que ouvi uma mesóclise pela primeira vez, antes de figuras política tornarem chacota esse arranjo entre verbos e pronomes. Devemos a eles palavras, expressões e emoções que mudaram nossas vidas. O que é um absurdo é precisarmos de uma morte para falarmos de uma arte tão nobre. Mais absurdo ainda é essa arte estar sendo vilipendiada, dia a dia, por um crime patrimonial chamado REDUBLAGEM, em que vozes clássicas estão sendo substituídas, como fizeram com Seu Magalhães Graças em "Karate Kid" e com muitos geniais trabalhos de Mario Jorge como John Travolta. Imagine se alguém resolvesse reescrever os capítulos de "Dom Casmurro" ou apagar as gravações originais de Mario Reis e substituí-la por um hitmaker do momento. Temos a melhor dublagem do mundo. Mas precisamos ser dignos dela. Precisamos estar à altura da memória de Isaac Bardavid e sua nobreza.

Voz oficial de Wolverine no Brasil desde 1994, Isaac Bardavid fez História na dublagem Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Às vésperas de "Logan" ser exibido no encerramento da Berlinale 2017, eu liguei para Isaac Bardavid, que acaba de serenar, para entender o desafio de dar voz a um personagem tão icônico quanto o Wolverine. Um desafio que ele encarou a partir de 1994, quando estreou o desenho animado dos "X-Men" na TV Globo, até aqueles dias, que antecederam a estreia do último filme do herói em sua encarnação com Hugh Jackman. A resposta dele não passava por aspectos técnicos. Lorde que era, Bardavid enveredou pela dramaturgia e contou um detalhe: "Impressionou-me um momento em que aquele homem, o Wolverine, olha para uma menina diante dele, paternalmente, e diz 'então isso é que ter uma filha?' com uma dor de alma, com uma grandeza". O que as artes sentem nesta terça-feira, diante da morte de Isaac, é uma dor de alma. Foi-se um gigante. Bardavid era grande como os heróis e vilões a quem deu sua voz roufenha e toda a sabedoria de quem dedicou anos aos palcos. Suas composições não se limitavam ao encaixe do bate-boca exigido pelo sincronismo. Sua atuação era de quem refletia o que existe na medula da palavra a ser dublada. Ele pensava a essência de um texto. Com ele, a Etérnia do Esqueleto falava Português, e numa dicção perfeita.

Bardavid foi um esgrimista da arte dobrar, assim como foram Mario Monjardim, Julio Chaves, Dario de Castro, Iara Riça, Ana Lúcia Menezes, Leonardo José, Orlando Drummond e tantas outras e tantos outros que perdemos pelo caminho entre 2020 e 2021. Com essa turma, cada um em sua geração, cada qual em seu loop, fomos alfabetizados. Desde que a TV brasileira estetizou a proficiência artística da dobragem como parte essencial de nossa fruição estética do audiovisual, a partir dos anos 1950, os dubladores alfabetizam nosso país. Foi com o genial Nilton Valério que ouvi uma mesóclise pela primeira vez, antes de figuras política tornarem chacota esse arranjo entre verbos e pronomes. Devemos a eles palavras, expressões e emoções que mudaram nossas vidas. O que é um absurdo é precisarmos de uma morte para falarmos de uma arte tão nobre. Mais absurdo ainda é essa arte estar sendo vilipendiada, dia a dia, por um crime patrimonial chamado REDUBLAGEM, em que vozes clássicas estão sendo substituídas, como fizeram com Seu Magalhães Graças em "Karate Kid" e com muitos geniais trabalhos de Mario Jorge como John Travolta. Imagine se alguém resolvesse reescrever os capítulos de "Dom Casmurro" ou apagar as gravações originais de Mario Reis e substituí-la por um hitmaker do momento. Temos a melhor dublagem do mundo. Mas precisamos ser dignos dela. Precisamos estar à altura da memória de Isaac Bardavid e sua nobreza.

Voz oficial de Wolverine no Brasil desde 1994, Isaac Bardavid fez História na dublagem Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Às vésperas de "Logan" ser exibido no encerramento da Berlinale 2017, eu liguei para Isaac Bardavid, que acaba de serenar, para entender o desafio de dar voz a um personagem tão icônico quanto o Wolverine. Um desafio que ele encarou a partir de 1994, quando estreou o desenho animado dos "X-Men" na TV Globo, até aqueles dias, que antecederam a estreia do último filme do herói em sua encarnação com Hugh Jackman. A resposta dele não passava por aspectos técnicos. Lorde que era, Bardavid enveredou pela dramaturgia e contou um detalhe: "Impressionou-me um momento em que aquele homem, o Wolverine, olha para uma menina diante dele, paternalmente, e diz 'então isso é que ter uma filha?' com uma dor de alma, com uma grandeza". O que as artes sentem nesta terça-feira, diante da morte de Isaac, é uma dor de alma. Foi-se um gigante. Bardavid era grande como os heróis e vilões a quem deu sua voz roufenha e toda a sabedoria de quem dedicou anos aos palcos. Suas composições não se limitavam ao encaixe do bate-boca exigido pelo sincronismo. Sua atuação era de quem refletia o que existe na medula da palavra a ser dublada. Ele pensava a essência de um texto. Com ele, a Etérnia do Esqueleto falava Português, e numa dicção perfeita.

Bardavid foi um esgrimista da arte dobrar, assim como foram Mario Monjardim, Julio Chaves, Dario de Castro, Iara Riça, Ana Lúcia Menezes, Leonardo José, Orlando Drummond e tantas outras e tantos outros que perdemos pelo caminho entre 2020 e 2021. Com essa turma, cada um em sua geração, cada qual em seu loop, fomos alfabetizados. Desde que a TV brasileira estetizou a proficiência artística da dobragem como parte essencial de nossa fruição estética do audiovisual, a partir dos anos 1950, os dubladores alfabetizam nosso país. Foi com o genial Nilton Valério que ouvi uma mesóclise pela primeira vez, antes de figuras política tornarem chacota esse arranjo entre verbos e pronomes. Devemos a eles palavras, expressões e emoções que mudaram nossas vidas. O que é um absurdo é precisarmos de uma morte para falarmos de uma arte tão nobre. Mais absurdo ainda é essa arte estar sendo vilipendiada, dia a dia, por um crime patrimonial chamado REDUBLAGEM, em que vozes clássicas estão sendo substituídas, como fizeram com Seu Magalhães Graças em "Karate Kid" e com muitos geniais trabalhos de Mario Jorge como John Travolta. Imagine se alguém resolvesse reescrever os capítulos de "Dom Casmurro" ou apagar as gravações originais de Mario Reis e substituí-la por um hitmaker do momento. Temos a melhor dublagem do mundo. Mas precisamos ser dignos dela. Precisamos estar à altura da memória de Isaac Bardavid e sua nobreza.

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