Pai tenta compreender diagnóstico de autismo do filho em um relato emocionante


Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida

Por Maggie Smith

THE WASHINGTON POST - O novo livro de memórias de Matthew Zapruder, Story of a Poem, não fala apenas sobre um poema. Fala também sobre um escritor, um pai, um marido, um filho – e esta história tem uma reviravolta: o filho mais novo do autor é diagnosticado com autismo. Escrevendo sobre si mesmo na terceira pessoa, Zapruder coloca a questão que está no centro do livro: “Qual é a relação entre fazer poemas e aprender a ser pai dessa criança atípica?”

Zapruder explora o elo entre a criação dos filhos e a escrita ao embarcar em um novo projeto: um longo poema escrito com paciência e meticulosidade, um poema que pode levar o tempo necessário e quantas mudanças forem necessárias para tomar forma. Se existe uma metáfora melhor para o ato de criar filhos por meio do desafio e do mistério, desconheço.

Story of a Poem foi escritor por Matthew Zapruder Foto: The Washington Post
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“Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer”, confessa Zapruder. Escrever e criar filhos são processos de descoberta. Não sabemos quem serão nossos filhos, nem o que serão nossos poemas. Observamos, ouvimos e orientamos tanto quanto podemos. A parentalidade nos faz questionar o que pensávamos que sabíamos – sobre as pessoas, sobre nós mesmos, sobre o mundo – e o mesmo acontece com a poesia.

A franqueza de Zapruder sobre o medo, a perplexidade e a frustração que sentiu ao ouvir o diagnóstico do filho – e a luta para coordenar apoios e tratamentos – vai ressoar nas famílias que receberam notícias semelhantes. “Existe um terror singular quando a história de repente some e a pessoa é deixada numa nova vida”, escreve ele.

Muitos leitores se identificarão com a mudança sísmica que ocorreu em sua história – e no sentido de um antes e um depois. Antes do diagnóstico, a vida era uma coisa, com um conjunto de expectativas e possibilidades. Depois do diagnóstico, a vida era outra. A “fragilidade da história” é algo que vai ressoar em todos nós, principalmente com a pandemia em curso e a constante chegada de notícias de partir o coração neste país. O ato de revisar – que significa, literalmente, “ver de novo” – se aplica tanto à vida quanto ao processo de escrita.

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Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer

Matthew Zapruder

Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida. A própria escrita é a maneira como ele processa essas mudanças. É como “vê de novo”. Zapruder escreve: “Quero continuar tentando entender. O único jeito de conseguir é escrevendo”.

Mas, se a linguagem é a moeda corrente de Zapruder, seu filho se comunica de outra forma. Gostei da franqueza com que Zapruder fala sobre os desafios que enfrentou com seu filho e as tentativas e erros para preencher a lacuna entre eles – não muito diferente de traduzir poesia de um idioma a outro. Como pai de uma criança autista, o autor precisa refletir sobre suas suposições sobre inteligência e destreza verbal e expandir seu pensamento para outras formas igualmente válidas de estar no mundo.

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Os leitores ficam íntimos de uma conversa que Zapruder tem consigo mesmo sobre literatura, diferença, meia-idade, memória e condição humana, e o alcance deste livro de memórias reflete a amplitude e a profundidade dessa conversa.

Tela do pintor autista Jeremy Sicile-Kira Foto: Artsy

A prosa é intercalada com poesia. A narrativa pessoal é intercalada com discussões de poetas tão variados quanto W.S. Merwin e Rupi Kaur. A narrativa em primeira pessoa é intercalada com a “ficcionalização” em terceira pessoa da narrativa de alguém. É bastante raro eu sentir que sou uma leitora ideal para um livro, mas tudo nas memórias de Zapruder me atraiu como mãe, escritora e professora.

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Ao longo do livro, Zapruder, que tem outras coleções de poesia, entre elas Father’s Day (2019), habilmente navega entre suas multidões: pai, companheiro, advogado, escritor, professor e acadêmico. Se tenho alguma reclamação, é que senti falta da presença de seu filho mais adiante no livro, quando o equilíbrio parece se voltar mais para a poesia e se afastar da narrativa familiar.

Como poeta, adoro ler sobre poesia, então meu desejo por mais relacionamento pai-filho no final do livro não é uma crítica, mas um testemunho da bela escrita de Zapruder sobre esse relacionamento. Independentemente disso, virei ansiosa cada página até o fim, saboreando as frases, e espero que os leitores – sejam eles escritores, pais, mães ou nada disso – façam o mesmo.

A certa altura, Zapruder se dirige diretamente ao leitor: “Quero ser o mais simples e claro possível, chegar até você, mas sem deixar as coisas mais simples e claras do que realmente são, o que seria uma profunda traição”. As verdades a que este escritor chega, tanto no poema quanto na vida, não são claras, redutivas ou fáceis – mas mesmo assim o livro é reconfortante. Atrevo-me a dizer: este livro dá uma sensação paternal. É brilhante, mas franco, enraizado na experiência, sincero e sábio.

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Qual é a relação entre criar uma criança atípica e escrever poemas? O livro nos oferece respostas: amor, atenção, mistério, aceitação. “Que mundo podemos imaginar e depois construir, onde todos possamos viver?”, pergunta Zapruder. Story of a Poem é uma defesa desse mundo: inclusivo, expansivo e elástico o suficiente para conter mais do que imaginávamos.

Maggie Smith é autora de vários livros de poesia e prosa, entre eles You Could Make This Place Beautiful, publicado em abril./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Story of a Poem: A Memoir

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Matthew Zapruder

The Unnamed Press - 207 páginas - US$ 28

THE WASHINGTON POST - O novo livro de memórias de Matthew Zapruder, Story of a Poem, não fala apenas sobre um poema. Fala também sobre um escritor, um pai, um marido, um filho – e esta história tem uma reviravolta: o filho mais novo do autor é diagnosticado com autismo. Escrevendo sobre si mesmo na terceira pessoa, Zapruder coloca a questão que está no centro do livro: “Qual é a relação entre fazer poemas e aprender a ser pai dessa criança atípica?”

Zapruder explora o elo entre a criação dos filhos e a escrita ao embarcar em um novo projeto: um longo poema escrito com paciência e meticulosidade, um poema que pode levar o tempo necessário e quantas mudanças forem necessárias para tomar forma. Se existe uma metáfora melhor para o ato de criar filhos por meio do desafio e do mistério, desconheço.

Story of a Poem foi escritor por Matthew Zapruder Foto: The Washington Post

“Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer”, confessa Zapruder. Escrever e criar filhos são processos de descoberta. Não sabemos quem serão nossos filhos, nem o que serão nossos poemas. Observamos, ouvimos e orientamos tanto quanto podemos. A parentalidade nos faz questionar o que pensávamos que sabíamos – sobre as pessoas, sobre nós mesmos, sobre o mundo – e o mesmo acontece com a poesia.

A franqueza de Zapruder sobre o medo, a perplexidade e a frustração que sentiu ao ouvir o diagnóstico do filho – e a luta para coordenar apoios e tratamentos – vai ressoar nas famílias que receberam notícias semelhantes. “Existe um terror singular quando a história de repente some e a pessoa é deixada numa nova vida”, escreve ele.

Muitos leitores se identificarão com a mudança sísmica que ocorreu em sua história – e no sentido de um antes e um depois. Antes do diagnóstico, a vida era uma coisa, com um conjunto de expectativas e possibilidades. Depois do diagnóstico, a vida era outra. A “fragilidade da história” é algo que vai ressoar em todos nós, principalmente com a pandemia em curso e a constante chegada de notícias de partir o coração neste país. O ato de revisar – que significa, literalmente, “ver de novo” – se aplica tanto à vida quanto ao processo de escrita.

Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer

Matthew Zapruder

Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida. A própria escrita é a maneira como ele processa essas mudanças. É como “vê de novo”. Zapruder escreve: “Quero continuar tentando entender. O único jeito de conseguir é escrevendo”.

Mas, se a linguagem é a moeda corrente de Zapruder, seu filho se comunica de outra forma. Gostei da franqueza com que Zapruder fala sobre os desafios que enfrentou com seu filho e as tentativas e erros para preencher a lacuna entre eles – não muito diferente de traduzir poesia de um idioma a outro. Como pai de uma criança autista, o autor precisa refletir sobre suas suposições sobre inteligência e destreza verbal e expandir seu pensamento para outras formas igualmente válidas de estar no mundo.

Os leitores ficam íntimos de uma conversa que Zapruder tem consigo mesmo sobre literatura, diferença, meia-idade, memória e condição humana, e o alcance deste livro de memórias reflete a amplitude e a profundidade dessa conversa.

Tela do pintor autista Jeremy Sicile-Kira Foto: Artsy

A prosa é intercalada com poesia. A narrativa pessoal é intercalada com discussões de poetas tão variados quanto W.S. Merwin e Rupi Kaur. A narrativa em primeira pessoa é intercalada com a “ficcionalização” em terceira pessoa da narrativa de alguém. É bastante raro eu sentir que sou uma leitora ideal para um livro, mas tudo nas memórias de Zapruder me atraiu como mãe, escritora e professora.

Ao longo do livro, Zapruder, que tem outras coleções de poesia, entre elas Father’s Day (2019), habilmente navega entre suas multidões: pai, companheiro, advogado, escritor, professor e acadêmico. Se tenho alguma reclamação, é que senti falta da presença de seu filho mais adiante no livro, quando o equilíbrio parece se voltar mais para a poesia e se afastar da narrativa familiar.

Como poeta, adoro ler sobre poesia, então meu desejo por mais relacionamento pai-filho no final do livro não é uma crítica, mas um testemunho da bela escrita de Zapruder sobre esse relacionamento. Independentemente disso, virei ansiosa cada página até o fim, saboreando as frases, e espero que os leitores – sejam eles escritores, pais, mães ou nada disso – façam o mesmo.

A certa altura, Zapruder se dirige diretamente ao leitor: “Quero ser o mais simples e claro possível, chegar até você, mas sem deixar as coisas mais simples e claras do que realmente são, o que seria uma profunda traição”. As verdades a que este escritor chega, tanto no poema quanto na vida, não são claras, redutivas ou fáceis – mas mesmo assim o livro é reconfortante. Atrevo-me a dizer: este livro dá uma sensação paternal. É brilhante, mas franco, enraizado na experiência, sincero e sábio.

Qual é a relação entre criar uma criança atípica e escrever poemas? O livro nos oferece respostas: amor, atenção, mistério, aceitação. “Que mundo podemos imaginar e depois construir, onde todos possamos viver?”, pergunta Zapruder. Story of a Poem é uma defesa desse mundo: inclusivo, expansivo e elástico o suficiente para conter mais do que imaginávamos.

Maggie Smith é autora de vários livros de poesia e prosa, entre eles You Could Make This Place Beautiful, publicado em abril./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Story of a Poem: A Memoir

Matthew Zapruder

The Unnamed Press - 207 páginas - US$ 28

THE WASHINGTON POST - O novo livro de memórias de Matthew Zapruder, Story of a Poem, não fala apenas sobre um poema. Fala também sobre um escritor, um pai, um marido, um filho – e esta história tem uma reviravolta: o filho mais novo do autor é diagnosticado com autismo. Escrevendo sobre si mesmo na terceira pessoa, Zapruder coloca a questão que está no centro do livro: “Qual é a relação entre fazer poemas e aprender a ser pai dessa criança atípica?”

Zapruder explora o elo entre a criação dos filhos e a escrita ao embarcar em um novo projeto: um longo poema escrito com paciência e meticulosidade, um poema que pode levar o tempo necessário e quantas mudanças forem necessárias para tomar forma. Se existe uma metáfora melhor para o ato de criar filhos por meio do desafio e do mistério, desconheço.

Story of a Poem foi escritor por Matthew Zapruder Foto: The Washington Post

“Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer”, confessa Zapruder. Escrever e criar filhos são processos de descoberta. Não sabemos quem serão nossos filhos, nem o que serão nossos poemas. Observamos, ouvimos e orientamos tanto quanto podemos. A parentalidade nos faz questionar o que pensávamos que sabíamos – sobre as pessoas, sobre nós mesmos, sobre o mundo – e o mesmo acontece com a poesia.

A franqueza de Zapruder sobre o medo, a perplexidade e a frustração que sentiu ao ouvir o diagnóstico do filho – e a luta para coordenar apoios e tratamentos – vai ressoar nas famílias que receberam notícias semelhantes. “Existe um terror singular quando a história de repente some e a pessoa é deixada numa nova vida”, escreve ele.

Muitos leitores se identificarão com a mudança sísmica que ocorreu em sua história – e no sentido de um antes e um depois. Antes do diagnóstico, a vida era uma coisa, com um conjunto de expectativas e possibilidades. Depois do diagnóstico, a vida era outra. A “fragilidade da história” é algo que vai ressoar em todos nós, principalmente com a pandemia em curso e a constante chegada de notícias de partir o coração neste país. O ato de revisar – que significa, literalmente, “ver de novo” – se aplica tanto à vida quanto ao processo de escrita.

Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer

Matthew Zapruder

Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida. A própria escrita é a maneira como ele processa essas mudanças. É como “vê de novo”. Zapruder escreve: “Quero continuar tentando entender. O único jeito de conseguir é escrevendo”.

Mas, se a linguagem é a moeda corrente de Zapruder, seu filho se comunica de outra forma. Gostei da franqueza com que Zapruder fala sobre os desafios que enfrentou com seu filho e as tentativas e erros para preencher a lacuna entre eles – não muito diferente de traduzir poesia de um idioma a outro. Como pai de uma criança autista, o autor precisa refletir sobre suas suposições sobre inteligência e destreza verbal e expandir seu pensamento para outras formas igualmente válidas de estar no mundo.

Os leitores ficam íntimos de uma conversa que Zapruder tem consigo mesmo sobre literatura, diferença, meia-idade, memória e condição humana, e o alcance deste livro de memórias reflete a amplitude e a profundidade dessa conversa.

Tela do pintor autista Jeremy Sicile-Kira Foto: Artsy

A prosa é intercalada com poesia. A narrativa pessoal é intercalada com discussões de poetas tão variados quanto W.S. Merwin e Rupi Kaur. A narrativa em primeira pessoa é intercalada com a “ficcionalização” em terceira pessoa da narrativa de alguém. É bastante raro eu sentir que sou uma leitora ideal para um livro, mas tudo nas memórias de Zapruder me atraiu como mãe, escritora e professora.

Ao longo do livro, Zapruder, que tem outras coleções de poesia, entre elas Father’s Day (2019), habilmente navega entre suas multidões: pai, companheiro, advogado, escritor, professor e acadêmico. Se tenho alguma reclamação, é que senti falta da presença de seu filho mais adiante no livro, quando o equilíbrio parece se voltar mais para a poesia e se afastar da narrativa familiar.

Como poeta, adoro ler sobre poesia, então meu desejo por mais relacionamento pai-filho no final do livro não é uma crítica, mas um testemunho da bela escrita de Zapruder sobre esse relacionamento. Independentemente disso, virei ansiosa cada página até o fim, saboreando as frases, e espero que os leitores – sejam eles escritores, pais, mães ou nada disso – façam o mesmo.

A certa altura, Zapruder se dirige diretamente ao leitor: “Quero ser o mais simples e claro possível, chegar até você, mas sem deixar as coisas mais simples e claras do que realmente são, o que seria uma profunda traição”. As verdades a que este escritor chega, tanto no poema quanto na vida, não são claras, redutivas ou fáceis – mas mesmo assim o livro é reconfortante. Atrevo-me a dizer: este livro dá uma sensação paternal. É brilhante, mas franco, enraizado na experiência, sincero e sábio.

Qual é a relação entre criar uma criança atípica e escrever poemas? O livro nos oferece respostas: amor, atenção, mistério, aceitação. “Que mundo podemos imaginar e depois construir, onde todos possamos viver?”, pergunta Zapruder. Story of a Poem é uma defesa desse mundo: inclusivo, expansivo e elástico o suficiente para conter mais do que imaginávamos.

Maggie Smith é autora de vários livros de poesia e prosa, entre eles You Could Make This Place Beautiful, publicado em abril./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Story of a Poem: A Memoir

Matthew Zapruder

The Unnamed Press - 207 páginas - US$ 28

THE WASHINGTON POST - O novo livro de memórias de Matthew Zapruder, Story of a Poem, não fala apenas sobre um poema. Fala também sobre um escritor, um pai, um marido, um filho – e esta história tem uma reviravolta: o filho mais novo do autor é diagnosticado com autismo. Escrevendo sobre si mesmo na terceira pessoa, Zapruder coloca a questão que está no centro do livro: “Qual é a relação entre fazer poemas e aprender a ser pai dessa criança atípica?”

Zapruder explora o elo entre a criação dos filhos e a escrita ao embarcar em um novo projeto: um longo poema escrito com paciência e meticulosidade, um poema que pode levar o tempo necessário e quantas mudanças forem necessárias para tomar forma. Se existe uma metáfora melhor para o ato de criar filhos por meio do desafio e do mistério, desconheço.

Story of a Poem foi escritor por Matthew Zapruder Foto: The Washington Post

“Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer”, confessa Zapruder. Escrever e criar filhos são processos de descoberta. Não sabemos quem serão nossos filhos, nem o que serão nossos poemas. Observamos, ouvimos e orientamos tanto quanto podemos. A parentalidade nos faz questionar o que pensávamos que sabíamos – sobre as pessoas, sobre nós mesmos, sobre o mundo – e o mesmo acontece com a poesia.

A franqueza de Zapruder sobre o medo, a perplexidade e a frustração que sentiu ao ouvir o diagnóstico do filho – e a luta para coordenar apoios e tratamentos – vai ressoar nas famílias que receberam notícias semelhantes. “Existe um terror singular quando a história de repente some e a pessoa é deixada numa nova vida”, escreve ele.

Muitos leitores se identificarão com a mudança sísmica que ocorreu em sua história – e no sentido de um antes e um depois. Antes do diagnóstico, a vida era uma coisa, com um conjunto de expectativas e possibilidades. Depois do diagnóstico, a vida era outra. A “fragilidade da história” é algo que vai ressoar em todos nós, principalmente com a pandemia em curso e a constante chegada de notícias de partir o coração neste país. O ato de revisar – que significa, literalmente, “ver de novo” – se aplica tanto à vida quanto ao processo de escrita.

Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer

Matthew Zapruder

Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida. A própria escrita é a maneira como ele processa essas mudanças. É como “vê de novo”. Zapruder escreve: “Quero continuar tentando entender. O único jeito de conseguir é escrevendo”.

Mas, se a linguagem é a moeda corrente de Zapruder, seu filho se comunica de outra forma. Gostei da franqueza com que Zapruder fala sobre os desafios que enfrentou com seu filho e as tentativas e erros para preencher a lacuna entre eles – não muito diferente de traduzir poesia de um idioma a outro. Como pai de uma criança autista, o autor precisa refletir sobre suas suposições sobre inteligência e destreza verbal e expandir seu pensamento para outras formas igualmente válidas de estar no mundo.

Os leitores ficam íntimos de uma conversa que Zapruder tem consigo mesmo sobre literatura, diferença, meia-idade, memória e condição humana, e o alcance deste livro de memórias reflete a amplitude e a profundidade dessa conversa.

Tela do pintor autista Jeremy Sicile-Kira Foto: Artsy

A prosa é intercalada com poesia. A narrativa pessoal é intercalada com discussões de poetas tão variados quanto W.S. Merwin e Rupi Kaur. A narrativa em primeira pessoa é intercalada com a “ficcionalização” em terceira pessoa da narrativa de alguém. É bastante raro eu sentir que sou uma leitora ideal para um livro, mas tudo nas memórias de Zapruder me atraiu como mãe, escritora e professora.

Ao longo do livro, Zapruder, que tem outras coleções de poesia, entre elas Father’s Day (2019), habilmente navega entre suas multidões: pai, companheiro, advogado, escritor, professor e acadêmico. Se tenho alguma reclamação, é que senti falta da presença de seu filho mais adiante no livro, quando o equilíbrio parece se voltar mais para a poesia e se afastar da narrativa familiar.

Como poeta, adoro ler sobre poesia, então meu desejo por mais relacionamento pai-filho no final do livro não é uma crítica, mas um testemunho da bela escrita de Zapruder sobre esse relacionamento. Independentemente disso, virei ansiosa cada página até o fim, saboreando as frases, e espero que os leitores – sejam eles escritores, pais, mães ou nada disso – façam o mesmo.

A certa altura, Zapruder se dirige diretamente ao leitor: “Quero ser o mais simples e claro possível, chegar até você, mas sem deixar as coisas mais simples e claras do que realmente são, o que seria uma profunda traição”. As verdades a que este escritor chega, tanto no poema quanto na vida, não são claras, redutivas ou fáceis – mas mesmo assim o livro é reconfortante. Atrevo-me a dizer: este livro dá uma sensação paternal. É brilhante, mas franco, enraizado na experiência, sincero e sábio.

Qual é a relação entre criar uma criança atípica e escrever poemas? O livro nos oferece respostas: amor, atenção, mistério, aceitação. “Que mundo podemos imaginar e depois construir, onde todos possamos viver?”, pergunta Zapruder. Story of a Poem é uma defesa desse mundo: inclusivo, expansivo e elástico o suficiente para conter mais do que imaginávamos.

Maggie Smith é autora de vários livros de poesia e prosa, entre eles You Could Make This Place Beautiful, publicado em abril./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Story of a Poem: A Memoir

Matthew Zapruder

The Unnamed Press - 207 páginas - US$ 28

THE WASHINGTON POST - O novo livro de memórias de Matthew Zapruder, Story of a Poem, não fala apenas sobre um poema. Fala também sobre um escritor, um pai, um marido, um filho – e esta história tem uma reviravolta: o filho mais novo do autor é diagnosticado com autismo. Escrevendo sobre si mesmo na terceira pessoa, Zapruder coloca a questão que está no centro do livro: “Qual é a relação entre fazer poemas e aprender a ser pai dessa criança atípica?”

Zapruder explora o elo entre a criação dos filhos e a escrita ao embarcar em um novo projeto: um longo poema escrito com paciência e meticulosidade, um poema que pode levar o tempo necessário e quantas mudanças forem necessárias para tomar forma. Se existe uma metáfora melhor para o ato de criar filhos por meio do desafio e do mistério, desconheço.

Story of a Poem foi escritor por Matthew Zapruder Foto: The Washington Post

“Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer”, confessa Zapruder. Escrever e criar filhos são processos de descoberta. Não sabemos quem serão nossos filhos, nem o que serão nossos poemas. Observamos, ouvimos e orientamos tanto quanto podemos. A parentalidade nos faz questionar o que pensávamos que sabíamos – sobre as pessoas, sobre nós mesmos, sobre o mundo – e o mesmo acontece com a poesia.

A franqueza de Zapruder sobre o medo, a perplexidade e a frustração que sentiu ao ouvir o diagnóstico do filho – e a luta para coordenar apoios e tratamentos – vai ressoar nas famílias que receberam notícias semelhantes. “Existe um terror singular quando a história de repente some e a pessoa é deixada numa nova vida”, escreve ele.

Muitos leitores se identificarão com a mudança sísmica que ocorreu em sua história – e no sentido de um antes e um depois. Antes do diagnóstico, a vida era uma coisa, com um conjunto de expectativas e possibilidades. Depois do diagnóstico, a vida era outra. A “fragilidade da história” é algo que vai ressoar em todos nós, principalmente com a pandemia em curso e a constante chegada de notícias de partir o coração neste país. O ato de revisar – que significa, literalmente, “ver de novo” – se aplica tanto à vida quanto ao processo de escrita.

Toda vez que me sento para escrever um poema, não sei o que vou fazer

Matthew Zapruder

Em Story of a Poem, testemunhamos um escritor revisando um poema, um pai e marido revisando suas expectativas, um ser humano revisando a história de sua vida. A própria escrita é a maneira como ele processa essas mudanças. É como “vê de novo”. Zapruder escreve: “Quero continuar tentando entender. O único jeito de conseguir é escrevendo”.

Mas, se a linguagem é a moeda corrente de Zapruder, seu filho se comunica de outra forma. Gostei da franqueza com que Zapruder fala sobre os desafios que enfrentou com seu filho e as tentativas e erros para preencher a lacuna entre eles – não muito diferente de traduzir poesia de um idioma a outro. Como pai de uma criança autista, o autor precisa refletir sobre suas suposições sobre inteligência e destreza verbal e expandir seu pensamento para outras formas igualmente válidas de estar no mundo.

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Ao longo do livro, Zapruder, que tem outras coleções de poesia, entre elas Father’s Day (2019), habilmente navega entre suas multidões: pai, companheiro, advogado, escritor, professor e acadêmico. Se tenho alguma reclamação, é que senti falta da presença de seu filho mais adiante no livro, quando o equilíbrio parece se voltar mais para a poesia e se afastar da narrativa familiar.

Como poeta, adoro ler sobre poesia, então meu desejo por mais relacionamento pai-filho no final do livro não é uma crítica, mas um testemunho da bela escrita de Zapruder sobre esse relacionamento. Independentemente disso, virei ansiosa cada página até o fim, saboreando as frases, e espero que os leitores – sejam eles escritores, pais, mães ou nada disso – façam o mesmo.

A certa altura, Zapruder se dirige diretamente ao leitor: “Quero ser o mais simples e claro possível, chegar até você, mas sem deixar as coisas mais simples e claras do que realmente são, o que seria uma profunda traição”. As verdades a que este escritor chega, tanto no poema quanto na vida, não são claras, redutivas ou fáceis – mas mesmo assim o livro é reconfortante. Atrevo-me a dizer: este livro dá uma sensação paternal. É brilhante, mas franco, enraizado na experiência, sincero e sábio.

Qual é a relação entre criar uma criança atípica e escrever poemas? O livro nos oferece respostas: amor, atenção, mistério, aceitação. “Que mundo podemos imaginar e depois construir, onde todos possamos viver?”, pergunta Zapruder. Story of a Poem é uma defesa desse mundo: inclusivo, expansivo e elástico o suficiente para conter mais do que imaginávamos.

Maggie Smith é autora de vários livros de poesia e prosa, entre eles You Could Make This Place Beautiful, publicado em abril./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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