Por que não é fácil encontrar um bom podcast de humor no Brasil? Retomando o papo sobre formatos de podcasts, a imensa maioria dos programas de comédia se resume a uma mesa-redonda de amigos, quase sempre homens, comentando as notícias do dia ou da semana, usando tipos de piadas vencidas, com cheiro de mofo, mas principalmente sem graça, em programas quase sempre sem roteiros, tentando chupinhar o humor da internet, etc., etc.
Há poucas exceções, e a ideia agora é apresentar algumas delas nas próximas semanas.
Espécie de estrela da internet e tuiteira bem-humorada, a DJ Laurinha Lero mantém sua identidade real em segredo, mas, ouvindo o Respondendo em Voz Alta, seu podcast sazonal disponível nas principais plataformas, sabe-se que ela já ensinou redação para vestibulandos, estudou filosofia, ou seria teologia? De inconfundível sotaque carioca, ela diz viver em São Paulo, mas esse tipo de especulação apenas acrescenta uma mística ao negócio todo.
“Inteligência é uma farsa”, diz, no episódio mais recente. Criado em março de 2019, o podcast é uma espécie de consultório sentimental em que a apresentadora responde a perguntas sobre assuntos diversos, muitas vezes ligados a paixões joviais e intempéries universitárias, ao mesmo tempo usando essas temáticas para tocar em preocupações universais, mesmo que banais.
A tradição da comédia americana deveria ensinar muito mais aos humoristas brasileiros, que fingem não entender a diferença entre humor ofensivo, liberdade de expressão e simplesmente piadas engraçadas. Outra coisa que a tradição ensina é que o delivery – a entrega da piada, portanto a forma da performance humorística – é tão importante quanto o conteúdo do texto, quando não exatamente a mesma coisa.
Tergiverso, mas ouvir esse podcast é um alívio para quem procura boa e nova comédia brasileira, embora a própria personagem nunca se leve tão a sério. “Deus dá e Deus desproporcionalmente tira.” “Imagina sair com uma pessoa que tem opinião sobre o 11 de Setembro? Tudo que quero de um homem é que, se a gente assistir, sei lá, a uma reprise de Jackass na TV, ele vire para mim um segundo depois da cena começar e diga: essa aí é boa.” “Não tem problema fechar o olho enquanto dirige.”
Laurinha Lero reconhece que a quarentena exerce uma pressão sem sentido para que as pessoas se expressem, lembrando dos memes que contavam a história (real) de que Shakespeare escreveu Rei Lear durante um período de isolamento. Ao mesmo tempo, ela promete que este, o 20.º episódio, divulgado ainda em março, seria o seu último. Houve ainda um especial de quarentena, com dois outros participantes (Marcelinho e Nigel Goodman), que também vale o play. Enfim, aquela promessa já foi quebrada antes, e espero que ela seja quebrada de novo.