Taylor Swift: fãs falam em desistir de show após morte e aglomeração. ‘Foi assustador’


Igor Paiva tem ingressos para as 3 apresentações no Rio, mas experiência negativa na estreia fez ele perder coragem de voltar; jovem morreu no 1º dia. Organizadora disse que vai melhorar a estrutura

Por Renata Okumura e Gabriela Piva
Atualização:

Fã de Taylor Swift desde 2009, quando começou a buscar informações sobre a discografia da artista americana, o tradutor Igor Paiva, de 33 anos, aguardou mais de uma década para ver a cantora pela primeira vez. A empolgação, no entanto, se transformou em pesadelo no primeiro show da cantora nessa sexta-feira, 17, com problemas relacionados ao calor e ao tumulto.

Com um público de cerca de 60 mil fãs, a estreia da turnê The Eras Tour de Taylor no Brasil também ficou marcada por uma tragédia. Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu antes do início do show que ocorreu no Estádio Nilton Santos, o Engenhão.

“Estamos todos muito assustados com tudo que aconteceu. Todos os meus amigos que foram passaram mal”, afirmou Paiva. Além do calor insuportável, ele cita o excesso de sujeira no chão. “Por já não ter muita paciência para fila, cheguei no estádio às 16h45. Fiquei chocado com a quantidade de lixo nas filas.”

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Pontualmente, o show começou às 19h30. Mas depois, afirma Paiva, muitas pessoas começaram a passar mal, por causa do calor. “Tínhamos uma amiga na grade da pista premium e ela relatou que mal dava para respirar. Somente a produção da Taylor distribuiu água durante o show. Inclusive, ela mesma (a artista) interrompeu o show para orientar sua equipe na distribuição durante o set de Evermore, precisamente às 20h45″, afirmou Paiva, ao criticar o preço do copo de água (R$ 8).

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Show da cantora Taylor Swift no estádio Nilton Santos na sexta-feira, 17.  Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

“Além de sua equipe, ela mesma foi entregar água a uma fã do outro lado do palco”, contou Paiva. Às 21h50, durante a canção Marjorie, ele decidiu que era o momento de ir embora. “Não sei explicar o tamanho do calor. Eu pingava suor. Não tinha vento, nada. Eu não estava mais aguentando. Foi quando fui reparar que tinha tapume em toda parte nos anéis internos do estádio. Muita gente precisou de ajuda. Não pude acompanhar o show até o fim, que terminou depois das 23 horas”, afirmou ele.

No X (antigo Twitter), ele já havia falado dos problemas do evento. “Não vale a pena ir a um show desses no Brasil. Você já vai pensando que pode ser assaltado, que pode ter que correr de arrastão, que pode passar mal e agora vai sabendo que pode morrer de tanto calor e sede. Fiquei me sentindo culpado por não estar conseguindo curtir aquela noite que esperei por tantos anos na vida.”

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Embora seja extremamente fã da artista, ele diz que se arrependeu de ter ido ao show. “No momento que cheguei perto do estádio, já me arrependi de ter ido. E comprei ingressos para os três dias do Rio. Mas não vou nos outros shows. Não tenho coragem. Prefiro ter prejuízo e torcer pra vê-la em condições mais humanizadas.”, lamentou ele, que vai se informar sobre ressarcimento.

“Esperar mais de dez anos para ver a Taylor e me deparar com o que vivi no show foi assustador. O descaso com o fã, as condições deploráveis às quais ficamos sujeitos, é revoltante. A grosseria geral de todos os colaboradores do evento. A imundície do estádio. De verdade, não temos estrutura para receber um show dessa magnitude”, afirma ele, que mora em Brasília e chegou ao Rio na sexta para ver o show.

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Paiva cita ainda a última experiência em um show deste porte, em agosto de 2022, quando viu Lady Gaga na turnê The Chromatica Ball no MetLife Stadium, nos Estados Unidos, em um show que reuniu mais de 55 mil fãs.

“A diferença da experiência é quase algo de outro mundo. Lá, tudo é meticulosamente pensado para seu bem-estar. Aqui, tudo é meticulosamente pensado para lucrar o máximo possível.”

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Venda de ingressos por menos que a metade do preço

Isabela Fernandes, de 27 anos, mora em Pernambuco e viajou ao Rio de Janeiro só para acompanhar os três shows de Taylor Swift na capital fluminense. Depois da primeira apresentação, no Engenhão, ela ficou com medo de ir ao evento deste sábado, 18, e anunciou a venda do seu ingresso por menos que a metade do preço — ela comprou por cerca de R$ 1700 e vendeu por R$ 650 — nas redes sociais.

“Hoje, eu iria sozinha e por isso também fiquei com medo. Quando você sai do show, é aquela agonia, não tem segurança. Ontem, teve arrastão, teve uma pessoa do nosso grupo que foi furtada no trem. Meus amigos estavam em outro setor e também decidiram não ir hoje porque estavam muito assustados e tristes com o descaso e irresponsabilidade da produtora que em momento nenhum deu suporte pra gente”, contou ela ao Estadão.

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Além dela, outros fãs já anunciam a venda de ingressos para as próximas apresentações após a experiência negativa dessa sexta. Julia, usuária @lovestargaryen, também relata a mesma situação. “Já passei mal o suficiente, não tenho condições de ir hoje”, escreveu, na postagem em que anuncia a venda dos ingressos para este sábado.

reference

Pessoas vomitando e desmaiando

Segundo a designer de moda Larissa Alves, de 24 anos, que também esteve no primeiro dia de show, estava muito quente e difícil de respirar. Fã desde 2012 de Taylor Swift, estava na pista premium para acompanhar de perto, pela primeira vez, uma apresentação da artista que tanto admira.

“Estava em um grupo formado por sete pessoas. Várias pessoas estavam vomitando ao nosso lado e desmaiando. Uma mulher desmaiou do nosso lado e minha amiga teve que segurá-la”, descreveu a jovem.

“A organização do evento foi displicente quando não colocaram ventilação e não deixaram entrar com leque e água. Eu consegui tomar água que estava sendo oferecida pela equipe da Taylor, porém estava muito quente e era difícil beber. Estava extremamente difícil de respirar, por conta do tempo e da quantidade de pessoas apertadas na pista premium. Além das filas desorganizadas antes de entrar no evento”, criticou Larissa.

Público lota Engenhão na primeira apresentação de Taylor Swift no Rio, mas calor faz muitas pessoas passarem mal. Foto: Arquivo pessoal/Larissa Alves

Próximas apresentações no Rio e em SP

O show de sexta-feira foi o primeiro de três shows da artista no Engenhão. O próximo ocorre neste sábado, 18. Segundo a empresa Climatempo, a temperatura ainda vai aumentar, a máxima prevista para este sábado no Rio é de 42º, dois graus a mais do que nesta sexta, que teve máxima de 40º e sensação térmica de quase 60º. O último show na capital fluminense será no domingo, 19. Em São Paulo, as apresentações serão nos dias 24, 25 e 26 de novembro.

Governo determina distribuição de água

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), editou uma nova regra, que permite a entrada de garrafas de água para uso pessoal em shows a partir deste sábado, 18. Ele afirmou também que “empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em ‘ilhas de hidratação’ de fácil acesso”.

A prefeitura do Rio também fez outras exigências, como aumentar o número de ambulâncias e equipes de atendimento, além da entrada antecipada do público.

A Time for Fun, responsável pela organização do show no Brasil, lamentou a morte e disse ter dado suporte à jovem. Segundo a nota da empresa, ela foi “prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico” do estádio. Em seguida, a jovem foi levada ao Hospital Salgado Filho, onde morreu depois de quase uma hora de atendimento.

Sobre a estrutura, a empresa diz “estar reforçando o plano de ação especial” para o evento. Promete agora o fornecimento de água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas dos estádios, assim como dentro do local.

“Também será permitida a entrada no estádio com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, sem limitação de itens por pessoa. Esclarecemos que a exigência dos itens serem lacrados segue recomendações de segurança”, continuou a empresa. Destacou, porém, ser dos órgãos públicos a proibição da entrada de garrafas de água em estádios.

Após a publicação da Portaria e as críticas do público nas redes sociais, a empresa liberou a entrada de garrafas plásticas flexíveis para uso pessoal. “Garrafas plásticas flexíveis também serão autorizadas no acesso. É vedado qualquer outro material como metal, alumínio e garrafas térmicas”, disse a equipe da T4F em atualização de comunicado enviada ao Estadão.

A empresa também afirma que o efetivo de serviços foi reforçado. “Cerca de 200 colaboradores extras irão se somar aos 1.230 profissionais que estão trabalhando no evento desde o início entre seguranças, brigadistas, orientadores de público e outros”. A estrutura de atendimento médico passa a ter 8 postos médicos, 8 ambulâncias e 8 UTIs móveis, mas não foi informado tamanho da estrutura montada no 1º dia.

Fã de Taylor Swift desde 2009, quando começou a buscar informações sobre a discografia da artista americana, o tradutor Igor Paiva, de 33 anos, aguardou mais de uma década para ver a cantora pela primeira vez. A empolgação, no entanto, se transformou em pesadelo no primeiro show da cantora nessa sexta-feira, 17, com problemas relacionados ao calor e ao tumulto.

Com um público de cerca de 60 mil fãs, a estreia da turnê The Eras Tour de Taylor no Brasil também ficou marcada por uma tragédia. Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu antes do início do show que ocorreu no Estádio Nilton Santos, o Engenhão.

“Estamos todos muito assustados com tudo que aconteceu. Todos os meus amigos que foram passaram mal”, afirmou Paiva. Além do calor insuportável, ele cita o excesso de sujeira no chão. “Por já não ter muita paciência para fila, cheguei no estádio às 16h45. Fiquei chocado com a quantidade de lixo nas filas.”

Pontualmente, o show começou às 19h30. Mas depois, afirma Paiva, muitas pessoas começaram a passar mal, por causa do calor. “Tínhamos uma amiga na grade da pista premium e ela relatou que mal dava para respirar. Somente a produção da Taylor distribuiu água durante o show. Inclusive, ela mesma (a artista) interrompeu o show para orientar sua equipe na distribuição durante o set de Evermore, precisamente às 20h45″, afirmou Paiva, ao criticar o preço do copo de água (R$ 8).

LEIA MAIS SOBRE O CASO:

Show da cantora Taylor Swift no estádio Nilton Santos na sexta-feira, 17.  Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

“Além de sua equipe, ela mesma foi entregar água a uma fã do outro lado do palco”, contou Paiva. Às 21h50, durante a canção Marjorie, ele decidiu que era o momento de ir embora. “Não sei explicar o tamanho do calor. Eu pingava suor. Não tinha vento, nada. Eu não estava mais aguentando. Foi quando fui reparar que tinha tapume em toda parte nos anéis internos do estádio. Muita gente precisou de ajuda. Não pude acompanhar o show até o fim, que terminou depois das 23 horas”, afirmou ele.

No X (antigo Twitter), ele já havia falado dos problemas do evento. “Não vale a pena ir a um show desses no Brasil. Você já vai pensando que pode ser assaltado, que pode ter que correr de arrastão, que pode passar mal e agora vai sabendo que pode morrer de tanto calor e sede. Fiquei me sentindo culpado por não estar conseguindo curtir aquela noite que esperei por tantos anos na vida.”

Embora seja extremamente fã da artista, ele diz que se arrependeu de ter ido ao show. “No momento que cheguei perto do estádio, já me arrependi de ter ido. E comprei ingressos para os três dias do Rio. Mas não vou nos outros shows. Não tenho coragem. Prefiro ter prejuízo e torcer pra vê-la em condições mais humanizadas.”, lamentou ele, que vai se informar sobre ressarcimento.

“Esperar mais de dez anos para ver a Taylor e me deparar com o que vivi no show foi assustador. O descaso com o fã, as condições deploráveis às quais ficamos sujeitos, é revoltante. A grosseria geral de todos os colaboradores do evento. A imundície do estádio. De verdade, não temos estrutura para receber um show dessa magnitude”, afirma ele, que mora em Brasília e chegou ao Rio na sexta para ver o show.

Paiva cita ainda a última experiência em um show deste porte, em agosto de 2022, quando viu Lady Gaga na turnê The Chromatica Ball no MetLife Stadium, nos Estados Unidos, em um show que reuniu mais de 55 mil fãs.

“A diferença da experiência é quase algo de outro mundo. Lá, tudo é meticulosamente pensado para seu bem-estar. Aqui, tudo é meticulosamente pensado para lucrar o máximo possível.”

Venda de ingressos por menos que a metade do preço

Isabela Fernandes, de 27 anos, mora em Pernambuco e viajou ao Rio de Janeiro só para acompanhar os três shows de Taylor Swift na capital fluminense. Depois da primeira apresentação, no Engenhão, ela ficou com medo de ir ao evento deste sábado, 18, e anunciou a venda do seu ingresso por menos que a metade do preço — ela comprou por cerca de R$ 1700 e vendeu por R$ 650 — nas redes sociais.

“Hoje, eu iria sozinha e por isso também fiquei com medo. Quando você sai do show, é aquela agonia, não tem segurança. Ontem, teve arrastão, teve uma pessoa do nosso grupo que foi furtada no trem. Meus amigos estavam em outro setor e também decidiram não ir hoje porque estavam muito assustados e tristes com o descaso e irresponsabilidade da produtora que em momento nenhum deu suporte pra gente”, contou ela ao Estadão.

Além dela, outros fãs já anunciam a venda de ingressos para as próximas apresentações após a experiência negativa dessa sexta. Julia, usuária @lovestargaryen, também relata a mesma situação. “Já passei mal o suficiente, não tenho condições de ir hoje”, escreveu, na postagem em que anuncia a venda dos ingressos para este sábado.

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Pessoas vomitando e desmaiando

Segundo a designer de moda Larissa Alves, de 24 anos, que também esteve no primeiro dia de show, estava muito quente e difícil de respirar. Fã desde 2012 de Taylor Swift, estava na pista premium para acompanhar de perto, pela primeira vez, uma apresentação da artista que tanto admira.

“Estava em um grupo formado por sete pessoas. Várias pessoas estavam vomitando ao nosso lado e desmaiando. Uma mulher desmaiou do nosso lado e minha amiga teve que segurá-la”, descreveu a jovem.

“A organização do evento foi displicente quando não colocaram ventilação e não deixaram entrar com leque e água. Eu consegui tomar água que estava sendo oferecida pela equipe da Taylor, porém estava muito quente e era difícil beber. Estava extremamente difícil de respirar, por conta do tempo e da quantidade de pessoas apertadas na pista premium. Além das filas desorganizadas antes de entrar no evento”, criticou Larissa.

Público lota Engenhão na primeira apresentação de Taylor Swift no Rio, mas calor faz muitas pessoas passarem mal. Foto: Arquivo pessoal/Larissa Alves

Próximas apresentações no Rio e em SP

O show de sexta-feira foi o primeiro de três shows da artista no Engenhão. O próximo ocorre neste sábado, 18. Segundo a empresa Climatempo, a temperatura ainda vai aumentar, a máxima prevista para este sábado no Rio é de 42º, dois graus a mais do que nesta sexta, que teve máxima de 40º e sensação térmica de quase 60º. O último show na capital fluminense será no domingo, 19. Em São Paulo, as apresentações serão nos dias 24, 25 e 26 de novembro.

Governo determina distribuição de água

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), editou uma nova regra, que permite a entrada de garrafas de água para uso pessoal em shows a partir deste sábado, 18. Ele afirmou também que “empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em ‘ilhas de hidratação’ de fácil acesso”.

A prefeitura do Rio também fez outras exigências, como aumentar o número de ambulâncias e equipes de atendimento, além da entrada antecipada do público.

A Time for Fun, responsável pela organização do show no Brasil, lamentou a morte e disse ter dado suporte à jovem. Segundo a nota da empresa, ela foi “prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico” do estádio. Em seguida, a jovem foi levada ao Hospital Salgado Filho, onde morreu depois de quase uma hora de atendimento.

Sobre a estrutura, a empresa diz “estar reforçando o plano de ação especial” para o evento. Promete agora o fornecimento de água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas dos estádios, assim como dentro do local.

“Também será permitida a entrada no estádio com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, sem limitação de itens por pessoa. Esclarecemos que a exigência dos itens serem lacrados segue recomendações de segurança”, continuou a empresa. Destacou, porém, ser dos órgãos públicos a proibição da entrada de garrafas de água em estádios.

Após a publicação da Portaria e as críticas do público nas redes sociais, a empresa liberou a entrada de garrafas plásticas flexíveis para uso pessoal. “Garrafas plásticas flexíveis também serão autorizadas no acesso. É vedado qualquer outro material como metal, alumínio e garrafas térmicas”, disse a equipe da T4F em atualização de comunicado enviada ao Estadão.

A empresa também afirma que o efetivo de serviços foi reforçado. “Cerca de 200 colaboradores extras irão se somar aos 1.230 profissionais que estão trabalhando no evento desde o início entre seguranças, brigadistas, orientadores de público e outros”. A estrutura de atendimento médico passa a ter 8 postos médicos, 8 ambulâncias e 8 UTIs móveis, mas não foi informado tamanho da estrutura montada no 1º dia.

Fã de Taylor Swift desde 2009, quando começou a buscar informações sobre a discografia da artista americana, o tradutor Igor Paiva, de 33 anos, aguardou mais de uma década para ver a cantora pela primeira vez. A empolgação, no entanto, se transformou em pesadelo no primeiro show da cantora nessa sexta-feira, 17, com problemas relacionados ao calor e ao tumulto.

Com um público de cerca de 60 mil fãs, a estreia da turnê The Eras Tour de Taylor no Brasil também ficou marcada por uma tragédia. Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu antes do início do show que ocorreu no Estádio Nilton Santos, o Engenhão.

“Estamos todos muito assustados com tudo que aconteceu. Todos os meus amigos que foram passaram mal”, afirmou Paiva. Além do calor insuportável, ele cita o excesso de sujeira no chão. “Por já não ter muita paciência para fila, cheguei no estádio às 16h45. Fiquei chocado com a quantidade de lixo nas filas.”

Pontualmente, o show começou às 19h30. Mas depois, afirma Paiva, muitas pessoas começaram a passar mal, por causa do calor. “Tínhamos uma amiga na grade da pista premium e ela relatou que mal dava para respirar. Somente a produção da Taylor distribuiu água durante o show. Inclusive, ela mesma (a artista) interrompeu o show para orientar sua equipe na distribuição durante o set de Evermore, precisamente às 20h45″, afirmou Paiva, ao criticar o preço do copo de água (R$ 8).

LEIA MAIS SOBRE O CASO:

Show da cantora Taylor Swift no estádio Nilton Santos na sexta-feira, 17.  Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

“Além de sua equipe, ela mesma foi entregar água a uma fã do outro lado do palco”, contou Paiva. Às 21h50, durante a canção Marjorie, ele decidiu que era o momento de ir embora. “Não sei explicar o tamanho do calor. Eu pingava suor. Não tinha vento, nada. Eu não estava mais aguentando. Foi quando fui reparar que tinha tapume em toda parte nos anéis internos do estádio. Muita gente precisou de ajuda. Não pude acompanhar o show até o fim, que terminou depois das 23 horas”, afirmou ele.

No X (antigo Twitter), ele já havia falado dos problemas do evento. “Não vale a pena ir a um show desses no Brasil. Você já vai pensando que pode ser assaltado, que pode ter que correr de arrastão, que pode passar mal e agora vai sabendo que pode morrer de tanto calor e sede. Fiquei me sentindo culpado por não estar conseguindo curtir aquela noite que esperei por tantos anos na vida.”

Embora seja extremamente fã da artista, ele diz que se arrependeu de ter ido ao show. “No momento que cheguei perto do estádio, já me arrependi de ter ido. E comprei ingressos para os três dias do Rio. Mas não vou nos outros shows. Não tenho coragem. Prefiro ter prejuízo e torcer pra vê-la em condições mais humanizadas.”, lamentou ele, que vai se informar sobre ressarcimento.

“Esperar mais de dez anos para ver a Taylor e me deparar com o que vivi no show foi assustador. O descaso com o fã, as condições deploráveis às quais ficamos sujeitos, é revoltante. A grosseria geral de todos os colaboradores do evento. A imundície do estádio. De verdade, não temos estrutura para receber um show dessa magnitude”, afirma ele, que mora em Brasília e chegou ao Rio na sexta para ver o show.

Paiva cita ainda a última experiência em um show deste porte, em agosto de 2022, quando viu Lady Gaga na turnê The Chromatica Ball no MetLife Stadium, nos Estados Unidos, em um show que reuniu mais de 55 mil fãs.

“A diferença da experiência é quase algo de outro mundo. Lá, tudo é meticulosamente pensado para seu bem-estar. Aqui, tudo é meticulosamente pensado para lucrar o máximo possível.”

Venda de ingressos por menos que a metade do preço

Isabela Fernandes, de 27 anos, mora em Pernambuco e viajou ao Rio de Janeiro só para acompanhar os três shows de Taylor Swift na capital fluminense. Depois da primeira apresentação, no Engenhão, ela ficou com medo de ir ao evento deste sábado, 18, e anunciou a venda do seu ingresso por menos que a metade do preço — ela comprou por cerca de R$ 1700 e vendeu por R$ 650 — nas redes sociais.

“Hoje, eu iria sozinha e por isso também fiquei com medo. Quando você sai do show, é aquela agonia, não tem segurança. Ontem, teve arrastão, teve uma pessoa do nosso grupo que foi furtada no trem. Meus amigos estavam em outro setor e também decidiram não ir hoje porque estavam muito assustados e tristes com o descaso e irresponsabilidade da produtora que em momento nenhum deu suporte pra gente”, contou ela ao Estadão.

Além dela, outros fãs já anunciam a venda de ingressos para as próximas apresentações após a experiência negativa dessa sexta. Julia, usuária @lovestargaryen, também relata a mesma situação. “Já passei mal o suficiente, não tenho condições de ir hoje”, escreveu, na postagem em que anuncia a venda dos ingressos para este sábado.

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Pessoas vomitando e desmaiando

Segundo a designer de moda Larissa Alves, de 24 anos, que também esteve no primeiro dia de show, estava muito quente e difícil de respirar. Fã desde 2012 de Taylor Swift, estava na pista premium para acompanhar de perto, pela primeira vez, uma apresentação da artista que tanto admira.

“Estava em um grupo formado por sete pessoas. Várias pessoas estavam vomitando ao nosso lado e desmaiando. Uma mulher desmaiou do nosso lado e minha amiga teve que segurá-la”, descreveu a jovem.

“A organização do evento foi displicente quando não colocaram ventilação e não deixaram entrar com leque e água. Eu consegui tomar água que estava sendo oferecida pela equipe da Taylor, porém estava muito quente e era difícil beber. Estava extremamente difícil de respirar, por conta do tempo e da quantidade de pessoas apertadas na pista premium. Além das filas desorganizadas antes de entrar no evento”, criticou Larissa.

Público lota Engenhão na primeira apresentação de Taylor Swift no Rio, mas calor faz muitas pessoas passarem mal. Foto: Arquivo pessoal/Larissa Alves

Próximas apresentações no Rio e em SP

O show de sexta-feira foi o primeiro de três shows da artista no Engenhão. O próximo ocorre neste sábado, 18. Segundo a empresa Climatempo, a temperatura ainda vai aumentar, a máxima prevista para este sábado no Rio é de 42º, dois graus a mais do que nesta sexta, que teve máxima de 40º e sensação térmica de quase 60º. O último show na capital fluminense será no domingo, 19. Em São Paulo, as apresentações serão nos dias 24, 25 e 26 de novembro.

Governo determina distribuição de água

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), editou uma nova regra, que permite a entrada de garrafas de água para uso pessoal em shows a partir deste sábado, 18. Ele afirmou também que “empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em ‘ilhas de hidratação’ de fácil acesso”.

A prefeitura do Rio também fez outras exigências, como aumentar o número de ambulâncias e equipes de atendimento, além da entrada antecipada do público.

A Time for Fun, responsável pela organização do show no Brasil, lamentou a morte e disse ter dado suporte à jovem. Segundo a nota da empresa, ela foi “prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico” do estádio. Em seguida, a jovem foi levada ao Hospital Salgado Filho, onde morreu depois de quase uma hora de atendimento.

Sobre a estrutura, a empresa diz “estar reforçando o plano de ação especial” para o evento. Promete agora o fornecimento de água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas dos estádios, assim como dentro do local.

“Também será permitida a entrada no estádio com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, sem limitação de itens por pessoa. Esclarecemos que a exigência dos itens serem lacrados segue recomendações de segurança”, continuou a empresa. Destacou, porém, ser dos órgãos públicos a proibição da entrada de garrafas de água em estádios.

Após a publicação da Portaria e as críticas do público nas redes sociais, a empresa liberou a entrada de garrafas plásticas flexíveis para uso pessoal. “Garrafas plásticas flexíveis também serão autorizadas no acesso. É vedado qualquer outro material como metal, alumínio e garrafas térmicas”, disse a equipe da T4F em atualização de comunicado enviada ao Estadão.

A empresa também afirma que o efetivo de serviços foi reforçado. “Cerca de 200 colaboradores extras irão se somar aos 1.230 profissionais que estão trabalhando no evento desde o início entre seguranças, brigadistas, orientadores de público e outros”. A estrutura de atendimento médico passa a ter 8 postos médicos, 8 ambulâncias e 8 UTIs móveis, mas não foi informado tamanho da estrutura montada no 1º dia.

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