Quem cria um nome?


America: o nome de quem não colocou uma única pedra na ponte é que está registrado na placa

Por Leandro Karnal
Atualização:

Em 1992, o chamado “descobrimento” da América chegava ao seu quinto centenário. Pipocavam encontros, congressos e palestras. Eu terminava meu doutorado sobre o tema e viajei muito naquele ano. Os americanistas tinham chegado à moda, enfim. Foi um ano de reflexões.

Neste dia 12 de outubro de 2022, a viagem de Colombo completa 530 anos. No Brasil, lembraremos mais o Dia da Criança ou o de Nossa Senhora Aparecida do que o genovês ousado. Em alguns lugares do Novo Mundo, estaremos com o dia de la raza na pauta. Nos EUA, onde pretendem “América” de forma exclusiva, teremos o Columbus Day. Para militantes indigenistas, data para lembrar o início de um vasto genocídio das populações originais do continente. O nascimento da América foi doloroso.

Quadro de Cristovão Colombo, atribuído a Sebastian del Piombo. Foto: Reprodução/Museu Metropolitano de Nova York
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Na escola, o importante era saber o nome dos três barcos da expedição: Santa Maria, Pinta e Nina. Dizíamos assim, Nina, sem supor que era La Niña, a menor. Havia um mapa, no livro didático, com as quatro viagens de Colombo ao continente americano. O texto da minha infância terminava dizendo que o almirante do Mar Oceano tinha morrido pobre. Era uma aula sobre o caráter passageiro da glória do mundo. Na mesma lição didática, víamos que Fernão de Magalhães tinha liderado a primeira viagem de circum-navegação do planeta e havia sido assassinado no meio do caminho. O negócio das grandes navegações parecia ter arruinado Colombo e matado Magalhães. Era uma empresa perigosa.

Como sabemos, Colombo não conseguiu impor seu nome ao mundo aberto para a consciência europeia por ele. Se tudo fosse justo, a Europa deveria ter nomeado o seu extremo ocidente de “Ericksolândia”, já que Leif Erickson foi o navegador viking a fazer o trajeto pelo ano 1000 e a passar uma temporada no atual Canadá. Há rumores de navegadores fenícios mais antigos. Mais justo ainda seria ter mantido algum nome indígena, mesmo que não exista um que abarque todo o continente. Talvez seja complexo: mais fácil pronunciar Peru do que Tawantinsuyu, nome quíchua para o vasto império das quatro partes. No meu livro didático da quinta série primária, havia a palavra Pindorama, como uma consciência protonacional indígena inventada. Acabou prevalecendo o termo derivado de outro italiano, Américo Vespúcio.

Martin Waldseemüller leu as cartas de Américo Vespúcio e colocou o nome América no seu mapa. Pegou. Colombo tinha morrido um pouco antes e não viu a última injustiça contra seu protagonismo.

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Velho hábito: o nome de quem não colocou uma única pedra na ponte é o que está registrado na placa... A justiça de autoria é pura esperança.

Em 1992, o chamado “descobrimento” da América chegava ao seu quinto centenário. Pipocavam encontros, congressos e palestras. Eu terminava meu doutorado sobre o tema e viajei muito naquele ano. Os americanistas tinham chegado à moda, enfim. Foi um ano de reflexões.

Neste dia 12 de outubro de 2022, a viagem de Colombo completa 530 anos. No Brasil, lembraremos mais o Dia da Criança ou o de Nossa Senhora Aparecida do que o genovês ousado. Em alguns lugares do Novo Mundo, estaremos com o dia de la raza na pauta. Nos EUA, onde pretendem “América” de forma exclusiva, teremos o Columbus Day. Para militantes indigenistas, data para lembrar o início de um vasto genocídio das populações originais do continente. O nascimento da América foi doloroso.

Quadro de Cristovão Colombo, atribuído a Sebastian del Piombo. Foto: Reprodução/Museu Metropolitano de Nova York

Na escola, o importante era saber o nome dos três barcos da expedição: Santa Maria, Pinta e Nina. Dizíamos assim, Nina, sem supor que era La Niña, a menor. Havia um mapa, no livro didático, com as quatro viagens de Colombo ao continente americano. O texto da minha infância terminava dizendo que o almirante do Mar Oceano tinha morrido pobre. Era uma aula sobre o caráter passageiro da glória do mundo. Na mesma lição didática, víamos que Fernão de Magalhães tinha liderado a primeira viagem de circum-navegação do planeta e havia sido assassinado no meio do caminho. O negócio das grandes navegações parecia ter arruinado Colombo e matado Magalhães. Era uma empresa perigosa.

Como sabemos, Colombo não conseguiu impor seu nome ao mundo aberto para a consciência europeia por ele. Se tudo fosse justo, a Europa deveria ter nomeado o seu extremo ocidente de “Ericksolândia”, já que Leif Erickson foi o navegador viking a fazer o trajeto pelo ano 1000 e a passar uma temporada no atual Canadá. Há rumores de navegadores fenícios mais antigos. Mais justo ainda seria ter mantido algum nome indígena, mesmo que não exista um que abarque todo o continente. Talvez seja complexo: mais fácil pronunciar Peru do que Tawantinsuyu, nome quíchua para o vasto império das quatro partes. No meu livro didático da quinta série primária, havia a palavra Pindorama, como uma consciência protonacional indígena inventada. Acabou prevalecendo o termo derivado de outro italiano, Américo Vespúcio.

Martin Waldseemüller leu as cartas de Américo Vespúcio e colocou o nome América no seu mapa. Pegou. Colombo tinha morrido um pouco antes e não viu a última injustiça contra seu protagonismo.

Velho hábito: o nome de quem não colocou uma única pedra na ponte é o que está registrado na placa... A justiça de autoria é pura esperança.

Em 1992, o chamado “descobrimento” da América chegava ao seu quinto centenário. Pipocavam encontros, congressos e palestras. Eu terminava meu doutorado sobre o tema e viajei muito naquele ano. Os americanistas tinham chegado à moda, enfim. Foi um ano de reflexões.

Neste dia 12 de outubro de 2022, a viagem de Colombo completa 530 anos. No Brasil, lembraremos mais o Dia da Criança ou o de Nossa Senhora Aparecida do que o genovês ousado. Em alguns lugares do Novo Mundo, estaremos com o dia de la raza na pauta. Nos EUA, onde pretendem “América” de forma exclusiva, teremos o Columbus Day. Para militantes indigenistas, data para lembrar o início de um vasto genocídio das populações originais do continente. O nascimento da América foi doloroso.

Quadro de Cristovão Colombo, atribuído a Sebastian del Piombo. Foto: Reprodução/Museu Metropolitano de Nova York

Na escola, o importante era saber o nome dos três barcos da expedição: Santa Maria, Pinta e Nina. Dizíamos assim, Nina, sem supor que era La Niña, a menor. Havia um mapa, no livro didático, com as quatro viagens de Colombo ao continente americano. O texto da minha infância terminava dizendo que o almirante do Mar Oceano tinha morrido pobre. Era uma aula sobre o caráter passageiro da glória do mundo. Na mesma lição didática, víamos que Fernão de Magalhães tinha liderado a primeira viagem de circum-navegação do planeta e havia sido assassinado no meio do caminho. O negócio das grandes navegações parecia ter arruinado Colombo e matado Magalhães. Era uma empresa perigosa.

Como sabemos, Colombo não conseguiu impor seu nome ao mundo aberto para a consciência europeia por ele. Se tudo fosse justo, a Europa deveria ter nomeado o seu extremo ocidente de “Ericksolândia”, já que Leif Erickson foi o navegador viking a fazer o trajeto pelo ano 1000 e a passar uma temporada no atual Canadá. Há rumores de navegadores fenícios mais antigos. Mais justo ainda seria ter mantido algum nome indígena, mesmo que não exista um que abarque todo o continente. Talvez seja complexo: mais fácil pronunciar Peru do que Tawantinsuyu, nome quíchua para o vasto império das quatro partes. No meu livro didático da quinta série primária, havia a palavra Pindorama, como uma consciência protonacional indígena inventada. Acabou prevalecendo o termo derivado de outro italiano, Américo Vespúcio.

Martin Waldseemüller leu as cartas de Américo Vespúcio e colocou o nome América no seu mapa. Pegou. Colombo tinha morrido um pouco antes e não viu a última injustiça contra seu protagonismo.

Velho hábito: o nome de quem não colocou uma única pedra na ponte é o que está registrado na placa... A justiça de autoria é pura esperança.

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