Lady Whistledown me contou que Bridgerton voltou. E isso é ótimo, porque a série é um fenômeno não só de audiência como de qualidade. O negócio é que mentiram para nós. Tinham dito que a segunda temporada focaria em acompanhar Lord Anthony Bridgerton na busca por uma esposa.
E isso até recebe algum destaque, parece a intenção, mas esta temporada é mesmo, na real, sobre Kate Sharma. Simone Ashley, que interpreta a personagem, sequestra completamente a narrativa e coloca Anthony no papel de coadjuvante - que, convenhamos, é o lugar dele de direito.
O roteiro até tenta fazer a temporada ser sobre ele, mas é incapaz de superar a falta de carisma do lorde - exceto quando tira a camisa, no caso.
Covardia
Assim como na primeira temporada de Bridgerton, Anthony veste novamente a capa do covarde que é, incapaz de encarar os supostos deveres que o amarram e dar a cara a tapa pela própria felicidade. Agora, vemos melhor as motivações que o fazem ser assim, mas não é suficiente para entender a demora dele em se colocar em primeiro lugar.
Ao contrário, os holofotes caem sobre Kate, que também cresceu à sombra de outras figuras, se rebaixando em prol de algo maior. Mas, como todas as personagens femininas da série, é muito mais profunda, instigante e divertida de acompanhar.
No fim, esta fase é sobre a trajetória dela em se autodescobrir e libertar. E essa é a grande vitória de Bridgerton neste momento.
Segundo plano
Infelizmente, nesta temporada, parece que quem tempera a história, a Lady Whistledown, perdeu espaço. Não os contextos que a envolvem, mas a voz em si. E a relevância dela para a história.
Se na primeira fase ela vinha com grandes revelações e chacoalhava a trama, desta vez - talvez por ter tido a identidade revelada e podermos vê-la diretamente pelos olhos de quem lhe dá vida - a nobre fofoqueira não passa de uma observadora da história.
Traz no máximo insights de bastidores. Ela intervém de fato no curso dos acontecimentos por duas vezes apenas.
Esquisito
Sem spoilers, o ator Regé-Jean Page nem sequer dá as caras nesta temporada. O ator, que fez o par principal ao lado de Phoebe Dynevor, não tem nem um mísero segundo de tela.
Daphne (personagem de Dynevor) está sempre presente e dá desculpas fracas para a ausência do esposo, o Duque de Hastings Simon Basset. Regé declarou em entrevista que a personagem foi, de fato, escrita para aparecer apenas na primeira temporada.
Olhando para frente
Ao contrário da primeira temporada, que focou quase estritamente no casal-líder, desta vez Bridgerton foi gradativamente plantando sementinhas do que pode mostrar nas sequências.
Os irmãos mais novos vão ganhando mais visibilidade e evidência sobre o que pode render arcos futuros. Minha aposta - não tão difícil de acertar assim - é de que a terceira temporada tenha Eloise como centro da história.
A série já tem até a quarta parte garantida.
Sucesso
A perspectiva não é por acaso. O investimento na produção encabeçada pela Shondaland, de Shonda Rhimes, foi um estouro em 2021, quando se tornou a série mais assistida da Netflix.
E agora, com menos de duas semanas da reestreia, já se tornou a mais vista em idioma inglês. Definitivamente, material para maratonar.