A mudança climática é natural no sentido de ser uma consequência flagrada por um modo de vida baseado na quantidade, no progressivo aumento de lucros e volume de trocas; e num ideal de maximização em todos os níveis – tamanho, volumes, lucros, conforto, longevidade, rapidez, luxo –, ou, como diria Freud, no princípio do prazer. Aqui surge uma pergunta intrigante: a natureza mudou? Ou mudamos nossas relações com esse universo material que nos fez e cerca inexoravelmente?
Se concordamos com a mudança de relação entre culturas e natureza, então chegamos a um ponto aterrador: a consciência de que o nosso estilo de vida pode esgotar o planeta.
Somos, finalmente, deuses malditos, cientes da possibilidade de destruir essa Mãe-Terra que nos partejou como seres vivos dominantes, dotados de linguagem que nos facultou a consciência e, ao fim e ao cabo, como entidades capazes de encontrar motivos para esgotar a fonte de nossa existência. Um matricídio totalmente insano no qual os filhos-deuses (ou demônios) devoram a mãe.
É obvio que essa mudança está equacionada ao “capitalismo” na sua dimensão mais complexa: a dos seus resultados não previstos.
Como, deve-se igualmente questionar, um modo de produção inventado para produzir quantidade e, com ela, abundância, trocas comerciais positivas, invenções que ampliam exponencialmente a vida e a comunicação, tem como apêndice negativo essa carga de acidentes ecológicos negativos e destruidores?
O que, em última análise, estamos fazendo com o planeta? Ou melhor: o que certos países estão fazendo com a Terra? Um dia, mais cedo ou mais tarde, iremos discutir, numa mesa de paz e concórdia, quem é dono do mundo? Quem tem o direito de violentar o planeta a ponto de promover mudanças que o afetam como um todo, para dele tirar lucro e vantagem? Mas não seria isso um simultâneo suicídio?
Os povos são livres. Mas teriam a liberdade de fraturar e adoecer o planeta em seu próprio benefício e no curso do seu sistema de progresso e civilização? Não seria isso uma barbárie?