Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|Enterro da Lava Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima


Não é exagero afirmar que a popularidade do poema do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é ser amigo do rei!

Por Roberto DaMatta
Atualização:

É uma palavra valiosa e, numa sociedade de iguais e democrática, pode ser classificada como sagrada. Como um elo fora do automatismo das instituições compulsivas, justamente porque ela denota benevolência e afirma escolha e liberdade. Sou obrigado a aturar colegas, mas escolho amigos.

Ter amigos é estar acudido e seguro, pois, como ensinava Clarence, o anjo do filme A Felicidade Não se Compra – no qual Frank Capra capturou, como ninguém, as melhores virtudes da América (virtudes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos) –, “quem tem amigos não é um fracassado”.

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Então não é exagero afirmar que a popularidade da Pasárgada do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. Logo na primeira estrofe, surge um esperançoso e feliz brasileirismo: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”.

A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é – não tenhamos dúvidas, moradores que somos desse Brasil de todas as ambiguidades e dilemas – ser amigo do rei!

Enterro da Lava-Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima. Foto: Wilton Junior/Estadão
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Do mandão, do chefe, do dono, do patrão, do que está no centro e no alto, cancelando polaridades, do onipotente vingativo coroado que também é o misericordioso que perdoa e, sem nenhum pudor, passa a borracha no passado. Um passado que não é digerido e avaliado porque nós não o enterramos. Realmente, na medida em que não metemos o dedo nos nossos erros, circunstâncias e dilemas, a morte que engendra a história não acontece.

Lembro que as antigas ordenações contemplavam a pena de morte que, no entanto, convivia com as súplicas que perdoavam. Tal como ocorre até hoje na esfera da política mais densa ou malandra (chamada pelo vulgo de politicagem ou politicalha), pois estamos fartos de ver como os amigos de hoje foram os inimigos de ontem. Perderam o senso, como diz outro poeta? Nada disso! Apenas complacentemente mudaram de lado, como olvidados himens, quando as mulheres o tinham e ele era mais um véu de aprisionamento feminino.

Ter o rei como amigo numa sociedade onde a tudo resistimos, menos ao pedido de um amigo, é formidável. Mas se o rei subverte essa regra de ouro e promete, como vingança, foder com você – o que fazer? Sair de Pasárgada? Solicitar residência em Miami, esse oásis dos bem de vida? Ou, esperar por outra cambalhota histórica?

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Não sei o que escrever quando acompanho o sepultamento da Operação Lava Jato – a maior e a mais aspirada operação anticorrupção da história brasileira, hoje reduzida a uma vil “armação” comandada por bandidos. Apenas anoto que, hoje, o rei tem amigos demais e Pasárgada é um xadrez de segurança máxima. Um quartel-escola do crime que, de lambuja, promove cursos de pós-graduação de delinquência em tempo integral.

É uma palavra valiosa e, numa sociedade de iguais e democrática, pode ser classificada como sagrada. Como um elo fora do automatismo das instituições compulsivas, justamente porque ela denota benevolência e afirma escolha e liberdade. Sou obrigado a aturar colegas, mas escolho amigos.

Ter amigos é estar acudido e seguro, pois, como ensinava Clarence, o anjo do filme A Felicidade Não se Compra – no qual Frank Capra capturou, como ninguém, as melhores virtudes da América (virtudes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos) –, “quem tem amigos não é um fracassado”.

Então não é exagero afirmar que a popularidade da Pasárgada do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. Logo na primeira estrofe, surge um esperançoso e feliz brasileirismo: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”.

A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é – não tenhamos dúvidas, moradores que somos desse Brasil de todas as ambiguidades e dilemas – ser amigo do rei!

Enterro da Lava-Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima. Foto: Wilton Junior/Estadão

Do mandão, do chefe, do dono, do patrão, do que está no centro e no alto, cancelando polaridades, do onipotente vingativo coroado que também é o misericordioso que perdoa e, sem nenhum pudor, passa a borracha no passado. Um passado que não é digerido e avaliado porque nós não o enterramos. Realmente, na medida em que não metemos o dedo nos nossos erros, circunstâncias e dilemas, a morte que engendra a história não acontece.

Lembro que as antigas ordenações contemplavam a pena de morte que, no entanto, convivia com as súplicas que perdoavam. Tal como ocorre até hoje na esfera da política mais densa ou malandra (chamada pelo vulgo de politicagem ou politicalha), pois estamos fartos de ver como os amigos de hoje foram os inimigos de ontem. Perderam o senso, como diz outro poeta? Nada disso! Apenas complacentemente mudaram de lado, como olvidados himens, quando as mulheres o tinham e ele era mais um véu de aprisionamento feminino.

Ter o rei como amigo numa sociedade onde a tudo resistimos, menos ao pedido de um amigo, é formidável. Mas se o rei subverte essa regra de ouro e promete, como vingança, foder com você – o que fazer? Sair de Pasárgada? Solicitar residência em Miami, esse oásis dos bem de vida? Ou, esperar por outra cambalhota histórica?

Não sei o que escrever quando acompanho o sepultamento da Operação Lava Jato – a maior e a mais aspirada operação anticorrupção da história brasileira, hoje reduzida a uma vil “armação” comandada por bandidos. Apenas anoto que, hoje, o rei tem amigos demais e Pasárgada é um xadrez de segurança máxima. Um quartel-escola do crime que, de lambuja, promove cursos de pós-graduação de delinquência em tempo integral.

É uma palavra valiosa e, numa sociedade de iguais e democrática, pode ser classificada como sagrada. Como um elo fora do automatismo das instituições compulsivas, justamente porque ela denota benevolência e afirma escolha e liberdade. Sou obrigado a aturar colegas, mas escolho amigos.

Ter amigos é estar acudido e seguro, pois, como ensinava Clarence, o anjo do filme A Felicidade Não se Compra – no qual Frank Capra capturou, como ninguém, as melhores virtudes da América (virtudes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos) –, “quem tem amigos não é um fracassado”.

Então não é exagero afirmar que a popularidade da Pasárgada do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. Logo na primeira estrofe, surge um esperançoso e feliz brasileirismo: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”.

A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é – não tenhamos dúvidas, moradores que somos desse Brasil de todas as ambiguidades e dilemas – ser amigo do rei!

Enterro da Lava-Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima. Foto: Wilton Junior/Estadão

Do mandão, do chefe, do dono, do patrão, do que está no centro e no alto, cancelando polaridades, do onipotente vingativo coroado que também é o misericordioso que perdoa e, sem nenhum pudor, passa a borracha no passado. Um passado que não é digerido e avaliado porque nós não o enterramos. Realmente, na medida em que não metemos o dedo nos nossos erros, circunstâncias e dilemas, a morte que engendra a história não acontece.

Lembro que as antigas ordenações contemplavam a pena de morte que, no entanto, convivia com as súplicas que perdoavam. Tal como ocorre até hoje na esfera da política mais densa ou malandra (chamada pelo vulgo de politicagem ou politicalha), pois estamos fartos de ver como os amigos de hoje foram os inimigos de ontem. Perderam o senso, como diz outro poeta? Nada disso! Apenas complacentemente mudaram de lado, como olvidados himens, quando as mulheres o tinham e ele era mais um véu de aprisionamento feminino.

Ter o rei como amigo numa sociedade onde a tudo resistimos, menos ao pedido de um amigo, é formidável. Mas se o rei subverte essa regra de ouro e promete, como vingança, foder com você – o que fazer? Sair de Pasárgada? Solicitar residência em Miami, esse oásis dos bem de vida? Ou, esperar por outra cambalhota histórica?

Não sei o que escrever quando acompanho o sepultamento da Operação Lava Jato – a maior e a mais aspirada operação anticorrupção da história brasileira, hoje reduzida a uma vil “armação” comandada por bandidos. Apenas anoto que, hoje, o rei tem amigos demais e Pasárgada é um xadrez de segurança máxima. Um quartel-escola do crime que, de lambuja, promove cursos de pós-graduação de delinquência em tempo integral.

É uma palavra valiosa e, numa sociedade de iguais e democrática, pode ser classificada como sagrada. Como um elo fora do automatismo das instituições compulsivas, justamente porque ela denota benevolência e afirma escolha e liberdade. Sou obrigado a aturar colegas, mas escolho amigos.

Ter amigos é estar acudido e seguro, pois, como ensinava Clarence, o anjo do filme A Felicidade Não se Compra – no qual Frank Capra capturou, como ninguém, as melhores virtudes da América (virtudes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos) –, “quem tem amigos não é um fracassado”.

Então não é exagero afirmar que a popularidade da Pasárgada do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. Logo na primeira estrofe, surge um esperançoso e feliz brasileirismo: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”.

A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é – não tenhamos dúvidas, moradores que somos desse Brasil de todas as ambiguidades e dilemas – ser amigo do rei!

Enterro da Lava-Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima. Foto: Wilton Junior/Estadão

Do mandão, do chefe, do dono, do patrão, do que está no centro e no alto, cancelando polaridades, do onipotente vingativo coroado que também é o misericordioso que perdoa e, sem nenhum pudor, passa a borracha no passado. Um passado que não é digerido e avaliado porque nós não o enterramos. Realmente, na medida em que não metemos o dedo nos nossos erros, circunstâncias e dilemas, a morte que engendra a história não acontece.

Lembro que as antigas ordenações contemplavam a pena de morte que, no entanto, convivia com as súplicas que perdoavam. Tal como ocorre até hoje na esfera da política mais densa ou malandra (chamada pelo vulgo de politicagem ou politicalha), pois estamos fartos de ver como os amigos de hoje foram os inimigos de ontem. Perderam o senso, como diz outro poeta? Nada disso! Apenas complacentemente mudaram de lado, como olvidados himens, quando as mulheres o tinham e ele era mais um véu de aprisionamento feminino.

Ter o rei como amigo numa sociedade onde a tudo resistimos, menos ao pedido de um amigo, é formidável. Mas se o rei subverte essa regra de ouro e promete, como vingança, foder com você – o que fazer? Sair de Pasárgada? Solicitar residência em Miami, esse oásis dos bem de vida? Ou, esperar por outra cambalhota histórica?

Não sei o que escrever quando acompanho o sepultamento da Operação Lava Jato – a maior e a mais aspirada operação anticorrupção da história brasileira, hoje reduzida a uma vil “armação” comandada por bandidos. Apenas anoto que, hoje, o rei tem amigos demais e Pasárgada é um xadrez de segurança máxima. Um quartel-escola do crime que, de lambuja, promove cursos de pós-graduação de delinquência em tempo integral.

É uma palavra valiosa e, numa sociedade de iguais e democrática, pode ser classificada como sagrada. Como um elo fora do automatismo das instituições compulsivas, justamente porque ela denota benevolência e afirma escolha e liberdade. Sou obrigado a aturar colegas, mas escolho amigos.

Ter amigos é estar acudido e seguro, pois, como ensinava Clarence, o anjo do filme A Felicidade Não se Compra – no qual Frank Capra capturou, como ninguém, as melhores virtudes da América (virtudes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos) –, “quem tem amigos não é um fracassado”.

Então não é exagero afirmar que a popularidade da Pasárgada do extraordinário Manuel Bandeira decorre de uma abrangente dimensão moral. Logo na primeira estrofe, surge um esperançoso e feliz brasileirismo: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”.

A chave que abre todas as portas, inclusive a que faculta a mulher desejada, é – não tenhamos dúvidas, moradores que somos desse Brasil de todas as ambiguidades e dilemas – ser amigo do rei!

Enterro da Lava-Jato mostra que o rei tem amigos demais e Pasárgada é xadrez de segurança máxima. Foto: Wilton Junior/Estadão

Do mandão, do chefe, do dono, do patrão, do que está no centro e no alto, cancelando polaridades, do onipotente vingativo coroado que também é o misericordioso que perdoa e, sem nenhum pudor, passa a borracha no passado. Um passado que não é digerido e avaliado porque nós não o enterramos. Realmente, na medida em que não metemos o dedo nos nossos erros, circunstâncias e dilemas, a morte que engendra a história não acontece.

Lembro que as antigas ordenações contemplavam a pena de morte que, no entanto, convivia com as súplicas que perdoavam. Tal como ocorre até hoje na esfera da política mais densa ou malandra (chamada pelo vulgo de politicagem ou politicalha), pois estamos fartos de ver como os amigos de hoje foram os inimigos de ontem. Perderam o senso, como diz outro poeta? Nada disso! Apenas complacentemente mudaram de lado, como olvidados himens, quando as mulheres o tinham e ele era mais um véu de aprisionamento feminino.

Ter o rei como amigo numa sociedade onde a tudo resistimos, menos ao pedido de um amigo, é formidável. Mas se o rei subverte essa regra de ouro e promete, como vingança, foder com você – o que fazer? Sair de Pasárgada? Solicitar residência em Miami, esse oásis dos bem de vida? Ou, esperar por outra cambalhota histórica?

Não sei o que escrever quando acompanho o sepultamento da Operação Lava Jato – a maior e a mais aspirada operação anticorrupção da história brasileira, hoje reduzida a uma vil “armação” comandada por bandidos. Apenas anoto que, hoje, o rei tem amigos demais e Pasárgada é um xadrez de segurança máxima. Um quartel-escola do crime que, de lambuja, promove cursos de pós-graduação de delinquência em tempo integral.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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