Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|‘Esse eu conheço!’: Quanto mais usamos a expressão menos penetramos no labirinto do seu significado


Protocolos básicos para a dinâmica de uma sociedade livre são interpretados como uma ‘armação’

Por Roberto DaMatta

“Esse eu conheço!”. Salta aos olhos a trivialidade da expressão. No entanto, quanto mais a usamos, menos penetramos no labirinto do seu significado. Procure traduzi-la para o inglês e veja como ela pouco revela, porque – como diria Gilberto Freyre – se trata de um “brasileirismo”.

De um uso do verbo “conhecer” e do espaço de um “eu” centralizador que escapole da nossa consciência. Algo que faz parte da “natureza” da nossa cultura e da nossa hierarquia, que ordenam nossas vidas.

Todos conhecem X, mas nem todos podem dizer com certeza, orgulho ou desprezo, “esse eu conheço!”, que revalida e legitima um elo pessoal; um laço instaurador de um conhecimento íntimo, cotidiano e familiar. De tudo o que, para nós, faz diferença porque afasta o demônio social do informal e do impessoal que tanto facilita e impede a impunidade.

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A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Como o exemplo que discuto no livro Fé em Deus e Pé na Tábua – escrito com João Gualberto e Ricardo Pandolfi, publicado em 2010 pela Rocco –, “o sinal vermelho fechou justamente contra mim!”.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Foto: Otávio Magalhães/Estadão

Ou seja, os protocolos básicos para a dinâmica de uma sociedade livre igualitária são invariavelmente interpretados de modo pessoal como uma “armação”, ou mais presidencial e sofisticadamente, uma “mancomunação” contra alguém.

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No caso, refiro-me ao presidente Lula na sua tentativa de apagar a história. Mancomunação é intriga. É coisa feita por malfeitores que, obviamente, pega muito melhor quando se tem 30 e poucos partidos políticos, todos dependentes do “esse eu conheço” e dispostos a serem adotados por algum tipo de conhecimento pessoalizado.

Imagine a situação. Naquela sala solene onde tudo é possível, conforme estamos fartos de saber, o chefe (que nem sempre é o líder) pretende reconstruir sua “turma” original.

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Para isso, ele menciona um favorito de quem é amigo e naturalmente deve favores, mesmo sabendo que o sujeito é, como diria Nelson Rodrigues, uma besta quadrada: “Que tal o Apolinário? Afinal ele foi ministro...”. “Ah! – diz outro conhecido –, esse eu conheço!” Ouve-se um silêncio de cemitério na sala nobre.

O leitor, como o autor, também pausa e se pergunta que diabos “esse eu conheço” significa?

Ora, diria um Machado: essa é a teia do enredo.

“Esse eu conheço!”. Salta aos olhos a trivialidade da expressão. No entanto, quanto mais a usamos, menos penetramos no labirinto do seu significado. Procure traduzi-la para o inglês e veja como ela pouco revela, porque – como diria Gilberto Freyre – se trata de um “brasileirismo”.

De um uso do verbo “conhecer” e do espaço de um “eu” centralizador que escapole da nossa consciência. Algo que faz parte da “natureza” da nossa cultura e da nossa hierarquia, que ordenam nossas vidas.

Todos conhecem X, mas nem todos podem dizer com certeza, orgulho ou desprezo, “esse eu conheço!”, que revalida e legitima um elo pessoal; um laço instaurador de um conhecimento íntimo, cotidiano e familiar. De tudo o que, para nós, faz diferença porque afasta o demônio social do informal e do impessoal que tanto facilita e impede a impunidade.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Como o exemplo que discuto no livro Fé em Deus e Pé na Tábua – escrito com João Gualberto e Ricardo Pandolfi, publicado em 2010 pela Rocco –, “o sinal vermelho fechou justamente contra mim!”.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Foto: Otávio Magalhães/Estadão

Ou seja, os protocolos básicos para a dinâmica de uma sociedade livre igualitária são invariavelmente interpretados de modo pessoal como uma “armação”, ou mais presidencial e sofisticadamente, uma “mancomunação” contra alguém.

No caso, refiro-me ao presidente Lula na sua tentativa de apagar a história. Mancomunação é intriga. É coisa feita por malfeitores que, obviamente, pega muito melhor quando se tem 30 e poucos partidos políticos, todos dependentes do “esse eu conheço” e dispostos a serem adotados por algum tipo de conhecimento pessoalizado.

Imagine a situação. Naquela sala solene onde tudo é possível, conforme estamos fartos de saber, o chefe (que nem sempre é o líder) pretende reconstruir sua “turma” original.

Para isso, ele menciona um favorito de quem é amigo e naturalmente deve favores, mesmo sabendo que o sujeito é, como diria Nelson Rodrigues, uma besta quadrada: “Que tal o Apolinário? Afinal ele foi ministro...”. “Ah! – diz outro conhecido –, esse eu conheço!” Ouve-se um silêncio de cemitério na sala nobre.

O leitor, como o autor, também pausa e se pergunta que diabos “esse eu conheço” significa?

Ora, diria um Machado: essa é a teia do enredo.

“Esse eu conheço!”. Salta aos olhos a trivialidade da expressão. No entanto, quanto mais a usamos, menos penetramos no labirinto do seu significado. Procure traduzi-la para o inglês e veja como ela pouco revela, porque – como diria Gilberto Freyre – se trata de um “brasileirismo”.

De um uso do verbo “conhecer” e do espaço de um “eu” centralizador que escapole da nossa consciência. Algo que faz parte da “natureza” da nossa cultura e da nossa hierarquia, que ordenam nossas vidas.

Todos conhecem X, mas nem todos podem dizer com certeza, orgulho ou desprezo, “esse eu conheço!”, que revalida e legitima um elo pessoal; um laço instaurador de um conhecimento íntimo, cotidiano e familiar. De tudo o que, para nós, faz diferença porque afasta o demônio social do informal e do impessoal que tanto facilita e impede a impunidade.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Como o exemplo que discuto no livro Fé em Deus e Pé na Tábua – escrito com João Gualberto e Ricardo Pandolfi, publicado em 2010 pela Rocco –, “o sinal vermelho fechou justamente contra mim!”.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Foto: Otávio Magalhães/Estadão

Ou seja, os protocolos básicos para a dinâmica de uma sociedade livre igualitária são invariavelmente interpretados de modo pessoal como uma “armação”, ou mais presidencial e sofisticadamente, uma “mancomunação” contra alguém.

No caso, refiro-me ao presidente Lula na sua tentativa de apagar a história. Mancomunação é intriga. É coisa feita por malfeitores que, obviamente, pega muito melhor quando se tem 30 e poucos partidos políticos, todos dependentes do “esse eu conheço” e dispostos a serem adotados por algum tipo de conhecimento pessoalizado.

Imagine a situação. Naquela sala solene onde tudo é possível, conforme estamos fartos de saber, o chefe (que nem sempre é o líder) pretende reconstruir sua “turma” original.

Para isso, ele menciona um favorito de quem é amigo e naturalmente deve favores, mesmo sabendo que o sujeito é, como diria Nelson Rodrigues, uma besta quadrada: “Que tal o Apolinário? Afinal ele foi ministro...”. “Ah! – diz outro conhecido –, esse eu conheço!” Ouve-se um silêncio de cemitério na sala nobre.

O leitor, como o autor, também pausa e se pergunta que diabos “esse eu conheço” significa?

Ora, diria um Machado: essa é a teia do enredo.

“Esse eu conheço!”. Salta aos olhos a trivialidade da expressão. No entanto, quanto mais a usamos, menos penetramos no labirinto do seu significado. Procure traduzi-la para o inglês e veja como ela pouco revela, porque – como diria Gilberto Freyre – se trata de um “brasileirismo”.

De um uso do verbo “conhecer” e do espaço de um “eu” centralizador que escapole da nossa consciência. Algo que faz parte da “natureza” da nossa cultura e da nossa hierarquia, que ordenam nossas vidas.

Todos conhecem X, mas nem todos podem dizer com certeza, orgulho ou desprezo, “esse eu conheço!”, que revalida e legitima um elo pessoal; um laço instaurador de um conhecimento íntimo, cotidiano e familiar. De tudo o que, para nós, faz diferença porque afasta o demônio social do informal e do impessoal que tanto facilita e impede a impunidade.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Como o exemplo que discuto no livro Fé em Deus e Pé na Tábua – escrito com João Gualberto e Ricardo Pandolfi, publicado em 2010 pela Rocco –, “o sinal vermelho fechou justamente contra mim!”.

A nossa aversão à impessoalidade chega às raias da repulsa ou do ódio. Ou, como verifiquei em pesquisa, em ofensa pessoal. Foto: Otávio Magalhães/Estadão

Ou seja, os protocolos básicos para a dinâmica de uma sociedade livre igualitária são invariavelmente interpretados de modo pessoal como uma “armação”, ou mais presidencial e sofisticadamente, uma “mancomunação” contra alguém.

No caso, refiro-me ao presidente Lula na sua tentativa de apagar a história. Mancomunação é intriga. É coisa feita por malfeitores que, obviamente, pega muito melhor quando se tem 30 e poucos partidos políticos, todos dependentes do “esse eu conheço” e dispostos a serem adotados por algum tipo de conhecimento pessoalizado.

Imagine a situação. Naquela sala solene onde tudo é possível, conforme estamos fartos de saber, o chefe (que nem sempre é o líder) pretende reconstruir sua “turma” original.

Para isso, ele menciona um favorito de quem é amigo e naturalmente deve favores, mesmo sabendo que o sujeito é, como diria Nelson Rodrigues, uma besta quadrada: “Que tal o Apolinário? Afinal ele foi ministro...”. “Ah! – diz outro conhecido –, esse eu conheço!” Ouve-se um silêncio de cemitério na sala nobre.

O leitor, como o autor, também pausa e se pergunta que diabos “esse eu conheço” significa?

Ora, diria um Machado: essa é a teia do enredo.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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