Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|Estamos andando para trás, involuindo para um estado inadmissível de selvageria?


No fundo de um inegável progressismo existe uma ferocidade que nunca nos abandonou

Por Roberto DaMatta

Nasci em 1936 e, nos anos 1940, lembro-me de, em Maceió, Alagoas, ver meu pai debruçado sobre jornais com os mapas da Europa e do Pacífico, onde se travava a Segunda Guerra Mundial, numa reprise do conflito de 1914 a 1918, revelador e mais “adiantado” de nossa reprimida afinidade com o conflito, o qual parece ser parte estrutural do progresso.

Não é possível esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial, legitimada e justificada em termos geopolíticos, morais e religiosos. Era, hoje vejo isso muito bem, uma guerra santificada pelos valores do igualitarismo democrático e por eles, felizmente, vencida.

Na teoria antropológica que aprendi lendo Morgan, Comte, Engels, Spencer e White, nós – Homo sapiens – galgávamos os degraus do progresso lentamente. Começamos descobrindo o fogo e depois de passarmos pela selvageria, barbárie e “revolução neolítica” chegamos à agricultura, ao pastoreio e ao sedentarismo das primeiras aldeias e cidades neste problemático Oriente Médio hoje conflagrado.

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Sempre imaginei, sem muito me aprofundar, que o terror e o seu irmão siamês – a violência estruturada pela guerra – escoltavam essa escalada para o “alto”. Para esse mundo em que hoje eu, um velho de 87 anos, vivo.

Mas jamais passou pela minha mente que o terror e a violência que, no terrorismo, lhe injetam surpresa e poder, fossem promover a dúvida de que o rumo do Homo sapiens fosse (quem sabe?) uma descida – ou, numa hipótese generosa, uma montanha-russa.

Uma involução, como estamos vendo ao vivo e em cores neste momento.

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Guerra entre Israel e Hamas começou no início de outubro Foto: Amir Cohen/Reuters

Porque tanto o século 20 quanto este 21 têm sido marcados por uma gargalhada evolutiva. Um riso sardônico, revelador de que, no fundo de um inegável progressismo, existe uma ferocidade que jamais nos abandonou e hoje se manifesta nas precisões mortais dos drones armados com bombas, e dos fulminantes lançadores de mísseis.

Seja no mundo eslavo, seja nesse Oriente Médio miticamente predestinado. Região onde apareceu um Deus único e onipotente, mas carente de lealdade e sacrifícios. Uma divindade que inventou a humanidade, mas que tem – proclamam seus profetas – um povo escolhido.

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É a civilização sem civilidade? É prova de evolução pelo terrorismo, no propósito do extermínio do outro? Ou involuímos para um estado inadmissível de selvageria tecnocrática?

Nasci em 1936 e, nos anos 1940, lembro-me de, em Maceió, Alagoas, ver meu pai debruçado sobre jornais com os mapas da Europa e do Pacífico, onde se travava a Segunda Guerra Mundial, numa reprise do conflito de 1914 a 1918, revelador e mais “adiantado” de nossa reprimida afinidade com o conflito, o qual parece ser parte estrutural do progresso.

Não é possível esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial, legitimada e justificada em termos geopolíticos, morais e religiosos. Era, hoje vejo isso muito bem, uma guerra santificada pelos valores do igualitarismo democrático e por eles, felizmente, vencida.

Na teoria antropológica que aprendi lendo Morgan, Comte, Engels, Spencer e White, nós – Homo sapiens – galgávamos os degraus do progresso lentamente. Começamos descobrindo o fogo e depois de passarmos pela selvageria, barbárie e “revolução neolítica” chegamos à agricultura, ao pastoreio e ao sedentarismo das primeiras aldeias e cidades neste problemático Oriente Médio hoje conflagrado.

Sempre imaginei, sem muito me aprofundar, que o terror e o seu irmão siamês – a violência estruturada pela guerra – escoltavam essa escalada para o “alto”. Para esse mundo em que hoje eu, um velho de 87 anos, vivo.

Mas jamais passou pela minha mente que o terror e a violência que, no terrorismo, lhe injetam surpresa e poder, fossem promover a dúvida de que o rumo do Homo sapiens fosse (quem sabe?) uma descida – ou, numa hipótese generosa, uma montanha-russa.

Uma involução, como estamos vendo ao vivo e em cores neste momento.

Guerra entre Israel e Hamas começou no início de outubro Foto: Amir Cohen/Reuters

Porque tanto o século 20 quanto este 21 têm sido marcados por uma gargalhada evolutiva. Um riso sardônico, revelador de que, no fundo de um inegável progressismo, existe uma ferocidade que jamais nos abandonou e hoje se manifesta nas precisões mortais dos drones armados com bombas, e dos fulminantes lançadores de mísseis.

Seja no mundo eslavo, seja nesse Oriente Médio miticamente predestinado. Região onde apareceu um Deus único e onipotente, mas carente de lealdade e sacrifícios. Uma divindade que inventou a humanidade, mas que tem – proclamam seus profetas – um povo escolhido.

É a civilização sem civilidade? É prova de evolução pelo terrorismo, no propósito do extermínio do outro? Ou involuímos para um estado inadmissível de selvageria tecnocrática?

Nasci em 1936 e, nos anos 1940, lembro-me de, em Maceió, Alagoas, ver meu pai debruçado sobre jornais com os mapas da Europa e do Pacífico, onde se travava a Segunda Guerra Mundial, numa reprise do conflito de 1914 a 1918, revelador e mais “adiantado” de nossa reprimida afinidade com o conflito, o qual parece ser parte estrutural do progresso.

Não é possível esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial, legitimada e justificada em termos geopolíticos, morais e religiosos. Era, hoje vejo isso muito bem, uma guerra santificada pelos valores do igualitarismo democrático e por eles, felizmente, vencida.

Na teoria antropológica que aprendi lendo Morgan, Comte, Engels, Spencer e White, nós – Homo sapiens – galgávamos os degraus do progresso lentamente. Começamos descobrindo o fogo e depois de passarmos pela selvageria, barbárie e “revolução neolítica” chegamos à agricultura, ao pastoreio e ao sedentarismo das primeiras aldeias e cidades neste problemático Oriente Médio hoje conflagrado.

Sempre imaginei, sem muito me aprofundar, que o terror e o seu irmão siamês – a violência estruturada pela guerra – escoltavam essa escalada para o “alto”. Para esse mundo em que hoje eu, um velho de 87 anos, vivo.

Mas jamais passou pela minha mente que o terror e a violência que, no terrorismo, lhe injetam surpresa e poder, fossem promover a dúvida de que o rumo do Homo sapiens fosse (quem sabe?) uma descida – ou, numa hipótese generosa, uma montanha-russa.

Uma involução, como estamos vendo ao vivo e em cores neste momento.

Guerra entre Israel e Hamas começou no início de outubro Foto: Amir Cohen/Reuters

Porque tanto o século 20 quanto este 21 têm sido marcados por uma gargalhada evolutiva. Um riso sardônico, revelador de que, no fundo de um inegável progressismo, existe uma ferocidade que jamais nos abandonou e hoje se manifesta nas precisões mortais dos drones armados com bombas, e dos fulminantes lançadores de mísseis.

Seja no mundo eslavo, seja nesse Oriente Médio miticamente predestinado. Região onde apareceu um Deus único e onipotente, mas carente de lealdade e sacrifícios. Uma divindade que inventou a humanidade, mas que tem – proclamam seus profetas – um povo escolhido.

É a civilização sem civilidade? É prova de evolução pelo terrorismo, no propósito do extermínio do outro? Ou involuímos para um estado inadmissível de selvageria tecnocrática?

Nasci em 1936 e, nos anos 1940, lembro-me de, em Maceió, Alagoas, ver meu pai debruçado sobre jornais com os mapas da Europa e do Pacífico, onde se travava a Segunda Guerra Mundial, numa reprise do conflito de 1914 a 1918, revelador e mais “adiantado” de nossa reprimida afinidade com o conflito, o qual parece ser parte estrutural do progresso.

Não é possível esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial, legitimada e justificada em termos geopolíticos, morais e religiosos. Era, hoje vejo isso muito bem, uma guerra santificada pelos valores do igualitarismo democrático e por eles, felizmente, vencida.

Na teoria antropológica que aprendi lendo Morgan, Comte, Engels, Spencer e White, nós – Homo sapiens – galgávamos os degraus do progresso lentamente. Começamos descobrindo o fogo e depois de passarmos pela selvageria, barbárie e “revolução neolítica” chegamos à agricultura, ao pastoreio e ao sedentarismo das primeiras aldeias e cidades neste problemático Oriente Médio hoje conflagrado.

Sempre imaginei, sem muito me aprofundar, que o terror e o seu irmão siamês – a violência estruturada pela guerra – escoltavam essa escalada para o “alto”. Para esse mundo em que hoje eu, um velho de 87 anos, vivo.

Mas jamais passou pela minha mente que o terror e a violência que, no terrorismo, lhe injetam surpresa e poder, fossem promover a dúvida de que o rumo do Homo sapiens fosse (quem sabe?) uma descida – ou, numa hipótese generosa, uma montanha-russa.

Uma involução, como estamos vendo ao vivo e em cores neste momento.

Guerra entre Israel e Hamas começou no início de outubro Foto: Amir Cohen/Reuters

Porque tanto o século 20 quanto este 21 têm sido marcados por uma gargalhada evolutiva. Um riso sardônico, revelador de que, no fundo de um inegável progressismo, existe uma ferocidade que jamais nos abandonou e hoje se manifesta nas precisões mortais dos drones armados com bombas, e dos fulminantes lançadores de mísseis.

Seja no mundo eslavo, seja nesse Oriente Médio miticamente predestinado. Região onde apareceu um Deus único e onipotente, mas carente de lealdade e sacrifícios. Uma divindade que inventou a humanidade, mas que tem – proclamam seus profetas – um povo escolhido.

É a civilização sem civilidade? É prova de evolução pelo terrorismo, no propósito do extermínio do outro? Ou involuímos para um estado inadmissível de selvageria tecnocrática?

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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