Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|John Doe, Frank Capra e Rita Lee


A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo

Por Roberto DaMatta
Atualização:

Meu velho amigo e mentor Richard Moneygrand sofreu um AVC, felizmente está em franca e rápida recuperação. Na sua convalescença, Dick me conta que tem relaxado e se emocionado assistindo à sua notável coleção de clássicos do cinema; de um cinema americano que hoje não existe mais, de filmes que falavam da vida, da morte e das intrincadas relações entre os seres humanos. Nosso último diálogo, que eu desejo comunicar a vocês meus queridos leitores e leitoras, reproduz nossas impressões sobre um filme de Frank Capra, Meet John Doe, realizado em 1941, burramente tachado em brasileiro como Adorável Vagabundo, título revelador de uma total incompreensão da densidade do populismo capriano, uma visão do mundo profundamente otimista, igualitária e, mais do que isso, democrática. Aliás, para ser mais veemente, essencial e generosamente democrática.

O filme revela um processo que pode ser chamado de fetichização, pois relata a criação de um herói altruísta numa sociedade desesperadamente necessitada de esperança e generosidade. Algo muito semelhante a este nosso Brasil no qual temos a sensação de que não saímos do lugar. O John Doe de Capra é uma criação ou um ídolo inventado por uma jornalista que perde o emprego. No fundo do seu desespero, ela imagina um John Doe que cometeria suicídio, na noite de Natal, caso a sociedade continuasse indiferente em relação aos valores humanos como confiança e amor ao próximo. A marola jornalística da jornalista cruelmente despedida se encarrega de idealizar um ser humano comum que acaba contaminando todo o país. A ficção engendra uma realidade, a mentira vira verdade, o vagabundo comprado pelo jornal transforma-se em herói e o personagem numa passagem irônica envelopa o próprio ator.

Rita Lee, em seu sítio no interior de São Paulo.  Foto: Reprodução/Instagram/@ritalee_oficial
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Essa não é uma trama incomum. No fundo, ela ocorre com todos nós que, mais cedo ou mais tarde, nos transformamos naquilo que o nosso grupo, nossa classe social e família esperam. Não há como não relacionar, diz Moneygrand, esse filme com a persona extraordinária de Rita Lee, cuja vida, aparentemente transgressora, se revelou tão rica e excepcionalmente criativa. Uma sociedade como a brasileira – continua Moneygrand –, tão refém do seu autoritarismo e denso machismo, deu à luz uma mulher de aparência frágil e de notável riqueza espiritual. A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo...

Do mesmo modo que as sociedades tribais têm os seus grandes líderes e xamãs, nós precisamos de personagens sólidos. Estamos cansados de testemunhar pessoas que sucumbem diante dos papéis que prometeram desempenhar.

PS: Quando vejo juízes supremos anulando centenas de milhares de votos de um eleito, rezo para que isso não seja o sintoma do retorno do nosso fascismo tupiniquim.

Meu velho amigo e mentor Richard Moneygrand sofreu um AVC, felizmente está em franca e rápida recuperação. Na sua convalescença, Dick me conta que tem relaxado e se emocionado assistindo à sua notável coleção de clássicos do cinema; de um cinema americano que hoje não existe mais, de filmes que falavam da vida, da morte e das intrincadas relações entre os seres humanos. Nosso último diálogo, que eu desejo comunicar a vocês meus queridos leitores e leitoras, reproduz nossas impressões sobre um filme de Frank Capra, Meet John Doe, realizado em 1941, burramente tachado em brasileiro como Adorável Vagabundo, título revelador de uma total incompreensão da densidade do populismo capriano, uma visão do mundo profundamente otimista, igualitária e, mais do que isso, democrática. Aliás, para ser mais veemente, essencial e generosamente democrática.

O filme revela um processo que pode ser chamado de fetichização, pois relata a criação de um herói altruísta numa sociedade desesperadamente necessitada de esperança e generosidade. Algo muito semelhante a este nosso Brasil no qual temos a sensação de que não saímos do lugar. O John Doe de Capra é uma criação ou um ídolo inventado por uma jornalista que perde o emprego. No fundo do seu desespero, ela imagina um John Doe que cometeria suicídio, na noite de Natal, caso a sociedade continuasse indiferente em relação aos valores humanos como confiança e amor ao próximo. A marola jornalística da jornalista cruelmente despedida se encarrega de idealizar um ser humano comum que acaba contaminando todo o país. A ficção engendra uma realidade, a mentira vira verdade, o vagabundo comprado pelo jornal transforma-se em herói e o personagem numa passagem irônica envelopa o próprio ator.

Rita Lee, em seu sítio no interior de São Paulo.  Foto: Reprodução/Instagram/@ritalee_oficial

Essa não é uma trama incomum. No fundo, ela ocorre com todos nós que, mais cedo ou mais tarde, nos transformamos naquilo que o nosso grupo, nossa classe social e família esperam. Não há como não relacionar, diz Moneygrand, esse filme com a persona extraordinária de Rita Lee, cuja vida, aparentemente transgressora, se revelou tão rica e excepcionalmente criativa. Uma sociedade como a brasileira – continua Moneygrand –, tão refém do seu autoritarismo e denso machismo, deu à luz uma mulher de aparência frágil e de notável riqueza espiritual. A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo...

Do mesmo modo que as sociedades tribais têm os seus grandes líderes e xamãs, nós precisamos de personagens sólidos. Estamos cansados de testemunhar pessoas que sucumbem diante dos papéis que prometeram desempenhar.

PS: Quando vejo juízes supremos anulando centenas de milhares de votos de um eleito, rezo para que isso não seja o sintoma do retorno do nosso fascismo tupiniquim.

Meu velho amigo e mentor Richard Moneygrand sofreu um AVC, felizmente está em franca e rápida recuperação. Na sua convalescença, Dick me conta que tem relaxado e se emocionado assistindo à sua notável coleção de clássicos do cinema; de um cinema americano que hoje não existe mais, de filmes que falavam da vida, da morte e das intrincadas relações entre os seres humanos. Nosso último diálogo, que eu desejo comunicar a vocês meus queridos leitores e leitoras, reproduz nossas impressões sobre um filme de Frank Capra, Meet John Doe, realizado em 1941, burramente tachado em brasileiro como Adorável Vagabundo, título revelador de uma total incompreensão da densidade do populismo capriano, uma visão do mundo profundamente otimista, igualitária e, mais do que isso, democrática. Aliás, para ser mais veemente, essencial e generosamente democrática.

O filme revela um processo que pode ser chamado de fetichização, pois relata a criação de um herói altruísta numa sociedade desesperadamente necessitada de esperança e generosidade. Algo muito semelhante a este nosso Brasil no qual temos a sensação de que não saímos do lugar. O John Doe de Capra é uma criação ou um ídolo inventado por uma jornalista que perde o emprego. No fundo do seu desespero, ela imagina um John Doe que cometeria suicídio, na noite de Natal, caso a sociedade continuasse indiferente em relação aos valores humanos como confiança e amor ao próximo. A marola jornalística da jornalista cruelmente despedida se encarrega de idealizar um ser humano comum que acaba contaminando todo o país. A ficção engendra uma realidade, a mentira vira verdade, o vagabundo comprado pelo jornal transforma-se em herói e o personagem numa passagem irônica envelopa o próprio ator.

Rita Lee, em seu sítio no interior de São Paulo.  Foto: Reprodução/Instagram/@ritalee_oficial

Essa não é uma trama incomum. No fundo, ela ocorre com todos nós que, mais cedo ou mais tarde, nos transformamos naquilo que o nosso grupo, nossa classe social e família esperam. Não há como não relacionar, diz Moneygrand, esse filme com a persona extraordinária de Rita Lee, cuja vida, aparentemente transgressora, se revelou tão rica e excepcionalmente criativa. Uma sociedade como a brasileira – continua Moneygrand –, tão refém do seu autoritarismo e denso machismo, deu à luz uma mulher de aparência frágil e de notável riqueza espiritual. A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo...

Do mesmo modo que as sociedades tribais têm os seus grandes líderes e xamãs, nós precisamos de personagens sólidos. Estamos cansados de testemunhar pessoas que sucumbem diante dos papéis que prometeram desempenhar.

PS: Quando vejo juízes supremos anulando centenas de milhares de votos de um eleito, rezo para que isso não seja o sintoma do retorno do nosso fascismo tupiniquim.

Meu velho amigo e mentor Richard Moneygrand sofreu um AVC, felizmente está em franca e rápida recuperação. Na sua convalescença, Dick me conta que tem relaxado e se emocionado assistindo à sua notável coleção de clássicos do cinema; de um cinema americano que hoje não existe mais, de filmes que falavam da vida, da morte e das intrincadas relações entre os seres humanos. Nosso último diálogo, que eu desejo comunicar a vocês meus queridos leitores e leitoras, reproduz nossas impressões sobre um filme de Frank Capra, Meet John Doe, realizado em 1941, burramente tachado em brasileiro como Adorável Vagabundo, título revelador de uma total incompreensão da densidade do populismo capriano, uma visão do mundo profundamente otimista, igualitária e, mais do que isso, democrática. Aliás, para ser mais veemente, essencial e generosamente democrática.

O filme revela um processo que pode ser chamado de fetichização, pois relata a criação de um herói altruísta numa sociedade desesperadamente necessitada de esperança e generosidade. Algo muito semelhante a este nosso Brasil no qual temos a sensação de que não saímos do lugar. O John Doe de Capra é uma criação ou um ídolo inventado por uma jornalista que perde o emprego. No fundo do seu desespero, ela imagina um John Doe que cometeria suicídio, na noite de Natal, caso a sociedade continuasse indiferente em relação aos valores humanos como confiança e amor ao próximo. A marola jornalística da jornalista cruelmente despedida se encarrega de idealizar um ser humano comum que acaba contaminando todo o país. A ficção engendra uma realidade, a mentira vira verdade, o vagabundo comprado pelo jornal transforma-se em herói e o personagem numa passagem irônica envelopa o próprio ator.

Rita Lee, em seu sítio no interior de São Paulo.  Foto: Reprodução/Instagram/@ritalee_oficial

Essa não é uma trama incomum. No fundo, ela ocorre com todos nós que, mais cedo ou mais tarde, nos transformamos naquilo que o nosso grupo, nossa classe social e família esperam. Não há como não relacionar, diz Moneygrand, esse filme com a persona extraordinária de Rita Lee, cuja vida, aparentemente transgressora, se revelou tão rica e excepcionalmente criativa. Uma sociedade como a brasileira – continua Moneygrand –, tão refém do seu autoritarismo e denso machismo, deu à luz uma mulher de aparência frágil e de notável riqueza espiritual. A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo...

Do mesmo modo que as sociedades tribais têm os seus grandes líderes e xamãs, nós precisamos de personagens sólidos. Estamos cansados de testemunhar pessoas que sucumbem diante dos papéis que prometeram desempenhar.

PS: Quando vejo juízes supremos anulando centenas de milhares de votos de um eleito, rezo para que isso não seja o sintoma do retorno do nosso fascismo tupiniquim.

Meu velho amigo e mentor Richard Moneygrand sofreu um AVC, felizmente está em franca e rápida recuperação. Na sua convalescença, Dick me conta que tem relaxado e se emocionado assistindo à sua notável coleção de clássicos do cinema; de um cinema americano que hoje não existe mais, de filmes que falavam da vida, da morte e das intrincadas relações entre os seres humanos. Nosso último diálogo, que eu desejo comunicar a vocês meus queridos leitores e leitoras, reproduz nossas impressões sobre um filme de Frank Capra, Meet John Doe, realizado em 1941, burramente tachado em brasileiro como Adorável Vagabundo, título revelador de uma total incompreensão da densidade do populismo capriano, uma visão do mundo profundamente otimista, igualitária e, mais do que isso, democrática. Aliás, para ser mais veemente, essencial e generosamente democrática.

O filme revela um processo que pode ser chamado de fetichização, pois relata a criação de um herói altruísta numa sociedade desesperadamente necessitada de esperança e generosidade. Algo muito semelhante a este nosso Brasil no qual temos a sensação de que não saímos do lugar. O John Doe de Capra é uma criação ou um ídolo inventado por uma jornalista que perde o emprego. No fundo do seu desespero, ela imagina um John Doe que cometeria suicídio, na noite de Natal, caso a sociedade continuasse indiferente em relação aos valores humanos como confiança e amor ao próximo. A marola jornalística da jornalista cruelmente despedida se encarrega de idealizar um ser humano comum que acaba contaminando todo o país. A ficção engendra uma realidade, a mentira vira verdade, o vagabundo comprado pelo jornal transforma-se em herói e o personagem numa passagem irônica envelopa o próprio ator.

Rita Lee, em seu sítio no interior de São Paulo.  Foto: Reprodução/Instagram/@ritalee_oficial

Essa não é uma trama incomum. No fundo, ela ocorre com todos nós que, mais cedo ou mais tarde, nos transformamos naquilo que o nosso grupo, nossa classe social e família esperam. Não há como não relacionar, diz Moneygrand, esse filme com a persona extraordinária de Rita Lee, cuja vida, aparentemente transgressora, se revelou tão rica e excepcionalmente criativa. Uma sociedade como a brasileira – continua Moneygrand –, tão refém do seu autoritarismo e denso machismo, deu à luz uma mulher de aparência frágil e de notável riqueza espiritual. A transgressora virou heroína neste momento em que tanto precisamos reconstruir um caminho histórico que seja plausível, honesto e grandioso, mais honesto e fiel a si mesmo...

Do mesmo modo que as sociedades tribais têm os seus grandes líderes e xamãs, nós precisamos de personagens sólidos. Estamos cansados de testemunhar pessoas que sucumbem diante dos papéis que prometeram desempenhar.

PS: Quando vejo juízes supremos anulando centenas de milhares de votos de um eleito, rezo para que isso não seja o sintoma do retorno do nosso fascismo tupiniquim.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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