Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|Madonna: entre o sagrado e o profano, a celebração da liberdade


Como os santos, as celebridades são a ponte entre o trivial e o que é fora do comum, o milagre

Por Roberto DaMatta

O show celebratório de Madonna no Rio faz com que eu a invoque em um manto. Pois, tal como uma deusa - as Senhoras Virgens Imaculadas me perdoem -, Madonna é uma versão pós-moderna, planetária, digitalizada e extravagante do paradoxo do par sagrado/profano. Assim, o show dos 40 anos de carreira da cantora-profeta e messiânica reuniu uma multidão de fanáticos, admiradores e curiosos. Foi, à sua maneira, um hiato neste vale de lágrimas.

Não me espantou o estilo apocalíptico do show, que me fascinou com a avassaladora presença da mulher e da fusão dos gêneros, exibidas numa estética de erotismo antipuritano que, entre nós, surge no Carnaval. Nos seus bailes e desfiles, nos quais o “pecado” mostrava seu lado glorioso, estava parte da condição humana; aquilo que, no caso dessa Madonna, surge com um claro estilo americano, pelo idioma e pela bizarra dramatização ianque - segundo a qual vale a pena acreditar nos sonhos, como disse a Nossa Senhora Madonna em seu sermão inicial.

Madonna se apresentou em Copacabana para mais de 1,5 milhão de pessoas em show que encerrou a The Celebration Tour. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Não exagero ao perceber sincronia entre celebridades e santidades. Pois, como os santos, as celebridades são a ponte entre o trivial e o que é fora do comum, o milagre. Madonna é prova de saída, de êxito, dessa substância das celebridades.

Em sociedades igualitárias, as celebridades não precisam do você sabe com quem está falando. Elas são celebridades justamente porque dispensam apresentação. Toda celebrização suscita uma busca de transcendência. Pois o célebre é celebrado justamente por alguma excepcionalidade. A distinção é de tal ordem que, ao vê-los, não acreditamos estar diante desses deuses vivos que têm o direito de tudo fazer. No caso de Madonna, pela coragem de romper com valores tabus da cultura das nossas tradições. Você sabe que é celebridade quando, num palco - mas não num púlpito, palanque ou sala de aula -, você pode romper com todos os costumes, invertendo carnavalescamente interditos sagrados. A exibição desafiadora e corajosa do tabu promove cura porque reitera a liberdade. Liberdade que nos livra da culpabilidade dos penosos e absurdos deveres que legitimam guerras.

Senhora Madonna! Protegei-nos com o vosso manto, que transforma o tédio em magia e a vida, em um show...

O show celebratório de Madonna no Rio faz com que eu a invoque em um manto. Pois, tal como uma deusa - as Senhoras Virgens Imaculadas me perdoem -, Madonna é uma versão pós-moderna, planetária, digitalizada e extravagante do paradoxo do par sagrado/profano. Assim, o show dos 40 anos de carreira da cantora-profeta e messiânica reuniu uma multidão de fanáticos, admiradores e curiosos. Foi, à sua maneira, um hiato neste vale de lágrimas.

Não me espantou o estilo apocalíptico do show, que me fascinou com a avassaladora presença da mulher e da fusão dos gêneros, exibidas numa estética de erotismo antipuritano que, entre nós, surge no Carnaval. Nos seus bailes e desfiles, nos quais o “pecado” mostrava seu lado glorioso, estava parte da condição humana; aquilo que, no caso dessa Madonna, surge com um claro estilo americano, pelo idioma e pela bizarra dramatização ianque - segundo a qual vale a pena acreditar nos sonhos, como disse a Nossa Senhora Madonna em seu sermão inicial.

Madonna se apresentou em Copacabana para mais de 1,5 milhão de pessoas em show que encerrou a The Celebration Tour. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Não exagero ao perceber sincronia entre celebridades e santidades. Pois, como os santos, as celebridades são a ponte entre o trivial e o que é fora do comum, o milagre. Madonna é prova de saída, de êxito, dessa substância das celebridades.

Em sociedades igualitárias, as celebridades não precisam do você sabe com quem está falando. Elas são celebridades justamente porque dispensam apresentação. Toda celebrização suscita uma busca de transcendência. Pois o célebre é celebrado justamente por alguma excepcionalidade. A distinção é de tal ordem que, ao vê-los, não acreditamos estar diante desses deuses vivos que têm o direito de tudo fazer. No caso de Madonna, pela coragem de romper com valores tabus da cultura das nossas tradições. Você sabe que é celebridade quando, num palco - mas não num púlpito, palanque ou sala de aula -, você pode romper com todos os costumes, invertendo carnavalescamente interditos sagrados. A exibição desafiadora e corajosa do tabu promove cura porque reitera a liberdade. Liberdade que nos livra da culpabilidade dos penosos e absurdos deveres que legitimam guerras.

Senhora Madonna! Protegei-nos com o vosso manto, que transforma o tédio em magia e a vida, em um show...

O show celebratório de Madonna no Rio faz com que eu a invoque em um manto. Pois, tal como uma deusa - as Senhoras Virgens Imaculadas me perdoem -, Madonna é uma versão pós-moderna, planetária, digitalizada e extravagante do paradoxo do par sagrado/profano. Assim, o show dos 40 anos de carreira da cantora-profeta e messiânica reuniu uma multidão de fanáticos, admiradores e curiosos. Foi, à sua maneira, um hiato neste vale de lágrimas.

Não me espantou o estilo apocalíptico do show, que me fascinou com a avassaladora presença da mulher e da fusão dos gêneros, exibidas numa estética de erotismo antipuritano que, entre nós, surge no Carnaval. Nos seus bailes e desfiles, nos quais o “pecado” mostrava seu lado glorioso, estava parte da condição humana; aquilo que, no caso dessa Madonna, surge com um claro estilo americano, pelo idioma e pela bizarra dramatização ianque - segundo a qual vale a pena acreditar nos sonhos, como disse a Nossa Senhora Madonna em seu sermão inicial.

Madonna se apresentou em Copacabana para mais de 1,5 milhão de pessoas em show que encerrou a The Celebration Tour. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Não exagero ao perceber sincronia entre celebridades e santidades. Pois, como os santos, as celebridades são a ponte entre o trivial e o que é fora do comum, o milagre. Madonna é prova de saída, de êxito, dessa substância das celebridades.

Em sociedades igualitárias, as celebridades não precisam do você sabe com quem está falando. Elas são celebridades justamente porque dispensam apresentação. Toda celebrização suscita uma busca de transcendência. Pois o célebre é celebrado justamente por alguma excepcionalidade. A distinção é de tal ordem que, ao vê-los, não acreditamos estar diante desses deuses vivos que têm o direito de tudo fazer. No caso de Madonna, pela coragem de romper com valores tabus da cultura das nossas tradições. Você sabe que é celebridade quando, num palco - mas não num púlpito, palanque ou sala de aula -, você pode romper com todos os costumes, invertendo carnavalescamente interditos sagrados. A exibição desafiadora e corajosa do tabu promove cura porque reitera a liberdade. Liberdade que nos livra da culpabilidade dos penosos e absurdos deveres que legitimam guerras.

Senhora Madonna! Protegei-nos com o vosso manto, que transforma o tédio em magia e a vida, em um show...

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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