Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|O mal-estar da globalização: o erro de Lula, Israel, Freud e o tabu


Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra

Por Roberto DaMatta

Quando se trata de guerra – de violência e fúria tecnologicamente sincronizadas –, todo comentário é discutível e até ofensivo pois, na reciprocidade negativa da guerra, nasce a vingança como resposta legítima. Quando a guerra emerge como um sujeito – um ator ou instituição – com direitos e deveres tão profundos quanto desumanos, sua violência tem enorme força porque guerrear se torna promessa de justiça e a finalização de uma etapa histórica. Quem não se lembra daquela guerra que iria acabar com todas as guerras?

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como 'civilização'. Foto: Mohammed Salem/Reuters

*

continua após a publicidade

Se o mundo fica melhor sem judeus, muçulmanos, ingleses, negros, ianques, russos, alemães, indígenas – eu esgotaria um volume com exemplos –, então é possível exterminar os diferentes. Se não admitimos o outro como “alternativa” e o classificamos como erro, ignorância, pecado, primitivismo, paganismo, legitimamos o seu extermínio porque o aniquilamento seria conversão e cura ou, pior que isso, livramento e progresso. Algo, valha-me Deus, que está na base dos etnocentrismos e anacronismos.

*

Todo conflito desvenda rancores que não podem ser tomados como modelos definitivos de vida. Ao equiparar a reação defensiva de Israel ao que sofreu o povo judeu, Lula III fez mais do que cometer um erro. Ele tocou no tabu do povo eleito e sujeito, por ser escolhido o Cordeiro de Deus, como anotou a antropóloga Mary Douglas, a todas as infâmias. Como ela desvenda, há um elo poderoso entre pureza e perigo. Progressos científicos inimagináveis e consciência global mostram, na vergonha de duas guerras, nossa incapacidade de domesticar brutalidades. A pureza do saber não acaba com os perigos de feitiçarias, terrorismo e golpes como apanágios dos fracos.

continua após a publicidade

*

O mal-estar atual é mais complicado do que o freudiano. Para Freud, o mal-estar brotava do embate entre instintos e ethos civilizatório. No nosso caso, ele resulta de um ajustamento entre um olhar global (que demanda igualdade) e a perspectiva das nações imperiais.

O pejorativo “west and the rest” mudou. O “west” corre o risco de também pertencer a esse “resto” condenado à marginalidade. Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra.

continua após a publicidade

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como “civilização”.

*

Vivemos o mal-estar do saber mais do que queremos e um excesso de falar sem ouvir que – já advertia Lévi-Strauss – faz perna com a intriga, o terrorismo, a bruxaria e o golpe, do mesmo modo que o esquecer faz perna com a falta de comunicação consigo mesmo.

Quando se trata de guerra – de violência e fúria tecnologicamente sincronizadas –, todo comentário é discutível e até ofensivo pois, na reciprocidade negativa da guerra, nasce a vingança como resposta legítima. Quando a guerra emerge como um sujeito – um ator ou instituição – com direitos e deveres tão profundos quanto desumanos, sua violência tem enorme força porque guerrear se torna promessa de justiça e a finalização de uma etapa histórica. Quem não se lembra daquela guerra que iria acabar com todas as guerras?

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como 'civilização'. Foto: Mohammed Salem/Reuters

*

Se o mundo fica melhor sem judeus, muçulmanos, ingleses, negros, ianques, russos, alemães, indígenas – eu esgotaria um volume com exemplos –, então é possível exterminar os diferentes. Se não admitimos o outro como “alternativa” e o classificamos como erro, ignorância, pecado, primitivismo, paganismo, legitimamos o seu extermínio porque o aniquilamento seria conversão e cura ou, pior que isso, livramento e progresso. Algo, valha-me Deus, que está na base dos etnocentrismos e anacronismos.

*

Todo conflito desvenda rancores que não podem ser tomados como modelos definitivos de vida. Ao equiparar a reação defensiva de Israel ao que sofreu o povo judeu, Lula III fez mais do que cometer um erro. Ele tocou no tabu do povo eleito e sujeito, por ser escolhido o Cordeiro de Deus, como anotou a antropóloga Mary Douglas, a todas as infâmias. Como ela desvenda, há um elo poderoso entre pureza e perigo. Progressos científicos inimagináveis e consciência global mostram, na vergonha de duas guerras, nossa incapacidade de domesticar brutalidades. A pureza do saber não acaba com os perigos de feitiçarias, terrorismo e golpes como apanágios dos fracos.

*

O mal-estar atual é mais complicado do que o freudiano. Para Freud, o mal-estar brotava do embate entre instintos e ethos civilizatório. No nosso caso, ele resulta de um ajustamento entre um olhar global (que demanda igualdade) e a perspectiva das nações imperiais.

O pejorativo “west and the rest” mudou. O “west” corre o risco de também pertencer a esse “resto” condenado à marginalidade. Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra.

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como “civilização”.

*

Vivemos o mal-estar do saber mais do que queremos e um excesso de falar sem ouvir que – já advertia Lévi-Strauss – faz perna com a intriga, o terrorismo, a bruxaria e o golpe, do mesmo modo que o esquecer faz perna com a falta de comunicação consigo mesmo.

Quando se trata de guerra – de violência e fúria tecnologicamente sincronizadas –, todo comentário é discutível e até ofensivo pois, na reciprocidade negativa da guerra, nasce a vingança como resposta legítima. Quando a guerra emerge como um sujeito – um ator ou instituição – com direitos e deveres tão profundos quanto desumanos, sua violência tem enorme força porque guerrear se torna promessa de justiça e a finalização de uma etapa histórica. Quem não se lembra daquela guerra que iria acabar com todas as guerras?

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como 'civilização'. Foto: Mohammed Salem/Reuters

*

Se o mundo fica melhor sem judeus, muçulmanos, ingleses, negros, ianques, russos, alemães, indígenas – eu esgotaria um volume com exemplos –, então é possível exterminar os diferentes. Se não admitimos o outro como “alternativa” e o classificamos como erro, ignorância, pecado, primitivismo, paganismo, legitimamos o seu extermínio porque o aniquilamento seria conversão e cura ou, pior que isso, livramento e progresso. Algo, valha-me Deus, que está na base dos etnocentrismos e anacronismos.

*

Todo conflito desvenda rancores que não podem ser tomados como modelos definitivos de vida. Ao equiparar a reação defensiva de Israel ao que sofreu o povo judeu, Lula III fez mais do que cometer um erro. Ele tocou no tabu do povo eleito e sujeito, por ser escolhido o Cordeiro de Deus, como anotou a antropóloga Mary Douglas, a todas as infâmias. Como ela desvenda, há um elo poderoso entre pureza e perigo. Progressos científicos inimagináveis e consciência global mostram, na vergonha de duas guerras, nossa incapacidade de domesticar brutalidades. A pureza do saber não acaba com os perigos de feitiçarias, terrorismo e golpes como apanágios dos fracos.

*

O mal-estar atual é mais complicado do que o freudiano. Para Freud, o mal-estar brotava do embate entre instintos e ethos civilizatório. No nosso caso, ele resulta de um ajustamento entre um olhar global (que demanda igualdade) e a perspectiva das nações imperiais.

O pejorativo “west and the rest” mudou. O “west” corre o risco de também pertencer a esse “resto” condenado à marginalidade. Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra.

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como “civilização”.

*

Vivemos o mal-estar do saber mais do que queremos e um excesso de falar sem ouvir que – já advertia Lévi-Strauss – faz perna com a intriga, o terrorismo, a bruxaria e o golpe, do mesmo modo que o esquecer faz perna com a falta de comunicação consigo mesmo.

Quando se trata de guerra – de violência e fúria tecnologicamente sincronizadas –, todo comentário é discutível e até ofensivo pois, na reciprocidade negativa da guerra, nasce a vingança como resposta legítima. Quando a guerra emerge como um sujeito – um ator ou instituição – com direitos e deveres tão profundos quanto desumanos, sua violência tem enorme força porque guerrear se torna promessa de justiça e a finalização de uma etapa histórica. Quem não se lembra daquela guerra que iria acabar com todas as guerras?

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como 'civilização'. Foto: Mohammed Salem/Reuters

*

Se o mundo fica melhor sem judeus, muçulmanos, ingleses, negros, ianques, russos, alemães, indígenas – eu esgotaria um volume com exemplos –, então é possível exterminar os diferentes. Se não admitimos o outro como “alternativa” e o classificamos como erro, ignorância, pecado, primitivismo, paganismo, legitimamos o seu extermínio porque o aniquilamento seria conversão e cura ou, pior que isso, livramento e progresso. Algo, valha-me Deus, que está na base dos etnocentrismos e anacronismos.

*

Todo conflito desvenda rancores que não podem ser tomados como modelos definitivos de vida. Ao equiparar a reação defensiva de Israel ao que sofreu o povo judeu, Lula III fez mais do que cometer um erro. Ele tocou no tabu do povo eleito e sujeito, por ser escolhido o Cordeiro de Deus, como anotou a antropóloga Mary Douglas, a todas as infâmias. Como ela desvenda, há um elo poderoso entre pureza e perigo. Progressos científicos inimagináveis e consciência global mostram, na vergonha de duas guerras, nossa incapacidade de domesticar brutalidades. A pureza do saber não acaba com os perigos de feitiçarias, terrorismo e golpes como apanágios dos fracos.

*

O mal-estar atual é mais complicado do que o freudiano. Para Freud, o mal-estar brotava do embate entre instintos e ethos civilizatório. No nosso caso, ele resulta de um ajustamento entre um olhar global (que demanda igualdade) e a perspectiva das nações imperiais.

O pejorativo “west and the rest” mudou. O “west” corre o risco de também pertencer a esse “resto” condenado à marginalidade. Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra.

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como “civilização”.

*

Vivemos o mal-estar do saber mais do que queremos e um excesso de falar sem ouvir que – já advertia Lévi-Strauss – faz perna com a intriga, o terrorismo, a bruxaria e o golpe, do mesmo modo que o esquecer faz perna com a falta de comunicação consigo mesmo.

Quando se trata de guerra – de violência e fúria tecnologicamente sincronizadas –, todo comentário é discutível e até ofensivo pois, na reciprocidade negativa da guerra, nasce a vingança como resposta legítima. Quando a guerra emerge como um sujeito – um ator ou instituição – com direitos e deveres tão profundos quanto desumanos, sua violência tem enorme força porque guerrear se torna promessa de justiça e a finalização de uma etapa histórica. Quem não se lembra daquela guerra que iria acabar com todas as guerras?

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como 'civilização'. Foto: Mohammed Salem/Reuters

*

Se o mundo fica melhor sem judeus, muçulmanos, ingleses, negros, ianques, russos, alemães, indígenas – eu esgotaria um volume com exemplos –, então é possível exterminar os diferentes. Se não admitimos o outro como “alternativa” e o classificamos como erro, ignorância, pecado, primitivismo, paganismo, legitimamos o seu extermínio porque o aniquilamento seria conversão e cura ou, pior que isso, livramento e progresso. Algo, valha-me Deus, que está na base dos etnocentrismos e anacronismos.

*

Todo conflito desvenda rancores que não podem ser tomados como modelos definitivos de vida. Ao equiparar a reação defensiva de Israel ao que sofreu o povo judeu, Lula III fez mais do que cometer um erro. Ele tocou no tabu do povo eleito e sujeito, por ser escolhido o Cordeiro de Deus, como anotou a antropóloga Mary Douglas, a todas as infâmias. Como ela desvenda, há um elo poderoso entre pureza e perigo. Progressos científicos inimagináveis e consciência global mostram, na vergonha de duas guerras, nossa incapacidade de domesticar brutalidades. A pureza do saber não acaba com os perigos de feitiçarias, terrorismo e golpes como apanágios dos fracos.

*

O mal-estar atual é mais complicado do que o freudiano. Para Freud, o mal-estar brotava do embate entre instintos e ethos civilizatório. No nosso caso, ele resulta de um ajustamento entre um olhar global (que demanda igualdade) e a perspectiva das nações imperiais.

O pejorativo “west and the rest” mudou. O “west” corre o risco de também pertencer a esse “resto” condenado à marginalidade. Nosso mal-estar não diz respeito somente a antigas rivalidades entre nações, religiões, línguas e culturas. Ele tem uma referência implacável: a Terra.

Um planeta que pode se exaurir ou ser destruído por um conflito nuclear deflagrado por algum Doutor Fantástico, que já saiu dos cinemas e pronto está para suicidar o que concebemos como “civilização”.

*

Vivemos o mal-estar do saber mais do que queremos e um excesso de falar sem ouvir que – já advertia Lévi-Strauss – faz perna com a intriga, o terrorismo, a bruxaria e o golpe, do mesmo modo que o esquecer faz perna com a falta de comunicação consigo mesmo.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.