Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|O que os desastres naturais ensinam?


Meu avô, entre baforadas de charuto, dizia que desastres revelam a necessidade de humildade e prevenção, algo que falta no Brasil devido à cultura de ambição e viés legalista

Por Roberto DaMatta

Ensinam, explicava meu avô por trás da fumaça azulada do seu charuto. Ora, eles ensinam padre-nosso a vigário!

Desastres, reiterava desempacotando sua opinião, ensinam o infalível do inesperado. Em seguida, sorridente e enigmático, sentenciava: há sempre o inesperado que exige humildade e prevenção - o que não temos no Brasil!

A cidade de Arroio do Meio (RS) foi dizimada pela força da natureza. Bairros inteiramente desertos, com escombros, apenas a parte central da cidade se salvou.  Foto: Wilton Junior/Estadão
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Alerta e prevenção, que demandam menos ambição, não combinam com o nosso viés bacharelesco, onipotente, livresco e legalístico, que regula todo o campo social, imitando os mandamentos.

O desastre que o povo gaúcho enfrenta é fruto de uma mudança do meio ambiente. Jamais foi um ato da juridicidade hermética dos nossos “supremos”.

Aí está o problema. Num sistema social no qual tudo tem intenção política - sobretudo “segundas intenções” -, como lidar com um terrível evento que não tem pretensão, noção ou intenção político-eleitoral? Que não é de direita ou esquerda, não tem partido ou seita, mas - entretanto, porém e todavia - exige medidas coletivas imediatas?

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Nosso viés paranoico, que em tudo enxerga malandragem, “armação” e má-fé (esses atores básicos do sistema que a suprema monocracia do meritíssimo magistrado Dias Toffoli não me deixa mentir), não deixa reagir com eficácia.

Se tudo, conforme julgamos, é político, como não selvagemente politizar a enchente, o frio e a tempestade promotoras de perdas e sofrimento?

Como enfrentar a catástrofe impessoalmente, sem carregados cálculos políticos pessoais? Numa demora que aumenta o poder destrutivo das águas, que não votaram nem no Lula nem no Leite?

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Pelo amor de Deus!

Acidentes naturais não demandam respostas políticas, eles exigem a impessoalidade da rapidez com eficiência - isso que o sistema jamais buscou, porque conservou um viés aristocrático, alérgico a poderes interdependentes, e, acima de tudo, à sinceridade exigida pela democracia.

Como, então, enfrentar o desastre que não é legal ou ideológico, com um aparelho administrativo caduco, enrolado em si mesmo, tocado a conselhos e entupido precisamente de ideologia e sectarismo político? Um sistema calibrado por sofisticados cálculos destinados a tudo mudar e em tudo mandar, menos na sua burocracia legalista, autoritária e elitizante?

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É, sem dúvida alguma, essa desarmonia que a tragédia escancara.

Ensinam, explicava meu avô por trás da fumaça azulada do seu charuto. Ora, eles ensinam padre-nosso a vigário!

Desastres, reiterava desempacotando sua opinião, ensinam o infalível do inesperado. Em seguida, sorridente e enigmático, sentenciava: há sempre o inesperado que exige humildade e prevenção - o que não temos no Brasil!

A cidade de Arroio do Meio (RS) foi dizimada pela força da natureza. Bairros inteiramente desertos, com escombros, apenas a parte central da cidade se salvou.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Alerta e prevenção, que demandam menos ambição, não combinam com o nosso viés bacharelesco, onipotente, livresco e legalístico, que regula todo o campo social, imitando os mandamentos.

O desastre que o povo gaúcho enfrenta é fruto de uma mudança do meio ambiente. Jamais foi um ato da juridicidade hermética dos nossos “supremos”.

Aí está o problema. Num sistema social no qual tudo tem intenção política - sobretudo “segundas intenções” -, como lidar com um terrível evento que não tem pretensão, noção ou intenção político-eleitoral? Que não é de direita ou esquerda, não tem partido ou seita, mas - entretanto, porém e todavia - exige medidas coletivas imediatas?

Nosso viés paranoico, que em tudo enxerga malandragem, “armação” e má-fé (esses atores básicos do sistema que a suprema monocracia do meritíssimo magistrado Dias Toffoli não me deixa mentir), não deixa reagir com eficácia.

Se tudo, conforme julgamos, é político, como não selvagemente politizar a enchente, o frio e a tempestade promotoras de perdas e sofrimento?

Como enfrentar a catástrofe impessoalmente, sem carregados cálculos políticos pessoais? Numa demora que aumenta o poder destrutivo das águas, que não votaram nem no Lula nem no Leite?

Pelo amor de Deus!

Acidentes naturais não demandam respostas políticas, eles exigem a impessoalidade da rapidez com eficiência - isso que o sistema jamais buscou, porque conservou um viés aristocrático, alérgico a poderes interdependentes, e, acima de tudo, à sinceridade exigida pela democracia.

Como, então, enfrentar o desastre que não é legal ou ideológico, com um aparelho administrativo caduco, enrolado em si mesmo, tocado a conselhos e entupido precisamente de ideologia e sectarismo político? Um sistema calibrado por sofisticados cálculos destinados a tudo mudar e em tudo mandar, menos na sua burocracia legalista, autoritária e elitizante?

É, sem dúvida alguma, essa desarmonia que a tragédia escancara.

Ensinam, explicava meu avô por trás da fumaça azulada do seu charuto. Ora, eles ensinam padre-nosso a vigário!

Desastres, reiterava desempacotando sua opinião, ensinam o infalível do inesperado. Em seguida, sorridente e enigmático, sentenciava: há sempre o inesperado que exige humildade e prevenção - o que não temos no Brasil!

A cidade de Arroio do Meio (RS) foi dizimada pela força da natureza. Bairros inteiramente desertos, com escombros, apenas a parte central da cidade se salvou.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Alerta e prevenção, que demandam menos ambição, não combinam com o nosso viés bacharelesco, onipotente, livresco e legalístico, que regula todo o campo social, imitando os mandamentos.

O desastre que o povo gaúcho enfrenta é fruto de uma mudança do meio ambiente. Jamais foi um ato da juridicidade hermética dos nossos “supremos”.

Aí está o problema. Num sistema social no qual tudo tem intenção política - sobretudo “segundas intenções” -, como lidar com um terrível evento que não tem pretensão, noção ou intenção político-eleitoral? Que não é de direita ou esquerda, não tem partido ou seita, mas - entretanto, porém e todavia - exige medidas coletivas imediatas?

Nosso viés paranoico, que em tudo enxerga malandragem, “armação” e má-fé (esses atores básicos do sistema que a suprema monocracia do meritíssimo magistrado Dias Toffoli não me deixa mentir), não deixa reagir com eficácia.

Se tudo, conforme julgamos, é político, como não selvagemente politizar a enchente, o frio e a tempestade promotoras de perdas e sofrimento?

Como enfrentar a catástrofe impessoalmente, sem carregados cálculos políticos pessoais? Numa demora que aumenta o poder destrutivo das águas, que não votaram nem no Lula nem no Leite?

Pelo amor de Deus!

Acidentes naturais não demandam respostas políticas, eles exigem a impessoalidade da rapidez com eficiência - isso que o sistema jamais buscou, porque conservou um viés aristocrático, alérgico a poderes interdependentes, e, acima de tudo, à sinceridade exigida pela democracia.

Como, então, enfrentar o desastre que não é legal ou ideológico, com um aparelho administrativo caduco, enrolado em si mesmo, tocado a conselhos e entupido precisamente de ideologia e sectarismo político? Um sistema calibrado por sofisticados cálculos destinados a tudo mudar e em tudo mandar, menos na sua burocracia legalista, autoritária e elitizante?

É, sem dúvida alguma, essa desarmonia que a tragédia escancara.

Ensinam, explicava meu avô por trás da fumaça azulada do seu charuto. Ora, eles ensinam padre-nosso a vigário!

Desastres, reiterava desempacotando sua opinião, ensinam o infalível do inesperado. Em seguida, sorridente e enigmático, sentenciava: há sempre o inesperado que exige humildade e prevenção - o que não temos no Brasil!

A cidade de Arroio do Meio (RS) foi dizimada pela força da natureza. Bairros inteiramente desertos, com escombros, apenas a parte central da cidade se salvou.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Alerta e prevenção, que demandam menos ambição, não combinam com o nosso viés bacharelesco, onipotente, livresco e legalístico, que regula todo o campo social, imitando os mandamentos.

O desastre que o povo gaúcho enfrenta é fruto de uma mudança do meio ambiente. Jamais foi um ato da juridicidade hermética dos nossos “supremos”.

Aí está o problema. Num sistema social no qual tudo tem intenção política - sobretudo “segundas intenções” -, como lidar com um terrível evento que não tem pretensão, noção ou intenção político-eleitoral? Que não é de direita ou esquerda, não tem partido ou seita, mas - entretanto, porém e todavia - exige medidas coletivas imediatas?

Nosso viés paranoico, que em tudo enxerga malandragem, “armação” e má-fé (esses atores básicos do sistema que a suprema monocracia do meritíssimo magistrado Dias Toffoli não me deixa mentir), não deixa reagir com eficácia.

Se tudo, conforme julgamos, é político, como não selvagemente politizar a enchente, o frio e a tempestade promotoras de perdas e sofrimento?

Como enfrentar a catástrofe impessoalmente, sem carregados cálculos políticos pessoais? Numa demora que aumenta o poder destrutivo das águas, que não votaram nem no Lula nem no Leite?

Pelo amor de Deus!

Acidentes naturais não demandam respostas políticas, eles exigem a impessoalidade da rapidez com eficiência - isso que o sistema jamais buscou, porque conservou um viés aristocrático, alérgico a poderes interdependentes, e, acima de tudo, à sinceridade exigida pela democracia.

Como, então, enfrentar o desastre que não é legal ou ideológico, com um aparelho administrativo caduco, enrolado em si mesmo, tocado a conselhos e entupido precisamente de ideologia e sectarismo político? Um sistema calibrado por sofisticados cálculos destinados a tudo mudar e em tudo mandar, menos na sua burocracia legalista, autoritária e elitizante?

É, sem dúvida alguma, essa desarmonia que a tragédia escancara.

Ensinam, explicava meu avô por trás da fumaça azulada do seu charuto. Ora, eles ensinam padre-nosso a vigário!

Desastres, reiterava desempacotando sua opinião, ensinam o infalível do inesperado. Em seguida, sorridente e enigmático, sentenciava: há sempre o inesperado que exige humildade e prevenção - o que não temos no Brasil!

A cidade de Arroio do Meio (RS) foi dizimada pela força da natureza. Bairros inteiramente desertos, com escombros, apenas a parte central da cidade se salvou.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Alerta e prevenção, que demandam menos ambição, não combinam com o nosso viés bacharelesco, onipotente, livresco e legalístico, que regula todo o campo social, imitando os mandamentos.

O desastre que o povo gaúcho enfrenta é fruto de uma mudança do meio ambiente. Jamais foi um ato da juridicidade hermética dos nossos “supremos”.

Aí está o problema. Num sistema social no qual tudo tem intenção política - sobretudo “segundas intenções” -, como lidar com um terrível evento que não tem pretensão, noção ou intenção político-eleitoral? Que não é de direita ou esquerda, não tem partido ou seita, mas - entretanto, porém e todavia - exige medidas coletivas imediatas?

Nosso viés paranoico, que em tudo enxerga malandragem, “armação” e má-fé (esses atores básicos do sistema que a suprema monocracia do meritíssimo magistrado Dias Toffoli não me deixa mentir), não deixa reagir com eficácia.

Se tudo, conforme julgamos, é político, como não selvagemente politizar a enchente, o frio e a tempestade promotoras de perdas e sofrimento?

Como enfrentar a catástrofe impessoalmente, sem carregados cálculos políticos pessoais? Numa demora que aumenta o poder destrutivo das águas, que não votaram nem no Lula nem no Leite?

Pelo amor de Deus!

Acidentes naturais não demandam respostas políticas, eles exigem a impessoalidade da rapidez com eficiência - isso que o sistema jamais buscou, porque conservou um viés aristocrático, alérgico a poderes interdependentes, e, acima de tudo, à sinceridade exigida pela democracia.

Como, então, enfrentar o desastre que não é legal ou ideológico, com um aparelho administrativo caduco, enrolado em si mesmo, tocado a conselhos e entupido precisamente de ideologia e sectarismo político? Um sistema calibrado por sofisticados cálculos destinados a tudo mudar e em tudo mandar, menos na sua burocracia legalista, autoritária e elitizante?

É, sem dúvida alguma, essa desarmonia que a tragédia escancara.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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