Coluna semanal do antropólogo Roberto DaMatta com reflexões sobre o Brasil

Opinião|Se o debate foi selvagem, o voto foi esperançoso


Eleição no Brasil sinaliza o afastamento da polarização entre uma esquerda santificada contra uma direita demonizada

Por Roberto DaMatta

Não seria o afastamento de uma polarização destrutiva em favor de um dualismo democrático, quando um lado complementa o outro? Foram eleições singulares. Na sua brutalidade competitiva de cadeiradas físicas e morais elas exibiram a dificuldade universal das disputas. Mas se o debate foi selvagem, o voto foi esperançoso.

O equilíbrio dos eleitores, provando que sabem votar, centrou-se na domesticação das dualidades, que vão do “Dois Brasis” – o desenvolvido e o subdesenvolvido – ao clássico par “Litoral/Sertão”, apoiou-se na oposição da casa e rua e chegou à Ordem e Progresso. Dualismos, reitero, sempre lidos como não complementares porque um lado deveria vencer ou liquidar o outro.

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Nesse sentido, a eleição sinaliza um afastamento da polarização instalada entre uma esquerda santificada contra uma direita demonizada como o dragão da maldade. Os polos esquecem a sociedade...

Seria essa resultado “centrista” revelador do elo moral entre um Lula e um Bolsonaro? Penso que sim, pois não se pode imaginar a ascensão do caos bolsonarista sem os vergonhosos fatos da liquidada Lava Jato ao lado da normalização jurídica da corrupção. Foi a frustração com a politicagem ladravaz da esquerda que viabilizou uma direita caótica, negacionista, golpista e hoje tanto mais moderada quanto a esquerda, que começa a enxergar banqueiros e mercado como agentes legítimos num mundo globalizado.

Ou seja, há esperança de cura de nossa estadomania, estadolatria e estadopatia. Na crença de que seria exclusivamente pelo Estado que a sociedade, lida como doente, atrasada e torta pela sua mistura racial, seria consertada. Magicamente corrigida e, acima de tudo, curada e punida por leis e não pela percepção do peso dos costumes.

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A última eleição sinaliza um afastamento da polarização. Na imagem, uma urna eletrônica.  Foto: Filipe Araújo/Estadão

Não seria o ajustamento entre costumes, práticas sociais e diretrizes públicas que os eleitores estão pretendendo? Não seria essa humildade de ser eleito para o povo e não pelo povo, como manda o populismo, o ponto crítico dessa jornada eleitoral?

O pleito não demonstraria um voto devotado a eleger pessoas que prometem mais liberdade para trabalhar com autonomia individual? E com menos ineficiência cartorial e mais competência, como dizia Hélio Jaguaribe? Menos burrice legal que facilita a malandragem burocrática dos jeitinhos e da grossa corrupção?

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Menos Estado autoritário e mais sociedade com liberdade? Não seria essa a aspiração de todos nós, cansados de legalismos colonizadores e aristocratizantes baseados no dogma das anistias? E de múltiplas polícias que os bandidos agradecem?

O que essa eleição expõe não é a demonstração de que o “povo” está farto de hipocrisias populistas? Que quer saneamento, saúde, segurança e, sobretudo, educação e coerência legal? Construir um país apagando sua história é condená-lo a repeti-la.

Não seria o afastamento de uma polarização destrutiva em favor de um dualismo democrático, quando um lado complementa o outro? Foram eleições singulares. Na sua brutalidade competitiva de cadeiradas físicas e morais elas exibiram a dificuldade universal das disputas. Mas se o debate foi selvagem, o voto foi esperançoso.

O equilíbrio dos eleitores, provando que sabem votar, centrou-se na domesticação das dualidades, que vão do “Dois Brasis” – o desenvolvido e o subdesenvolvido – ao clássico par “Litoral/Sertão”, apoiou-se na oposição da casa e rua e chegou à Ordem e Progresso. Dualismos, reitero, sempre lidos como não complementares porque um lado deveria vencer ou liquidar o outro.

Nesse sentido, a eleição sinaliza um afastamento da polarização instalada entre uma esquerda santificada contra uma direita demonizada como o dragão da maldade. Os polos esquecem a sociedade...

Seria essa resultado “centrista” revelador do elo moral entre um Lula e um Bolsonaro? Penso que sim, pois não se pode imaginar a ascensão do caos bolsonarista sem os vergonhosos fatos da liquidada Lava Jato ao lado da normalização jurídica da corrupção. Foi a frustração com a politicagem ladravaz da esquerda que viabilizou uma direita caótica, negacionista, golpista e hoje tanto mais moderada quanto a esquerda, que começa a enxergar banqueiros e mercado como agentes legítimos num mundo globalizado.

Ou seja, há esperança de cura de nossa estadomania, estadolatria e estadopatia. Na crença de que seria exclusivamente pelo Estado que a sociedade, lida como doente, atrasada e torta pela sua mistura racial, seria consertada. Magicamente corrigida e, acima de tudo, curada e punida por leis e não pela percepção do peso dos costumes.

A última eleição sinaliza um afastamento da polarização. Na imagem, uma urna eletrônica.  Foto: Filipe Araújo/Estadão

Não seria o ajustamento entre costumes, práticas sociais e diretrizes públicas que os eleitores estão pretendendo? Não seria essa humildade de ser eleito para o povo e não pelo povo, como manda o populismo, o ponto crítico dessa jornada eleitoral?

O pleito não demonstraria um voto devotado a eleger pessoas que prometem mais liberdade para trabalhar com autonomia individual? E com menos ineficiência cartorial e mais competência, como dizia Hélio Jaguaribe? Menos burrice legal que facilita a malandragem burocrática dos jeitinhos e da grossa corrupção?

Menos Estado autoritário e mais sociedade com liberdade? Não seria essa a aspiração de todos nós, cansados de legalismos colonizadores e aristocratizantes baseados no dogma das anistias? E de múltiplas polícias que os bandidos agradecem?

O que essa eleição expõe não é a demonstração de que o “povo” está farto de hipocrisias populistas? Que quer saneamento, saúde, segurança e, sobretudo, educação e coerência legal? Construir um país apagando sua história é condená-lo a repeti-la.

Não seria o afastamento de uma polarização destrutiva em favor de um dualismo democrático, quando um lado complementa o outro? Foram eleições singulares. Na sua brutalidade competitiva de cadeiradas físicas e morais elas exibiram a dificuldade universal das disputas. Mas se o debate foi selvagem, o voto foi esperançoso.

O equilíbrio dos eleitores, provando que sabem votar, centrou-se na domesticação das dualidades, que vão do “Dois Brasis” – o desenvolvido e o subdesenvolvido – ao clássico par “Litoral/Sertão”, apoiou-se na oposição da casa e rua e chegou à Ordem e Progresso. Dualismos, reitero, sempre lidos como não complementares porque um lado deveria vencer ou liquidar o outro.

Nesse sentido, a eleição sinaliza um afastamento da polarização instalada entre uma esquerda santificada contra uma direita demonizada como o dragão da maldade. Os polos esquecem a sociedade...

Seria essa resultado “centrista” revelador do elo moral entre um Lula e um Bolsonaro? Penso que sim, pois não se pode imaginar a ascensão do caos bolsonarista sem os vergonhosos fatos da liquidada Lava Jato ao lado da normalização jurídica da corrupção. Foi a frustração com a politicagem ladravaz da esquerda que viabilizou uma direita caótica, negacionista, golpista e hoje tanto mais moderada quanto a esquerda, que começa a enxergar banqueiros e mercado como agentes legítimos num mundo globalizado.

Ou seja, há esperança de cura de nossa estadomania, estadolatria e estadopatia. Na crença de que seria exclusivamente pelo Estado que a sociedade, lida como doente, atrasada e torta pela sua mistura racial, seria consertada. Magicamente corrigida e, acima de tudo, curada e punida por leis e não pela percepção do peso dos costumes.

A última eleição sinaliza um afastamento da polarização. Na imagem, uma urna eletrônica.  Foto: Filipe Araújo/Estadão

Não seria o ajustamento entre costumes, práticas sociais e diretrizes públicas que os eleitores estão pretendendo? Não seria essa humildade de ser eleito para o povo e não pelo povo, como manda o populismo, o ponto crítico dessa jornada eleitoral?

O pleito não demonstraria um voto devotado a eleger pessoas que prometem mais liberdade para trabalhar com autonomia individual? E com menos ineficiência cartorial e mais competência, como dizia Hélio Jaguaribe? Menos burrice legal que facilita a malandragem burocrática dos jeitinhos e da grossa corrupção?

Menos Estado autoritário e mais sociedade com liberdade? Não seria essa a aspiração de todos nós, cansados de legalismos colonizadores e aristocratizantes baseados no dogma das anistias? E de múltiplas polícias que os bandidos agradecem?

O que essa eleição expõe não é a demonstração de que o “povo” está farto de hipocrisias populistas? Que quer saneamento, saúde, segurança e, sobretudo, educação e coerência legal? Construir um país apagando sua história é condená-lo a repeti-la.

Não seria o afastamento de uma polarização destrutiva em favor de um dualismo democrático, quando um lado complementa o outro? Foram eleições singulares. Na sua brutalidade competitiva de cadeiradas físicas e morais elas exibiram a dificuldade universal das disputas. Mas se o debate foi selvagem, o voto foi esperançoso.

O equilíbrio dos eleitores, provando que sabem votar, centrou-se na domesticação das dualidades, que vão do “Dois Brasis” – o desenvolvido e o subdesenvolvido – ao clássico par “Litoral/Sertão”, apoiou-se na oposição da casa e rua e chegou à Ordem e Progresso. Dualismos, reitero, sempre lidos como não complementares porque um lado deveria vencer ou liquidar o outro.

Nesse sentido, a eleição sinaliza um afastamento da polarização instalada entre uma esquerda santificada contra uma direita demonizada como o dragão da maldade. Os polos esquecem a sociedade...

Seria essa resultado “centrista” revelador do elo moral entre um Lula e um Bolsonaro? Penso que sim, pois não se pode imaginar a ascensão do caos bolsonarista sem os vergonhosos fatos da liquidada Lava Jato ao lado da normalização jurídica da corrupção. Foi a frustração com a politicagem ladravaz da esquerda que viabilizou uma direita caótica, negacionista, golpista e hoje tanto mais moderada quanto a esquerda, que começa a enxergar banqueiros e mercado como agentes legítimos num mundo globalizado.

Ou seja, há esperança de cura de nossa estadomania, estadolatria e estadopatia. Na crença de que seria exclusivamente pelo Estado que a sociedade, lida como doente, atrasada e torta pela sua mistura racial, seria consertada. Magicamente corrigida e, acima de tudo, curada e punida por leis e não pela percepção do peso dos costumes.

A última eleição sinaliza um afastamento da polarização. Na imagem, uma urna eletrônica.  Foto: Filipe Araújo/Estadão

Não seria o ajustamento entre costumes, práticas sociais e diretrizes públicas que os eleitores estão pretendendo? Não seria essa humildade de ser eleito para o povo e não pelo povo, como manda o populismo, o ponto crítico dessa jornada eleitoral?

O pleito não demonstraria um voto devotado a eleger pessoas que prometem mais liberdade para trabalhar com autonomia individual? E com menos ineficiência cartorial e mais competência, como dizia Hélio Jaguaribe? Menos burrice legal que facilita a malandragem burocrática dos jeitinhos e da grossa corrupção?

Menos Estado autoritário e mais sociedade com liberdade? Não seria essa a aspiração de todos nós, cansados de legalismos colonizadores e aristocratizantes baseados no dogma das anistias? E de múltiplas polícias que os bandidos agradecem?

O que essa eleição expõe não é a demonstração de que o “povo” está farto de hipocrisias populistas? Que quer saneamento, saúde, segurança e, sobretudo, educação e coerência legal? Construir um país apagando sua história é condená-lo a repeti-la.

Opinião por Roberto DaMatta

É antropólogo social, escritor e autor de 'Fila e Democracia'

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