'Rotas Brasileiras' dialoga com artistas fora do eixo Rio-SP


Primeira edição da nova feira da SP-Arte ocupa a Arca da Vila Leopoldina com artistas indígenas e afrodescendentes e 70 expositores

Por Antonio Gonçalves Filho

Primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte será aberta nesta quarta, 24, e vai ocupar a Arca, na Vila Leopoldina, com 70 expositores, entre galerias e projetos convidados pela organização para exibir a arte desconhecida de diversas regiões brasileiras. “Num país politicamente polarizado, a arte talvez seja o único meio de aproximar pessoas com opiniões divergentes”, justifica a fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. Ela conseguiu reunir na feira galeristas e artistas do Norte, Sul e Nordeste que raramente mostram sua arte no Sudeste. Nesta edição, a feira também se desloca da Arca para outros locais para conversar com artistas e produtores culturais fora do eixo Rio-São Paulo. Antes mesmo da abertura, a SP-Arte promoveu um debate em que se discutiu como raça e classe interferem na circulação de obras “populares” no mercado. Com a inclusão de artistas indígenas em exposições nacionais e internacionais criou-se um novo mercado que está mudando o perfil da galerias e museus. Nomes como os dos artistas indígenas Jaider Esbell e Caboco alcançam hoje altas cotações (uma tela de Caboco, representado pela Galeria Millan, a mesma de Esbell, chega a alcançar R$ 300 mil).

A fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa Foto: Werther Santana/Estadão

A nova feira traz também nomes pouco conhecidos em São Paulo, mas que começam a crescer graças a essa mudança de padrão – caso do pintor amazonense Hélio Melo (1926-2001), que o escultor Sérgio Camargo mantinha em sua coleção . “Quando falamos em arte brasileira genuína pensamos no Hélio, seringueiro que preparava as próprias tintas e foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia”, diz Carlos Dale, da galeria Almeida & Dale, que leva suas telas à feira. Há tempos marcando presença em outros Estados, a galeria sempre defendeu esse intercâmbio. Na própria feira ela mostra a força dessa parceria trazendo uma nova série do pintor goiano Siron Franco com o consórcio da galeria baiana de Paulo Darzé.

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Apesar da espiral inflacionária e da alta do dólar, a criadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, mostra otimismo ao falar da primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte que começa hoje. O local da nova SP-Arte, a Arca, na Vila Leopoldina, é um gigantesco galpão dos anos 1960, mas não vai receber tantas galerias como na feira do primeiro semestre. Muitas grandes ficaram de fora por causa da explosão de feiras de arte aqui e lá fora (e um estande aqui custa o mesmo que na internacional Art Basel). Em contrapartida, Rotas Brasileiras será uma feira dedicada à diversidade.

Aspecto geral da feira montada na Arca, na Vila Leopoldina Foto: Werther Santana/Estadão

Feitosa cita, por exemplo, o coletivo Zumví Acervo Fotográfico, criado nos anos 1990, em Salvador, como uma espécie de “quilombo visual”, uma forma de resistência contra a segregação dos afrodescendentes no mercado de arte estabelecido. O Zumví tem mais de 30 mil negativos de fotógrafos negros, entre os quais alguns nomes da Amazônia dos quais o Sudeste nunca ouviu falar. Feitosa cita também o Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, em que os agentes de cultura de lá mantêm a cena de arte local sustentável e ainda interagem com os grandes galeristas de outros centros. Mesmo antes da abertura oficial da feira, algumas galerias abriram em suas sedes< exposições de artistas que desafiaram o esquema mercadológico e fizeram carreira primeiro como descobertas de curadores e museus. É o caso do artista indígena falecido Jaider Esbell (1979-2021), da etnia macuxi, de Roraima, hoje um nome vinculado à Galeria Millan. Socorro Andrade, uma das sócias da galeria, chama a atenção para a obra de outro artista de raiz indígena, Gustavo Caboco, do povo Wapichana.

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'Rotas Brasileiras' mapeia arte fora do eixo Rio-SP em nova feira paulistana Foto: Werther Santana/Estadão

“Quando criança, Gustavo era chamado pela mãe, que foi raptada, de ‘caboclinho’, deixando claro que ele era fruto da miscigenação de indígenas com brancos”, conta Socorro Andrade, que apostou na emergência da arte indígena antes mesmo de Jaider Esbell e Caboco terem participado da Bienal de São Paulo. Caboco, segundo a marchande, sentiu, ao crescer, que era discriminado por não ser wapichana. Era um caboclo que não pertencia a lugar nenhum. Essa questão do deslocamento está presente em sua obra, repleta de elementos autobiográficos. Pela terceira vez consecutiva, a SP-Arte oferece audioguias sobre as obras e os artistas expostos na feira. Um audioguia exclusivamente dedicado à arte indígena brasileira, elaborado pelo educador Djeguaka Xondaro, reflete sobre como a arte de Jaider Esbell e Gustavo Caboco contribui para a transformação da realidade brasileira.

O jovem artista Gustavo Caboco, um dos destaques da feira Foto: Denise Andrade/Galeria Milan
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Entre as galerias estreantes na SP-Arte está a Galatea, que abre uma mostra inteiramente dedicada ao diálogo entre a tradição geométrica de povos indígenas e o concretismo, que marcou definitivamente a arte brasileira dos anos 1950. O projeto da Galatea exibe obras que lidam com a linguagem abstrata dos concretos e com as tramas e grafismos de povos indígenas como os Asurini, Baniwa, Juruna, Kadiweu, Kaiapó, Tukano e Waujá. A Vivo, patrocinadora da feira, montou também uma mostra dedicada à interação dos povos indígenas com a tecnologia, que tem curadoria de Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé, Oz Guarani e Olinda Yawari. Além dos trabalhos exibidos pelas galerias há ainda a mostra Brasilidade Tridimensional, com obras de artistas escultores (Brennand e outros).

Primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte será aberta nesta quarta, 24, e vai ocupar a Arca, na Vila Leopoldina, com 70 expositores, entre galerias e projetos convidados pela organização para exibir a arte desconhecida de diversas regiões brasileiras. “Num país politicamente polarizado, a arte talvez seja o único meio de aproximar pessoas com opiniões divergentes”, justifica a fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. Ela conseguiu reunir na feira galeristas e artistas do Norte, Sul e Nordeste que raramente mostram sua arte no Sudeste. Nesta edição, a feira também se desloca da Arca para outros locais para conversar com artistas e produtores culturais fora do eixo Rio-São Paulo. Antes mesmo da abertura, a SP-Arte promoveu um debate em que se discutiu como raça e classe interferem na circulação de obras “populares” no mercado. Com a inclusão de artistas indígenas em exposições nacionais e internacionais criou-se um novo mercado que está mudando o perfil da galerias e museus. Nomes como os dos artistas indígenas Jaider Esbell e Caboco alcançam hoje altas cotações (uma tela de Caboco, representado pela Galeria Millan, a mesma de Esbell, chega a alcançar R$ 300 mil).

A fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa Foto: Werther Santana/Estadão

A nova feira traz também nomes pouco conhecidos em São Paulo, mas que começam a crescer graças a essa mudança de padrão – caso do pintor amazonense Hélio Melo (1926-2001), que o escultor Sérgio Camargo mantinha em sua coleção . “Quando falamos em arte brasileira genuína pensamos no Hélio, seringueiro que preparava as próprias tintas e foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia”, diz Carlos Dale, da galeria Almeida & Dale, que leva suas telas à feira. Há tempos marcando presença em outros Estados, a galeria sempre defendeu esse intercâmbio. Na própria feira ela mostra a força dessa parceria trazendo uma nova série do pintor goiano Siron Franco com o consórcio da galeria baiana de Paulo Darzé.

Apesar da espiral inflacionária e da alta do dólar, a criadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, mostra otimismo ao falar da primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte que começa hoje. O local da nova SP-Arte, a Arca, na Vila Leopoldina, é um gigantesco galpão dos anos 1960, mas não vai receber tantas galerias como na feira do primeiro semestre. Muitas grandes ficaram de fora por causa da explosão de feiras de arte aqui e lá fora (e um estande aqui custa o mesmo que na internacional Art Basel). Em contrapartida, Rotas Brasileiras será uma feira dedicada à diversidade.

Aspecto geral da feira montada na Arca, na Vila Leopoldina Foto: Werther Santana/Estadão

Feitosa cita, por exemplo, o coletivo Zumví Acervo Fotográfico, criado nos anos 1990, em Salvador, como uma espécie de “quilombo visual”, uma forma de resistência contra a segregação dos afrodescendentes no mercado de arte estabelecido. O Zumví tem mais de 30 mil negativos de fotógrafos negros, entre os quais alguns nomes da Amazônia dos quais o Sudeste nunca ouviu falar. Feitosa cita também o Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, em que os agentes de cultura de lá mantêm a cena de arte local sustentável e ainda interagem com os grandes galeristas de outros centros. Mesmo antes da abertura oficial da feira, algumas galerias abriram em suas sedes< exposições de artistas que desafiaram o esquema mercadológico e fizeram carreira primeiro como descobertas de curadores e museus. É o caso do artista indígena falecido Jaider Esbell (1979-2021), da etnia macuxi, de Roraima, hoje um nome vinculado à Galeria Millan. Socorro Andrade, uma das sócias da galeria, chama a atenção para a obra de outro artista de raiz indígena, Gustavo Caboco, do povo Wapichana.

'Rotas Brasileiras' mapeia arte fora do eixo Rio-SP em nova feira paulistana Foto: Werther Santana/Estadão

“Quando criança, Gustavo era chamado pela mãe, que foi raptada, de ‘caboclinho’, deixando claro que ele era fruto da miscigenação de indígenas com brancos”, conta Socorro Andrade, que apostou na emergência da arte indígena antes mesmo de Jaider Esbell e Caboco terem participado da Bienal de São Paulo. Caboco, segundo a marchande, sentiu, ao crescer, que era discriminado por não ser wapichana. Era um caboclo que não pertencia a lugar nenhum. Essa questão do deslocamento está presente em sua obra, repleta de elementos autobiográficos. Pela terceira vez consecutiva, a SP-Arte oferece audioguias sobre as obras e os artistas expostos na feira. Um audioguia exclusivamente dedicado à arte indígena brasileira, elaborado pelo educador Djeguaka Xondaro, reflete sobre como a arte de Jaider Esbell e Gustavo Caboco contribui para a transformação da realidade brasileira.

O jovem artista Gustavo Caboco, um dos destaques da feira Foto: Denise Andrade/Galeria Milan

Entre as galerias estreantes na SP-Arte está a Galatea, que abre uma mostra inteiramente dedicada ao diálogo entre a tradição geométrica de povos indígenas e o concretismo, que marcou definitivamente a arte brasileira dos anos 1950. O projeto da Galatea exibe obras que lidam com a linguagem abstrata dos concretos e com as tramas e grafismos de povos indígenas como os Asurini, Baniwa, Juruna, Kadiweu, Kaiapó, Tukano e Waujá. A Vivo, patrocinadora da feira, montou também uma mostra dedicada à interação dos povos indígenas com a tecnologia, que tem curadoria de Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé, Oz Guarani e Olinda Yawari. Além dos trabalhos exibidos pelas galerias há ainda a mostra Brasilidade Tridimensional, com obras de artistas escultores (Brennand e outros).

Primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte será aberta nesta quarta, 24, e vai ocupar a Arca, na Vila Leopoldina, com 70 expositores, entre galerias e projetos convidados pela organização para exibir a arte desconhecida de diversas regiões brasileiras. “Num país politicamente polarizado, a arte talvez seja o único meio de aproximar pessoas com opiniões divergentes”, justifica a fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. Ela conseguiu reunir na feira galeristas e artistas do Norte, Sul e Nordeste que raramente mostram sua arte no Sudeste. Nesta edição, a feira também se desloca da Arca para outros locais para conversar com artistas e produtores culturais fora do eixo Rio-São Paulo. Antes mesmo da abertura, a SP-Arte promoveu um debate em que se discutiu como raça e classe interferem na circulação de obras “populares” no mercado. Com a inclusão de artistas indígenas em exposições nacionais e internacionais criou-se um novo mercado que está mudando o perfil da galerias e museus. Nomes como os dos artistas indígenas Jaider Esbell e Caboco alcançam hoje altas cotações (uma tela de Caboco, representado pela Galeria Millan, a mesma de Esbell, chega a alcançar R$ 300 mil).

A fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa Foto: Werther Santana/Estadão

A nova feira traz também nomes pouco conhecidos em São Paulo, mas que começam a crescer graças a essa mudança de padrão – caso do pintor amazonense Hélio Melo (1926-2001), que o escultor Sérgio Camargo mantinha em sua coleção . “Quando falamos em arte brasileira genuína pensamos no Hélio, seringueiro que preparava as próprias tintas e foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia”, diz Carlos Dale, da galeria Almeida & Dale, que leva suas telas à feira. Há tempos marcando presença em outros Estados, a galeria sempre defendeu esse intercâmbio. Na própria feira ela mostra a força dessa parceria trazendo uma nova série do pintor goiano Siron Franco com o consórcio da galeria baiana de Paulo Darzé.

Apesar da espiral inflacionária e da alta do dólar, a criadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, mostra otimismo ao falar da primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte que começa hoje. O local da nova SP-Arte, a Arca, na Vila Leopoldina, é um gigantesco galpão dos anos 1960, mas não vai receber tantas galerias como na feira do primeiro semestre. Muitas grandes ficaram de fora por causa da explosão de feiras de arte aqui e lá fora (e um estande aqui custa o mesmo que na internacional Art Basel). Em contrapartida, Rotas Brasileiras será uma feira dedicada à diversidade.

Aspecto geral da feira montada na Arca, na Vila Leopoldina Foto: Werther Santana/Estadão

Feitosa cita, por exemplo, o coletivo Zumví Acervo Fotográfico, criado nos anos 1990, em Salvador, como uma espécie de “quilombo visual”, uma forma de resistência contra a segregação dos afrodescendentes no mercado de arte estabelecido. O Zumví tem mais de 30 mil negativos de fotógrafos negros, entre os quais alguns nomes da Amazônia dos quais o Sudeste nunca ouviu falar. Feitosa cita também o Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, em que os agentes de cultura de lá mantêm a cena de arte local sustentável e ainda interagem com os grandes galeristas de outros centros. Mesmo antes da abertura oficial da feira, algumas galerias abriram em suas sedes< exposições de artistas que desafiaram o esquema mercadológico e fizeram carreira primeiro como descobertas de curadores e museus. É o caso do artista indígena falecido Jaider Esbell (1979-2021), da etnia macuxi, de Roraima, hoje um nome vinculado à Galeria Millan. Socorro Andrade, uma das sócias da galeria, chama a atenção para a obra de outro artista de raiz indígena, Gustavo Caboco, do povo Wapichana.

'Rotas Brasileiras' mapeia arte fora do eixo Rio-SP em nova feira paulistana Foto: Werther Santana/Estadão

“Quando criança, Gustavo era chamado pela mãe, que foi raptada, de ‘caboclinho’, deixando claro que ele era fruto da miscigenação de indígenas com brancos”, conta Socorro Andrade, que apostou na emergência da arte indígena antes mesmo de Jaider Esbell e Caboco terem participado da Bienal de São Paulo. Caboco, segundo a marchande, sentiu, ao crescer, que era discriminado por não ser wapichana. Era um caboclo que não pertencia a lugar nenhum. Essa questão do deslocamento está presente em sua obra, repleta de elementos autobiográficos. Pela terceira vez consecutiva, a SP-Arte oferece audioguias sobre as obras e os artistas expostos na feira. Um audioguia exclusivamente dedicado à arte indígena brasileira, elaborado pelo educador Djeguaka Xondaro, reflete sobre como a arte de Jaider Esbell e Gustavo Caboco contribui para a transformação da realidade brasileira.

O jovem artista Gustavo Caboco, um dos destaques da feira Foto: Denise Andrade/Galeria Milan

Entre as galerias estreantes na SP-Arte está a Galatea, que abre uma mostra inteiramente dedicada ao diálogo entre a tradição geométrica de povos indígenas e o concretismo, que marcou definitivamente a arte brasileira dos anos 1950. O projeto da Galatea exibe obras que lidam com a linguagem abstrata dos concretos e com as tramas e grafismos de povos indígenas como os Asurini, Baniwa, Juruna, Kadiweu, Kaiapó, Tukano e Waujá. A Vivo, patrocinadora da feira, montou também uma mostra dedicada à interação dos povos indígenas com a tecnologia, que tem curadoria de Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé, Oz Guarani e Olinda Yawari. Além dos trabalhos exibidos pelas galerias há ainda a mostra Brasilidade Tridimensional, com obras de artistas escultores (Brennand e outros).

Primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte será aberta nesta quarta, 24, e vai ocupar a Arca, na Vila Leopoldina, com 70 expositores, entre galerias e projetos convidados pela organização para exibir a arte desconhecida de diversas regiões brasileiras. “Num país politicamente polarizado, a arte talvez seja o único meio de aproximar pessoas com opiniões divergentes”, justifica a fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. Ela conseguiu reunir na feira galeristas e artistas do Norte, Sul e Nordeste que raramente mostram sua arte no Sudeste. Nesta edição, a feira também se desloca da Arca para outros locais para conversar com artistas e produtores culturais fora do eixo Rio-São Paulo. Antes mesmo da abertura, a SP-Arte promoveu um debate em que se discutiu como raça e classe interferem na circulação de obras “populares” no mercado. Com a inclusão de artistas indígenas em exposições nacionais e internacionais criou-se um novo mercado que está mudando o perfil da galerias e museus. Nomes como os dos artistas indígenas Jaider Esbell e Caboco alcançam hoje altas cotações (uma tela de Caboco, representado pela Galeria Millan, a mesma de Esbell, chega a alcançar R$ 300 mil).

A fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa Foto: Werther Santana/Estadão

A nova feira traz também nomes pouco conhecidos em São Paulo, mas que começam a crescer graças a essa mudança de padrão – caso do pintor amazonense Hélio Melo (1926-2001), que o escultor Sérgio Camargo mantinha em sua coleção . “Quando falamos em arte brasileira genuína pensamos no Hélio, seringueiro que preparava as próprias tintas e foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia”, diz Carlos Dale, da galeria Almeida & Dale, que leva suas telas à feira. Há tempos marcando presença em outros Estados, a galeria sempre defendeu esse intercâmbio. Na própria feira ela mostra a força dessa parceria trazendo uma nova série do pintor goiano Siron Franco com o consórcio da galeria baiana de Paulo Darzé.

Apesar da espiral inflacionária e da alta do dólar, a criadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, mostra otimismo ao falar da primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte que começa hoje. O local da nova SP-Arte, a Arca, na Vila Leopoldina, é um gigantesco galpão dos anos 1960, mas não vai receber tantas galerias como na feira do primeiro semestre. Muitas grandes ficaram de fora por causa da explosão de feiras de arte aqui e lá fora (e um estande aqui custa o mesmo que na internacional Art Basel). Em contrapartida, Rotas Brasileiras será uma feira dedicada à diversidade.

Aspecto geral da feira montada na Arca, na Vila Leopoldina Foto: Werther Santana/Estadão

Feitosa cita, por exemplo, o coletivo Zumví Acervo Fotográfico, criado nos anos 1990, em Salvador, como uma espécie de “quilombo visual”, uma forma de resistência contra a segregação dos afrodescendentes no mercado de arte estabelecido. O Zumví tem mais de 30 mil negativos de fotógrafos negros, entre os quais alguns nomes da Amazônia dos quais o Sudeste nunca ouviu falar. Feitosa cita também o Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, em que os agentes de cultura de lá mantêm a cena de arte local sustentável e ainda interagem com os grandes galeristas de outros centros. Mesmo antes da abertura oficial da feira, algumas galerias abriram em suas sedes< exposições de artistas que desafiaram o esquema mercadológico e fizeram carreira primeiro como descobertas de curadores e museus. É o caso do artista indígena falecido Jaider Esbell (1979-2021), da etnia macuxi, de Roraima, hoje um nome vinculado à Galeria Millan. Socorro Andrade, uma das sócias da galeria, chama a atenção para a obra de outro artista de raiz indígena, Gustavo Caboco, do povo Wapichana.

'Rotas Brasileiras' mapeia arte fora do eixo Rio-SP em nova feira paulistana Foto: Werther Santana/Estadão

“Quando criança, Gustavo era chamado pela mãe, que foi raptada, de ‘caboclinho’, deixando claro que ele era fruto da miscigenação de indígenas com brancos”, conta Socorro Andrade, que apostou na emergência da arte indígena antes mesmo de Jaider Esbell e Caboco terem participado da Bienal de São Paulo. Caboco, segundo a marchande, sentiu, ao crescer, que era discriminado por não ser wapichana. Era um caboclo que não pertencia a lugar nenhum. Essa questão do deslocamento está presente em sua obra, repleta de elementos autobiográficos. Pela terceira vez consecutiva, a SP-Arte oferece audioguias sobre as obras e os artistas expostos na feira. Um audioguia exclusivamente dedicado à arte indígena brasileira, elaborado pelo educador Djeguaka Xondaro, reflete sobre como a arte de Jaider Esbell e Gustavo Caboco contribui para a transformação da realidade brasileira.

O jovem artista Gustavo Caboco, um dos destaques da feira Foto: Denise Andrade/Galeria Milan

Entre as galerias estreantes na SP-Arte está a Galatea, que abre uma mostra inteiramente dedicada ao diálogo entre a tradição geométrica de povos indígenas e o concretismo, que marcou definitivamente a arte brasileira dos anos 1950. O projeto da Galatea exibe obras que lidam com a linguagem abstrata dos concretos e com as tramas e grafismos de povos indígenas como os Asurini, Baniwa, Juruna, Kadiweu, Kaiapó, Tukano e Waujá. A Vivo, patrocinadora da feira, montou também uma mostra dedicada à interação dos povos indígenas com a tecnologia, que tem curadoria de Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé, Oz Guarani e Olinda Yawari. Além dos trabalhos exibidos pelas galerias há ainda a mostra Brasilidade Tridimensional, com obras de artistas escultores (Brennand e outros).

Primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte será aberta nesta quarta, 24, e vai ocupar a Arca, na Vila Leopoldina, com 70 expositores, entre galerias e projetos convidados pela organização para exibir a arte desconhecida de diversas regiões brasileiras. “Num país politicamente polarizado, a arte talvez seja o único meio de aproximar pessoas com opiniões divergentes”, justifica a fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. Ela conseguiu reunir na feira galeristas e artistas do Norte, Sul e Nordeste que raramente mostram sua arte no Sudeste. Nesta edição, a feira também se desloca da Arca para outros locais para conversar com artistas e produtores culturais fora do eixo Rio-São Paulo. Antes mesmo da abertura, a SP-Arte promoveu um debate em que se discutiu como raça e classe interferem na circulação de obras “populares” no mercado. Com a inclusão de artistas indígenas em exposições nacionais e internacionais criou-se um novo mercado que está mudando o perfil da galerias e museus. Nomes como os dos artistas indígenas Jaider Esbell e Caboco alcançam hoje altas cotações (uma tela de Caboco, representado pela Galeria Millan, a mesma de Esbell, chega a alcançar R$ 300 mil).

A fundadora e diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa Foto: Werther Santana/Estadão

A nova feira traz também nomes pouco conhecidos em São Paulo, mas que começam a crescer graças a essa mudança de padrão – caso do pintor amazonense Hélio Melo (1926-2001), que o escultor Sérgio Camargo mantinha em sua coleção . “Quando falamos em arte brasileira genuína pensamos no Hélio, seringueiro que preparava as próprias tintas e foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia”, diz Carlos Dale, da galeria Almeida & Dale, que leva suas telas à feira. Há tempos marcando presença em outros Estados, a galeria sempre defendeu esse intercâmbio. Na própria feira ela mostra a força dessa parceria trazendo uma nova série do pintor goiano Siron Franco com o consórcio da galeria baiana de Paulo Darzé.

Apesar da espiral inflacionária e da alta do dólar, a criadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, mostra otimismo ao falar da primeira edição de Rotas Brasileiras, a nova feira da SP-Arte que começa hoje. O local da nova SP-Arte, a Arca, na Vila Leopoldina, é um gigantesco galpão dos anos 1960, mas não vai receber tantas galerias como na feira do primeiro semestre. Muitas grandes ficaram de fora por causa da explosão de feiras de arte aqui e lá fora (e um estande aqui custa o mesmo que na internacional Art Basel). Em contrapartida, Rotas Brasileiras será uma feira dedicada à diversidade.

Aspecto geral da feira montada na Arca, na Vila Leopoldina Foto: Werther Santana/Estadão

Feitosa cita, por exemplo, o coletivo Zumví Acervo Fotográfico, criado nos anos 1990, em Salvador, como uma espécie de “quilombo visual”, uma forma de resistência contra a segregação dos afrodescendentes no mercado de arte estabelecido. O Zumví tem mais de 30 mil negativos de fotógrafos negros, entre os quais alguns nomes da Amazônia dos quais o Sudeste nunca ouviu falar. Feitosa cita também o Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, em que os agentes de cultura de lá mantêm a cena de arte local sustentável e ainda interagem com os grandes galeristas de outros centros. Mesmo antes da abertura oficial da feira, algumas galerias abriram em suas sedes< exposições de artistas que desafiaram o esquema mercadológico e fizeram carreira primeiro como descobertas de curadores e museus. É o caso do artista indígena falecido Jaider Esbell (1979-2021), da etnia macuxi, de Roraima, hoje um nome vinculado à Galeria Millan. Socorro Andrade, uma das sócias da galeria, chama a atenção para a obra de outro artista de raiz indígena, Gustavo Caboco, do povo Wapichana.

'Rotas Brasileiras' mapeia arte fora do eixo Rio-SP em nova feira paulistana Foto: Werther Santana/Estadão

“Quando criança, Gustavo era chamado pela mãe, que foi raptada, de ‘caboclinho’, deixando claro que ele era fruto da miscigenação de indígenas com brancos”, conta Socorro Andrade, que apostou na emergência da arte indígena antes mesmo de Jaider Esbell e Caboco terem participado da Bienal de São Paulo. Caboco, segundo a marchande, sentiu, ao crescer, que era discriminado por não ser wapichana. Era um caboclo que não pertencia a lugar nenhum. Essa questão do deslocamento está presente em sua obra, repleta de elementos autobiográficos. Pela terceira vez consecutiva, a SP-Arte oferece audioguias sobre as obras e os artistas expostos na feira. Um audioguia exclusivamente dedicado à arte indígena brasileira, elaborado pelo educador Djeguaka Xondaro, reflete sobre como a arte de Jaider Esbell e Gustavo Caboco contribui para a transformação da realidade brasileira.

O jovem artista Gustavo Caboco, um dos destaques da feira Foto: Denise Andrade/Galeria Milan

Entre as galerias estreantes na SP-Arte está a Galatea, que abre uma mostra inteiramente dedicada ao diálogo entre a tradição geométrica de povos indígenas e o concretismo, que marcou definitivamente a arte brasileira dos anos 1950. O projeto da Galatea exibe obras que lidam com a linguagem abstrata dos concretos e com as tramas e grafismos de povos indígenas como os Asurini, Baniwa, Juruna, Kadiweu, Kaiapó, Tukano e Waujá. A Vivo, patrocinadora da feira, montou também uma mostra dedicada à interação dos povos indígenas com a tecnologia, que tem curadoria de Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé, Oz Guarani e Olinda Yawari. Além dos trabalhos exibidos pelas galerias há ainda a mostra Brasilidade Tridimensional, com obras de artistas escultores (Brennand e outros).

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