Sabem que existe a pizza de churrasqueira?


Por Ignácio de Loyola Brandão

Pizza de churrasqueira? O que é isso? Perguntamos todos, afinal, no grupo familiar, parte descendentes de calabreses, havia quem tivesse percorrido a Itália comendo pizzas, o que não garante muita coisa, um paulistano, muitas vezes, entende mais de pizza do que um napolitano. Ficamos o domingo inteiro na expectativa, porque gostamos da novidade e do insólito. Seis da tarde, o vinho aberto, a espera começou, os irmãos pizzaiolos já tinham deixado Tabatinga e chegariam por volta das sete trazendo os apetrechos (como se diz no interior). Tudo o que deveríamos fazer seria colocar pratos e talheres na mesa e observar. Logo, ali estavam Peterson e Jeferson, sorridentes e expansivos, com esses nomes americanos, mas na verdade com sobrenome Barleta, família vinda da Calábria, Itália. O que interessa é que os dois tinham vindo para fazer a propalada pizza de churrasqueira.Conhecem? Espantaram-se como eu? Nada como estar aberto e curioso a tudo, a cada dia acontece uma coisa, que nos traz poesia, por mínima que seja. Em um caixote trouxeram tocos de madeira. Era a lenha. Como não lembrar aqueles anos 40 ou 50 no interior, quando não havia gás e o fogão elétrico era para poucos ricos? Todos cozinhavam com lenha, entregue por carroceiros e os homens nos fins de tarde picavam a madeira em tamanhos de acordo com a boca do fogão. Primeira lição de Peterson e Jeferson (o outro irmão se chama Cleverson): com carvão não se faz pizza de churrasqueira, somente com lenha de eucalipto e de laranjeira. Esta para dar um leve toque perfumado que faz diferença.Sôfregos, fomos olhando os apetrechos sendo arrumados. Primeiro, a pequena estante portátil de alumínio na qual cabem 12 pizzas e que lembra um desses acessórios de cozinha de avião, compactos por causa do ambiente restrito. Os irmãos Son, como passamos a chamá-los, provocando risos dos dois, muito bem-humorados, vestiram-se como chefs que se prezam, Peterson de preto, porque lidaria com o forno, Jeferson de branco, porque prepararia a massa e os ingredientes. Mariana, mulher de Peterson, uma auxiliar, nessa noite não foi, fez falta, é uma bonita mulher.Os ingredientes são os normais de qualquer pizza: muçarela, tomate, manjericão, calabresa, presunto, ovo, assim por diante. Pena, naquele fim de semana havia uma crise de peperoni em Araraquara, não encontramos uma mísera fatia, estava em falta em toda parte. Então, os irmãos mostraram o "segredo", que foi passado de mão em mão. A forma para assar. Levemente abaulada e inteira furada, como a tampa desses chuveirões de quintal. A expectativa aumentou, Jeferson preparava a massa, fazendo rolinhos, como se fossem petit gateaux exagerados. Eles usam apenas um tipo de farinha, não anotei a marca, lamento, o detalhe é essencial.Os dois, super-harmonizados, foram preparando as pizzas, uma atrás da outra. Ela não assa sobre brasas e sim com o fogo que é controlado para que apenas a ponta das chamas atravesse os orifícios e toque a massa, como uma carícia (infernal de quente, pensei). E em minutos, não mais do que isso, porque a massa tem a finura de um papel sulfite (exagero, digamos um pergaminho), a pizza de churrasqueira fica pronta e vai sendo consumida com rapidez, mas aí é que está, a velocidade do preparo é proporcional, os pedaços chegam à mesa com a precisão de um relógio digital.Sou cronista, curioso. Onde nasceu isso? Os irmãos riram. Quer a verdade ou a lenda? A lenda, primeiro. "Ah, dizem que foi na Espanha, com os mouros, que conheciam especiarias e passaram a receita a um ramo dos Barletas, que depois imigrou para a Calábria (em seguida para o Brasil) e desenvolveu a pizza. A massa original seria a mesma do pão sírio." E a verdade? "Quase prosaica. Uma senhora muito simples nos ensinou, aperfeiçoamos." O que significa que por aí, em recantos escondidos deste País, em casas que desconhecemos, sempre há alguém criando, desenvolvendo uma comida qualquer que fica em família. Ou eventualmente se torna conhecida.Então, vem o toque intuitivo, sábio. "Sabíamos que poucos têm em casa um forno para pizza, nem têm por que fazer um. Mas churrasqueira é comum, seja em casas ou apartamentos. Daí que fomos estudando, pesquisando e desenvolvemos a forma, a estante, a massa, a proporção de receitas e os ingredientes. Deu no que deu." O que deu é que Peterson, técnico em informática, e Jeferson, bancário, advogado e fazendo ainda sociologia, não têm fins de semana ou feriados livres, chamados que são para toda parte. A mulher de Peterson acompanha e a namorada de Jeferson anda pensando no que fazer. O que ambos garantem é que vão conhecendo pessoas interessantes, trocam ideias, aprendem, se divertem também. Assim, conheceram até o Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, dia 11, em Araraquara, quando o ex-presidente foi ao lançamento da biografia de Ruth Cardoso. Detalhe: os irmãos só tomam um copo de vinho ao fim, quando tudo se acaba. E o fim é com uma pizza tênue, delicadíssima, de banana e canela, que me fez lamber os beiços, eu que odeio pizzas doces.

Pizza de churrasqueira? O que é isso? Perguntamos todos, afinal, no grupo familiar, parte descendentes de calabreses, havia quem tivesse percorrido a Itália comendo pizzas, o que não garante muita coisa, um paulistano, muitas vezes, entende mais de pizza do que um napolitano. Ficamos o domingo inteiro na expectativa, porque gostamos da novidade e do insólito. Seis da tarde, o vinho aberto, a espera começou, os irmãos pizzaiolos já tinham deixado Tabatinga e chegariam por volta das sete trazendo os apetrechos (como se diz no interior). Tudo o que deveríamos fazer seria colocar pratos e talheres na mesa e observar. Logo, ali estavam Peterson e Jeferson, sorridentes e expansivos, com esses nomes americanos, mas na verdade com sobrenome Barleta, família vinda da Calábria, Itália. O que interessa é que os dois tinham vindo para fazer a propalada pizza de churrasqueira.Conhecem? Espantaram-se como eu? Nada como estar aberto e curioso a tudo, a cada dia acontece uma coisa, que nos traz poesia, por mínima que seja. Em um caixote trouxeram tocos de madeira. Era a lenha. Como não lembrar aqueles anos 40 ou 50 no interior, quando não havia gás e o fogão elétrico era para poucos ricos? Todos cozinhavam com lenha, entregue por carroceiros e os homens nos fins de tarde picavam a madeira em tamanhos de acordo com a boca do fogão. Primeira lição de Peterson e Jeferson (o outro irmão se chama Cleverson): com carvão não se faz pizza de churrasqueira, somente com lenha de eucalipto e de laranjeira. Esta para dar um leve toque perfumado que faz diferença.Sôfregos, fomos olhando os apetrechos sendo arrumados. Primeiro, a pequena estante portátil de alumínio na qual cabem 12 pizzas e que lembra um desses acessórios de cozinha de avião, compactos por causa do ambiente restrito. Os irmãos Son, como passamos a chamá-los, provocando risos dos dois, muito bem-humorados, vestiram-se como chefs que se prezam, Peterson de preto, porque lidaria com o forno, Jeferson de branco, porque prepararia a massa e os ingredientes. Mariana, mulher de Peterson, uma auxiliar, nessa noite não foi, fez falta, é uma bonita mulher.Os ingredientes são os normais de qualquer pizza: muçarela, tomate, manjericão, calabresa, presunto, ovo, assim por diante. Pena, naquele fim de semana havia uma crise de peperoni em Araraquara, não encontramos uma mísera fatia, estava em falta em toda parte. Então, os irmãos mostraram o "segredo", que foi passado de mão em mão. A forma para assar. Levemente abaulada e inteira furada, como a tampa desses chuveirões de quintal. A expectativa aumentou, Jeferson preparava a massa, fazendo rolinhos, como se fossem petit gateaux exagerados. Eles usam apenas um tipo de farinha, não anotei a marca, lamento, o detalhe é essencial.Os dois, super-harmonizados, foram preparando as pizzas, uma atrás da outra. Ela não assa sobre brasas e sim com o fogo que é controlado para que apenas a ponta das chamas atravesse os orifícios e toque a massa, como uma carícia (infernal de quente, pensei). E em minutos, não mais do que isso, porque a massa tem a finura de um papel sulfite (exagero, digamos um pergaminho), a pizza de churrasqueira fica pronta e vai sendo consumida com rapidez, mas aí é que está, a velocidade do preparo é proporcional, os pedaços chegam à mesa com a precisão de um relógio digital.Sou cronista, curioso. Onde nasceu isso? Os irmãos riram. Quer a verdade ou a lenda? A lenda, primeiro. "Ah, dizem que foi na Espanha, com os mouros, que conheciam especiarias e passaram a receita a um ramo dos Barletas, que depois imigrou para a Calábria (em seguida para o Brasil) e desenvolveu a pizza. A massa original seria a mesma do pão sírio." E a verdade? "Quase prosaica. Uma senhora muito simples nos ensinou, aperfeiçoamos." O que significa que por aí, em recantos escondidos deste País, em casas que desconhecemos, sempre há alguém criando, desenvolvendo uma comida qualquer que fica em família. Ou eventualmente se torna conhecida.Então, vem o toque intuitivo, sábio. "Sabíamos que poucos têm em casa um forno para pizza, nem têm por que fazer um. Mas churrasqueira é comum, seja em casas ou apartamentos. Daí que fomos estudando, pesquisando e desenvolvemos a forma, a estante, a massa, a proporção de receitas e os ingredientes. Deu no que deu." O que deu é que Peterson, técnico em informática, e Jeferson, bancário, advogado e fazendo ainda sociologia, não têm fins de semana ou feriados livres, chamados que são para toda parte. A mulher de Peterson acompanha e a namorada de Jeferson anda pensando no que fazer. O que ambos garantem é que vão conhecendo pessoas interessantes, trocam ideias, aprendem, se divertem também. Assim, conheceram até o Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, dia 11, em Araraquara, quando o ex-presidente foi ao lançamento da biografia de Ruth Cardoso. Detalhe: os irmãos só tomam um copo de vinho ao fim, quando tudo se acaba. E o fim é com uma pizza tênue, delicadíssima, de banana e canela, que me fez lamber os beiços, eu que odeio pizzas doces.

Pizza de churrasqueira? O que é isso? Perguntamos todos, afinal, no grupo familiar, parte descendentes de calabreses, havia quem tivesse percorrido a Itália comendo pizzas, o que não garante muita coisa, um paulistano, muitas vezes, entende mais de pizza do que um napolitano. Ficamos o domingo inteiro na expectativa, porque gostamos da novidade e do insólito. Seis da tarde, o vinho aberto, a espera começou, os irmãos pizzaiolos já tinham deixado Tabatinga e chegariam por volta das sete trazendo os apetrechos (como se diz no interior). Tudo o que deveríamos fazer seria colocar pratos e talheres na mesa e observar. Logo, ali estavam Peterson e Jeferson, sorridentes e expansivos, com esses nomes americanos, mas na verdade com sobrenome Barleta, família vinda da Calábria, Itália. O que interessa é que os dois tinham vindo para fazer a propalada pizza de churrasqueira.Conhecem? Espantaram-se como eu? Nada como estar aberto e curioso a tudo, a cada dia acontece uma coisa, que nos traz poesia, por mínima que seja. Em um caixote trouxeram tocos de madeira. Era a lenha. Como não lembrar aqueles anos 40 ou 50 no interior, quando não havia gás e o fogão elétrico era para poucos ricos? Todos cozinhavam com lenha, entregue por carroceiros e os homens nos fins de tarde picavam a madeira em tamanhos de acordo com a boca do fogão. Primeira lição de Peterson e Jeferson (o outro irmão se chama Cleverson): com carvão não se faz pizza de churrasqueira, somente com lenha de eucalipto e de laranjeira. Esta para dar um leve toque perfumado que faz diferença.Sôfregos, fomos olhando os apetrechos sendo arrumados. Primeiro, a pequena estante portátil de alumínio na qual cabem 12 pizzas e que lembra um desses acessórios de cozinha de avião, compactos por causa do ambiente restrito. Os irmãos Son, como passamos a chamá-los, provocando risos dos dois, muito bem-humorados, vestiram-se como chefs que se prezam, Peterson de preto, porque lidaria com o forno, Jeferson de branco, porque prepararia a massa e os ingredientes. Mariana, mulher de Peterson, uma auxiliar, nessa noite não foi, fez falta, é uma bonita mulher.Os ingredientes são os normais de qualquer pizza: muçarela, tomate, manjericão, calabresa, presunto, ovo, assim por diante. Pena, naquele fim de semana havia uma crise de peperoni em Araraquara, não encontramos uma mísera fatia, estava em falta em toda parte. Então, os irmãos mostraram o "segredo", que foi passado de mão em mão. A forma para assar. Levemente abaulada e inteira furada, como a tampa desses chuveirões de quintal. A expectativa aumentou, Jeferson preparava a massa, fazendo rolinhos, como se fossem petit gateaux exagerados. Eles usam apenas um tipo de farinha, não anotei a marca, lamento, o detalhe é essencial.Os dois, super-harmonizados, foram preparando as pizzas, uma atrás da outra. Ela não assa sobre brasas e sim com o fogo que é controlado para que apenas a ponta das chamas atravesse os orifícios e toque a massa, como uma carícia (infernal de quente, pensei). E em minutos, não mais do que isso, porque a massa tem a finura de um papel sulfite (exagero, digamos um pergaminho), a pizza de churrasqueira fica pronta e vai sendo consumida com rapidez, mas aí é que está, a velocidade do preparo é proporcional, os pedaços chegam à mesa com a precisão de um relógio digital.Sou cronista, curioso. Onde nasceu isso? Os irmãos riram. Quer a verdade ou a lenda? A lenda, primeiro. "Ah, dizem que foi na Espanha, com os mouros, que conheciam especiarias e passaram a receita a um ramo dos Barletas, que depois imigrou para a Calábria (em seguida para o Brasil) e desenvolveu a pizza. A massa original seria a mesma do pão sírio." E a verdade? "Quase prosaica. Uma senhora muito simples nos ensinou, aperfeiçoamos." O que significa que por aí, em recantos escondidos deste País, em casas que desconhecemos, sempre há alguém criando, desenvolvendo uma comida qualquer que fica em família. Ou eventualmente se torna conhecida.Então, vem o toque intuitivo, sábio. "Sabíamos que poucos têm em casa um forno para pizza, nem têm por que fazer um. Mas churrasqueira é comum, seja em casas ou apartamentos. Daí que fomos estudando, pesquisando e desenvolvemos a forma, a estante, a massa, a proporção de receitas e os ingredientes. Deu no que deu." O que deu é que Peterson, técnico em informática, e Jeferson, bancário, advogado e fazendo ainda sociologia, não têm fins de semana ou feriados livres, chamados que são para toda parte. A mulher de Peterson acompanha e a namorada de Jeferson anda pensando no que fazer. O que ambos garantem é que vão conhecendo pessoas interessantes, trocam ideias, aprendem, se divertem também. Assim, conheceram até o Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, dia 11, em Araraquara, quando o ex-presidente foi ao lançamento da biografia de Ruth Cardoso. Detalhe: os irmãos só tomam um copo de vinho ao fim, quando tudo se acaba. E o fim é com uma pizza tênue, delicadíssima, de banana e canela, que me fez lamber os beiços, eu que odeio pizzas doces.

Pizza de churrasqueira? O que é isso? Perguntamos todos, afinal, no grupo familiar, parte descendentes de calabreses, havia quem tivesse percorrido a Itália comendo pizzas, o que não garante muita coisa, um paulistano, muitas vezes, entende mais de pizza do que um napolitano. Ficamos o domingo inteiro na expectativa, porque gostamos da novidade e do insólito. Seis da tarde, o vinho aberto, a espera começou, os irmãos pizzaiolos já tinham deixado Tabatinga e chegariam por volta das sete trazendo os apetrechos (como se diz no interior). Tudo o que deveríamos fazer seria colocar pratos e talheres na mesa e observar. Logo, ali estavam Peterson e Jeferson, sorridentes e expansivos, com esses nomes americanos, mas na verdade com sobrenome Barleta, família vinda da Calábria, Itália. O que interessa é que os dois tinham vindo para fazer a propalada pizza de churrasqueira.Conhecem? Espantaram-se como eu? Nada como estar aberto e curioso a tudo, a cada dia acontece uma coisa, que nos traz poesia, por mínima que seja. Em um caixote trouxeram tocos de madeira. Era a lenha. Como não lembrar aqueles anos 40 ou 50 no interior, quando não havia gás e o fogão elétrico era para poucos ricos? Todos cozinhavam com lenha, entregue por carroceiros e os homens nos fins de tarde picavam a madeira em tamanhos de acordo com a boca do fogão. Primeira lição de Peterson e Jeferson (o outro irmão se chama Cleverson): com carvão não se faz pizza de churrasqueira, somente com lenha de eucalipto e de laranjeira. Esta para dar um leve toque perfumado que faz diferença.Sôfregos, fomos olhando os apetrechos sendo arrumados. Primeiro, a pequena estante portátil de alumínio na qual cabem 12 pizzas e que lembra um desses acessórios de cozinha de avião, compactos por causa do ambiente restrito. Os irmãos Son, como passamos a chamá-los, provocando risos dos dois, muito bem-humorados, vestiram-se como chefs que se prezam, Peterson de preto, porque lidaria com o forno, Jeferson de branco, porque prepararia a massa e os ingredientes. Mariana, mulher de Peterson, uma auxiliar, nessa noite não foi, fez falta, é uma bonita mulher.Os ingredientes são os normais de qualquer pizza: muçarela, tomate, manjericão, calabresa, presunto, ovo, assim por diante. Pena, naquele fim de semana havia uma crise de peperoni em Araraquara, não encontramos uma mísera fatia, estava em falta em toda parte. Então, os irmãos mostraram o "segredo", que foi passado de mão em mão. A forma para assar. Levemente abaulada e inteira furada, como a tampa desses chuveirões de quintal. A expectativa aumentou, Jeferson preparava a massa, fazendo rolinhos, como se fossem petit gateaux exagerados. Eles usam apenas um tipo de farinha, não anotei a marca, lamento, o detalhe é essencial.Os dois, super-harmonizados, foram preparando as pizzas, uma atrás da outra. Ela não assa sobre brasas e sim com o fogo que é controlado para que apenas a ponta das chamas atravesse os orifícios e toque a massa, como uma carícia (infernal de quente, pensei). E em minutos, não mais do que isso, porque a massa tem a finura de um papel sulfite (exagero, digamos um pergaminho), a pizza de churrasqueira fica pronta e vai sendo consumida com rapidez, mas aí é que está, a velocidade do preparo é proporcional, os pedaços chegam à mesa com a precisão de um relógio digital.Sou cronista, curioso. Onde nasceu isso? Os irmãos riram. Quer a verdade ou a lenda? A lenda, primeiro. "Ah, dizem que foi na Espanha, com os mouros, que conheciam especiarias e passaram a receita a um ramo dos Barletas, que depois imigrou para a Calábria (em seguida para o Brasil) e desenvolveu a pizza. A massa original seria a mesma do pão sírio." E a verdade? "Quase prosaica. Uma senhora muito simples nos ensinou, aperfeiçoamos." O que significa que por aí, em recantos escondidos deste País, em casas que desconhecemos, sempre há alguém criando, desenvolvendo uma comida qualquer que fica em família. Ou eventualmente se torna conhecida.Então, vem o toque intuitivo, sábio. "Sabíamos que poucos têm em casa um forno para pizza, nem têm por que fazer um. Mas churrasqueira é comum, seja em casas ou apartamentos. Daí que fomos estudando, pesquisando e desenvolvemos a forma, a estante, a massa, a proporção de receitas e os ingredientes. Deu no que deu." O que deu é que Peterson, técnico em informática, e Jeferson, bancário, advogado e fazendo ainda sociologia, não têm fins de semana ou feriados livres, chamados que são para toda parte. A mulher de Peterson acompanha e a namorada de Jeferson anda pensando no que fazer. O que ambos garantem é que vão conhecendo pessoas interessantes, trocam ideias, aprendem, se divertem também. Assim, conheceram até o Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, dia 11, em Araraquara, quando o ex-presidente foi ao lançamento da biografia de Ruth Cardoso. Detalhe: os irmãos só tomam um copo de vinho ao fim, quando tudo se acaba. E o fim é com uma pizza tênue, delicadíssima, de banana e canela, que me fez lamber os beiços, eu que odeio pizzas doces.

Pizza de churrasqueira? O que é isso? Perguntamos todos, afinal, no grupo familiar, parte descendentes de calabreses, havia quem tivesse percorrido a Itália comendo pizzas, o que não garante muita coisa, um paulistano, muitas vezes, entende mais de pizza do que um napolitano. Ficamos o domingo inteiro na expectativa, porque gostamos da novidade e do insólito. Seis da tarde, o vinho aberto, a espera começou, os irmãos pizzaiolos já tinham deixado Tabatinga e chegariam por volta das sete trazendo os apetrechos (como se diz no interior). Tudo o que deveríamos fazer seria colocar pratos e talheres na mesa e observar. Logo, ali estavam Peterson e Jeferson, sorridentes e expansivos, com esses nomes americanos, mas na verdade com sobrenome Barleta, família vinda da Calábria, Itália. O que interessa é que os dois tinham vindo para fazer a propalada pizza de churrasqueira.Conhecem? Espantaram-se como eu? Nada como estar aberto e curioso a tudo, a cada dia acontece uma coisa, que nos traz poesia, por mínima que seja. Em um caixote trouxeram tocos de madeira. Era a lenha. Como não lembrar aqueles anos 40 ou 50 no interior, quando não havia gás e o fogão elétrico era para poucos ricos? Todos cozinhavam com lenha, entregue por carroceiros e os homens nos fins de tarde picavam a madeira em tamanhos de acordo com a boca do fogão. Primeira lição de Peterson e Jeferson (o outro irmão se chama Cleverson): com carvão não se faz pizza de churrasqueira, somente com lenha de eucalipto e de laranjeira. Esta para dar um leve toque perfumado que faz diferença.Sôfregos, fomos olhando os apetrechos sendo arrumados. Primeiro, a pequena estante portátil de alumínio na qual cabem 12 pizzas e que lembra um desses acessórios de cozinha de avião, compactos por causa do ambiente restrito. Os irmãos Son, como passamos a chamá-los, provocando risos dos dois, muito bem-humorados, vestiram-se como chefs que se prezam, Peterson de preto, porque lidaria com o forno, Jeferson de branco, porque prepararia a massa e os ingredientes. Mariana, mulher de Peterson, uma auxiliar, nessa noite não foi, fez falta, é uma bonita mulher.Os ingredientes são os normais de qualquer pizza: muçarela, tomate, manjericão, calabresa, presunto, ovo, assim por diante. Pena, naquele fim de semana havia uma crise de peperoni em Araraquara, não encontramos uma mísera fatia, estava em falta em toda parte. Então, os irmãos mostraram o "segredo", que foi passado de mão em mão. A forma para assar. Levemente abaulada e inteira furada, como a tampa desses chuveirões de quintal. A expectativa aumentou, Jeferson preparava a massa, fazendo rolinhos, como se fossem petit gateaux exagerados. Eles usam apenas um tipo de farinha, não anotei a marca, lamento, o detalhe é essencial.Os dois, super-harmonizados, foram preparando as pizzas, uma atrás da outra. Ela não assa sobre brasas e sim com o fogo que é controlado para que apenas a ponta das chamas atravesse os orifícios e toque a massa, como uma carícia (infernal de quente, pensei). E em minutos, não mais do que isso, porque a massa tem a finura de um papel sulfite (exagero, digamos um pergaminho), a pizza de churrasqueira fica pronta e vai sendo consumida com rapidez, mas aí é que está, a velocidade do preparo é proporcional, os pedaços chegam à mesa com a precisão de um relógio digital.Sou cronista, curioso. Onde nasceu isso? Os irmãos riram. Quer a verdade ou a lenda? A lenda, primeiro. "Ah, dizem que foi na Espanha, com os mouros, que conheciam especiarias e passaram a receita a um ramo dos Barletas, que depois imigrou para a Calábria (em seguida para o Brasil) e desenvolveu a pizza. A massa original seria a mesma do pão sírio." E a verdade? "Quase prosaica. Uma senhora muito simples nos ensinou, aperfeiçoamos." O que significa que por aí, em recantos escondidos deste País, em casas que desconhecemos, sempre há alguém criando, desenvolvendo uma comida qualquer que fica em família. Ou eventualmente se torna conhecida.Então, vem o toque intuitivo, sábio. "Sabíamos que poucos têm em casa um forno para pizza, nem têm por que fazer um. Mas churrasqueira é comum, seja em casas ou apartamentos. Daí que fomos estudando, pesquisando e desenvolvemos a forma, a estante, a massa, a proporção de receitas e os ingredientes. Deu no que deu." O que deu é que Peterson, técnico em informática, e Jeferson, bancário, advogado e fazendo ainda sociologia, não têm fins de semana ou feriados livres, chamados que são para toda parte. A mulher de Peterson acompanha e a namorada de Jeferson anda pensando no que fazer. O que ambos garantem é que vão conhecendo pessoas interessantes, trocam ideias, aprendem, se divertem também. Assim, conheceram até o Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, dia 11, em Araraquara, quando o ex-presidente foi ao lançamento da biografia de Ruth Cardoso. Detalhe: os irmãos só tomam um copo de vinho ao fim, quando tudo se acaba. E o fim é com uma pizza tênue, delicadíssima, de banana e canela, que me fez lamber os beiços, eu que odeio pizzas doces.

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