São Paulo Fashion Week deve colocar sustentabilidade e ativismo em foco


Com novas marcas e algumas ausências, os desfiles que começam no próximo domingo, 13, também irão pautar a inovação e a tecnologia no mundo da moda

Por Maria Rita Alonso
Atualização:

A cada edição, o São Paulo Fashion Week ganha novas marcas – e, invariavelmente, perde outras tantas. O topo da moda nacional é um espaço apertado e difícil de se sustentar, no qual estilistas ascendem, declinam, revezam-se, sem manter a regularidade nas apresentações. Nesta temporada, que começa na noite do próximo domingo, 13, e vai até sexta, 18, serão 26 desfiles contra 35 da estação passada, a maioria deles armados no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera. Entre as ausências mais sentidas em relação à última semana estão a Piet, marca masculina voltada ao universo dos esportes, e a Flavia Aranha, que é um dos principais nomes da moda sustentável e informou que desfilará apenas uma vez ao ano.

“Em alguns momentos temos mais gente no line up, em outros temos menos. Isso varia muito de acordo com a economia do País, que sempre foi repleta de sobressaltos”, diz Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do evento. “O SPFW é um processo em construção contínua. Não estamos aqui para o curto prazo”, diz ele. De fato a economia estagnada e o varejo em queda não ajudam em nada. Mas estratégias de marketing também parecem incertas em relação ao custo-benefício de um desfile, que fica entre R$ 30 mil e R$ 120 mil, mas pode ultrapassar 1 milhão, dependendo das modelos, do cenário, etc.

Sem gênero: Adriana Bozon, Thiago Marcon e Muriel Mingossi, da Ellus, com Linda Helena e Léo Picon mostram uma moda com aresandrógenos Foto: Zé Takahashi
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“Moda é comunicação e o desfile é uma boa maneira de contar a história de uma coleção. Mas não é a única”, diz Adriana Bozon, diretora de criação da Ellus, que abre a semana depois de ter pulado as últimas edições. A apresentação da marca será hoje à noite, em frente ao Farol Santander, banco que patrocina o SPFW. “Decidimos voltar ao evento porque recebemos um convite irresistível para desfilar no centro histórico, e achamos que isso causaria impacto”, diz ela, lembrando de antigos shows da Ellus na Estação Júlio Prestes e no Teatro Municipal.

O icônico desfile da Ellus na Estação Júlio Prestes, durante a São Paulo Fashion Week de 2008 Foto: Paulo Whitaker/ Reuters

Depois de duas temporadas apresentadas no espaço Arca, numa região degradada da Vila Leopoldina, o SPFW retorna ao Parque do Ibirapuera. Alguns desfiles, no entanto, ocorrem em outros pontos da cidade, como a Pinacoteca do Estado e a Faap.

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O show da Ellus, no antigo prédio do Banespa, se apoia em uma trinca que orienta todos os movimentos da indústria da moda atualmente: sustentabilidade, diversidade e ativismo social. A cantora não binária Majur abre o desfile que investe em peças utilitárias, derivadas de uniformes e inspiradas em sportswear. Masculino e feminino se fundem nas roupas produzidas em sarja, náilon, moletom e jeans, com uma cartela sóbria pincelada de um tom aceso de laranja. Em novembro, a marca anuncia uma parceria com o Guaraná Antártica para criar quatro coleções com renda que vai reverter para comunidades amazônicas que cultivam plantações de guaraná.

Sustentabilidade

Temas ligados a formas de produção sustentáveis, à inovação e à tecnologia na moda serão abordados em palestras do projeto Estufa, que acontecem paralelamente aos desfiles. Um dos destaques da programação é a estilista britânica Bethany Williams, vencedora do Prêmio Queen Elizabeth II e finalista do Prêmio LVMH 2019. Suas peças são 100% sustentáveis. “A moda vai da agricultura à comunicação causando um enorme impacto, produzindo 80 bilhões de novas peças de roupa por ano e empregando uma em cada seis pessoas no planeta”, diz ela. “Acredito que a moda pode fazer uma mudança real no mundo através do upcycling, do reúso e de pensar na cadeia de produção como um processo circular. E cabe aos designers criar de fato produtos que tenham essa característica circular.”

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A moda minimalista e sem estereótipos da cabo-verdiana Ângela Brito Foto: Rodrigo Takeshi

O ativismo social é o pilar fundamental de outras duas estreias festejadas do evento: a estilista cabo-verdiana Ângela Brito e o estilista Isaac Silva, ambos interpretando raízes africanas, porém de maneiras muito distintas. Radicada no Rio, Ângela desenvolve roupas com modelagens minimalistas e sofisticadas, que em nada lembram as estampas coloridas relacionadas ao continente africano. Negando estereótipos, ela acaba fazendo da moda um meio de expressão contra a discriminação. “Não entendo a dificuldade das pessoas em assimilar texturas de cabelo, traços, tonalidades de pele e etc. Isso não deve ser encarado como motivo para méritos ou deméritos. A diversidade é algo completamente natural do planeta em que vivemos”, diz ela, que também faz parte do time de novos designers do Shop2gether, com curadoria de Costanza Pascolato e de Ana Isabel de Carvalho Pinto, co-founder do e-commerce.

Isaac Silva traz muitoaxé com sua coleção marcada porreferências africanas Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite
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Já Isaac Silva desafia o preconceito racial através de criações repletas de referências que, nos últimos anos, foram apresentadas em desfiles cheios de energia na Casa dos Criadores. Para a estreia no SPFW, ele preparou a coleção “Acredite no seu Axé” inteira com looks brancos em algodão, linho, renda Richelieu e outros tecidos naturais, todos com modelagens sem definição de gênero. “Acredite no seu Axé é um movimento de amor e vibrações positivas, que reafirma nossa confiança”, afirma ele. “Quando saí da faculdade, achei que teria um emprego e faria uma carreira, mas não fui absorvido pelo mercado. Não tem emprego para todo mundo. Acabei criando minha marca e hoje estou aqui, no Fashion Week. Se a gente não acreditar na gente, quem vai acreditar?”

A cada edição, o São Paulo Fashion Week ganha novas marcas – e, invariavelmente, perde outras tantas. O topo da moda nacional é um espaço apertado e difícil de se sustentar, no qual estilistas ascendem, declinam, revezam-se, sem manter a regularidade nas apresentações. Nesta temporada, que começa na noite do próximo domingo, 13, e vai até sexta, 18, serão 26 desfiles contra 35 da estação passada, a maioria deles armados no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera. Entre as ausências mais sentidas em relação à última semana estão a Piet, marca masculina voltada ao universo dos esportes, e a Flavia Aranha, que é um dos principais nomes da moda sustentável e informou que desfilará apenas uma vez ao ano.

“Em alguns momentos temos mais gente no line up, em outros temos menos. Isso varia muito de acordo com a economia do País, que sempre foi repleta de sobressaltos”, diz Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do evento. “O SPFW é um processo em construção contínua. Não estamos aqui para o curto prazo”, diz ele. De fato a economia estagnada e o varejo em queda não ajudam em nada. Mas estratégias de marketing também parecem incertas em relação ao custo-benefício de um desfile, que fica entre R$ 30 mil e R$ 120 mil, mas pode ultrapassar 1 milhão, dependendo das modelos, do cenário, etc.

Sem gênero: Adriana Bozon, Thiago Marcon e Muriel Mingossi, da Ellus, com Linda Helena e Léo Picon mostram uma moda com aresandrógenos Foto: Zé Takahashi

“Moda é comunicação e o desfile é uma boa maneira de contar a história de uma coleção. Mas não é a única”, diz Adriana Bozon, diretora de criação da Ellus, que abre a semana depois de ter pulado as últimas edições. A apresentação da marca será hoje à noite, em frente ao Farol Santander, banco que patrocina o SPFW. “Decidimos voltar ao evento porque recebemos um convite irresistível para desfilar no centro histórico, e achamos que isso causaria impacto”, diz ela, lembrando de antigos shows da Ellus na Estação Júlio Prestes e no Teatro Municipal.

O icônico desfile da Ellus na Estação Júlio Prestes, durante a São Paulo Fashion Week de 2008 Foto: Paulo Whitaker/ Reuters

Depois de duas temporadas apresentadas no espaço Arca, numa região degradada da Vila Leopoldina, o SPFW retorna ao Parque do Ibirapuera. Alguns desfiles, no entanto, ocorrem em outros pontos da cidade, como a Pinacoteca do Estado e a Faap.

O show da Ellus, no antigo prédio do Banespa, se apoia em uma trinca que orienta todos os movimentos da indústria da moda atualmente: sustentabilidade, diversidade e ativismo social. A cantora não binária Majur abre o desfile que investe em peças utilitárias, derivadas de uniformes e inspiradas em sportswear. Masculino e feminino se fundem nas roupas produzidas em sarja, náilon, moletom e jeans, com uma cartela sóbria pincelada de um tom aceso de laranja. Em novembro, a marca anuncia uma parceria com o Guaraná Antártica para criar quatro coleções com renda que vai reverter para comunidades amazônicas que cultivam plantações de guaraná.

Sustentabilidade

Temas ligados a formas de produção sustentáveis, à inovação e à tecnologia na moda serão abordados em palestras do projeto Estufa, que acontecem paralelamente aos desfiles. Um dos destaques da programação é a estilista britânica Bethany Williams, vencedora do Prêmio Queen Elizabeth II e finalista do Prêmio LVMH 2019. Suas peças são 100% sustentáveis. “A moda vai da agricultura à comunicação causando um enorme impacto, produzindo 80 bilhões de novas peças de roupa por ano e empregando uma em cada seis pessoas no planeta”, diz ela. “Acredito que a moda pode fazer uma mudança real no mundo através do upcycling, do reúso e de pensar na cadeia de produção como um processo circular. E cabe aos designers criar de fato produtos que tenham essa característica circular.”

A moda minimalista e sem estereótipos da cabo-verdiana Ângela Brito Foto: Rodrigo Takeshi

O ativismo social é o pilar fundamental de outras duas estreias festejadas do evento: a estilista cabo-verdiana Ângela Brito e o estilista Isaac Silva, ambos interpretando raízes africanas, porém de maneiras muito distintas. Radicada no Rio, Ângela desenvolve roupas com modelagens minimalistas e sofisticadas, que em nada lembram as estampas coloridas relacionadas ao continente africano. Negando estereótipos, ela acaba fazendo da moda um meio de expressão contra a discriminação. “Não entendo a dificuldade das pessoas em assimilar texturas de cabelo, traços, tonalidades de pele e etc. Isso não deve ser encarado como motivo para méritos ou deméritos. A diversidade é algo completamente natural do planeta em que vivemos”, diz ela, que também faz parte do time de novos designers do Shop2gether, com curadoria de Costanza Pascolato e de Ana Isabel de Carvalho Pinto, co-founder do e-commerce.

Isaac Silva traz muitoaxé com sua coleção marcada porreferências africanas Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

Já Isaac Silva desafia o preconceito racial através de criações repletas de referências que, nos últimos anos, foram apresentadas em desfiles cheios de energia na Casa dos Criadores. Para a estreia no SPFW, ele preparou a coleção “Acredite no seu Axé” inteira com looks brancos em algodão, linho, renda Richelieu e outros tecidos naturais, todos com modelagens sem definição de gênero. “Acredite no seu Axé é um movimento de amor e vibrações positivas, que reafirma nossa confiança”, afirma ele. “Quando saí da faculdade, achei que teria um emprego e faria uma carreira, mas não fui absorvido pelo mercado. Não tem emprego para todo mundo. Acabei criando minha marca e hoje estou aqui, no Fashion Week. Se a gente não acreditar na gente, quem vai acreditar?”

A cada edição, o São Paulo Fashion Week ganha novas marcas – e, invariavelmente, perde outras tantas. O topo da moda nacional é um espaço apertado e difícil de se sustentar, no qual estilistas ascendem, declinam, revezam-se, sem manter a regularidade nas apresentações. Nesta temporada, que começa na noite do próximo domingo, 13, e vai até sexta, 18, serão 26 desfiles contra 35 da estação passada, a maioria deles armados no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera. Entre as ausências mais sentidas em relação à última semana estão a Piet, marca masculina voltada ao universo dos esportes, e a Flavia Aranha, que é um dos principais nomes da moda sustentável e informou que desfilará apenas uma vez ao ano.

“Em alguns momentos temos mais gente no line up, em outros temos menos. Isso varia muito de acordo com a economia do País, que sempre foi repleta de sobressaltos”, diz Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do evento. “O SPFW é um processo em construção contínua. Não estamos aqui para o curto prazo”, diz ele. De fato a economia estagnada e o varejo em queda não ajudam em nada. Mas estratégias de marketing também parecem incertas em relação ao custo-benefício de um desfile, que fica entre R$ 30 mil e R$ 120 mil, mas pode ultrapassar 1 milhão, dependendo das modelos, do cenário, etc.

Sem gênero: Adriana Bozon, Thiago Marcon e Muriel Mingossi, da Ellus, com Linda Helena e Léo Picon mostram uma moda com aresandrógenos Foto: Zé Takahashi

“Moda é comunicação e o desfile é uma boa maneira de contar a história de uma coleção. Mas não é a única”, diz Adriana Bozon, diretora de criação da Ellus, que abre a semana depois de ter pulado as últimas edições. A apresentação da marca será hoje à noite, em frente ao Farol Santander, banco que patrocina o SPFW. “Decidimos voltar ao evento porque recebemos um convite irresistível para desfilar no centro histórico, e achamos que isso causaria impacto”, diz ela, lembrando de antigos shows da Ellus na Estação Júlio Prestes e no Teatro Municipal.

O icônico desfile da Ellus na Estação Júlio Prestes, durante a São Paulo Fashion Week de 2008 Foto: Paulo Whitaker/ Reuters

Depois de duas temporadas apresentadas no espaço Arca, numa região degradada da Vila Leopoldina, o SPFW retorna ao Parque do Ibirapuera. Alguns desfiles, no entanto, ocorrem em outros pontos da cidade, como a Pinacoteca do Estado e a Faap.

O show da Ellus, no antigo prédio do Banespa, se apoia em uma trinca que orienta todos os movimentos da indústria da moda atualmente: sustentabilidade, diversidade e ativismo social. A cantora não binária Majur abre o desfile que investe em peças utilitárias, derivadas de uniformes e inspiradas em sportswear. Masculino e feminino se fundem nas roupas produzidas em sarja, náilon, moletom e jeans, com uma cartela sóbria pincelada de um tom aceso de laranja. Em novembro, a marca anuncia uma parceria com o Guaraná Antártica para criar quatro coleções com renda que vai reverter para comunidades amazônicas que cultivam plantações de guaraná.

Sustentabilidade

Temas ligados a formas de produção sustentáveis, à inovação e à tecnologia na moda serão abordados em palestras do projeto Estufa, que acontecem paralelamente aos desfiles. Um dos destaques da programação é a estilista britânica Bethany Williams, vencedora do Prêmio Queen Elizabeth II e finalista do Prêmio LVMH 2019. Suas peças são 100% sustentáveis. “A moda vai da agricultura à comunicação causando um enorme impacto, produzindo 80 bilhões de novas peças de roupa por ano e empregando uma em cada seis pessoas no planeta”, diz ela. “Acredito que a moda pode fazer uma mudança real no mundo através do upcycling, do reúso e de pensar na cadeia de produção como um processo circular. E cabe aos designers criar de fato produtos que tenham essa característica circular.”

A moda minimalista e sem estereótipos da cabo-verdiana Ângela Brito Foto: Rodrigo Takeshi

O ativismo social é o pilar fundamental de outras duas estreias festejadas do evento: a estilista cabo-verdiana Ângela Brito e o estilista Isaac Silva, ambos interpretando raízes africanas, porém de maneiras muito distintas. Radicada no Rio, Ângela desenvolve roupas com modelagens minimalistas e sofisticadas, que em nada lembram as estampas coloridas relacionadas ao continente africano. Negando estereótipos, ela acaba fazendo da moda um meio de expressão contra a discriminação. “Não entendo a dificuldade das pessoas em assimilar texturas de cabelo, traços, tonalidades de pele e etc. Isso não deve ser encarado como motivo para méritos ou deméritos. A diversidade é algo completamente natural do planeta em que vivemos”, diz ela, que também faz parte do time de novos designers do Shop2gether, com curadoria de Costanza Pascolato e de Ana Isabel de Carvalho Pinto, co-founder do e-commerce.

Isaac Silva traz muitoaxé com sua coleção marcada porreferências africanas Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

Já Isaac Silva desafia o preconceito racial através de criações repletas de referências que, nos últimos anos, foram apresentadas em desfiles cheios de energia na Casa dos Criadores. Para a estreia no SPFW, ele preparou a coleção “Acredite no seu Axé” inteira com looks brancos em algodão, linho, renda Richelieu e outros tecidos naturais, todos com modelagens sem definição de gênero. “Acredite no seu Axé é um movimento de amor e vibrações positivas, que reafirma nossa confiança”, afirma ele. “Quando saí da faculdade, achei que teria um emprego e faria uma carreira, mas não fui absorvido pelo mercado. Não tem emprego para todo mundo. Acabei criando minha marca e hoje estou aqui, no Fashion Week. Se a gente não acreditar na gente, quem vai acreditar?”

A cada edição, o São Paulo Fashion Week ganha novas marcas – e, invariavelmente, perde outras tantas. O topo da moda nacional é um espaço apertado e difícil de se sustentar, no qual estilistas ascendem, declinam, revezam-se, sem manter a regularidade nas apresentações. Nesta temporada, que começa na noite do próximo domingo, 13, e vai até sexta, 18, serão 26 desfiles contra 35 da estação passada, a maioria deles armados no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera. Entre as ausências mais sentidas em relação à última semana estão a Piet, marca masculina voltada ao universo dos esportes, e a Flavia Aranha, que é um dos principais nomes da moda sustentável e informou que desfilará apenas uma vez ao ano.

“Em alguns momentos temos mais gente no line up, em outros temos menos. Isso varia muito de acordo com a economia do País, que sempre foi repleta de sobressaltos”, diz Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do evento. “O SPFW é um processo em construção contínua. Não estamos aqui para o curto prazo”, diz ele. De fato a economia estagnada e o varejo em queda não ajudam em nada. Mas estratégias de marketing também parecem incertas em relação ao custo-benefício de um desfile, que fica entre R$ 30 mil e R$ 120 mil, mas pode ultrapassar 1 milhão, dependendo das modelos, do cenário, etc.

Sem gênero: Adriana Bozon, Thiago Marcon e Muriel Mingossi, da Ellus, com Linda Helena e Léo Picon mostram uma moda com aresandrógenos Foto: Zé Takahashi

“Moda é comunicação e o desfile é uma boa maneira de contar a história de uma coleção. Mas não é a única”, diz Adriana Bozon, diretora de criação da Ellus, que abre a semana depois de ter pulado as últimas edições. A apresentação da marca será hoje à noite, em frente ao Farol Santander, banco que patrocina o SPFW. “Decidimos voltar ao evento porque recebemos um convite irresistível para desfilar no centro histórico, e achamos que isso causaria impacto”, diz ela, lembrando de antigos shows da Ellus na Estação Júlio Prestes e no Teatro Municipal.

O icônico desfile da Ellus na Estação Júlio Prestes, durante a São Paulo Fashion Week de 2008 Foto: Paulo Whitaker/ Reuters

Depois de duas temporadas apresentadas no espaço Arca, numa região degradada da Vila Leopoldina, o SPFW retorna ao Parque do Ibirapuera. Alguns desfiles, no entanto, ocorrem em outros pontos da cidade, como a Pinacoteca do Estado e a Faap.

O show da Ellus, no antigo prédio do Banespa, se apoia em uma trinca que orienta todos os movimentos da indústria da moda atualmente: sustentabilidade, diversidade e ativismo social. A cantora não binária Majur abre o desfile que investe em peças utilitárias, derivadas de uniformes e inspiradas em sportswear. Masculino e feminino se fundem nas roupas produzidas em sarja, náilon, moletom e jeans, com uma cartela sóbria pincelada de um tom aceso de laranja. Em novembro, a marca anuncia uma parceria com o Guaraná Antártica para criar quatro coleções com renda que vai reverter para comunidades amazônicas que cultivam plantações de guaraná.

Sustentabilidade

Temas ligados a formas de produção sustentáveis, à inovação e à tecnologia na moda serão abordados em palestras do projeto Estufa, que acontecem paralelamente aos desfiles. Um dos destaques da programação é a estilista britânica Bethany Williams, vencedora do Prêmio Queen Elizabeth II e finalista do Prêmio LVMH 2019. Suas peças são 100% sustentáveis. “A moda vai da agricultura à comunicação causando um enorme impacto, produzindo 80 bilhões de novas peças de roupa por ano e empregando uma em cada seis pessoas no planeta”, diz ela. “Acredito que a moda pode fazer uma mudança real no mundo através do upcycling, do reúso e de pensar na cadeia de produção como um processo circular. E cabe aos designers criar de fato produtos que tenham essa característica circular.”

A moda minimalista e sem estereótipos da cabo-verdiana Ângela Brito Foto: Rodrigo Takeshi

O ativismo social é o pilar fundamental de outras duas estreias festejadas do evento: a estilista cabo-verdiana Ângela Brito e o estilista Isaac Silva, ambos interpretando raízes africanas, porém de maneiras muito distintas. Radicada no Rio, Ângela desenvolve roupas com modelagens minimalistas e sofisticadas, que em nada lembram as estampas coloridas relacionadas ao continente africano. Negando estereótipos, ela acaba fazendo da moda um meio de expressão contra a discriminação. “Não entendo a dificuldade das pessoas em assimilar texturas de cabelo, traços, tonalidades de pele e etc. Isso não deve ser encarado como motivo para méritos ou deméritos. A diversidade é algo completamente natural do planeta em que vivemos”, diz ela, que também faz parte do time de novos designers do Shop2gether, com curadoria de Costanza Pascolato e de Ana Isabel de Carvalho Pinto, co-founder do e-commerce.

Isaac Silva traz muitoaxé com sua coleção marcada porreferências africanas Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

Já Isaac Silva desafia o preconceito racial através de criações repletas de referências que, nos últimos anos, foram apresentadas em desfiles cheios de energia na Casa dos Criadores. Para a estreia no SPFW, ele preparou a coleção “Acredite no seu Axé” inteira com looks brancos em algodão, linho, renda Richelieu e outros tecidos naturais, todos com modelagens sem definição de gênero. “Acredite no seu Axé é um movimento de amor e vibrações positivas, que reafirma nossa confiança”, afirma ele. “Quando saí da faculdade, achei que teria um emprego e faria uma carreira, mas não fui absorvido pelo mercado. Não tem emprego para todo mundo. Acabei criando minha marca e hoje estou aqui, no Fashion Week. Se a gente não acreditar na gente, quem vai acreditar?”

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