São Paulo para crianças curiosas: Onde encontrar dinossauros e desvendar os mistérios da natureza


Veja dicas de museus e lugares para incentivar a curiosidade das crianças

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

A criança mal aprende a falar e já se arrisca nos complicados nomes das espécies de dinossauros: tricerátops, braquiossauro, velociraptor, pterodáctilo. Tem um meme que volta e meia circula na internet que mostra um gráfico comparando o nível de conhecimento de um paleontólogo com o de uma criança de quatro anos, e com o da mãe dessa criança. Quem já passou por essa fase entende bem.

Depois tem a fase do fundo do mar, dos insetos, dos planetas, e por aí vai. Em entrevista recente ao Estadão, o historiador israelense Yuval Noah Harari comentou que as crianças são naturalmente curiosas e que o problema é que, com o passar do tempo, elas deixam de fazer as perguntas essenciais. E, como são elas que poderão salvar a humanidade, é preciso incentivar essa curiosidade.

Planetário é um passeio obrigatório desde o final dos anos 1950 Foto: Werther Santana
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Pensando nisso, buscamos museus e lugares em São Paulo que dialogam com esses interesses comuns às crianças: os mistérios entre o céu e a terra – e das profundezas do oceano. Alguns deles têm cara de passeio de escola – e até são durante a semana. Mas o interessante é que as crianças pedem para voltar nos finais de semana para levar a família.

Mundo dos insetos

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É o caso do Planeta Inseto, no Instituto Biológico, na Vila Mariana (Av. Dr. Dante Pazzanese, 64; 3.ª a domingo, das 9h às 16h). A curadora Harumi Hojo conta que é comum ver crianças por lá no sábado e domingo, guiando os pais.

Acessível, com entrada gratuita, estacionamento e de fácil acesso, ele viu seu número de visitantes aumentar consideravelmente após uma reforma na pandemia. Em 2011, o ano da inauguração, ele recebeu 23 mil pessoas. O recorde de visitação – 33 mil pessoas em 2019 – já foi igualado em apenas cinco meses neste ano – entre a reabertura, em abril, e o fim de setembro.

São sete salas, onde é possível ver a produção do fio da seda pelas lagartas, conhecer o funcionamento de um formigueiro, aprender sobre as abelhas, ver besouros, borboletas, bicho-pau e até acompanhar uma corrida de baratas – com torcida e tudo.

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Planeta Inseto, no Instituto Biológico, tem entrada gratuita Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O universo dos insetos é muito rico e pode ser o ponto de partida para conversarmos sobre tudo o que tem no meio ambiente”, explica Harumi. Para ela, as crianças têm menos preconceito do que os adultos e chegam com menos “nojo”.

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A ideia, ela conta, é desmistificar o mundo dos insetos e fazer com que os visitantes saiam de lá conscientes da importância deles para um ambiente equilibrado e mais atentos aos que os cercam. Podem até ir embora com o mesmo medo de barata, mas pelo menos aprenderão o que fazer para fugir dela em vez de correr atrás dela para matá-la.

Uma observação de Harumi, de que as crianças chegam hoje com muito mais informações e mais sensíveis à questão ambiental, é compartilhada por Mayara Nascimento Ferreira, subgerente do Aquário de São Paulo. Desenhos como O Show da Luna e filmes, entre os quais Vida de Inseto, Formiguinhaz, Bee Movie, Procurando Nemo, Dori e Moana têm sua parcela nisso. No caso do Aquário, essas produções são até evocadas pelos educadores ambientais.

Fundo do mar

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Localizado no Ipiranga (R. Huet Bacelar, 407; diariamente, das 9h às 17h), o Aquário é um passeio mais caro – o ingresso custa R$ 100 (adulto) e R$ 80 (2 a 12 anos) e o estacionamento é R$ 40. E, embora o objetivo seja a educação ambiental, há lojinhas de souvenirs por todo o caminho incentivando o consumo.

No Ipiranga, Aquário de São Paulo apresenta os mistérios do fundo do mar Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mas as crianças saem encantadas com o mundo submarino – e com animais de outros cantos, como o canguru, o coala, os lêmures, o urso polar. São, ao todo, 400 espécies e 3 mil indivíduos – entre os quais sete tipos de tubarão, o ‘Nemo’ e a ‘Dory’. E os quatro axolotes, aquele animal mexicano popular entre os fãs de Minecraft.

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Segundo Mayara, cada faixa etária tem um interesse e guardará uma lição e uma memória afetiva da visita. Mas para que essa curiosidade continue, ela diz, é preciso que os pais prestem atenção no que está chamando a atenção dos filhos e embarquem junto na exploração. “A criança gosta de dinossauro? Então vá na exposição do Ibirapuera”, sugere.

Dinossauro

A maior novidade para crianças em São Paulo é a exposição científica Dinossauros Patagotitan – O Maior do Mundo que mostra, no Pavilhão das Culturas Brasileira, no Parque do Ibirapuera, uma réplica de 40 metros de comprimento e oito de altura de um esqueleto dessa espécie encontrada na Argentina, além de outras réplicas e fósseis originais. Os ingressos custam a partir de R$ 40 e a mostra fica em cartaz até 4 de dezembro.

A exposição Patagotian pode ser visitada até 4 de dezembro, no Ibirapuera Foto: Taba Benedicto/Estadão

Tem outro lugar em São Paulo, para visitar e voltar sempre que a criança pedir, gratuito, discreto no bairro do Ipiranga e muito interessante para crianças de todas as idades: o Museu de Zoologia da USP (Rua Nazaré, 481; 4ª a domingo, das 10h às 16h30; necessário comprovante de vacina contra a covid-19).

O mascote, ali, conta Maria Isabel Landim, responsável pela Divisão de Difusão Cultural, é um exemplar de titanossauro, descrito pela equipe do laboratório de paleontologia do museu a partir do crânio mais completo descoberto de um titanossauro sul-americano. Na exposição, vemos então uma réplica completa de como seria seu esqueleto.

O Museu de Zoologia da USP fica no Ipiranga  Foto: Nanda Ferreira

“Em nossas atividades para o público, exploramos o significado da descoberta, como são feitas as reconstituições dos animais extintos a partir de suas partes descobertas e os desafios da pesquisa em paleontologia”, explica a pesquisadora. Com uma história iniciada nos anos 1890, o museu abriga uma das maiores coleções da nossa fauna, e os mamíferos taxidermizados, junto com as demais réplicas de dinossauros, fazem sucesso entre as crianças.

Em 2019, o museu recebeu 100 mil visitantes – e já está quase batendo esse número. Com a reabertura do Museu do Ipiranga, logo atrás, a expectativa é que o local seja descoberto por um novo público.

“Os museus ocupam um lugar cada vez mais importante como meios de comunicação. Eles acionam nossos diversos sentidos durante a visita o que contribui para a formação de memórias de longa duração”, explica Maria Isabel. “Promovemos encontro entre pessoas reais, em condições muito especiais onde os objetos, em sua realidade material, são apresentados para fazer pensar sobre os grandes temas atuais como o valor e a preservação da biodiversidade”, completa. Para esses tempos conectados, os museus, ela finaliza, “são fundamentais para nos resgatar do mundo virtual e da solidão que ele promove”.

Universo

Quem cresceu em São Paulo dos anos 1960 para cá certamente visitou o Planetário, no Ibirapuera (sessões de 6ª. a domingo, com valores diversos dependendo da programação; visita escolar durante a semana).

No Ibirapuera, o início de uma consciência planetária Foto: Werther Santana/Estadão

Hoje, porém, explica o diretor João Fonseca, a proposta não é mais ensinar – é sensibilizar os visitantes. É fazer com que ao olhar para aquele imenso céu estrelado projetado a pessoa entenda que é uma parte daquele universo e que precisa cuidar da sua casa. “Essa consciência de um cidadão planetário começa nos primeiros anos com esses primeiros contatos sensíveis com a ciência”, diz.

Crianças, museus, parques e mundo interior

As crianças se deixam ser capturadas em seu interesse por espaços e objetos que remetem ao mundo emocional delas. Os animais e a natureza podem representar inconscientemente afetos muito primitivos, nosso ‘lado animal’, nossas vivências mais antigas de nossos instintos e impulsos ainda não suficientemente controlados e simbolizados”, diz o psicólogo e psicanalista Rodrigo Manoel Giovanetti.

Ele explica ainda, citando Freud, que do ponto de vista psicológico, lugares culturais de lazer, divertimento e conhecimento do mundo são importantes, pois facilitam a expressão de ideias e afetos do nosso mundo psíquico de modo prazeroso e com controle. “São espaços transicionais em que podemos expressar amplamente nossos medos, preocupações, felicidade e desejos de forma lúdica, estruturada e contida por meio de objetos culturais, bem como reconhecer a realidade onde vivemos.”

Para Daniel Becker, a natureza é o melhor lugar de descoberta para as crianças  Foto: Paulo Libert/Estadão

“Crianças pequenas são verdadeiros cientistas em busca de respostas”, diz o pediatra Daniel Becker. Para ele, conhecer a cultura humana, a ciência e a história é fundamental e fascinante, mas isso “são fatos dados para a criança”. A natureza, ele diz, tem algo a mais do que isso. “Ela é um festival infinito de fenômenos, um museu gigante interativo e de descobertas incríveis. Elas ficam tão encantadas que começam a construir uma reverência com aquilo. Por isso ela é o ambiente mais lindo para você começar a despertar o interesse delas. É só olhar para uma criança solta num parque naturalizado ou numa pracinha e ver como ela é absolutamente esfomeada de exploração.”

A notícia boa é que não precisamos escolher um ou outro e a união dos dois – o brincar livre na natureza e os museus ligados à natureza – pode ajudar a entreter e estimular crianças curiosas.

A criança mal aprende a falar e já se arrisca nos complicados nomes das espécies de dinossauros: tricerátops, braquiossauro, velociraptor, pterodáctilo. Tem um meme que volta e meia circula na internet que mostra um gráfico comparando o nível de conhecimento de um paleontólogo com o de uma criança de quatro anos, e com o da mãe dessa criança. Quem já passou por essa fase entende bem.

Depois tem a fase do fundo do mar, dos insetos, dos planetas, e por aí vai. Em entrevista recente ao Estadão, o historiador israelense Yuval Noah Harari comentou que as crianças são naturalmente curiosas e que o problema é que, com o passar do tempo, elas deixam de fazer as perguntas essenciais. E, como são elas que poderão salvar a humanidade, é preciso incentivar essa curiosidade.

Planetário é um passeio obrigatório desde o final dos anos 1950 Foto: Werther Santana

Pensando nisso, buscamos museus e lugares em São Paulo que dialogam com esses interesses comuns às crianças: os mistérios entre o céu e a terra – e das profundezas do oceano. Alguns deles têm cara de passeio de escola – e até são durante a semana. Mas o interessante é que as crianças pedem para voltar nos finais de semana para levar a família.

Mundo dos insetos

É o caso do Planeta Inseto, no Instituto Biológico, na Vila Mariana (Av. Dr. Dante Pazzanese, 64; 3.ª a domingo, das 9h às 16h). A curadora Harumi Hojo conta que é comum ver crianças por lá no sábado e domingo, guiando os pais.

Acessível, com entrada gratuita, estacionamento e de fácil acesso, ele viu seu número de visitantes aumentar consideravelmente após uma reforma na pandemia. Em 2011, o ano da inauguração, ele recebeu 23 mil pessoas. O recorde de visitação – 33 mil pessoas em 2019 – já foi igualado em apenas cinco meses neste ano – entre a reabertura, em abril, e o fim de setembro.

São sete salas, onde é possível ver a produção do fio da seda pelas lagartas, conhecer o funcionamento de um formigueiro, aprender sobre as abelhas, ver besouros, borboletas, bicho-pau e até acompanhar uma corrida de baratas – com torcida e tudo.

Planeta Inseto, no Instituto Biológico, tem entrada gratuita Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O universo dos insetos é muito rico e pode ser o ponto de partida para conversarmos sobre tudo o que tem no meio ambiente”, explica Harumi. Para ela, as crianças têm menos preconceito do que os adultos e chegam com menos “nojo”.

A ideia, ela conta, é desmistificar o mundo dos insetos e fazer com que os visitantes saiam de lá conscientes da importância deles para um ambiente equilibrado e mais atentos aos que os cercam. Podem até ir embora com o mesmo medo de barata, mas pelo menos aprenderão o que fazer para fugir dela em vez de correr atrás dela para matá-la.

Uma observação de Harumi, de que as crianças chegam hoje com muito mais informações e mais sensíveis à questão ambiental, é compartilhada por Mayara Nascimento Ferreira, subgerente do Aquário de São Paulo. Desenhos como O Show da Luna e filmes, entre os quais Vida de Inseto, Formiguinhaz, Bee Movie, Procurando Nemo, Dori e Moana têm sua parcela nisso. No caso do Aquário, essas produções são até evocadas pelos educadores ambientais.

Fundo do mar

Localizado no Ipiranga (R. Huet Bacelar, 407; diariamente, das 9h às 17h), o Aquário é um passeio mais caro – o ingresso custa R$ 100 (adulto) e R$ 80 (2 a 12 anos) e o estacionamento é R$ 40. E, embora o objetivo seja a educação ambiental, há lojinhas de souvenirs por todo o caminho incentivando o consumo.

No Ipiranga, Aquário de São Paulo apresenta os mistérios do fundo do mar Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mas as crianças saem encantadas com o mundo submarino – e com animais de outros cantos, como o canguru, o coala, os lêmures, o urso polar. São, ao todo, 400 espécies e 3 mil indivíduos – entre os quais sete tipos de tubarão, o ‘Nemo’ e a ‘Dory’. E os quatro axolotes, aquele animal mexicano popular entre os fãs de Minecraft.

Segundo Mayara, cada faixa etária tem um interesse e guardará uma lição e uma memória afetiva da visita. Mas para que essa curiosidade continue, ela diz, é preciso que os pais prestem atenção no que está chamando a atenção dos filhos e embarquem junto na exploração. “A criança gosta de dinossauro? Então vá na exposição do Ibirapuera”, sugere.

Dinossauro

A maior novidade para crianças em São Paulo é a exposição científica Dinossauros Patagotitan – O Maior do Mundo que mostra, no Pavilhão das Culturas Brasileira, no Parque do Ibirapuera, uma réplica de 40 metros de comprimento e oito de altura de um esqueleto dessa espécie encontrada na Argentina, além de outras réplicas e fósseis originais. Os ingressos custam a partir de R$ 40 e a mostra fica em cartaz até 4 de dezembro.

A exposição Patagotian pode ser visitada até 4 de dezembro, no Ibirapuera Foto: Taba Benedicto/Estadão

Tem outro lugar em São Paulo, para visitar e voltar sempre que a criança pedir, gratuito, discreto no bairro do Ipiranga e muito interessante para crianças de todas as idades: o Museu de Zoologia da USP (Rua Nazaré, 481; 4ª a domingo, das 10h às 16h30; necessário comprovante de vacina contra a covid-19).

O mascote, ali, conta Maria Isabel Landim, responsável pela Divisão de Difusão Cultural, é um exemplar de titanossauro, descrito pela equipe do laboratório de paleontologia do museu a partir do crânio mais completo descoberto de um titanossauro sul-americano. Na exposição, vemos então uma réplica completa de como seria seu esqueleto.

O Museu de Zoologia da USP fica no Ipiranga  Foto: Nanda Ferreira

“Em nossas atividades para o público, exploramos o significado da descoberta, como são feitas as reconstituições dos animais extintos a partir de suas partes descobertas e os desafios da pesquisa em paleontologia”, explica a pesquisadora. Com uma história iniciada nos anos 1890, o museu abriga uma das maiores coleções da nossa fauna, e os mamíferos taxidermizados, junto com as demais réplicas de dinossauros, fazem sucesso entre as crianças.

Em 2019, o museu recebeu 100 mil visitantes – e já está quase batendo esse número. Com a reabertura do Museu do Ipiranga, logo atrás, a expectativa é que o local seja descoberto por um novo público.

“Os museus ocupam um lugar cada vez mais importante como meios de comunicação. Eles acionam nossos diversos sentidos durante a visita o que contribui para a formação de memórias de longa duração”, explica Maria Isabel. “Promovemos encontro entre pessoas reais, em condições muito especiais onde os objetos, em sua realidade material, são apresentados para fazer pensar sobre os grandes temas atuais como o valor e a preservação da biodiversidade”, completa. Para esses tempos conectados, os museus, ela finaliza, “são fundamentais para nos resgatar do mundo virtual e da solidão que ele promove”.

Universo

Quem cresceu em São Paulo dos anos 1960 para cá certamente visitou o Planetário, no Ibirapuera (sessões de 6ª. a domingo, com valores diversos dependendo da programação; visita escolar durante a semana).

No Ibirapuera, o início de uma consciência planetária Foto: Werther Santana/Estadão

Hoje, porém, explica o diretor João Fonseca, a proposta não é mais ensinar – é sensibilizar os visitantes. É fazer com que ao olhar para aquele imenso céu estrelado projetado a pessoa entenda que é uma parte daquele universo e que precisa cuidar da sua casa. “Essa consciência de um cidadão planetário começa nos primeiros anos com esses primeiros contatos sensíveis com a ciência”, diz.

Crianças, museus, parques e mundo interior

As crianças se deixam ser capturadas em seu interesse por espaços e objetos que remetem ao mundo emocional delas. Os animais e a natureza podem representar inconscientemente afetos muito primitivos, nosso ‘lado animal’, nossas vivências mais antigas de nossos instintos e impulsos ainda não suficientemente controlados e simbolizados”, diz o psicólogo e psicanalista Rodrigo Manoel Giovanetti.

Ele explica ainda, citando Freud, que do ponto de vista psicológico, lugares culturais de lazer, divertimento e conhecimento do mundo são importantes, pois facilitam a expressão de ideias e afetos do nosso mundo psíquico de modo prazeroso e com controle. “São espaços transicionais em que podemos expressar amplamente nossos medos, preocupações, felicidade e desejos de forma lúdica, estruturada e contida por meio de objetos culturais, bem como reconhecer a realidade onde vivemos.”

Para Daniel Becker, a natureza é o melhor lugar de descoberta para as crianças  Foto: Paulo Libert/Estadão

“Crianças pequenas são verdadeiros cientistas em busca de respostas”, diz o pediatra Daniel Becker. Para ele, conhecer a cultura humana, a ciência e a história é fundamental e fascinante, mas isso “são fatos dados para a criança”. A natureza, ele diz, tem algo a mais do que isso. “Ela é um festival infinito de fenômenos, um museu gigante interativo e de descobertas incríveis. Elas ficam tão encantadas que começam a construir uma reverência com aquilo. Por isso ela é o ambiente mais lindo para você começar a despertar o interesse delas. É só olhar para uma criança solta num parque naturalizado ou numa pracinha e ver como ela é absolutamente esfomeada de exploração.”

A notícia boa é que não precisamos escolher um ou outro e a união dos dois – o brincar livre na natureza e os museus ligados à natureza – pode ajudar a entreter e estimular crianças curiosas.

A criança mal aprende a falar e já se arrisca nos complicados nomes das espécies de dinossauros: tricerátops, braquiossauro, velociraptor, pterodáctilo. Tem um meme que volta e meia circula na internet que mostra um gráfico comparando o nível de conhecimento de um paleontólogo com o de uma criança de quatro anos, e com o da mãe dessa criança. Quem já passou por essa fase entende bem.

Depois tem a fase do fundo do mar, dos insetos, dos planetas, e por aí vai. Em entrevista recente ao Estadão, o historiador israelense Yuval Noah Harari comentou que as crianças são naturalmente curiosas e que o problema é que, com o passar do tempo, elas deixam de fazer as perguntas essenciais. E, como são elas que poderão salvar a humanidade, é preciso incentivar essa curiosidade.

Planetário é um passeio obrigatório desde o final dos anos 1950 Foto: Werther Santana

Pensando nisso, buscamos museus e lugares em São Paulo que dialogam com esses interesses comuns às crianças: os mistérios entre o céu e a terra – e das profundezas do oceano. Alguns deles têm cara de passeio de escola – e até são durante a semana. Mas o interessante é que as crianças pedem para voltar nos finais de semana para levar a família.

Mundo dos insetos

É o caso do Planeta Inseto, no Instituto Biológico, na Vila Mariana (Av. Dr. Dante Pazzanese, 64; 3.ª a domingo, das 9h às 16h). A curadora Harumi Hojo conta que é comum ver crianças por lá no sábado e domingo, guiando os pais.

Acessível, com entrada gratuita, estacionamento e de fácil acesso, ele viu seu número de visitantes aumentar consideravelmente após uma reforma na pandemia. Em 2011, o ano da inauguração, ele recebeu 23 mil pessoas. O recorde de visitação – 33 mil pessoas em 2019 – já foi igualado em apenas cinco meses neste ano – entre a reabertura, em abril, e o fim de setembro.

São sete salas, onde é possível ver a produção do fio da seda pelas lagartas, conhecer o funcionamento de um formigueiro, aprender sobre as abelhas, ver besouros, borboletas, bicho-pau e até acompanhar uma corrida de baratas – com torcida e tudo.

Planeta Inseto, no Instituto Biológico, tem entrada gratuita Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O universo dos insetos é muito rico e pode ser o ponto de partida para conversarmos sobre tudo o que tem no meio ambiente”, explica Harumi. Para ela, as crianças têm menos preconceito do que os adultos e chegam com menos “nojo”.

A ideia, ela conta, é desmistificar o mundo dos insetos e fazer com que os visitantes saiam de lá conscientes da importância deles para um ambiente equilibrado e mais atentos aos que os cercam. Podem até ir embora com o mesmo medo de barata, mas pelo menos aprenderão o que fazer para fugir dela em vez de correr atrás dela para matá-la.

Uma observação de Harumi, de que as crianças chegam hoje com muito mais informações e mais sensíveis à questão ambiental, é compartilhada por Mayara Nascimento Ferreira, subgerente do Aquário de São Paulo. Desenhos como O Show da Luna e filmes, entre os quais Vida de Inseto, Formiguinhaz, Bee Movie, Procurando Nemo, Dori e Moana têm sua parcela nisso. No caso do Aquário, essas produções são até evocadas pelos educadores ambientais.

Fundo do mar

Localizado no Ipiranga (R. Huet Bacelar, 407; diariamente, das 9h às 17h), o Aquário é um passeio mais caro – o ingresso custa R$ 100 (adulto) e R$ 80 (2 a 12 anos) e o estacionamento é R$ 40. E, embora o objetivo seja a educação ambiental, há lojinhas de souvenirs por todo o caminho incentivando o consumo.

No Ipiranga, Aquário de São Paulo apresenta os mistérios do fundo do mar Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mas as crianças saem encantadas com o mundo submarino – e com animais de outros cantos, como o canguru, o coala, os lêmures, o urso polar. São, ao todo, 400 espécies e 3 mil indivíduos – entre os quais sete tipos de tubarão, o ‘Nemo’ e a ‘Dory’. E os quatro axolotes, aquele animal mexicano popular entre os fãs de Minecraft.

Segundo Mayara, cada faixa etária tem um interesse e guardará uma lição e uma memória afetiva da visita. Mas para que essa curiosidade continue, ela diz, é preciso que os pais prestem atenção no que está chamando a atenção dos filhos e embarquem junto na exploração. “A criança gosta de dinossauro? Então vá na exposição do Ibirapuera”, sugere.

Dinossauro

A maior novidade para crianças em São Paulo é a exposição científica Dinossauros Patagotitan – O Maior do Mundo que mostra, no Pavilhão das Culturas Brasileira, no Parque do Ibirapuera, uma réplica de 40 metros de comprimento e oito de altura de um esqueleto dessa espécie encontrada na Argentina, além de outras réplicas e fósseis originais. Os ingressos custam a partir de R$ 40 e a mostra fica em cartaz até 4 de dezembro.

A exposição Patagotian pode ser visitada até 4 de dezembro, no Ibirapuera Foto: Taba Benedicto/Estadão

Tem outro lugar em São Paulo, para visitar e voltar sempre que a criança pedir, gratuito, discreto no bairro do Ipiranga e muito interessante para crianças de todas as idades: o Museu de Zoologia da USP (Rua Nazaré, 481; 4ª a domingo, das 10h às 16h30; necessário comprovante de vacina contra a covid-19).

O mascote, ali, conta Maria Isabel Landim, responsável pela Divisão de Difusão Cultural, é um exemplar de titanossauro, descrito pela equipe do laboratório de paleontologia do museu a partir do crânio mais completo descoberto de um titanossauro sul-americano. Na exposição, vemos então uma réplica completa de como seria seu esqueleto.

O Museu de Zoologia da USP fica no Ipiranga  Foto: Nanda Ferreira

“Em nossas atividades para o público, exploramos o significado da descoberta, como são feitas as reconstituições dos animais extintos a partir de suas partes descobertas e os desafios da pesquisa em paleontologia”, explica a pesquisadora. Com uma história iniciada nos anos 1890, o museu abriga uma das maiores coleções da nossa fauna, e os mamíferos taxidermizados, junto com as demais réplicas de dinossauros, fazem sucesso entre as crianças.

Em 2019, o museu recebeu 100 mil visitantes – e já está quase batendo esse número. Com a reabertura do Museu do Ipiranga, logo atrás, a expectativa é que o local seja descoberto por um novo público.

“Os museus ocupam um lugar cada vez mais importante como meios de comunicação. Eles acionam nossos diversos sentidos durante a visita o que contribui para a formação de memórias de longa duração”, explica Maria Isabel. “Promovemos encontro entre pessoas reais, em condições muito especiais onde os objetos, em sua realidade material, são apresentados para fazer pensar sobre os grandes temas atuais como o valor e a preservação da biodiversidade”, completa. Para esses tempos conectados, os museus, ela finaliza, “são fundamentais para nos resgatar do mundo virtual e da solidão que ele promove”.

Universo

Quem cresceu em São Paulo dos anos 1960 para cá certamente visitou o Planetário, no Ibirapuera (sessões de 6ª. a domingo, com valores diversos dependendo da programação; visita escolar durante a semana).

No Ibirapuera, o início de uma consciência planetária Foto: Werther Santana/Estadão

Hoje, porém, explica o diretor João Fonseca, a proposta não é mais ensinar – é sensibilizar os visitantes. É fazer com que ao olhar para aquele imenso céu estrelado projetado a pessoa entenda que é uma parte daquele universo e que precisa cuidar da sua casa. “Essa consciência de um cidadão planetário começa nos primeiros anos com esses primeiros contatos sensíveis com a ciência”, diz.

Crianças, museus, parques e mundo interior

As crianças se deixam ser capturadas em seu interesse por espaços e objetos que remetem ao mundo emocional delas. Os animais e a natureza podem representar inconscientemente afetos muito primitivos, nosso ‘lado animal’, nossas vivências mais antigas de nossos instintos e impulsos ainda não suficientemente controlados e simbolizados”, diz o psicólogo e psicanalista Rodrigo Manoel Giovanetti.

Ele explica ainda, citando Freud, que do ponto de vista psicológico, lugares culturais de lazer, divertimento e conhecimento do mundo são importantes, pois facilitam a expressão de ideias e afetos do nosso mundo psíquico de modo prazeroso e com controle. “São espaços transicionais em que podemos expressar amplamente nossos medos, preocupações, felicidade e desejos de forma lúdica, estruturada e contida por meio de objetos culturais, bem como reconhecer a realidade onde vivemos.”

Para Daniel Becker, a natureza é o melhor lugar de descoberta para as crianças  Foto: Paulo Libert/Estadão

“Crianças pequenas são verdadeiros cientistas em busca de respostas”, diz o pediatra Daniel Becker. Para ele, conhecer a cultura humana, a ciência e a história é fundamental e fascinante, mas isso “são fatos dados para a criança”. A natureza, ele diz, tem algo a mais do que isso. “Ela é um festival infinito de fenômenos, um museu gigante interativo e de descobertas incríveis. Elas ficam tão encantadas que começam a construir uma reverência com aquilo. Por isso ela é o ambiente mais lindo para você começar a despertar o interesse delas. É só olhar para uma criança solta num parque naturalizado ou numa pracinha e ver como ela é absolutamente esfomeada de exploração.”

A notícia boa é que não precisamos escolher um ou outro e a união dos dois – o brincar livre na natureza e os museus ligados à natureza – pode ajudar a entreter e estimular crianças curiosas.

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