Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|A raiz de todos os males


Sobre o livro ‘Ignorância: Uma História Global’, do professor de Cambridge Peter Burke

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Um livro sobre a ignorância com todas as páginas em branco é apenas uma piada, quase tão velha quanto a do quadro todo pintado de branco, intitulado Ausência. Para produzir Ignorância: Uma História Global, o professor de Cambridge Peter Burke, prolífico e renomado historiador social das ideias assiduamente traduzido no Brasil, encheu de palavras todas as 368 páginas de seu novo livro.

Capa do livro 'Ignorância: Uma História Global', de Peter Burke Foto: Editora Vestígio

Exibindo na capa um simbólico avestruz com a cabeça enfiada na areia, seu inventário do desconhecimento e da desinformação chega às livrarias no próximo fim de semana, com o selo da Vestígio e fartos ensinamentos agnotológicos. (Aos ignorantes que me distinguem com sua sede de saber informo que agnotologia é o estudo das políticas de produção da ignorância, uma das mais prósperas indústrias em atividade mundo afora.)

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Dividido em duas partes e 15 capítulos, é um contraponto perfeito ao ensaio anterior de Burke, O Polímata: Uma História Cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, aqui traduzido há pouco mais de dois anos.

O projeto de historiar os infortúnios que a incultura e o obscurantismo nos causaram desde a Antiguidade – desde quando, enfim, Sócrates admitiu, modestamente, saber que nada sabia – surgiu após Burke ler um manual de estudos sobre a ignorância publicado há quase uma década pela editora Routledge.

Como não havia historiadores entre os 51 colaboradores do manual, Burke resolveu preencher a lacuna deixada com um ensaio deliciosamente sábio sobre (e contra) o que Platão qualificou de raiz e tronco de todos os males, ou seja, “a ausência de conhecimento” e suas múltiplas perversões, como as superstições de cunho religioso, o negacionismo científico e outras insanidades hoje realimentadas exponencialmente pelas bolhas digitais. Uma fake news pode não ser fruto da ignorância, mas sua aceitação passiva certamente é.

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Burke dedica seu inventário aos professores do mundo inteiro, “heróis e heroínas dos esforços diários de remediar a ignorância”, e dá especial atenção ao Brasil, ao colocar ao lado de Petrarca, na epígrafe, ninguém menos que Leonel Brizola e sua tese de que “a Educação não é onerosa; onerosa é a ignorância”, e ao juntar, já na segunda frase do livro, os dois mais execrados paradigmas da estupidez arrogante deste século – sim, a dupla Bolsonaro-Trump.

O papel fundamental da ignorância na guerra, na política, nos negócios, na governança, na filosofia, no trato com a natureza, a saúde, o passado, as catástrofes – em todas as esferas e épocas, Burke catou exemplos que, por vezes, de tão bisonhos, podem soar engraçados, mas na verdade são tristes testemunhos de um processo de involução, sobretudo espiritual, cada vez mais prevalente no mundo. Como explicaríamos a um E.T. a existência, entre nós, de terraplanistas em pleno século 21?

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Um livro sobre a ignorância com todas as páginas em branco é apenas uma piada, quase tão velha quanto a do quadro todo pintado de branco, intitulado Ausência. Para produzir Ignorância: Uma História Global, o professor de Cambridge Peter Burke, prolífico e renomado historiador social das ideias assiduamente traduzido no Brasil, encheu de palavras todas as 368 páginas de seu novo livro.

Capa do livro 'Ignorância: Uma História Global', de Peter Burke Foto: Editora Vestígio

Exibindo na capa um simbólico avestruz com a cabeça enfiada na areia, seu inventário do desconhecimento e da desinformação chega às livrarias no próximo fim de semana, com o selo da Vestígio e fartos ensinamentos agnotológicos. (Aos ignorantes que me distinguem com sua sede de saber informo que agnotologia é o estudo das políticas de produção da ignorância, uma das mais prósperas indústrias em atividade mundo afora.)

Dividido em duas partes e 15 capítulos, é um contraponto perfeito ao ensaio anterior de Burke, O Polímata: Uma História Cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, aqui traduzido há pouco mais de dois anos.

O projeto de historiar os infortúnios que a incultura e o obscurantismo nos causaram desde a Antiguidade – desde quando, enfim, Sócrates admitiu, modestamente, saber que nada sabia – surgiu após Burke ler um manual de estudos sobre a ignorância publicado há quase uma década pela editora Routledge.

Como não havia historiadores entre os 51 colaboradores do manual, Burke resolveu preencher a lacuna deixada com um ensaio deliciosamente sábio sobre (e contra) o que Platão qualificou de raiz e tronco de todos os males, ou seja, “a ausência de conhecimento” e suas múltiplas perversões, como as superstições de cunho religioso, o negacionismo científico e outras insanidades hoje realimentadas exponencialmente pelas bolhas digitais. Uma fake news pode não ser fruto da ignorância, mas sua aceitação passiva certamente é.

Burke dedica seu inventário aos professores do mundo inteiro, “heróis e heroínas dos esforços diários de remediar a ignorância”, e dá especial atenção ao Brasil, ao colocar ao lado de Petrarca, na epígrafe, ninguém menos que Leonel Brizola e sua tese de que “a Educação não é onerosa; onerosa é a ignorância”, e ao juntar, já na segunda frase do livro, os dois mais execrados paradigmas da estupidez arrogante deste século – sim, a dupla Bolsonaro-Trump.

O papel fundamental da ignorância na guerra, na política, nos negócios, na governança, na filosofia, no trato com a natureza, a saúde, o passado, as catástrofes – em todas as esferas e épocas, Burke catou exemplos que, por vezes, de tão bisonhos, podem soar engraçados, mas na verdade são tristes testemunhos de um processo de involução, sobretudo espiritual, cada vez mais prevalente no mundo. Como explicaríamos a um E.T. a existência, entre nós, de terraplanistas em pleno século 21?

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Um livro sobre a ignorância com todas as páginas em branco é apenas uma piada, quase tão velha quanto a do quadro todo pintado de branco, intitulado Ausência. Para produzir Ignorância: Uma História Global, o professor de Cambridge Peter Burke, prolífico e renomado historiador social das ideias assiduamente traduzido no Brasil, encheu de palavras todas as 368 páginas de seu novo livro.

Capa do livro 'Ignorância: Uma História Global', de Peter Burke Foto: Editora Vestígio

Exibindo na capa um simbólico avestruz com a cabeça enfiada na areia, seu inventário do desconhecimento e da desinformação chega às livrarias no próximo fim de semana, com o selo da Vestígio e fartos ensinamentos agnotológicos. (Aos ignorantes que me distinguem com sua sede de saber informo que agnotologia é o estudo das políticas de produção da ignorância, uma das mais prósperas indústrias em atividade mundo afora.)

Dividido em duas partes e 15 capítulos, é um contraponto perfeito ao ensaio anterior de Burke, O Polímata: Uma História Cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, aqui traduzido há pouco mais de dois anos.

O projeto de historiar os infortúnios que a incultura e o obscurantismo nos causaram desde a Antiguidade – desde quando, enfim, Sócrates admitiu, modestamente, saber que nada sabia – surgiu após Burke ler um manual de estudos sobre a ignorância publicado há quase uma década pela editora Routledge.

Como não havia historiadores entre os 51 colaboradores do manual, Burke resolveu preencher a lacuna deixada com um ensaio deliciosamente sábio sobre (e contra) o que Platão qualificou de raiz e tronco de todos os males, ou seja, “a ausência de conhecimento” e suas múltiplas perversões, como as superstições de cunho religioso, o negacionismo científico e outras insanidades hoje realimentadas exponencialmente pelas bolhas digitais. Uma fake news pode não ser fruto da ignorância, mas sua aceitação passiva certamente é.

Burke dedica seu inventário aos professores do mundo inteiro, “heróis e heroínas dos esforços diários de remediar a ignorância”, e dá especial atenção ao Brasil, ao colocar ao lado de Petrarca, na epígrafe, ninguém menos que Leonel Brizola e sua tese de que “a Educação não é onerosa; onerosa é a ignorância”, e ao juntar, já na segunda frase do livro, os dois mais execrados paradigmas da estupidez arrogante deste século – sim, a dupla Bolsonaro-Trump.

O papel fundamental da ignorância na guerra, na política, nos negócios, na governança, na filosofia, no trato com a natureza, a saúde, o passado, as catástrofes – em todas as esferas e épocas, Burke catou exemplos que, por vezes, de tão bisonhos, podem soar engraçados, mas na verdade são tristes testemunhos de um processo de involução, sobretudo espiritual, cada vez mais prevalente no mundo. Como explicaríamos a um E.T. a existência, entre nós, de terraplanistas em pleno século 21?

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Um livro sobre a ignorância com todas as páginas em branco é apenas uma piada, quase tão velha quanto a do quadro todo pintado de branco, intitulado Ausência. Para produzir Ignorância: Uma História Global, o professor de Cambridge Peter Burke, prolífico e renomado historiador social das ideias assiduamente traduzido no Brasil, encheu de palavras todas as 368 páginas de seu novo livro.

Capa do livro 'Ignorância: Uma História Global', de Peter Burke Foto: Editora Vestígio

Exibindo na capa um simbólico avestruz com a cabeça enfiada na areia, seu inventário do desconhecimento e da desinformação chega às livrarias no próximo fim de semana, com o selo da Vestígio e fartos ensinamentos agnotológicos. (Aos ignorantes que me distinguem com sua sede de saber informo que agnotologia é o estudo das políticas de produção da ignorância, uma das mais prósperas indústrias em atividade mundo afora.)

Dividido em duas partes e 15 capítulos, é um contraponto perfeito ao ensaio anterior de Burke, O Polímata: Uma História Cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, aqui traduzido há pouco mais de dois anos.

O projeto de historiar os infortúnios que a incultura e o obscurantismo nos causaram desde a Antiguidade – desde quando, enfim, Sócrates admitiu, modestamente, saber que nada sabia – surgiu após Burke ler um manual de estudos sobre a ignorância publicado há quase uma década pela editora Routledge.

Como não havia historiadores entre os 51 colaboradores do manual, Burke resolveu preencher a lacuna deixada com um ensaio deliciosamente sábio sobre (e contra) o que Platão qualificou de raiz e tronco de todos os males, ou seja, “a ausência de conhecimento” e suas múltiplas perversões, como as superstições de cunho religioso, o negacionismo científico e outras insanidades hoje realimentadas exponencialmente pelas bolhas digitais. Uma fake news pode não ser fruto da ignorância, mas sua aceitação passiva certamente é.

Burke dedica seu inventário aos professores do mundo inteiro, “heróis e heroínas dos esforços diários de remediar a ignorância”, e dá especial atenção ao Brasil, ao colocar ao lado de Petrarca, na epígrafe, ninguém menos que Leonel Brizola e sua tese de que “a Educação não é onerosa; onerosa é a ignorância”, e ao juntar, já na segunda frase do livro, os dois mais execrados paradigmas da estupidez arrogante deste século – sim, a dupla Bolsonaro-Trump.

O papel fundamental da ignorância na guerra, na política, nos negócios, na governança, na filosofia, no trato com a natureza, a saúde, o passado, as catástrofes – em todas as esferas e épocas, Burke catou exemplos que, por vezes, de tão bisonhos, podem soar engraçados, mas na verdade são tristes testemunhos de um processo de involução, sobretudo espiritual, cada vez mais prevalente no mundo. Como explicaríamos a um E.T. a existência, entre nós, de terraplanistas em pleno século 21?

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Um livro sobre a ignorância com todas as páginas em branco é apenas uma piada, quase tão velha quanto a do quadro todo pintado de branco, intitulado Ausência. Para produzir Ignorância: Uma História Global, o professor de Cambridge Peter Burke, prolífico e renomado historiador social das ideias assiduamente traduzido no Brasil, encheu de palavras todas as 368 páginas de seu novo livro.

Capa do livro 'Ignorância: Uma História Global', de Peter Burke Foto: Editora Vestígio

Exibindo na capa um simbólico avestruz com a cabeça enfiada na areia, seu inventário do desconhecimento e da desinformação chega às livrarias no próximo fim de semana, com o selo da Vestígio e fartos ensinamentos agnotológicos. (Aos ignorantes que me distinguem com sua sede de saber informo que agnotologia é o estudo das políticas de produção da ignorância, uma das mais prósperas indústrias em atividade mundo afora.)

Dividido em duas partes e 15 capítulos, é um contraponto perfeito ao ensaio anterior de Burke, O Polímata: Uma História Cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, aqui traduzido há pouco mais de dois anos.

O projeto de historiar os infortúnios que a incultura e o obscurantismo nos causaram desde a Antiguidade – desde quando, enfim, Sócrates admitiu, modestamente, saber que nada sabia – surgiu após Burke ler um manual de estudos sobre a ignorância publicado há quase uma década pela editora Routledge.

Como não havia historiadores entre os 51 colaboradores do manual, Burke resolveu preencher a lacuna deixada com um ensaio deliciosamente sábio sobre (e contra) o que Platão qualificou de raiz e tronco de todos os males, ou seja, “a ausência de conhecimento” e suas múltiplas perversões, como as superstições de cunho religioso, o negacionismo científico e outras insanidades hoje realimentadas exponencialmente pelas bolhas digitais. Uma fake news pode não ser fruto da ignorância, mas sua aceitação passiva certamente é.

Burke dedica seu inventário aos professores do mundo inteiro, “heróis e heroínas dos esforços diários de remediar a ignorância”, e dá especial atenção ao Brasil, ao colocar ao lado de Petrarca, na epígrafe, ninguém menos que Leonel Brizola e sua tese de que “a Educação não é onerosa; onerosa é a ignorância”, e ao juntar, já na segunda frase do livro, os dois mais execrados paradigmas da estupidez arrogante deste século – sim, a dupla Bolsonaro-Trump.

O papel fundamental da ignorância na guerra, na política, nos negócios, na governança, na filosofia, no trato com a natureza, a saúde, o passado, as catástrofes – em todas as esferas e épocas, Burke catou exemplos que, por vezes, de tão bisonhos, podem soar engraçados, mas na verdade são tristes testemunhos de um processo de involução, sobretudo espiritual, cada vez mais prevalente no mundo. Como explicaríamos a um E.T. a existência, entre nós, de terraplanistas em pleno século 21?

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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