Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|A vitória indisputável de nossa capacidade de mobilização


Sobre o exercício da pressão e escândalos famosos de vazamentos nos Estados Unidos

Por Sérgio Augusto

Não obstante a chantagem do governo norte-americano, a libertação de Julian Assange foi festejada como uma vitória indisputável de nossa capacidade de mobilização. “Pressure works” (pressionar funciona), exultou o ator e ativista John Cusack. Funcionou mundialmente em favor de Assange e, aqui, contra o PL do Estupro. Que a mobilização progressista não baixe a guarda e consiga também reverter os próximos retrocessos da extrema direita.

Cusack aproveitou seu júbilo para reverenciar Daniel Ellsberg (1931-2013), o paradigmático “whistleblower” (denunciante) dos Documentos do Pentágono, que teria, mesmo, vibrado à beça com a soltura de Assange. Sem o vazamento dos Pentagon Papers, não haveria o filme The Post: A Guerra Secreta, nem a renúncia de Nixon no tempo e do jeito como foi.

E se não fosse outro denunciante, chamado Anthony J. Russo (1936-2008), os vazamentos poderiam não ter chegado à redação do Washington Post e demais gazetas. Foi ele, colega de Ellsberg no think tank da Rand Corporation, quem estimulou e ajudou o agente a copiar todos os documentos secretos, na calada da noite.

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Eclipsado por Ellsberg na denúncia dos Pentagon Papers, Tony Russo ganhou notoriedade ao difundir as torturas sistemáticas aplicadas por operativos da CIA na Guerra do Vietnã, em 1968. Com um jeitão hippie, acreditava que denunciar a hipocrisia de Washington apressaria, como de fato apressou, o fim da guerra, e ressurge agora como um dos protagonistas do recém-publicado livro de memórias de Francine Prose, cujo título, 1974: A Personal History, nos remete a George Orwell.

Pessoas usando máscaras de Julian Assange Foto: Campus Party/Divulgação

Em 1974, Prose, prolífica autora de romances e ensaios, mais conhecida no Brasil pelo guia literário Para Ler Como Um Escritor, encerrou sua vida em comum com Russo e foi viver sem ele os tumultuosos meses que antecederam e procederam a queda do presidente que seu ex-companheiro tanto ajudara a derrubar.

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Pressionado pelo escândalo de Watergate e as denúncias de Russo, Nixon renunciou em 8 de agosto de 1974, no começo do primeiro e único ano sabático que desfrutei na vida, bem-bom que me proporcionou acompanhar e comemorar a derrocada de Tricky Dick em Berkeley, desfilando pela Avenida Shattuck com uma multidão de estudantes, dois ou três deles com uma bandeira do Vietnã do Norte na mão.

Naquela época, Prose, que conheci escrevendo sobre cinema na New York Review of Books, também vivia em São Francisco, um dos motivos do meu interesse em suas memórias, bem mais intensas que as minhas, pois afinal eu vivia, em 1974, num mar de rosas conjugal e distante muitos quilômetros de nossa ditadura militar.

De todo modo, meu maior frisson naquele ano me foi proporcionado por um evento esportivo. Não, não foi o baile que levamos da Holanda na Copa do Mundo, e sim o nocaute que Muhammad Ali aplicou em George Foreman, no oitavo round de uma luta levada para o Zaire pelo ditador Mobutu, a que assisti, excusez du peu, na TV de um restaurante de Siracusa (Sicília), na noite de 30 de outubro.

Não obstante a chantagem do governo norte-americano, a libertação de Julian Assange foi festejada como uma vitória indisputável de nossa capacidade de mobilização. “Pressure works” (pressionar funciona), exultou o ator e ativista John Cusack. Funcionou mundialmente em favor de Assange e, aqui, contra o PL do Estupro. Que a mobilização progressista não baixe a guarda e consiga também reverter os próximos retrocessos da extrema direita.

Cusack aproveitou seu júbilo para reverenciar Daniel Ellsberg (1931-2013), o paradigmático “whistleblower” (denunciante) dos Documentos do Pentágono, que teria, mesmo, vibrado à beça com a soltura de Assange. Sem o vazamento dos Pentagon Papers, não haveria o filme The Post: A Guerra Secreta, nem a renúncia de Nixon no tempo e do jeito como foi.

E se não fosse outro denunciante, chamado Anthony J. Russo (1936-2008), os vazamentos poderiam não ter chegado à redação do Washington Post e demais gazetas. Foi ele, colega de Ellsberg no think tank da Rand Corporation, quem estimulou e ajudou o agente a copiar todos os documentos secretos, na calada da noite.

Eclipsado por Ellsberg na denúncia dos Pentagon Papers, Tony Russo ganhou notoriedade ao difundir as torturas sistemáticas aplicadas por operativos da CIA na Guerra do Vietnã, em 1968. Com um jeitão hippie, acreditava que denunciar a hipocrisia de Washington apressaria, como de fato apressou, o fim da guerra, e ressurge agora como um dos protagonistas do recém-publicado livro de memórias de Francine Prose, cujo título, 1974: A Personal History, nos remete a George Orwell.

Pessoas usando máscaras de Julian Assange Foto: Campus Party/Divulgação

Em 1974, Prose, prolífica autora de romances e ensaios, mais conhecida no Brasil pelo guia literário Para Ler Como Um Escritor, encerrou sua vida em comum com Russo e foi viver sem ele os tumultuosos meses que antecederam e procederam a queda do presidente que seu ex-companheiro tanto ajudara a derrubar.

Pressionado pelo escândalo de Watergate e as denúncias de Russo, Nixon renunciou em 8 de agosto de 1974, no começo do primeiro e único ano sabático que desfrutei na vida, bem-bom que me proporcionou acompanhar e comemorar a derrocada de Tricky Dick em Berkeley, desfilando pela Avenida Shattuck com uma multidão de estudantes, dois ou três deles com uma bandeira do Vietnã do Norte na mão.

Naquela época, Prose, que conheci escrevendo sobre cinema na New York Review of Books, também vivia em São Francisco, um dos motivos do meu interesse em suas memórias, bem mais intensas que as minhas, pois afinal eu vivia, em 1974, num mar de rosas conjugal e distante muitos quilômetros de nossa ditadura militar.

De todo modo, meu maior frisson naquele ano me foi proporcionado por um evento esportivo. Não, não foi o baile que levamos da Holanda na Copa do Mundo, e sim o nocaute que Muhammad Ali aplicou em George Foreman, no oitavo round de uma luta levada para o Zaire pelo ditador Mobutu, a que assisti, excusez du peu, na TV de um restaurante de Siracusa (Sicília), na noite de 30 de outubro.

Não obstante a chantagem do governo norte-americano, a libertação de Julian Assange foi festejada como uma vitória indisputável de nossa capacidade de mobilização. “Pressure works” (pressionar funciona), exultou o ator e ativista John Cusack. Funcionou mundialmente em favor de Assange e, aqui, contra o PL do Estupro. Que a mobilização progressista não baixe a guarda e consiga também reverter os próximos retrocessos da extrema direita.

Cusack aproveitou seu júbilo para reverenciar Daniel Ellsberg (1931-2013), o paradigmático “whistleblower” (denunciante) dos Documentos do Pentágono, que teria, mesmo, vibrado à beça com a soltura de Assange. Sem o vazamento dos Pentagon Papers, não haveria o filme The Post: A Guerra Secreta, nem a renúncia de Nixon no tempo e do jeito como foi.

E se não fosse outro denunciante, chamado Anthony J. Russo (1936-2008), os vazamentos poderiam não ter chegado à redação do Washington Post e demais gazetas. Foi ele, colega de Ellsberg no think tank da Rand Corporation, quem estimulou e ajudou o agente a copiar todos os documentos secretos, na calada da noite.

Eclipsado por Ellsberg na denúncia dos Pentagon Papers, Tony Russo ganhou notoriedade ao difundir as torturas sistemáticas aplicadas por operativos da CIA na Guerra do Vietnã, em 1968. Com um jeitão hippie, acreditava que denunciar a hipocrisia de Washington apressaria, como de fato apressou, o fim da guerra, e ressurge agora como um dos protagonistas do recém-publicado livro de memórias de Francine Prose, cujo título, 1974: A Personal History, nos remete a George Orwell.

Pessoas usando máscaras de Julian Assange Foto: Campus Party/Divulgação

Em 1974, Prose, prolífica autora de romances e ensaios, mais conhecida no Brasil pelo guia literário Para Ler Como Um Escritor, encerrou sua vida em comum com Russo e foi viver sem ele os tumultuosos meses que antecederam e procederam a queda do presidente que seu ex-companheiro tanto ajudara a derrubar.

Pressionado pelo escândalo de Watergate e as denúncias de Russo, Nixon renunciou em 8 de agosto de 1974, no começo do primeiro e único ano sabático que desfrutei na vida, bem-bom que me proporcionou acompanhar e comemorar a derrocada de Tricky Dick em Berkeley, desfilando pela Avenida Shattuck com uma multidão de estudantes, dois ou três deles com uma bandeira do Vietnã do Norte na mão.

Naquela época, Prose, que conheci escrevendo sobre cinema na New York Review of Books, também vivia em São Francisco, um dos motivos do meu interesse em suas memórias, bem mais intensas que as minhas, pois afinal eu vivia, em 1974, num mar de rosas conjugal e distante muitos quilômetros de nossa ditadura militar.

De todo modo, meu maior frisson naquele ano me foi proporcionado por um evento esportivo. Não, não foi o baile que levamos da Holanda na Copa do Mundo, e sim o nocaute que Muhammad Ali aplicou em George Foreman, no oitavo round de uma luta levada para o Zaire pelo ditador Mobutu, a que assisti, excusez du peu, na TV de um restaurante de Siracusa (Sicília), na noite de 30 de outubro.

Não obstante a chantagem do governo norte-americano, a libertação de Julian Assange foi festejada como uma vitória indisputável de nossa capacidade de mobilização. “Pressure works” (pressionar funciona), exultou o ator e ativista John Cusack. Funcionou mundialmente em favor de Assange e, aqui, contra o PL do Estupro. Que a mobilização progressista não baixe a guarda e consiga também reverter os próximos retrocessos da extrema direita.

Cusack aproveitou seu júbilo para reverenciar Daniel Ellsberg (1931-2013), o paradigmático “whistleblower” (denunciante) dos Documentos do Pentágono, que teria, mesmo, vibrado à beça com a soltura de Assange. Sem o vazamento dos Pentagon Papers, não haveria o filme The Post: A Guerra Secreta, nem a renúncia de Nixon no tempo e do jeito como foi.

E se não fosse outro denunciante, chamado Anthony J. Russo (1936-2008), os vazamentos poderiam não ter chegado à redação do Washington Post e demais gazetas. Foi ele, colega de Ellsberg no think tank da Rand Corporation, quem estimulou e ajudou o agente a copiar todos os documentos secretos, na calada da noite.

Eclipsado por Ellsberg na denúncia dos Pentagon Papers, Tony Russo ganhou notoriedade ao difundir as torturas sistemáticas aplicadas por operativos da CIA na Guerra do Vietnã, em 1968. Com um jeitão hippie, acreditava que denunciar a hipocrisia de Washington apressaria, como de fato apressou, o fim da guerra, e ressurge agora como um dos protagonistas do recém-publicado livro de memórias de Francine Prose, cujo título, 1974: A Personal History, nos remete a George Orwell.

Pessoas usando máscaras de Julian Assange Foto: Campus Party/Divulgação

Em 1974, Prose, prolífica autora de romances e ensaios, mais conhecida no Brasil pelo guia literário Para Ler Como Um Escritor, encerrou sua vida em comum com Russo e foi viver sem ele os tumultuosos meses que antecederam e procederam a queda do presidente que seu ex-companheiro tanto ajudara a derrubar.

Pressionado pelo escândalo de Watergate e as denúncias de Russo, Nixon renunciou em 8 de agosto de 1974, no começo do primeiro e único ano sabático que desfrutei na vida, bem-bom que me proporcionou acompanhar e comemorar a derrocada de Tricky Dick em Berkeley, desfilando pela Avenida Shattuck com uma multidão de estudantes, dois ou três deles com uma bandeira do Vietnã do Norte na mão.

Naquela época, Prose, que conheci escrevendo sobre cinema na New York Review of Books, também vivia em São Francisco, um dos motivos do meu interesse em suas memórias, bem mais intensas que as minhas, pois afinal eu vivia, em 1974, num mar de rosas conjugal e distante muitos quilômetros de nossa ditadura militar.

De todo modo, meu maior frisson naquele ano me foi proporcionado por um evento esportivo. Não, não foi o baile que levamos da Holanda na Copa do Mundo, e sim o nocaute que Muhammad Ali aplicou em George Foreman, no oitavo round de uma luta levada para o Zaire pelo ditador Mobutu, a que assisti, excusez du peu, na TV de um restaurante de Siracusa (Sicília), na noite de 30 de outubro.

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É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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