Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Com Anselmo Duarte e Ilka Soares em Marte, ou melhor, no lendário Duse


Teatro do Estudante foi point das filmagens de ‘Carnaval em Marte’

Por Sérgio Augusto

Uma de minhas maiores frustrações é não saber qual o primeiro filme a que assisti na vida. Já da primeira filmagem que vi presencialmente, dessa, sim, me lembro muito bem. Foi perto de casa, defronte ao 161 da rua Hermenegildo de Barros, em Santa Teresa, onde até hoje fica a casa que Paschoal Carlos Magno construiu para abrigar o seu Teatro do Estudante, o legendário Duse.  Certa manhã do ano em que Getúlio Vargas deu um tiro no peito, São Paulo festejou seu quarto centenário, o Brasil perdeu a Copa na Suíça e Martha Rocha quase foi Miss Universo, um conversível estacionou à porta do Duse, filmado por uma câmera cercada de técnicos e quase todos os meus vizinhos. Ao volante, o maior galã do cinema brasileiro na década de 1950, Anselmo Duarte. A seu lado, sua namorada no filme (e futura mulher na vida real), Ilka Soares. Fora da tela, eu nunca tinha visto casal tão bonito.

Coleção de fotos da Rádio Nacional, nos anos 1940 e 1950, feitas pelo fotógrafo Diller, pai do produtor de cinema Diler Trindade. Na foto reprodução deDiller (e) fotografando Anselmo Duarte (d). Foto: Tasso Marcelo/Estadão

O filme era uma chanchada dirigida pelo precursor daquele gênero de comédias, Watson Macedo. Coincidência ou predestinação, meu primeiro livro, escrito três décadas depois, seria um estudo sobre o fenômeno da chanchada.  Apesar do título, Carnaval em Marte, é uma chanchada mais onírica que de ficção científica. Anselmo, que fazia um jornalista chamado Ricardo, só ia a Marte de carona num bizarro sonho em que a gaiata e espaventosa Violeta Ferraz sublimava ser a rainha da folia no planeta vizinho.  A morte de Ilka, sábado passado, reavivou minhas lembranças daquela e outras filmagens de que fui espectador, nem sempre acidental, e não só aqui, diga-se. Bem diante da “casa do Paschoal”, na pracinha debruçada sobre o Aterro do Flamengo, eu pegaria, em 1958, minha terceira filmagem: Adhemar Ferreira da Silva, encarnando a Morte em Orfeu Negro, preparando-se para descer até a avenida e matar Eurídice. Um ano antes, topara, por acaso, com uma cena de Rio, Zona Norte, com Grande Otelo, sendo rodada sobre os trilhos da Central do Brasil, perto da estação de Todos os Santos. A tal pracinha que serviu de cenário em Orfeu Negro seria um dia batizada de Glauce Rocha. Outra coincidência, outro carnaval. Glauce era a atriz principal de Marafa, minha quarta filmagem. Dirigida por Adolfo Celi, em meio ao Carnaval de 1963, foi minha primeira locação adulta.  Filmagens costumam ser tediosas de assistir, mas aquela foi diferente, pois varei a madrugada conversando fiado com Glauce e Millôr, autor do roteiro, baseado no romance de Marques Rebelo. Pena que o filme nunca foi concluído.  Meu maior feito na especialidade foi cobrir numa mesma semana dos anos 1980, os trabalhos de Memórias do Cárcere (numa granja abandonada na zona oeste do Rio fazendo as vezes do presídio de Ilha Grande) e Quilombo. Estes foram concluídos e seus resultados chegaram às salas de exibição. Não tinha vocação pra pé-frio.

Uma de minhas maiores frustrações é não saber qual o primeiro filme a que assisti na vida. Já da primeira filmagem que vi presencialmente, dessa, sim, me lembro muito bem. Foi perto de casa, defronte ao 161 da rua Hermenegildo de Barros, em Santa Teresa, onde até hoje fica a casa que Paschoal Carlos Magno construiu para abrigar o seu Teatro do Estudante, o legendário Duse.  Certa manhã do ano em que Getúlio Vargas deu um tiro no peito, São Paulo festejou seu quarto centenário, o Brasil perdeu a Copa na Suíça e Martha Rocha quase foi Miss Universo, um conversível estacionou à porta do Duse, filmado por uma câmera cercada de técnicos e quase todos os meus vizinhos. Ao volante, o maior galã do cinema brasileiro na década de 1950, Anselmo Duarte. A seu lado, sua namorada no filme (e futura mulher na vida real), Ilka Soares. Fora da tela, eu nunca tinha visto casal tão bonito.

Coleção de fotos da Rádio Nacional, nos anos 1940 e 1950, feitas pelo fotógrafo Diller, pai do produtor de cinema Diler Trindade. Na foto reprodução deDiller (e) fotografando Anselmo Duarte (d). Foto: Tasso Marcelo/Estadão

O filme era uma chanchada dirigida pelo precursor daquele gênero de comédias, Watson Macedo. Coincidência ou predestinação, meu primeiro livro, escrito três décadas depois, seria um estudo sobre o fenômeno da chanchada.  Apesar do título, Carnaval em Marte, é uma chanchada mais onírica que de ficção científica. Anselmo, que fazia um jornalista chamado Ricardo, só ia a Marte de carona num bizarro sonho em que a gaiata e espaventosa Violeta Ferraz sublimava ser a rainha da folia no planeta vizinho.  A morte de Ilka, sábado passado, reavivou minhas lembranças daquela e outras filmagens de que fui espectador, nem sempre acidental, e não só aqui, diga-se. Bem diante da “casa do Paschoal”, na pracinha debruçada sobre o Aterro do Flamengo, eu pegaria, em 1958, minha terceira filmagem: Adhemar Ferreira da Silva, encarnando a Morte em Orfeu Negro, preparando-se para descer até a avenida e matar Eurídice. Um ano antes, topara, por acaso, com uma cena de Rio, Zona Norte, com Grande Otelo, sendo rodada sobre os trilhos da Central do Brasil, perto da estação de Todos os Santos. A tal pracinha que serviu de cenário em Orfeu Negro seria um dia batizada de Glauce Rocha. Outra coincidência, outro carnaval. Glauce era a atriz principal de Marafa, minha quarta filmagem. Dirigida por Adolfo Celi, em meio ao Carnaval de 1963, foi minha primeira locação adulta.  Filmagens costumam ser tediosas de assistir, mas aquela foi diferente, pois varei a madrugada conversando fiado com Glauce e Millôr, autor do roteiro, baseado no romance de Marques Rebelo. Pena que o filme nunca foi concluído.  Meu maior feito na especialidade foi cobrir numa mesma semana dos anos 1980, os trabalhos de Memórias do Cárcere (numa granja abandonada na zona oeste do Rio fazendo as vezes do presídio de Ilha Grande) e Quilombo. Estes foram concluídos e seus resultados chegaram às salas de exibição. Não tinha vocação pra pé-frio.

Uma de minhas maiores frustrações é não saber qual o primeiro filme a que assisti na vida. Já da primeira filmagem que vi presencialmente, dessa, sim, me lembro muito bem. Foi perto de casa, defronte ao 161 da rua Hermenegildo de Barros, em Santa Teresa, onde até hoje fica a casa que Paschoal Carlos Magno construiu para abrigar o seu Teatro do Estudante, o legendário Duse.  Certa manhã do ano em que Getúlio Vargas deu um tiro no peito, São Paulo festejou seu quarto centenário, o Brasil perdeu a Copa na Suíça e Martha Rocha quase foi Miss Universo, um conversível estacionou à porta do Duse, filmado por uma câmera cercada de técnicos e quase todos os meus vizinhos. Ao volante, o maior galã do cinema brasileiro na década de 1950, Anselmo Duarte. A seu lado, sua namorada no filme (e futura mulher na vida real), Ilka Soares. Fora da tela, eu nunca tinha visto casal tão bonito.

Coleção de fotos da Rádio Nacional, nos anos 1940 e 1950, feitas pelo fotógrafo Diller, pai do produtor de cinema Diler Trindade. Na foto reprodução deDiller (e) fotografando Anselmo Duarte (d). Foto: Tasso Marcelo/Estadão

O filme era uma chanchada dirigida pelo precursor daquele gênero de comédias, Watson Macedo. Coincidência ou predestinação, meu primeiro livro, escrito três décadas depois, seria um estudo sobre o fenômeno da chanchada.  Apesar do título, Carnaval em Marte, é uma chanchada mais onírica que de ficção científica. Anselmo, que fazia um jornalista chamado Ricardo, só ia a Marte de carona num bizarro sonho em que a gaiata e espaventosa Violeta Ferraz sublimava ser a rainha da folia no planeta vizinho.  A morte de Ilka, sábado passado, reavivou minhas lembranças daquela e outras filmagens de que fui espectador, nem sempre acidental, e não só aqui, diga-se. Bem diante da “casa do Paschoal”, na pracinha debruçada sobre o Aterro do Flamengo, eu pegaria, em 1958, minha terceira filmagem: Adhemar Ferreira da Silva, encarnando a Morte em Orfeu Negro, preparando-se para descer até a avenida e matar Eurídice. Um ano antes, topara, por acaso, com uma cena de Rio, Zona Norte, com Grande Otelo, sendo rodada sobre os trilhos da Central do Brasil, perto da estação de Todos os Santos. A tal pracinha que serviu de cenário em Orfeu Negro seria um dia batizada de Glauce Rocha. Outra coincidência, outro carnaval. Glauce era a atriz principal de Marafa, minha quarta filmagem. Dirigida por Adolfo Celi, em meio ao Carnaval de 1963, foi minha primeira locação adulta.  Filmagens costumam ser tediosas de assistir, mas aquela foi diferente, pois varei a madrugada conversando fiado com Glauce e Millôr, autor do roteiro, baseado no romance de Marques Rebelo. Pena que o filme nunca foi concluído.  Meu maior feito na especialidade foi cobrir numa mesma semana dos anos 1980, os trabalhos de Memórias do Cárcere (numa granja abandonada na zona oeste do Rio fazendo as vezes do presídio de Ilha Grande) e Quilombo. Estes foram concluídos e seus resultados chegaram às salas de exibição. Não tinha vocação pra pé-frio.

Opinião por Sérgio Augusto

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.