Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Da vez em que Vinicius de Moraes improvisou nada menos que um urinol


Essas e outras histórias divertidas estão no livro ‘Folias de Aprendiz’

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Embora tenha publicado dois livros sobre Vinicius de Moraes, nem de longe privei de sua amizade, do que até hoje me penitencio. Quanta conversa boa e generosas doses de sabedoria eu perdi, ao ficarmos só nos obas e olás. Quantos lero-leros sobre música, cinema, poesia ou mesmo escatologia perdemos. 

Tangenciamos biscates jornalísticos no Diário Carioca (ele comentando discos na coluna Bossa Nova, e eu, ao lado, criticando filmes) e, poucos anos depois, no Pasquim, em cuja redação apertamos as mãos, sob as vistas e o patrocínio de Tarso de Castro. E foi só. 

Poetinha. Percepção do tema vai mudando com a maturidade Foto: Solano Jose/Estadão
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Imaginem, pois, meu espanto e, acima de tudo, minha descrença ao descobrir que ele comparecera ao jantar que um grupo de amigos inventou para celebrar meus 30 anos, levado pelo poeta, letrista, tradutor e agora acadêmico Geraldo Carneiro, meu cupincha de cinco décadas e alguns trocados. 

Os dois bardos eram amicíssimos. Geraldinho, sempre tratado no diminutivo, não por influência de Vinicius, notório adicto de “inhos” e “inhas”, mas para não ser confundido com o pai, patriarca dos Carneiro e alta patente da velha política mineira, já pubicou um perfil biográfico do poeta e batizou com seu nome o filho caçula. Algumas das histórias por ambos compartilhadas podem ser lidas no recém-lançado livro  de memórias de Geraldinho, Folias de Aprendiz (História Real).  

Foi ele quem me apresentou a Paulo Mendes Campos. Em retribuição, curei-o de sua ojeriza a filmes musicais com apenas uma dose de Cantando na Chuva, sortilégio infalível. 

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Uma das folias de Geraldinho foi levar Vinicius ao meu jantar de aniversário no restaurante dinamarquês Helsingor, que, nos anos 1970, era uma espécie de Elaine’s do eixo Ipanema-Leblon. Numa longa mesa, no segundo andar do restaurante, juntaram-se todos os convivas. 

“A noite foi inesquecível”, é Geraldinho quem narra. “Como Vinicius e eu no sentamos junto à parede, não havia meio de chegar ao banheiro, a não ser que pedíssemos que todos se levantassem. O poeta me viu tomado de melancolia e perguntou:

— O que foi, neguinho?

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Expliquei que estava com urgência urinária, mas tinha preguiça de pedir licença. Par délicatesse j’ai perdu mon xixi. Vinicius sorriu com a compreensão de quem já tinha passado pelo drama.

—Não tem problema, neguinho. Vou te ensinar a solução.

Indicou-me o balde de gelo, do outro lado da mesa.

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— O ideal é fazer no balde, não só porque é grande, mas porque o gelo tira o cheiro...

Debalde: o balde estava no outro extremo da mesa. Apesar de suas palavras solidárias, continuei triste, medindo a distância entre mim e o almejado urinol. O poeta percebeu o motivo de minha angústia e, com delicada autoridade, proclamou:

— Se o balde está longe, faz no copo!—e indicou um copo vazio que o garçom se esquecera de recolher.!”

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Copo este que, ao ser afinal recolhido, não estava mais vazio.

 

Embora tenha publicado dois livros sobre Vinicius de Moraes, nem de longe privei de sua amizade, do que até hoje me penitencio. Quanta conversa boa e generosas doses de sabedoria eu perdi, ao ficarmos só nos obas e olás. Quantos lero-leros sobre música, cinema, poesia ou mesmo escatologia perdemos. 

Tangenciamos biscates jornalísticos no Diário Carioca (ele comentando discos na coluna Bossa Nova, e eu, ao lado, criticando filmes) e, poucos anos depois, no Pasquim, em cuja redação apertamos as mãos, sob as vistas e o patrocínio de Tarso de Castro. E foi só. 

Poetinha. Percepção do tema vai mudando com a maturidade Foto: Solano Jose/Estadão

Imaginem, pois, meu espanto e, acima de tudo, minha descrença ao descobrir que ele comparecera ao jantar que um grupo de amigos inventou para celebrar meus 30 anos, levado pelo poeta, letrista, tradutor e agora acadêmico Geraldo Carneiro, meu cupincha de cinco décadas e alguns trocados. 

Os dois bardos eram amicíssimos. Geraldinho, sempre tratado no diminutivo, não por influência de Vinicius, notório adicto de “inhos” e “inhas”, mas para não ser confundido com o pai, patriarca dos Carneiro e alta patente da velha política mineira, já pubicou um perfil biográfico do poeta e batizou com seu nome o filho caçula. Algumas das histórias por ambos compartilhadas podem ser lidas no recém-lançado livro  de memórias de Geraldinho, Folias de Aprendiz (História Real).  

Foi ele quem me apresentou a Paulo Mendes Campos. Em retribuição, curei-o de sua ojeriza a filmes musicais com apenas uma dose de Cantando na Chuva, sortilégio infalível. 

Uma das folias de Geraldinho foi levar Vinicius ao meu jantar de aniversário no restaurante dinamarquês Helsingor, que, nos anos 1970, era uma espécie de Elaine’s do eixo Ipanema-Leblon. Numa longa mesa, no segundo andar do restaurante, juntaram-se todos os convivas. 

“A noite foi inesquecível”, é Geraldinho quem narra. “Como Vinicius e eu no sentamos junto à parede, não havia meio de chegar ao banheiro, a não ser que pedíssemos que todos se levantassem. O poeta me viu tomado de melancolia e perguntou:

— O que foi, neguinho?

Expliquei que estava com urgência urinária, mas tinha preguiça de pedir licença. Par délicatesse j’ai perdu mon xixi. Vinicius sorriu com a compreensão de quem já tinha passado pelo drama.

—Não tem problema, neguinho. Vou te ensinar a solução.

Indicou-me o balde de gelo, do outro lado da mesa.

— O ideal é fazer no balde, não só porque é grande, mas porque o gelo tira o cheiro...

Debalde: o balde estava no outro extremo da mesa. Apesar de suas palavras solidárias, continuei triste, medindo a distância entre mim e o almejado urinol. O poeta percebeu o motivo de minha angústia e, com delicada autoridade, proclamou:

— Se o balde está longe, faz no copo!—e indicou um copo vazio que o garçom se esquecera de recolher.!”

Copo este que, ao ser afinal recolhido, não estava mais vazio.

 

Embora tenha publicado dois livros sobre Vinicius de Moraes, nem de longe privei de sua amizade, do que até hoje me penitencio. Quanta conversa boa e generosas doses de sabedoria eu perdi, ao ficarmos só nos obas e olás. Quantos lero-leros sobre música, cinema, poesia ou mesmo escatologia perdemos. 

Tangenciamos biscates jornalísticos no Diário Carioca (ele comentando discos na coluna Bossa Nova, e eu, ao lado, criticando filmes) e, poucos anos depois, no Pasquim, em cuja redação apertamos as mãos, sob as vistas e o patrocínio de Tarso de Castro. E foi só. 

Poetinha. Percepção do tema vai mudando com a maturidade Foto: Solano Jose/Estadão

Imaginem, pois, meu espanto e, acima de tudo, minha descrença ao descobrir que ele comparecera ao jantar que um grupo de amigos inventou para celebrar meus 30 anos, levado pelo poeta, letrista, tradutor e agora acadêmico Geraldo Carneiro, meu cupincha de cinco décadas e alguns trocados. 

Os dois bardos eram amicíssimos. Geraldinho, sempre tratado no diminutivo, não por influência de Vinicius, notório adicto de “inhos” e “inhas”, mas para não ser confundido com o pai, patriarca dos Carneiro e alta patente da velha política mineira, já pubicou um perfil biográfico do poeta e batizou com seu nome o filho caçula. Algumas das histórias por ambos compartilhadas podem ser lidas no recém-lançado livro  de memórias de Geraldinho, Folias de Aprendiz (História Real).  

Foi ele quem me apresentou a Paulo Mendes Campos. Em retribuição, curei-o de sua ojeriza a filmes musicais com apenas uma dose de Cantando na Chuva, sortilégio infalível. 

Uma das folias de Geraldinho foi levar Vinicius ao meu jantar de aniversário no restaurante dinamarquês Helsingor, que, nos anos 1970, era uma espécie de Elaine’s do eixo Ipanema-Leblon. Numa longa mesa, no segundo andar do restaurante, juntaram-se todos os convivas. 

“A noite foi inesquecível”, é Geraldinho quem narra. “Como Vinicius e eu no sentamos junto à parede, não havia meio de chegar ao banheiro, a não ser que pedíssemos que todos se levantassem. O poeta me viu tomado de melancolia e perguntou:

— O que foi, neguinho?

Expliquei que estava com urgência urinária, mas tinha preguiça de pedir licença. Par délicatesse j’ai perdu mon xixi. Vinicius sorriu com a compreensão de quem já tinha passado pelo drama.

—Não tem problema, neguinho. Vou te ensinar a solução.

Indicou-me o balde de gelo, do outro lado da mesa.

— O ideal é fazer no balde, não só porque é grande, mas porque o gelo tira o cheiro...

Debalde: o balde estava no outro extremo da mesa. Apesar de suas palavras solidárias, continuei triste, medindo a distância entre mim e o almejado urinol. O poeta percebeu o motivo de minha angústia e, com delicada autoridade, proclamou:

— Se o balde está longe, faz no copo!—e indicou um copo vazio que o garçom se esquecera de recolher.!”

Copo este que, ao ser afinal recolhido, não estava mais vazio.

 

Embora tenha publicado dois livros sobre Vinicius de Moraes, nem de longe privei de sua amizade, do que até hoje me penitencio. Quanta conversa boa e generosas doses de sabedoria eu perdi, ao ficarmos só nos obas e olás. Quantos lero-leros sobre música, cinema, poesia ou mesmo escatologia perdemos. 

Tangenciamos biscates jornalísticos no Diário Carioca (ele comentando discos na coluna Bossa Nova, e eu, ao lado, criticando filmes) e, poucos anos depois, no Pasquim, em cuja redação apertamos as mãos, sob as vistas e o patrocínio de Tarso de Castro. E foi só. 

Poetinha. Percepção do tema vai mudando com a maturidade Foto: Solano Jose/Estadão

Imaginem, pois, meu espanto e, acima de tudo, minha descrença ao descobrir que ele comparecera ao jantar que um grupo de amigos inventou para celebrar meus 30 anos, levado pelo poeta, letrista, tradutor e agora acadêmico Geraldo Carneiro, meu cupincha de cinco décadas e alguns trocados. 

Os dois bardos eram amicíssimos. Geraldinho, sempre tratado no diminutivo, não por influência de Vinicius, notório adicto de “inhos” e “inhas”, mas para não ser confundido com o pai, patriarca dos Carneiro e alta patente da velha política mineira, já pubicou um perfil biográfico do poeta e batizou com seu nome o filho caçula. Algumas das histórias por ambos compartilhadas podem ser lidas no recém-lançado livro  de memórias de Geraldinho, Folias de Aprendiz (História Real).  

Foi ele quem me apresentou a Paulo Mendes Campos. Em retribuição, curei-o de sua ojeriza a filmes musicais com apenas uma dose de Cantando na Chuva, sortilégio infalível. 

Uma das folias de Geraldinho foi levar Vinicius ao meu jantar de aniversário no restaurante dinamarquês Helsingor, que, nos anos 1970, era uma espécie de Elaine’s do eixo Ipanema-Leblon. Numa longa mesa, no segundo andar do restaurante, juntaram-se todos os convivas. 

“A noite foi inesquecível”, é Geraldinho quem narra. “Como Vinicius e eu no sentamos junto à parede, não havia meio de chegar ao banheiro, a não ser que pedíssemos que todos se levantassem. O poeta me viu tomado de melancolia e perguntou:

— O que foi, neguinho?

Expliquei que estava com urgência urinária, mas tinha preguiça de pedir licença. Par délicatesse j’ai perdu mon xixi. Vinicius sorriu com a compreensão de quem já tinha passado pelo drama.

—Não tem problema, neguinho. Vou te ensinar a solução.

Indicou-me o balde de gelo, do outro lado da mesa.

— O ideal é fazer no balde, não só porque é grande, mas porque o gelo tira o cheiro...

Debalde: o balde estava no outro extremo da mesa. Apesar de suas palavras solidárias, continuei triste, medindo a distância entre mim e o almejado urinol. O poeta percebeu o motivo de minha angústia e, com delicada autoridade, proclamou:

— Se o balde está longe, faz no copo!—e indicou um copo vazio que o garçom se esquecera de recolher.!”

Copo este que, ao ser afinal recolhido, não estava mais vazio.

 

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